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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Quo Vadis? (Quo Vadis?) 2001

Marcus Vinicius (Pawel Delag), um alto oficial militar romano, apaixona-se pela filha do rei, Lygia (Magdalena Mielcarz). Ela foi feita refém por Nero, mas goza da protecção do tio de Marcus, Petronius (Boguslaw Linda), que representa a epítome da civilização romana (ele foi o autor de "Satyricon"), e é habilidoso o suficiente para ser o único homem de confiança do cada vez mais perturbado Nero. Marcus comete o erro de exigir Lygia como sua concubina, apesar da sua atração mútua, mas ela não pode aceitá-lo nestes termos...
O veterano Jerzy Kawalerowicz, aos 79 anos, faz uma versão extremamente elaborada do famoso livro de Sienkiewicz, "Quo Vadis?", que já tinha visto várias versões, sendo este considerado o filme mais caro de sempre do cinema polaco. Teve um orçamento de 18 milhões de dólares, que era superior a muitas produções de Hollywood da altura. Por exemplo, "The Silence of the Lambs", de Jonathan Demme, teve apenas mais um milhão de budget.
A história conheceu diversas versões cinematográficas, com a mais famosa a ser a de Hollywood, realizada por  Mervin LeRoy em 1951, e com Robert Taylor e Deborah Kerr nos principais papéis. Esta seria a quinta versão da história, e Kawalerowicz sonhava realizá-la há 35 anos, porque sentia que as versões anteriores não feito justiça suficiente ao estilo e conteúdo do livro. Figurinos, cenários, e efeitos especiais muito realistas, transformam o filme numa tentativa credível de permanecer fiel aos eventos históricos e pessoas em que se baseia.  

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Austeria (Austeria) 1982

Verão de 1914. Primeiro dia e noite da grande guerra. Um grupo de refugiados judeus encontra-se preso numa pousada fronteiriça: representantes da rica burguesia e dos camponeses pobres, radicais políticos e radicais religiosos...Um confronto das atitudes das pessoas numa situação de incerteza e perigo. Apenas Tag, o velho e sensato porteiro, mantém uma calma estoica. Com os seus dons para o drama psicológico íntimo Jerzy Kawalerowicz pinta um retrato vivo de um mundo desaparecido, os judeus polacos com as suas crenças, tradições, e humor original...
Debaixo do regime Comunista na Polónia (1944-1989) não havia uma livre discussão sobre etnias ou minorias: não só sobre os Judeus e o Holocausto, mas também sobre as minorias ucranianas, bielorussas ou alemãs. O partido comunista polaco fabricou uma visão de propaganda de uma nação homogénea, "unida sob a sábia liderança do Partido dos Trabalhadores". Isto criou uma visão distorcida e falsificada da história, porque a Polónia sempre foi multiétnica e multicultural, desde o inicio. "Austeria", de Kawalerowicz, era tão importante para a cultura polaca do pós-guerra porque era uma das poucas excepções, quando durante um curto período de liberalização, os artistas foram autorizados a dizer a verdade. 
A história por trás de "Austeria" está cheia de dificuldades e drama. O filme não é apenas um tributo a um mundo que foi irrevogavelmente destruído mais tarde pelo Holocausto, mas também é um testemunho da tenacidade do realizador, que lutou 15 anos para conseguir fazer o filme.
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Faraó (Faraon) 1966

