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quinta-feira, 8 de abril de 2021

Asfalto Quente (The Sugarland Express) 1974

Uma mulher procura reunir a família e ajuda o marido a fugir da prisão, para que juntos possam ir até Sugarland na intenção de recuperar o filho, que foi adoptado por um casal local. A fuga de ambos provoca uma caçada policial sem precedentes na história do Texas.
Este típico filme de perseguição policial dos anos 70, é hoje talvez mais conhecido por ter sido o primeiro filme de Steven Spielberg a estrear nas salas de cinema, tendo recebido grandes elogios para o trabalho deste como realizador, como para o argumento, da autoria de Hal Barwood e Mathew Robbins, dois nomes que ficariam ligados ao universo do realizador. No entanto, e ao contrários de outros filmes posteriores, as boas críticas não se traduziram em sucesso financeiro, talvez porque este tipo de filme inspirado por "Bonnie & Clyde" já estava um pouco saturado no mercado. Por exemplo, "Badlands", de Terrence Mallick, do ano anterior, também fez maus resultados nas bilheteiras.
Muitas das futuras marcas registadas de Steven Spielberg podem já ser encontradas aqui, desde o pleno uso do processo Penaflex, pelo director de fotografia Vilmos Zsigmond, os shots de rastreamento entre poersonagens e veículos, a dinâmica da família disfuncional, e também seria o primeiro filme de Spielberg, entre muitos, a contar com a banda sonora de John Williams, um casamento que daria lugar a alguns dos filmes mais famosos de todos os tempos. 
Spielberg já tinha feito um filme de perseguições de carro para a televisão, "Duel", mas este seria o primeiro, de facto, a estrear nas salas. E teve logo honras de estreia em Cannes, fazendo parte da seleção oficial.

domingo, 12 de abril de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “E.T. – O Extra-Terrestre”, de Steven Spielberg

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga e o My Two Thousand Movies associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “Cinema em Tempos de Cólera: 40 dias, 40 filmes”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O décimo segundo convidado é Ana Petrucci, que escolheu E.T. - O Extra-Terrestre de Steven Spielberg.

Sinopse: Vinte anos depois da estreia regressa ao grande ecrã a obra-prima de Steven Spielberg. Inesquecível foi a história da amizade entre o extraterrestre, deixado por engano na Terra, e o pequeno Elliot, que esconde e protege ET dos adultos. A edição comemorativa do filme contém imagens inéditas, novo tratamento de som e outras alterações de carácter político, eticamente exigidas depois dos ataques terroristas de 11 de Setembro 2001. Exemplo disso foi a eliminação das espingardas dos polícias que perseguem o pequeno extraterrestre e a substituição da palavra "terrorista" usada pela mãe de Elliot. Um filme a redescobrir pelos mais velhos e a descobrir com deslumbramento pelos mais novos. 

Ana Petrucci escreve-nos que «E.T. é uma escolha óbvia nestes dias: é um regresso à infância, à cassete VHS do meu primo André, à aventura daquela outra criança que veio de longe e passa pelo inimaginável - perder-se dos pais e ser perseguida pelos homens, vistos com molhos de chaves e correntes na cintura. 
A curiosidade e a amizade de Elliot resgatam E.T. e, a princípio, só as crianças podem vê-lo através da sua imaginação mágica e inocente, à semelhança das fadas de Peter Pan – a história que a mãe lê a Gertie antes de ir para a cama. 
Quando, mesmo no início, E.T. olha para L.A., de Mulholland Drive, contempla a humanidade, sem nos dissecar como rãs. E.T. ensina-nos que há ligações tão fortes que sobreviverão à distância. 
Este é um outro Halloween, felizmente com E.T. podemos fazer uma ligação directa para casa! 
P.S.: "E.T." também é a melhor volta de “bina” do Cinema!» 

Amanhã, a escolha de Sérgio Alpendre. 

