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quarta-feira, 6 de maio de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “Uma Vida Inteira”, de john Ford

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga, o My Two Thousand Movies e a Comuna associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “40 dias, 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O trigésimo sexto convidado é o historiador de cinema Tag Gallagher, autor do monumental volume sobre John Ford intitulado John Ford: The Man and His Films, e que escolheu The Long Gray Line, pois, como começou por dizer: «Bem, nunca pode haver Ford demais, por isso escolho “The Long Gray Line”»

Sinopse: Homenagem de John Ford ao Exército, evocando a mais célebre instituição para a formação de oficiais, a Academia de West Point. Centra-se na história de “Marty” Maher, treinador na Academia e da sua relação com cadetes que se tornarão famosos, como Eisenhower (interpretado por Harry Carey Jr). Um dos melhores trabalhos de Tyrone Power e Maureen O’Hara em estado de graça.

O crítico e argumentista Frank S. Nugent escreveu no livro colectivo John Ford Made Westerns que “John Ford é um homem grande e bamboleante com um rosto enrugado, cabelo ruivo que enfraqueceu com os anos, um feitio que não enfraqueceu, e um dom para fazer filmes que lembra de forma desconfortável a Hollywood que os filmes não são apenas uma indústria, mas uma arte. Entre os conhecedores de cinema, é considerado um dos maiores realizadores que já viveram; alguns chamam-no o maior. Ganhou três Óscares da Academia pessoalmente endereçados—entre os realizadores, só Frank Capra tem tantos como ele—e é o vencedor inigualável por quatro vezes dos prémios anuais da Associação de Críticos de Nova Iorque para realização. Ford tem orgulho dos seus troféus, mesmo sem nunca ter aparecido nos jantares da Academia ou nas transmissões dos críticos para os aceitar. Odeia publicidade.” 
Em entrevista a Jean Mitry para a revista Cinémonde, em 1955, e quando o francês lhe pergunta quais são os filmes preferidos entre os que fez, John Ford contra-ataca com a sua humildade mordaz, dizendo “os meus filmes preferidos? Bah! Não sei. Diz que fiz bons filmes, acredito em si. Não sabia que as pessoas estavam tão interessadas no meu trabalho, em França. Fico encantado, mesmo assim. Bom! Digamos The Long Voyage Home, Stagecoach, The Informer. The Sun Shines Bright também e o meu último, The Long Gray Line. Acho que é um dos melhores. Vai ver.” 

Amanhã, a escolha de Francisco Rocha.

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domingo, 19 de abril de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “As Vinhas da Ira”, de John Ford

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga e o My Two Thousand Movies associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “Cinema em Tempos de Cólera: 40 dias, 40 filmes”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O décimo nono convidado é o presidente da Câmara Municipal do Fundão, Paulo Fernandes, que escolheu As Vinhas da Ira de John Ford.

Sinopse: "As Vinhas da Ira" adapta o romance homónimo de John Steinbeck, vencedor do Pulitzer, sobre a odisseia dos oakies, os agricultores do Oklahoma arruinados pela desastrosa seca da década de 1930 e expulsos das suas terras pelos brancos, que buscam a Califórnia como a "terra prometida". Uma das maiores interpretações de Henry Fonda no papel de Tom Joad, o novo Moisés que vai servir de guia e não poderá entrar nessa terra. Jane Darwell, arquétipo das mães fordianas, ganhou também um Óscar. Texto: Público.


Paulo Fernandes descreveu-nos a obra como «um filme de todas as nossas vidas do mestre John Ford, quem melhor entendeu e filmou a condição humana, que aqui adapta o não menos fabuloso e actualíssimo romance de John Steinbeck. Para o presente e para o futuro, depois de tantas e tantas privações, recordo livremente o discurso da Mãe: “Durante muito tempo parecia que estávamos derrotados, totalmente derrotados. Sentia-me mal e estava assustada. Como se estivéssemos perdidos sem amigos que nos valessem… Mas o rio continua a fluir. Uma mulher vê assim as coisas… Sei que sofremos um grande golpe mas é isso que nos torna fortes. Reis, ricos, políticos, nascem e morrem. Mas nós continuamos a viver. Não podem erradicar-nos, não podem derrotar-nos. Nós viveremos para sempre porque nós somos o povo.”
"Como tenho escrito a propósito de outros filmes de Ford, talvez seja preciso recuar à pintura holandesa do século XVII para encontrar uma tão funda adequação entre os valores duma sociedade e a representação dessa sociedade, entre o olhar dum artista que a simboliza e o olhar dos homens e mulheres que, simbolizando-a também, neles foram retratados.” 

Amanhã, a escolha de Paulo Faria.

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sábado, 4 de abril de 2020

40 dias 40 filmes – Cinema em Tempos de Cólera: “Sete Mulheres”, de John Ford

O Jornal do Fundão, os Encontros Cinematográficos, o Lucky Star – Cineclube de Braga e o My Two Thousand Movies associaram-se nestes tempos surreais e conturbados convidando quarenta personalidades, entre cineastas, críticos, escritores, artistas ou cinéfilos para escolherem um filme inserido no ciclo “Cinema em Tempos de Cólera: 40 dias, 40 filmes”, partilhado em segurança nos ecrãs dos computadores de vossa casa através do blog My Two Thousand Movies. O quarto convidado é o crítico espanhol Miguel Marías, que quando foi desafiado para a escolha nos respondeu que “Confinados num sítio, acossados pela ameaça externa, com conflitos internos, com epidemia e com uma médica heróica, além de muito valente e bonita (Anne Bancroft), o primeiro que me ocorre é “7 Women” (1965/6), uma das maiores e menos conhecidas obras-primas de John Ford.”

Sinopse: O último filme de John Ford é também uma das suas obras mais importantes, onde se impõe com inesperado vigor aquilo que esteve sempre mais ou menos presente na sua obra: uma atmosfera sensual, marcada pelo estigma do recalcamento sexual, e que acaba por se manifestar face à intrusão de um elemento estranho. A uma missão religiosa, formada por mulheres, na China sujeita aos horrores da guerra civil, chega um novo membro, uma médica cuja maneira de ser vai provocar uma crise (o jantar à mesa onde fuma por provocação), ao mesmo tempo que um "senhor da guerra" invade a missão.

