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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Juízo Final (Todo Modo) 1976

M. (Gian Maria Volonté) atravessa a cidade de Roma, no meio do caos de uma iminente epidemia, até ao centro espiritual de Zafer, local onde personalidades do mundo político e económico se encontram e onde estão a ocorrer estranhos acontecimentos. Lá, M. chega quebrando todas as regras, ao levar a esposa consigo. Durante um ritual religioso, os anfitriões são roubados, um senador é morto a tiro, um suspeito é encontrado desmaiado na casa de banho. E M. tem de descobrir o que realmente está a acontecer, antes que seja a próxima vítima.
O filme foi considerado uma crítica à corrupção no Partido Democrático Cristão italiano, e um ataque ao poder da igreja católica, e, no entanto, é necessário ser visto ou revisto nos dias de hoje, principalmente porque apresenta um argumento muito forte, interpretações soberbas de Gian Maria Volonté, no papel do presidente (uma figura que evoca o político italiano Aldo Moro, assassinado pelas Brigadas Vermelhas em 1978), um homem que parece interessado em fazer toda a gente feliz, mas motivado por uma sede infinita de poder, e Marcello Mastroianni como Don Gaetano, um sacerdote ganancioso com muitos amigos entre os amigos proeminentes, e Mariangela Melato como Giacinta, a mulher do presidente, além da música de Ennio Morricone (Charles Mingus foi originalmente escolhido para a partitura musical).
Alguns consideraram-no enigmático e lento, mas "Todo Modo" fornecia inspirações arquitectónicas muito importantes, e deve ser considerado entre os filmes sobre arquitectura. Seria o penúltimo filme de Elio Petri, um nome importante sobre o cinema político italiano.

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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A Décima Víctima (La Decima Vittima) 1965



O filme não perde tempo para nos levar até ao centro da história. Começamos com um homem armado a perseguir uma mulher. Um polícia pára o atirador e inspeciona a sua arma, para o deixar seguir de seguida, e continuar a sua caça. Este evento, conhecido como “The Big Hunt”, era uma forma de violência legalizada. As regras são simples, e dizem que cada participante deve participar em 10 caçadas - cinco das quais são caçadores, e as outras cinco são caçados. “The Big Hunt” é controlada por um serviço electrónico, em Geneve. Cada caçador sabe tudo sobre a sua vítima, mas a vítima não sabe quem é o seu caçador, e deve descobri-lo e "despachá-lo"...
Baseado numa história curta de 1953, Seventh Victim" de Robert Sheckley, este filme de 1965 era uma co-produção entre a França e a Itália, com Ursula Andress como Caroline Meredith, uma bela caçadora que caça a sua décima vítima. A sua víctima é Marcello Poletti (Marcello Mastroianni), outrora um homem rico, a quem a sua ex-mulher abandonou, sem dinheiro.Marcello sabe que está a ser caçado, mas não identifica imediatamente quem é o seu perseguidor.
Para um filme de 1965, "The 10th Victim" é um comentário interessante sobre a ganância social e o marketing de produtos. Mostra a humanidade como produto e objecto material. Enquanto Caroline caça a sua presa, e Marcello se ilude com a sua caçadora, a situação é patrocionada por empresas de bebidas, como se tudo fosse um grande jogo e o acto final fosse a morte. Toda esta publicidade de produtos num cenário virtual de assassinato dá impulso a uma total decadência da sociedade moral. "The 10th Victim" estava muito à frente do seu tempo, a década de sessenta. Embora tenha algumas situações cómicas, é um filme muito elegante, que faz bom uso de cenários futuristas.
Realizado por Elio Petri, que mais tarde ficaria conhecido pelos seus brilhantes filmes políticos. Mas aqui já se encontrava muita alegoria política.