O estado egípcio enfrenta dificuldades, os assírios pressionam por fora, o estado está à beira da bancarrota, profundamente endividados aos mercadores fenícios, e as pessoas não podem ajudar, porque estão pobres. Ramses XII morre, e o seu filho Ramses XIII é proclamado faraó. Para acabar com o rápido declínio do Egipto, o jovem Ramses XIII decide aproveitar os tesouros armazenados por gerações nos templos, para gasta-los em reformas sociais e travar a guerra contra a Assíria. Mas o Clero opõe-se, e começa uma guerra política e religiosa entre os sacerdotes e o jovem faraó. 
"Faraó" traz-nos uma mistura inebriante de visuais deslumbrantes e cenários que trazem o mundo antigo de areias e superstições vividamente para a vida, ao mesmo tempo concentrando-se no drama humano íntimo com um estilo de exposição que tem muito a ver com as obras de Shakespeare. Contrastando com "The Ten Commandments" (1956), de Cecil B. DeMille é um exercício útil, porque confunde a sua história com a história da Páscoa, fazendo referências óbvias ao Holocausto nazi para formar um continuo sofrimento judaico, que apesar de subestimado, funciona como um valente soco. Onde DeMille criava um mundo tão fantástico que o seu filme se tornava uma lenda por direito próprio, Kawalerowicz criava um mundo primitivo em que o poder do mito e do ritual é realmente aterrorizante. 
O filme é adaptado de um romance do século 19 do escritor polaco Bolesław Prus, com o mesmo nome. A produção demorou três anos, começando no Outono de 1962 com a criação de um estúdio em Lodz. As filmagens tiveram lugar na Europa, Asia e Africa, com a maioria das cenas dos interiores a serem filmadas num estúdio em Lodz. As cenas de massas foram filmadas, em maioria, no deserto de Kyzyl-Kum, no Uzbequistão. O exército soviético forneceu 2000 soldados para trabalharem como figurantes, e o exército Egípcio mais 2000. O filme seria nomeado para o Óscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, assim como participou em Cannes, no festival de 1966.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Madre Joana dos Anjos (Matka Joanna od Aniolów) 1961

Passado no século XVII. Um convento numa pequena cidade está a ser visitado por altos oficiais católicos que tentam exorcizar a freira supostamente possuída por demónios. Um sacerdote foi queimado por se ter deixado tentar pelas freiras, principalmente a Madre Superiora que traz a histeria colectiva ao grupo. Entretanto chega ao local um jovem sacerdote que vem ajudar no exorcismo. O seu primeiro encontro com a líder do Convento, a Madre Joana dos Anjos, deixa-lhe marcas, e demonstra que não vai ser uma trabalho fácil...
Baseado em acontecimentos reais reportados em Loudon, França, "Madre Joana dos Anjos" funciona como uma sequela histórica ao filme de Ken Russell sobre o mesmo assunto, "The Devils", contudo feito 10 anos antes. A igreja desencadeou uma investigação ao padre anterior de Loudon, o padre Urbain Grandier, e suspeitou que ele dormia com as freiras. O convento inteiro, sob um notável feitiço de possessão, também o acusou de bruxaria, acabando por ser queimado na fogueira.
O filme precede "The Exorcist", de William Friedkin, em dois temas, tanto na virgen inocente transformada em objecto do demónio, como no seu tratamento a assuntos relacionados com demónios. Contudo, Jerzy Kawalerowicz, um estudante da Escola de Cinema Polaca, utiliza muito bem a frenética Lucyna Winnicka, interpretando de forma quase sobrenatural, como uma rebelde contra as tendências realistas do passado cinematográfico do seu país. O país estava sob o regime comunista, e os filmes eram feitos sob estritas directrizes, para poderem ser exibidos na União Soviética.
"Madre Joana dos Anjos" é um filme pesado, visualmente vigoroso, e profundamente perturbador da fé, da repressão e do fanatismo. Trouxe problemas inultrapassáveis para o realizador, que teve problemas com a igreja durante muitos anos. Exibido em Cannes em 1961, ganhou o prémio especial do júri. É o filme mais famoso do realizador internacionalmente.
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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Comboio Correio (Pociag) 1959