Num texto anterior sobre o filme, Marías fala do “digno final da longa e gloriosa carreira de Ford, 7 Women é um desafio e um desmentido. Considerado de forma tão abusiva como um «realizador de homens» – esquecendo-se, não se percebe como, de Maureen O’Hara, Ava Gardner, Jane Darwell, Vera Miles, Joanne Dru, etc. –, como Cukor um «realizador de mulheres», Ford fecha-se num estúdio com nove (não sete) actrizes e quase prescinde dos homens para rodar, aos setenta e um anos, o seu filme mais combativo. E também o mais próximo da abstracção, o mais despojado, o menos sentimental. Não devia estar para brincadeiras e parece como se sentisse que lhe restava pouco tempo e menos metros de película: desta vez quase não há humor, nem canções, a paisagem desapareceu e a narração avança em todos os momentos, a um passo tão suave como vertiginoso, para o nó dramático de cada cena. Portanto não há pausas nem digressões, e os meandros cedem o seu lugar a sinuosidades rítmicas puras que nunca impedem que Ford e os seus actores vão sempre directos ao assunto. Sem contemplações nem concessões ao naturalismo, à beleza ou ao melodrama, a que o argumento tão facilmente se prestava, ambientado numa China imaginária de 1935: não há álibis nem possibilidades de procurar «chaves de leitura». 
“O protagonista, naturalmente, é uma mulher. Mais decidida que qualquer um dos seus irmãos – que John Wayne costumava interpretar –, a doutora Cartwright, tal como a encarna Anne Bancroft, é a personagem mais admirável de Ford e que o realizador mais gosta e respeita de todas as que criou. Para John Wayne sempre olhou mais com sardonismo, consciente do seu mau jeito de tímido grandalhão; para Anne Bancroft não: surpreendentemente, identifica-se plenamente com as suas posturas irreverentes e desencantadas, com a sua valentia suicida, com a sua atitude de desafio permanentemente. Por isso lhe dedicou as suas últimas e mais belas imagens, as mais intensamente líricas da sua imensa obra, que celebram a vitória final sem dar importância ao preço, com uma harmonia e uma fluidez que fazem pensar forçosamente nos cúmulos constantes de Mizoguchi. Ford provou a si próprio, e aos outros de passagem, que ainda era capaz de se aventurar por terrenos em desuso e guiar com pulso firme e seguro, sem uma vacilação, uma história despida de retórica e sensacionalismos, totalmente alheia às modas do momento e, ainda por cima, interpretada predominantemente por mulheres. Ao pôr um ponto final na sua obra estava a abrir novos caminhos, revelando aspectos até então ocultos ou velados da sua própria personalidade e projectando uma nova luz esclarecedora sobre os seus filmes anteriores. Depois de 7 Women não era preciso acrescentar mais.” 

Amanhã, a escolha de Rui Pelejão.

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terça-feira, 23 de julho de 2019

Rookie of the Year (Rookie of the Year) 1955

Em Rookie of the Year John Ford e John Wayne não estão a escrever histórias de Índios e Cowboys – como Wayne, o jornalista desportivo diz ao miúdo paquete da redacção – mas também estão, pois, como vemos diariamente em qualquer dos nossos três jornais desportivos (viva ao luxo! Nem a Alemanha…), tudo é um bacanal e vale tudo por uma notícia bombástica mesmo que não tenha pés nem cabeça, mesmo que seja passível de destruir o futuro de um jovem ou o legado de um gigante.
Rookie of the Year é uma contenda jornalística a la Sam Fuller onde o furacão ético de um acontecimento de contornos bíblicos que aglutina a épica de David e Golias e a longevidade de Matusalém é engolido a bílis ou para a arca de Noé das narrativas privadas e preciosas – como as amantes ou o euro milhões não ganho por estupidez - para ceder passo a uma criança que ama o taco de basebol.
Furacão ético assim resolvido por um Matusalém que dispensou a imortalidade fácil de uma narrativa que mais do que sensacionalista poderia resultar na Great American Novel, cessando o dilúvio das parangonas com o seu pequeno sonho de infância, que está nesse plano derradeiro absolutamente Fordiano – Wayne, o cowboy dos cowboys, com uma bola na mão, um sorriso de criança, o lançamento, o homerun e a traquinice; traquinice que no caso foi limpar um bocado da fossa da imprensa. Wayne, como um puto, brilho nos olhos igual ao de Patrick Wayne, o jogador do ano, na vida real seu filho e no filme filho da verticalidade de Ward Bonde – tudo entrelaçado, uno e lógico na humanidade do mais humanista dos cineastas. Pois com coisas sagradas, like ball stuff, boy oh boy, não se brinca.
* Texto de José Oliveira
Legendas em Espanhol, em anexo.

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Legenda em espanhol
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sábado, 4 de maio de 2019