Link
Imdb

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Um Assassino Pelas Costas (Duel) 1971


Duel foi o primeiro filme de Steven Spielberg, feito para televisão e adaptado de um conto do escritor e argumentista Richard Matheson. É extremamente simples, um thriller de suspense de fazer roer as unhas, que inexoravelmente aumenta a pressão sobre a viagem do empresário David Mann (Dennis Weaver), como ele enfrenta o motorista de um camião viciado que parece ter a intenção de o matar. Spielberg lentamente constrói o suspense, aparentemente do nada: a primeira vez que o camião aparece, com ângulos baixos e close-ups incómodos da grade enferrujada, pára-lamas podre, já a sugerir algo de sinistro. O filme começa com uma disputa inócua para a posição na estrada, como o impaciente Mann, atrasado para uma reunião, passa o camião, apenas para passar por ele, para depois, prontamente abrandar a sua marcha. Isto não seria mais nada do que puro machismo comum da estrada se não fosse pelos ângulos ameaçadores da câmara de Spielberg, que fazem o grande volume do camião sobre o carro muito menor, parecer um predador na perseguição da sua presa.
O significado deste duelo na auto-estrada é a masculinidade, como é sugerido pela conversa de Mann ao telefone com a sua esposa, quando ele lhe telefona do posto de gasolina, aqui é que a acção começa a sério. Tiveram uma discussão na noite anterior porque tinham estado numa festa onde um amigo ou sócio tinha obviamente perseguido a esposa de Mann  - "ele praticamente me violou", diz ela, com um casal e duas crianças a brincarem inocentemente nas proximidades - e Mann não tinha feito nada para impedir o assédio. Com o incidente para trás, ela está disposta a deixá-lo, mas é óbvio que foi uma falha da masculinidade de Mann, uma falha em proteger a sua mulher e defender a sua honra, a incapacidade de afirmar a sua força e domínio, como um homem. Uma falha sexual, também, a incapacidade de manter a posse sexual exclusiva da sua mulher. Esta breve conversa dá todo um sentido ao filme, assim como o programa de rádio que Mann escuta durante as cenas introdutórias, uma conversa em que um homem se preocupa por não ser o "cabeça da família", porque a sua esposa manda em casa. Quando o atendem na estação de gasolina e lhe dizem "you're the boss," fazem uma piada similiar, sugerindo que ele, também, não se sente totalmente seguro com a sua masculinidade.
Talvez estes motivos sejam psicológicos, mas há algo muito hitchcockiano na estreia de Spielberg. O filme é preenchido com pequenos detalhes hitchcockianos - especialmente na senhora de idade, vibrante, que administra o posto de gasolina - com alguns momentos de suspense e humor negro digno do mestre.  De um modo geral, todos os espaços abertos, assim como a situação geral de um homem a ser perseguido por um veículo, aparentemente com a intenção de o matar, evoca o confronto do avião agrícola de North By Northwest. Mas o duelo do filme lembra-nos também "Os Pássaros". Assim como no filme de Hitchcock, Duel é sobre a violência sem sentido, incompreensível. Algo inocente liga o protagonista na busca da sua destruição, sem qualquer razão aparente. Assim como os pássaros não têm nenhum propósito, não há motivo para a sua súbita violência, o motorista do camião, num duelo que permanece inescrutável, o seu rosto sempre obscurecido - o máximo que Mann consegue ver são as suas botas, ou o antebraço. Esta súbita violência não faz sentido, é um pesadelo tão inexplicável como é aterrorizante.
Esta atmosfera, juntamente com a aura misteriosa, quase apocalíptica, do inflexível camião, faz de "Duel" um filme de estreia consistente e poderoso. O monólogo interior, na narração, é tratado desajeitadamente, e não acrescenta muito ao filme, que poderia ser mais potente sem palavras. Este é um conceito que requer poucas palavras e poucos adornos, e uma vez que Mann regressa à estrada, perseguido pelo camião incansável, o filme adquire novamente velocidade e nunca diminui até à sua conclusão final.