Um homem, Jerzy, entra num comboio para a costa do Mar Báltico. Ele parece estar em fuga de alguma coisa, tal como parece a estranha mulher com quem ele tem de compartilhar o compartimento. Entretanto, a polícia anda atrás de um assassino, que pode estar a bordo do comboio.
"Night Train" de Jerzy Kawalerowicz, possui todas as características de um clássico "filme de comboio". Um assassino em fuga, um encontro casual entre dois viajantes atraentes forçados pelas circunstâncias a partilhar uma cabine durante a noite, uma mise-en-scène restrita. No entanto, Kawalerowicz, procura outra coisa, e por detrás da relação entre os dois passageiros espreita um vazio profundo. no final do filme muitas questões do enredo permanecem sem resposta, algumas das relações centrais não são cumpridas, e o seu objectivo inescrutável. E isso não acontece por acaso. Para um filme ostensivamente preocupado com a sexualidade, há um sentido latente de solidão e perda, nas acções e palavras das personagens. O filme também é sobre a falta de coração na cultura polaca, assombrada pelo seu passado recente, relacionado com a guerra. 
"Night Train" é um retrato psicológico tenso, convincente e perspicaz da necessidade emocional, da histeria e do comportamento das pessoas. Utilizando ângulos agudos, iluminação de alto contraste, e enquadramentos estreitos e claustrofóbicos, Jerzy Kawalerowicz cria um sentido de ambiente elevado, que reflecte a consciência dos passageiros e as emoções sublimadas.
O filme foi feito na época pós-estalinista na Polónia, quando os artistas podiam produzir arte que não fosse partidária, e este filme é uma examinação subtil tanto do persistente trauma da guerra, como do facto que o comunismo não ofereceu ser uma alternativa redentora ou significativa. Assim, as falhas da passada ordem social, e a ruptura violenta do antigo regime no pós-guerra são inseparáveis da cultura sexual e social representada pelos passageiros do comboio. 

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segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Shadow (Cien) 1956

O filme consiste em três histórias de suspense. Começamos no presente, em 1956, quando um jovem casal passeia no seu carro, por uma estrada rural ladeada de terras planas, e acabam por ver um homem cair de um comboio expresso a alta velocidade. O oficial encarregue da investigação tem a certeza que a sua identidade será descoberta, já o médico legista não tem tanta certeza, dado o estado em que o cadáver foi encontrado. Ele começa a relatar uma história passada em 1943, durante a ocupação Nazi da Polónia, quando um traidor da resistência causou um incidente mortal, e nunca foi descoberto. 
O segundo conto é relatado por outro detective. Em 1946 há instabilidade e luta contra o governo provisório. Existe um grupo de terroristas activos, e o detective e outro homem conseguem infiltrar-se, mas a ajuda desse outro homem vai ser ineficaz.
De volta ao presente, um jovem trabalhador das minas de carvão é preso quando sai do comboio. É suspeito da morte do homem que caíu do comboio no inicio do filme, e começa a contar a sua história à volta de todo este mistério. 
Estas três histórias negras estão enraizadas na realidade polaca, que tem a ver com temas e acções políticos, ao contrário das histórias americanas do período do cinema Noir, que têm mais a ver com o comportamento criminoso do homem. Mas em comum com o Film Noir americano, as histórias em "Cien" geram um ambiente de suspeita, medo, traição e incerteza, com os exteriores escolhidos a acrescentarem um enorme realismo. Há sequências no comboio que são reais, nas quais os actores perigosamente perseguem alguém com apenas um corrimão estreito a separá-los de caírem para a rua. Nesta, e noutras sequências o filme situa-se perfeitamente entre o "film noir" e o neo-realismo", alcançando o elemento documental que marca o neo-realismo  italiano. 
Um dos primeiros filmes de Jerzy Kawalerowicz, que lhe valeu a sua primeira participação em Cannes. Legendas em Inglês.