O Vale Era Verde (How Green Was My Valley) 1941

A história decorre no virar do século (XIX/XX), numa pequena aldeia mineira em Gales. O casal Morgan compõe canções sobre as minas de carvão e cria os seus filhos na esperança de que estes tenham uma vida melhor que a deles.
"The Grapes of Wrath, The Long Voyage Home e Tobacco Road, são, muitas vezes, englobados numa chaveta comum: a "trilogia social" do realizador. A etiqueta presta-se a equívocos mas há, inegavelmente, uma atmosfera comum nessas obras, baseadas, todas, em escritores (Steinbeck, O´Neill, Caldwell) enquadráveis no chamado "realismo americano".
Mas Ford não era homem para se prender a um género ou a uma "escola". E, em 1941, depois desses três filmes, iniciou as filmagens de "How Green Was my Valley", adaptação de um escritor - Richard Llewllynn - que nada aparentava ao realismo.
Último filme de Ford , antes de ser mobilizado (só quatro anos depois, em 1945, o cineasta voltaria à ficção) foi um dos maiores êxitos da sua carreira. Obteve seis Óscares (Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Interpretação Masculina Secundária - Donal Crisp, Melhor Fotografia, Melhor Direcção Artística, Melhores Cenários), valendo, como já se disse, a Ford, o seu terceiro Óscar (segundo consecutivo) e batendo, como melhor filme do ano, o célebre Citizen Kane. 
Contudo, para muita gente, estas distinções foram ambíguas, pois pareceram premiar o "classicismo" contra o "modernismo". E não faltou quem dissesse que na carreira de Ford este filme marca uma viragem de 180º. O "revoltado" Ford de "The Grapes of Wrath" aparecia, aqui, como extremo defensor dos valores menos associados à revolta: Deus, Pátria e Família. E desposaria o ponto de vista de Donald Crisp na sua tenaz oposição à greve e aos sindicatos ("socialista nonsense"), exaltando a figura do Pai ("homens como o meu pai não podem morrer") e o sacrifício do amor de Pidgeon por O´Hara por razões de sacerdócio. Para os que sempre chamaram ao autor de "Young Mr. Lincoln" reacionário, puritano, beato e outros mimos, "How Green Was My Valley" surgiu como a perfeita exemplificação de tais atributos."
É com estas palavras de João Bénard da Costa sobre "How Green Was My Valley" que terminamos este ciclo sobre os filmes de John Ford realizadores entre o início do cinema falado, e a altura em que ele partiu para a Guerra. Espero que tenham gostado, penso que daqui a uns tempos farei o mesmo para os filmes de Howard Hawks. Até já, o próximo ciclo começa já a seguir.

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quinta-feira, 2 de maio de 2019

A Estrada do Tabaco (Tobacco Road) 1941

Durante a Grande Depressão americana, a família Lester não sabe como sobreviver à miséria que se avizinha. Residem e gerem os territórios rurais da Geórgia, cultivados com tabaco e algodão, mas já nem isso os salva. Debilitados pela pobreza ao ponto de atingirem um estado de ignorância e egoísmo cruel, os Lesters preocupam-se com a fome, os apetites sexuais que os devoram e o medo de que a hierarquia social os empurre para uma camada ainda mais desfavorecida.
O filme mais estranho de John Ford, é como uma realidade alternativa para "As Vinhas da Ira". Baseado num livro de Erskine Caldwell, e numapeça longa de Jack Kirkland, com argumento escrito por Nunnally Johnson, o filme concentra-se num grupo de camponeses que ainda ocupam as suas terras, mesmo depois das plantações terem deixado de crescer. Charley Grapewin dá algum equilibrio como Jeeter Lester, um homem de bom coração, à frente de um elenco de peso: Gene Tierney, Wiliam Tracy, Dana Andrews, Marjorie Rambeau, Elizabeth Patterson e Ward Bond.
O filme foi bastante prejudicado por ter sido homogeneizado pelos pedidos dos estúdios e dos censores, indo parar à lista dos filmes amaldiçoados. Depois de várias reclamações de que "muitas pessoas religiosas em todo o pais possam ter ficado ofendidas com os aspectos religiosos", Ford aligeirou o tom do filme. Segundo as suas palavras: "We have no dirt in the picture. We’ve eliminated the horrible details and what we’ve got left is a nice dramatic story. It’s a tearjerker, with some comedy relief. What we’re aiming at is to have the customers sympathize with our people and not feel disgusted." Para evitar controvérsias a Fox decidiu não filmar em exteriores, na Geórgia, mas sim em estúdios e cenários fechados para impedir que o filme fosse banido antes da estreia. Eventualmente só seria banido na Austrália.
O certo é que seria mais um filme injustamente esquecido de Ford, talvez por ter sido lançado mesmo no meio de dois filmes em que Ford foi premiado com o Óscar de Melhor Realizador: "As Vinhas da Ira" (1940) e "O Vale era Verde" (1941).

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quarta-feira, 1 de maio de 2019

Tormenta a Bordo (The Long Voyage Home) 1940

A bordo do cargueiro Glencairn as vidas da tripulação são vividas com medo, solidão, suspeita e camaradagem. Os marinheiros contrabandeiam mulheres e bebidas a bordo, brigam entre si, espiam-se, consolam-se quando a morte se aproxima e ajudam-se uns aos outros do perigo. Isto com a Segunda Guerra Mundial como pano de fundo.
"The Long Voyage Home" é um filme estranhamente belo, baseado numa série de peças rápidas de Eugene O´Neill. Descreve uma jornada a bordo de um cargueiro desde as Índias Ocidentais de volta para os Estados Unidos durante o início da Segunda Guerra Mundial. John Ford reúne a sua equipa habitual, que vinha desde o argumentista Dudley Nichols  na sua penúltima colaboração com o realizador, ao magnifico elenco que incluía John Wayne, Thomas Mitchell, Ward Bond, Joe Sawyer, entre outros.
O filme seria notável pelo trabalho da fotografia de Gregg Toland, que já tinha trabalhado com Ford em "As Vinhas da Ira", e que logo depois deste filme trabalharia em "Citizen Kane", considerado em ter umas das melhores fotografias de sempre. Ford admirava tanto o trabalho de Toland que o deixou usar a câmara livremente, ao que Toland aproveitou para experimentar um novo tipo de lentes que lhe garantiam uma grande profundidade de foco. Seriam essas mesmas lentes que seriam usadas em "Citizen Kane".
Sendo este filme mais uma grande-obra prima de Ford, acaba por ser prejudicado por ter sido feito no período mais criativo do realizador. Alguns filmes ofuscavam totalmente os outros, por terem sido feitos com muita proximidade de tempo. No caso de "The Long Voyage Home" e também "Tobacco Road" foram feitos entre "As Vinhas da Ira" e "O Vale era Verde", tudo no espaço de uns meses. O tempo acabaria por fazer justiça a cada um destes filmes.

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terça-feira, 30 de abril de 2019

As Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath) 1940

Quando Tom Joad (Henry Fonda), regressa para a sua quinta no Oklahoma, depois de quatro anos na prisão, descobre que já nada é o que era. Estamos na década de 30, vive-se a depressão, e a sua família perdeu a casa e a quinta para o banco. Assim começa uma jornada incrível para Tom, ao ver a injustiça social à sua volta, ele muda de um pequeno criminoso para um sindicalista.
"As Vinhas da Ira" é um filme monumental feito por um realizador monumental, John Ford, baseado num livro brilhante de outra figura monumental, John Steinbeck. As verdades estabelecidas no livro e no filme, podem ser tão verdadeiras hoje como eram então. Tom leva a sua família em busca de trabalho e a promessa de uma vida melhor, na califórnia, mas tudo o que encontra são mentiras, corrupção policial, e exploração empresarial dos trabalhadores desesperados. Uma situação muito parecida com a dos trabalhadores migrantes provenientes do México e América Central, em busca do suposto sonho americano. Interessante, o argumento, adaptado por Nunnally Johnson, é, na realidade, muito mais optimista que o livro. O filme oferece alguns vislumbres de esperança ao clã Joad, e oferece alguma cor à escuridão que é o livro (assim como a algumas idéias políticas mais extremas). 
Há um toque de sentimentalismo em "As Vinhas da Ira". É apenas uma sugestão, e nunca é um factor detractor dentro do filme. Os actores nunca permitem que o argumento de Johnson se torne demasiado sentimental. Os olhos sondantes de Henry Fonda, a mágoa do sorriso de Jane Darwell, o olhar vago de Dorris Bowden, e o rosto de derrotado de Frank Darien estão sempre presentes para atirar qualquer sentimentalismo para o lado. Ou, pelo menos, para garantir que o sentimentalismo seja merecido. Se houver qualquer sentimentalismo é gerado pela dureza que os seus personagens enfrentam em cada frame. 
John Ford ganhou com este filme o seu segundo Óscar para melhor realizador, e, "As Vinhas da Ira, está certamente, entre as melhores obras do realizador.

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segunda-feira, 29 de abril de 2019

Ouvem-se Tambores ao Longe (Drums Along the Mohawk) 1939

Henry Fonda é um camponês que durante a Guerra Revolucionária se casa com uma rapariga da cidade (Claudette Colbert), e tenta se estabelecer no Mohawk Valley. Infelizmente a guerra irá bater à sua porta, quando os ingleses conseguem convencer os índios a lutarem por eles. Os nossos dois personagens principais vão superar as dificuldades da agricultura, evitando ataques, depois reconstruindo, para serem atacados novamente.
O ano de 1939 foi um ano histórico para o cinema de Hollywood. Foram produzidos filmes tão importantes como "Gone with the Wind", "The Wizard of Oz", "Mr. Smith Goes to Washington", "Goodbye, Mr. Chips", "Wuthering Heights", "Ninotchka", "Of Mice and Men", "Love Affair", "Dark Victory", entre tantos outros, e também foi um ano histórico para John Ford, que viu ver a luz do dia 3 das suas maiores obras-primas. Depois de Stagecoach" (êxito instantâneo) e "Young Mr. Lincoln" (êxito tardio) chegava agora a vez de "Drums Along the Mohawk", o seu primeiro filme em Technicolor, onde apesar do Technicolor o realizador evitou um visual explosivamente colorido, talvez por querer ficar com as sombras e os tons cinza inerentes aos seus filmes a preto e branco.
"Drums Along the Mohawk" apesar de ser um filme de período tem o sentimento de um western, cobrindo o período imediatamente anterior e posterior à Guerra Revolucionária. É um filme digno de nota pelos seus detalhes realísticos e um nível de dificuldade e brutalidade que não era vulgar ser visto num filme de Hollywood, mas que expunha quão difícil e frágil era a vida dos primeiros colonizadores americanos.
O filme não romantizava a guerra pela independência, nem faz com que a eventual vitória dos americanos seja uma conclusão para as pessoas que retrata. Os colonos do Vale Mohawk estão com problemas desde o início, isolados, vagamente organizados e em menor número, e quando todos os combatentes qualificados são convocados para a guerra, são informados que quem não se apresentar para a guerra será enforcado.
Curioso que seria o segundo de uma série de três filmes de Ford interpretados por Henry Fonda. 

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sábado, 27 de abril de 2019

A Grande Esperança (Young Mr. Lincoln) 1939

Dez anos na vida de Abraham Lincoln, antes dele se tornar conhecido pela sua nação e pelo mundo. Muda-se de um gabinete em Kentucky para Springfield, Illinois, para começar a prática de advocacia. Defende dois homens acusados de assassinato numa luta política, sofre a morte da namorada Ann, corteja a sua futura esposa Mary Todd, e concorda entrar na política.
"Young Mr. Lincoln", hoje considerado uma das obras-primas de Ford - para muitos, mesmo, a sua obra-prima - foi um filme que, à época, passou quase completamente despercebido. Feito no mesmo ano de "Stagecoach" (a que se segue cronologicamente, o primeiro estreado em Março de 1939, o segundo em Julho) foi completamente eclipsado pelo sucesso do lendário western e, durante muitos anos, poucas referências lhe foram feitas. Só foi designado para os Óscares numa única categoria (melhor argumento original) e nem nessa ganhou: "Mr. Smith Goes to Washington" de Capra, venceu-o. Sucedeu, contudo, que por altura dos primeiros intercâmbios de filmes entre os Estados Unidos e a União Soviética, "Young Mr. Lincoln" se contou entre as poucas obras americanas distribuídas na U.R.S.S. Foi lá que Eisenstein o viu e escreveu sobre ele as frases que hoje se tonaram um lugar comum publicitário desta obra: "Há filmes mais sumptuosos e mais ricos. Há filmes mais divertidos e cativantes. Há mesmo filmes mais comoventes na obra de Ford (…) E, no entanto, de todos os filmes realizados era este que eu gostaria de ter feito (…). Se uma fada ociosa chegasse a minha casa e me dissesse: "Sergei Mikhailovich, neste momento não tenho nada para fazer. Queres que te mostre um numerozinho de magia? Queres transformar-te, com um pequeno gesto da minha varinha de condão, no autor de um dos muitos filmes americanos realizados até hoje? Eu indicaria imediatamente o filme que gostaria de ter feito: "Young Mr. Lincoln", realizado por John Ford""
Este texto só foi conhecido na Europa e na América nos anos 50 e a crítica, pasmada perante tão insólita valorização, começou então a rever "Young Mr. Lincoln". A crítica de esquerda, sobretudo, seguiu o "Papa" Eisenstein e há quatro décadas que não param os hiperbólicos elogios a esta obra-prima durante tanto tempo votada ao esquecimento."
Palavras de João Bénard da Costa, que exemplificam bem q beleza deste filme, que hoje é considerado um dos seus melhores. Mas nem sempre foi assim.