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domingo, 25 de dezembro de 2016

Jerzy Kawalerowicz

Durante a Segunda Guerra Mundial era permitido filmar em todos os países debaixo da ocupação alemã, excepto na Polónia, pelo medo do uso subtil de referências patrióticas. Os filmes polacos que emergiam dos escombros da guerra, tendiam a lidar com temas como a ocupação nazi, os horrores da guerra, e os heróis da resistência, mas os filmes dirigidos por Jerzy Kawalerowicz eram uma excepção.
O seu mais famoso filme, "Mãe Joana dos Anjos" (1961), passado num convento do Século XVII, foi o primeiro filme polaco do pós-guerra a não lidar com a guerra: era a história de um padre que investigava possessões demoníacas entre freiras, para se tornar objecto do desejo da Madre Superiora. O tema, supostamente baseado em factos verídicos, também inspirou um livro de Aldous Huxley, um filme de Ken Russell, e uma opera de Krzysztof Penderecki, era uma poderosa alegoria do bem versus o mal, a castidade versus o erotismo.
De acordo com Kawalerowicz, de quem era de conhecimento público que era ateu, é tomada uma posição clara contra o dogma humano. Não seria de estranhar que a igreja se colocaria contra o filme desde o início, colocando panfletos nas igrejas avisando as pessoas que era pecado mortal ver o filme. Seriam precisos muitos anos até à reconciliação de Kawalerowicz com a igreja, até ao ano de 2001, quando o Papa polaco João Paulo II assistiu à estreia do último filme do realizador "Quo Vadis".
Kawalerowicz nasceu na cidade de Gwozdziec, que em breve se tornaria parte da rússia ucraniana. Nesta cidade 60% da população era composta por judeus, 30% ucranianos, 10% polacos, e era uma cidade muito típica da segunda guerra, destruída pelo holocausto. Este cenário serviria de base para um dos melhores filmes do realizador, "Austeria" (1982), passado no primeiro dia da Primeira Guerra Mundial, quando um grupo de judeus foge do exército cossaco do Czar, ficando encurralado numa estalagem. Com a sua inclinação habitual para o drama psicológico íntimo, e a sua inclinação para a história, Kawalerowicz pinta um retrato vívido, de um mundo recentemente desaparecido.
Kawalerowicz estou arte em Cracóvia, antes de entrar no instituto cinematográfico. Tornou-se assistem de realização com 20 e poucos anos, e começou a realizar em 1952. Em 1955 tornou-se líder da prestigiada unidade de produção KADR. Durante o seu mandato sempre resistiu a pressões do regime comunista para produzir abertamente filmes de propaganda. No entanto, ficou mal visto aos olhos de muitos, quando em 1983, assinou um documento que criticava alguns realizadores, como Andrzej Wajda, que antes apoiava solidariamente.
Os filmes que realizava, muitas vezes com alguns anos de diferença, mudavam muito de estilo e de assunto, de um para o outro. "Night Train" (1959), está algo entre o estudo psicológico e um thriller. Conta a história de uma mulher que sofre uma crise interna, compra um bilhete para um comboio de férias lotado, e se vê a dividir o compartimento com um médico infeliz. A policia embarca no comboio em busca de um assassino.
O último filme de Kawalerowicz foi feito com a idade de 79 anos, e era o impressionante "Quo Vadis?" (2001), quinta e talvez melhor adaptação para o cinema da famosa obra de Henryk Sienkiewicz, romance do século XIX sobre Roma e o domínio de Nero. Kawalerowicz sonhava realizá-la há 35 anos, porque sentia que as versões anteriores não feito justiça suficiente ao estilo e conteúdo do livro. Com um orçamento de 7,5 milhões de libras, o mais alto de sempre para um filme polaco, foi-lhe dada a hipótese de tornar o conto épico mais fiel à história original possível.
O realizador falecia seis anos depois, com a idade de 85 anos.


 Esta semana vamos homenagear este realizador polaco. Não veremos todos os seus filmes, mas veremos as suas obras mais importantes:

- Shadow (Cien) 1956

- Night Train (Pociag) 1959

- Madre Joana dos Anjos (Matka Joanna od Aniolów) 1961

- Faraó (Faraon) 1966

- Austeria (Austeria) 1982

- Quo Vadis? (Quo Vadis?) 2001