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quarta-feira, 24 de abril de 2019

Cavalgada Heróica (Stagecoach) 1939

Stagecoach foi o primeiro filme a reunir o realizador John Ford a três ícones do cinema, o western, o actor que viria a ser a sua estrela mais emblemática, John Wayne, e a personagem invisível presente numa série de filmes de Ford, o Monument Valley. Ford e Wayne já tinham feito Westerns antes
deste filme, é claro, mas a sua colaboração aqui despertou algo ousado e incomum que iria dar nova vida ao género e ajudar a moldá-lo para as próximas duas décadas, a Idade de Ouro do Western de Hollywood. Parece que algo novo e especial está a acontecer a partir do momento em que Ford introduz Wayne como o bandido preso injustamente, apelidado de Ringo Kid. Um shot interrompe o excesso de velocidade de uma diligência, e um zoom freneticamente de um shot longo de Wayne passa para um close do seu rosto apertado, o fantasma de uma dança sorrindo com os seus lábios, a aba do chapéu curva cinzelada. Parece que Ford sabia, desde o momento em que apresentou a sua estrela, o quão fortemente esta imagem iria ressoar: a entrada de Wayne no filme é electrizante, a chegada de ambos, o bandido infame e a próxima nova estrela.
Apesar de toda esta ênfase, Ringo Kid é apenas um dos nove passageiros que acaba de entrar a bordo da carruagem, todos indo na mesma direcção, enfrentando um território perigoso atormentado pela guerra dos Apaches, por razões muito diferentes. O xerife Curly (George Bancroft) pretende impedir Ringo de provocar um banho de sangue no final da viagem, onde ele enfrentará os três homens que mataram o pai e o irmão de Ringo, e que o estão esperando. A prostituta Dallas (Claire Trevor) o embriagado médico Boone (Thomas Mitchell) estão a ser perseguidos pelos cidadãos mais "respeitáveis​​" da cidade, alguns dos quais na verdade não são tão respeitáveis como gostariam que os outros pensassem. O jogador Hatfield (John Carradine) projecta uma imagem cavalheiresca, mas só poderia ser um assassino covarde, enquanto o pomposo Gatewood (Berton Churchill) foge da cidade com o dinheiro da folha de pagamento roubado. Há também a doente Lucy (Louise Platt), tentando alcançar o marido na cavalaria, o nervoso vendedor de whisky Peacock (Donald Meek), cuja carga é uma tentação para Doc Boone, e o cochista Buck (Andy Devine), que não consegue parar de reclamar sobre a sua esposa mexicana.
Este grupo heterogéneo é composto por vários tipos de personagens, e o subtexto sobre a classe social e a respeitabilidade são tão amplamente jogados como o humor: os outros passageiros são irritados pelas brigas de Peacock e Doc Boone, até que percebem que ambos têm muito a oferecer na sua generosidade e compaixão. Apenas Ringo, ele próprio um pária como um ex-presidiário e um bandido procurado, pouco se importa com esta casta, e insiste em se referir a Lucy e Dallas como "senhoras", o que, naturalmente, faz ganhar a gratidão de Dallas. Os cenários do filme e os personagens são standards, representações familiares do Velho Oeste, gravados na pedra dura da paisagem: as grandes extensões de terra dura empoeirada, as mesas e pilares rochosos salientes do Monument Valley. Ford desenha com traços largos, a elaboração de imagens icónicas da viagem da diligência pelo país aberto, levantando um rastro de poeira atrás dela. O filme tem um tratamento especial desta paisagem westerniana, que servem como um contraste com o interior mais claustrofóbico da diligência, onde as composições de Ford são necessariamente simples no espaço apertado. 
Ao longo do filme, a ameaça do ataques dos índios - e o confronto inevitável aguardando Ringo no fim da linha - paira sobre a jornada da diligência, mas é principalmente uma tensão de construção lenta até ao clímax. As coisas estão relativamente calmas na maior parte do passeio, pelo menos fora da carruagem. Os argumentos entre os passageiros, em grande parte motivados pela divisão de classes e vários deslizes percebidos, são quase tão interessantes como a beleza pictórica dos arredores. Há energia e poesia em alguns shots exteriores de Ford - uma imagem sombria da silhueta de um Ringo atrás de Dallas na escuridão, os incontáveis ​​shots do cocheiro acelerando através das planícies - mesmo quando nada mais está realmente a acontecer dentro da carruagem. E, claro, o final do filme é emocionante, com o ataque Apache a fornecer uma desculpa perfeita para alguns movimentos fantasiosos, como saltos de um cavalo para outro. Todo o filme trabalhava para este showcase de acção explosiva, e não se pode perder o entusiasmo de Ford, quando, no último minuto, os soldados da cavalaria chegam para salvar o dia: um tal cliché onde Ford investe com tal vitalidade e que é difícil resistir . A sequência toda é divertida e acelerada, e configura o tiroteio final, de Ringo com os três irmãos que mataram a sua família e o mandaram para a cadeia injustamente. 
Como um dos marcos definitivos do género, a influência e a importância de Stagecoach é difícil de igualar. Mas está longe de ser um filme sisudo, uma relíquia ultrapassada do seu tempo, apesar da sua linguagem e os dispositivos narrativos terem sido filtrados através da história do seu género, desde então.

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terça-feira, 23 de abril de 2019

O Juramento dos Quatro (Four Men and a Prayer) 1938


Na Índia, o coronel Loring Leigh (C. Aubrey Smith) é acusado de emitir uma ordem que levou um esquadrão de homens à morte. É considerado culpado e demitido. Já em Inglaterra reúne os seus quatro filhos em volta dele para iniciar uma investigação para provar a sua inocência. Antes que possam iniciar a investigação Leigh é misteriosamente baleado e todos os seus documentos roubados, e embora o médico legista tenha considerado um suicídio os quatro filhos espalham-se pelos quatro cantos do mundo para apanharem o culpado. 
John Ford dirige este pequeno thriller de mistério atípico adaptado do romance de David Garth, com um argumento escrito por Richard Sherman, Sonya Levien e Walter Ferris. A história é melhor apresentada do que o filme merecia por um elenco encantador, onde se destacam já alguns nomes de peso. Os quatro irmãos são Richard Greene, George Sanders, David Niven, e William Henry, coadjuvados por Loretta Young, como namorada de Richard Greene. Não faltam ainda nomes de peso nos secundários, como C. Aubrey Smith, Alan Hale, e John Carradine. Carradine era já uma presença habitual nos filmes de Ford, participando aqui pela quarta vez num filme seu. Era habitual vê-lo em papéis de índole duvidosa, e a colaboração entre os dois estender-se-ía por mais uma série de filmes até Ford partir para a guerra.
Ford não estava particularmente intertessado em fazer este tipo de filme político, mas tinha um contrato com a Fox que o obrigava, mas mesmo assim conseguiu dar o melhor de si num conjunto de cenas que lhe eram queridas, como a calorosa reunião entre o pai e os quatro filhos. O filme, ao braquear o imperialismo britânico e as atrocidades cometidas pelo comercio mundial de armas, inclui uma declaração política muito questionável.

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segunda-feira, 22 de abril de 2019

O Furacão (The Hurricane) 1937

O filme conta a história de uma casal de jovens nativos, Marama (Dorothy Lamour) e Terangi (Jon Hall), que vivem numa bonita ilha. Um dia, Terangi vai trabalhar num veleiro, apesar dos protestos de Marama. No Tahiti, envolve-se numa briga num bar, e por causa disso é sentenciado a 6 meses de cadeia. Tenta fugir, é apanhado, e a sentença é aumentada, e antes que dê por isso está a cumprir uma pena de 16 anos. Várias boas almas tentam convencer o governador Eugene De Laage (Raymond Massey) a libertar Terangi, mas apesar de saber que essa é a coisa certa a fazer, o governador recusa. Até que surge o furacão do título, que vai alterar o rumo da história..
O auge dos filmes catástrofe, com elencos fabulosos de estrelas, é conhecido como a década de 70. Muitos anos antes, na década de 30, tivemos uma vaga como exemplo, que hoje é pouco falada. Houve terramotos, em "San Francisco" (1936, de Van Dyke), incêndios, em "In Old Chicago" (1938, de Henry King), inundações em "The Good Earth" (1937, de Sidney Franklin), e também furacões e ciclones, em "Suez" (1938, de Allan Dwan), e também neste "The Hurricane" (1937, de John Ford). Ford era regularmente convidado para trabalhar em superproduções, que ía alternando com os seus filmes mais pessoais, conseguindo quase sempre deixar a sua marca pessoal. Neste filme contava com um elenco de luxo, com alguns actores a fazerem já parte dos seus já habituais colaboradores: Dorothy Lamour, Mary Astor,  C. Aubrey Smith, Thomas Mitchell, Raymond Massey, John Carradine, entre outros.
Uma palavrinha aqui para Thomas Mitchell. Na sua primeira colaboração com Ford conseguiu uma nomeação para o Óscar de melhor actor secundário. Perdeu-o, mas viria a ganhá-lo dois anos mais tarde por "Stagecoach", com toda a justiça. Os dois voltariam-se a encontrar no ano seguinte, em "The Long Voyage Home".
Embora um pouco datado para os tempos correntes, este filme de John Ford ainda merece alguns destaques. Um deles é a sequência do título, a do furacão. O tal que não sabemos quando, mas sabemos que ele vai parecer. Embora o filme esteja creditado como realizado por John Ford, esta sequência que rouba o filme, foi na verdade realizada por Stuart Heisler, com a ajuda dos magos dos efeitos especiais James Basevi e R.O. Binger. A capacidade de Heisler de simular um feroz furação foi fenomenal, e representa uma verdadeira obra-prima dos primeiros efeitos especiais. Toda a narrativa converge para este momento, e isso faz deste filme obrigatório para os fãs do género.

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sábado, 20 de abril de 2019

Shirley, Soldado da Índia (Wee Willie Winkie) 1937

Priscilla Williams (Shirley Temple) e a sua mãe Joyce (June Lang) viajam para a Índia, para conhecerem o avô britânico de Priscilla, e o sogro de Joyce. O avô Williams é um coronel do exército britânico e está encarregado de comandar a ocupação britânica (e civilização) de um território sikh. Nenhum deles conheceu o outro, por isso a reunião é antecipada com entusiasmo e curiosidade, principalmente para Priscilla, que é uma criança, por isso ingénua para os confrontos entre as culturas britânicas e indiana, mas, por acidente, faz amizade com o líder da resistência indiana.
Um dos filmes menos conhecidos de John Ford, e ao mesmo tempo um dos melhores filmes de Shirley Temple, baseado na história de Rudyard Kipling sobre uma jovem que viaja à India para conhecer o avô, e acaba por se tornar intrínseca à paz entre os indianos rebeldes e os militares imperialistas britânicos. É um filme surpreendentemente envolvente, que vai muito para lá do estigma de um "filme de Shirley Temple". E destaca-se como um dos filmes mais subestimados de Ford. 
John Ford e Shirley Temple são uma combinação perfeita. As míticas sensibilidades emocionais do estilo de Ford funcionam bem com a ingenuidade dos filmes de Shirley Temple. Priscilla não sabe de política, mas sabe o suficiente para perceber que Kahn não quer magoar ninguém, e o Coronel Williams também não quer. Então porque lutam?
Victor McLaglen rouba o filme como o amável sargento MacDuff, que chora quando Priscilla admira um retrato dele em criança. A química entre os dois era tão grande, dentro e fora da tela, que Ford voltaria a reuni-los 11 anos mais tarde, em "Fort Apache". 

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A Primeira Batalha (The Plough and the Stars) 1936

Nora Clitheroe (Barbara Stanwick) dirige uma casa de alojamento em Dublin e tenta ficar longe da turbulência política que se faz sentir no país, então fica muito preocupada quando o seu marido Jack (Preston Foster) se junta a uma milícia de rebeldes irlandeses que luta contra os ingleses. Nora teme pela segurança de Jack e pede-lhe para ficar longe das forças rebeldes, mas ele não só faz o contrário como ainda se torna um dos comandantes dos rebeldes.
John Ford, cujo orgulho feroz da sua herança irlandesa muitas vezes se manifestava no seu trabalho, dirigiu este drama histórico que usa como pano de fundo as rebeliões irlandesas da Páscoa de 1916 contra as forças inglesas que governavam na altura. Terminava aqui uma trilogia que depois seria chamada de trilogia céltica, da qual fazem ainda parte "The Informer" e "Mary of Scotland", e que era marcada pelas fortes convicções do realizador. Convicções essas que lhe deram problemas com os próprios irlandês, e com o estúdio produtor, a RKO.
Ford teve várias discussões com os estúdios da RKO Pictures enquanto produzia o "The Plough and the Stars", principalmente depois do estúdio ter re-filmado algumas cenas com outro realizador para aliviar um pouco a inclinação política que Ford queria dar a esta obra, e isso levaria a que o realizador nunca mais quisesse filmar para a RKO. O filme teria assim duas versões, mas seria a do realizador que seria exibida na Irlanda e em toda a Europa. 
Mesmo com todos os seus problemas, continua a ser um bom filme. 

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Mary Stuart, Raínha da Escócia (Mary of Scotland) 1936


Mary Stuart regressa à escócia para governar como rainha, para o desgosto de Elizabeth I de Inglaterra, que considera uma rival perigosa. Há muita confusão sobre com quem Mary se casará, e para seu arrependimento posterior ela escolhe o Lord Barnley sobre o forte mas pouco popular Earl of Bothwell. Um golpe palaciano leva à guerra civil e prisão domiciliária de Mary, mas ela escapa e foge para Inglaterra, onde um destino pior a espera…
O que poderia ser um poderoso e agitado drama histórico, "Mary of Scotland" acaba por ser um filme bastante tépido, porque não foi feito da melhor forma. Muito se falou sobre a actriz Ginger Rodgers ter querido o papel de Elizabeth no filme, mas não foi permitida, e por certo que faria melhor que a actriz escolhida, Florence Eldridge. Grande parte do insucesso do filme deveu-se ao casting da actriz principal, Katherine Hepburn, num papel que não lhe servia. Ao contrário da histórica Mary, a heroína do filme é demasiado macia e demasiado vitima. Se lhe tivessem dado o fogo, a paixão que a verdadeira Mary tinha, talvez Hepburn tivesse dado uma outra força à personagem. 
Grande parte do diálogo de Maxwell Anderson, o autor da obra original, foi perdido quando adaptado para o cinema, por Dudley Nicholas, e isso funcionou tanto a favor como contra o filme. John Ford também não parece muito confortável neste território do drama histórico, mas ele e o director de fotografia Joseph H. August dão ao filme um visual marcante, principalmente nas formas diferentes como filmam Mary e Elizabeth. Se Mary é uma personagem aborrecida, pelo menos tem um bom apelo visual.
Legendas em espanhol.

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quinta-feira, 18 de abril de 2019

O Prisioneiro da Ilha dos Tubarões (The Prisioner of Shark Island) 1936

Depois do presidente Abraham Lincoln ser assassinado por John Wilkes Booth no Teatro Ford em 1865, Booth foi perseguido por soldados da União, e morto 12 dias depois. Oito pessoas foram posteriormente acusadas de conspirar ou ajudar Booth. Foram considerados culpados por um tribunal militar, quatro foram enforcados, um recebeu uma sentença de 6 anos de cadeia, e outros três levaram com prisão perpétua. Entre este último grupo estava um médico de Maryland, Dr. Samuel Mudd, que tinha tratado a perna que Booth partiu quando saltou do camarote de Lincoln para o palco depois de disparar contra o presidente. "The Prisioner of Shark Island" é a história de Mudd contada por John Ford, baseada num argumento original de Nunnally Johnson, que viria a escrever mais tarde alguns dos seus filmes mais importantes, embora aqui trabalhassem pela primeira vez.
No filme, Mudd (Warner Baxter) é retratado como uma vítima inocente das circunstâncias, injustamente acusado, e vítima de uma condenação apressada. Quando o conhecemos pela primeira vez, ele é um médico feliz que vive numa quinta em Maryland, com a sua esposa (Gloria Stuart), uma filha jovem, e um sogro briguento. Quando ele trata de Booth não faz a mínima idéia de quem Booth é, ou que Lincoln está morto, mas depois dos soldados perseguirem o assassino, descobrem que Mudd o tratou, prendem-no como conspirador, e levam-no para Washington para ser julgado. Desde o início que é maltratado, e a sua família desinformada sobre o que lhe está a acontecer. O tribunal é descrito como um tribunal que ignora os princípios básicos da justiça criminal. 
Em 1935, pouco depois do seu grande sucesso crítico de "The Informer", John Ford foi para a 20th Century Fox para fazer "The Prisioner of Shark Island", o primeiro de um contrato não exclusivo com o chefe de produção Darryl F. Zannuck. Acabaram por fazer juntos 12 filmes, entre os quais obras primas como "How Green Was My Valley", "The Grapes of Wrath" ou "My Darling Clementine". A parte fascinante é que Zannuck era um tirano, e foi incrível como ele se conseguiu dar bem com um iconoclasta como Ford. Os dois já se tinham cruzado em "Steamboat Round the Bend", e Ford tinha afirmado que os dois tinham o relacionamento ideal. Mesmo permitindo o exagero sentimental da idade, a disciplina exercida por Zannuck provocou algo de criativo em Ford, e a colaboração entre os dois tornou-se muito produtiva.

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terça-feira, 16 de abril de 2019

Steamboat Round the Bend (Steamboat Round the Bend) 1935

John Pearly é um vigarista afável na viragem do século que vende um remédio patenteado cujo ingrediente principal é whiskey. Ressuscita um barco a vapor destruído com uma tripulação improvisada e desafia o respeitável mas arrogante Capitão Eli para uma corrida pelo rio. Pearly espera que o seu sobrinho Duke seja o piloto, mas o jovem é acusado de assassinar um "rato do pântano" que ameaçou a honra da sua namorada.
Último filme de Will Rogers (o tal actor mais famoso do mundo em 1935), estreado já depois da sua morte num trágico acidente de avião, é similar em muitos aspectos às colaborações anteriores com o realizador John Ford: mais uma vez Rogers interpreta um tipo descontraído e mais do que disposto a ir contra as normas sociais para fazer o que é "certo". O seu personagem não é tão nobre desta vez, ao contrário de um médico, como é "Doctor Bull", ou um juiz, em"Judge Priest", ele é inicialmente um vendedor de óleo de cobra, um "falso médico", que espera gerir um barco a vapor.
Tal como o barco a vapor onde grande parte da história se passa, o filme avança num ritmo estável, nunca criando uma sensação de urgência, nem quando Pearly e Belle vagueiam pelo Mississipi em busca de New Moses, o único homem capaz de salvar Duke da forca.
Mesmo assim está longe de ser um bom filme, pelo menos que esteja ao nível da maioria dos filmes de Ford e Will Rogers.

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segunda-feira, 15 de abril de 2019

O Denunciante (The Informer) 1935

Dublin, 1920. Gypo Nolan é um homem forte mas não muito brilhante que é expulso de uma organização rebelde. Quando descobre que a sua igualmente destituída namorada Katie é obrigada a dedicar-se à prostituição ele sucumbe à tentação e trai o seu ex-camarada Frankie às autoridades britânicas por uma recompensa de 20 libras. No decorrer de uma noite sombria e nebulada a culpa e a retribuição aproximam-se…
"The Informer", livro escrito por Liam O´Flaherty no inicio dos anos 20, foi pela primeira vez levado ao cinema em 1929 com Cyril McLaglen como protagonista. Quando John Ford refez o filme em 1935 o papel do trágico protagonista foi parar ao irmão de Cyril, Victor McLaglen. Victor acabaria por ganhar um Óscar por este papel, muito merecidamente, assim como diversas outras nomeações. John Ford também ganhou o seu primeiro Óscar de melhor realizador, e o seu habitual argumentista, Dudley Nichols o seu primeiro e único Óscar de Melhor Argumento, apesar de o ter recusado por causa do antagonismo entre várias corporações da indústria e questões sindicais (foi a primeira vez que a estatueta foi rejeitada). Apesar do filme ter sido um sucesso crítico e de prémios, acabou por conseguir maus resultados na bilheteira.
É fácil perceber porque o filme é tão importante na filmografia de Ford. Cada cena parece ter sido trabalhada e esculpida para que tudo parecesse perfeito. O uso dominante de luz e sombra contra uma Dublin fortemente enevoada é visualmente impressionante.  É também uma história muito católica, que faz um forte uso da iconografia da igreja. Os "problemas" da Irlanda rebelde de 1922 são apresentados como uma mistura de pesar religioso e político, com a história a ser um paralelo óbvio da traição de Cristo. 
Este filme veio também trazer uma grande revigoração para a carreira de Ford. A partir daqui ele passava a ser um realizador oscarizado, e tudo passaria a ser diferente. Não levaria  muito tempo até conseguir o seu segundo prémio.

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sábado, 13 de abril de 2019

Não se Fala Noutra Coisa (The Whole Town´s Talking) 1935

Arthur Ferguson Jones é um homem normal que leva uma vida muito simples. Nunca chega atrasado ao trabalho, e nada de interessante acontece na sua vida. Um dia tudo muda na sua vida, adormece e é despedido como exemplo. Logo depois é confundido com um criminoso chamado Mannion e é preso. As semelhanças são tão impressionantes que a polícia lhe dá um livre-trânsito para evitar um erro similar. O verdadeiro Mannion vê uma oportunidade para andar à vontade, se roubar o livre-trânsito a Jones.
Este foi o filme que revitalizou a carreira de Edward G. Robinson depois de uma série de flops, que junto com "A Slight Case of Murder" (1938) foi das muito poucas comédias com o seu nome nos créditos. Esta comédia de gangsters, realizada por John Ford, foi invulgar na composição dos seus argumentistas, que contava com nomes como Robert Riskin e Jo Swerling, habituais colaboradores de Capra, a partir de uma história de W. R. Burnett, um argumentista habituado a histórias de gangsters e durões que escreveu, por exemplo, "Little Caeser" (1931) e "High Sierra" (1941). A parte mais estranha era mesmo o facto de ser Ford a realizar uma comédia de gangsters, mas ele já tinha feito algo próximo em "Up the River"
Robinson é surpreendentemente convincente numa personagem que é essencialmente a antítese da sua personalidade durona, embora como Mannion tenha um desempenho sinistro e assustador, como seria de esperar. É ele quem desempenha as duas personagens, com extrema mestria. E depois temos Jean Arthur, que garante a maior parte das risadas como a colega de trabalho atrevida de Jones, por quem ele tem uma queda, enquanto John Ford infunde ao filme um clima bastante familiar. 

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