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quarta-feira, 28 de maio de 2014

A Classe Operária Vai para o Paraíso (La Classe Operaia va in Paradiso) 1971



Lulù é muito trabalhador. Por causa disso é amado pelos patrões, e odiado por alguns colegas de trabalho. Os sindicatos decidem revoltar-se contra os patrões. Lulù não concorda, até cortar um dedo, por acidente. Agora, depois de confrontado com as condições de trabalho dos empregados, ele concorda com os sindicados e participa numa greve. É despedido imediatamente, e abandonado pela sua amante, e também por outros trabalhadores seus amigos. Só lhe resta o sindicato.

Drama social vencedor da Palma de Ouro em 1972 (ex-áqueo com "O Caso Mattei", que também veremos neste ciclo), que por acaso era a segunda Palma de Ouro para Elio Petri, em apenas três anos. Uma vez mais com a colaboração no argumento de Ugo Pirro, e com Gian Maria Volonté como protagonista. Há poucas dúvidas de que as convicções do realizador-argumentista são comunistas, projetando uma visão cínica do trabalhador, que ao mesmo tempo é fascinante e preocupante.
Petri, em Cannes, chamou ao seu filme de "propaganda para a classe trabalhadora", mas os seus activistas são fracos defensivamente quando confrontados com um Lulù desempregado, e os sindicalistas parecem estar a agir por conta própria.
O conceito do filme pode não ser totalmente original, já que "Coup Pour Coup", um filme francês de 1971, também mostra um caso de injustiça industrial. Mas, "La Classe Operaia va in Paradiso" é uma declaração de propaganda mais forte, e o mais importante, formou um movimento mais rápido e humano, muitas vezes perturbador. O filme tornou-se numa das obras-chave do cinema político.

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terça-feira, 27 de maio de 2014

Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita (Indagine su un Cittadino al di Sopra di Ogni Sospetto) 1970



O arrogante inspector da policia de homicídios (Gian Maria Volonté), corta a garganta da sua sexy namorada (Florinda Bolkan), enquanto faz amor, e, propositadamente, vai deixando pistas que conduzirão os investigadores a ele, apesar de se considerar um cidadão acima de qualquer suspeita. Acabado de ser promovido a novo chefe da polícia, será que o bem sucedido polícia consegue escapar do que crime que cometeu enquanto o realizador da extrema-esquerda Elio Petri nos conta uma história em que o poder corrompe?
Elio Petri era um ativista da esquerda bastante dedicado (e membro do partido comunista italiano), cuja carreira era brilhante para o conjunto de apenas 11 longas-metragens que realizou, mas é dificil de ser julgado porque as suas obras dificilmente eram vistas fora de Itália. O seu filme mais acessivel fora do país é uma sátira de ficção científica chamada "The 10th Victim" (1965), com Marcello Mastroianni e Ursula Andress, um conto sombrio que se transforma numa comédia lúdica.
Este filme de Petri era uma das dissecações mais incisivas sobre a patologia do poder, alguma vez passada para filme, e foi extremamente controverso na altura em que foi lançado, num período bastante volátil depois das convulsões sociais dos anos 60. Ainda com o filme em produção e já os produtores estavam preocupados com as repercussões das autoridades, e antecipando problemas com os censores. Mas, em tempos tão turbulentos, nem mesmo as forças da ordem têm força para levar para a frente a sua autoridade, contra um filme que estava a adquirir uma enorme popularidade, e elogios por todo o lado. Os censores permitiram que o filme fosse mostrado apesar do pedido de várias autoridades para ser proibido, por difamar a polícia.
O filme é dominado pela interpretação hipnotizante de Gian Maria Volonté, o polícia, a quem nunca é dado um nome. Um militante da esquerda, Volonté, que começou a sua carreira nos western spaghetti e se tornou na maior estrela do cinema político italiano no início dos anos 70, era um actor de extraordinária presença. Raramente fora do ecrã, ele atravessa todo o filme elegantemente vestido, carismático, num filme simultaneamente belo e repelente, numa mistura inebriante de Marx, Freud, Wilhelm Reich, e Brecht, com um pouco de Dashiell Hammett.
É um dos filmes italianos mais premiados dos anos 70. Em Cannes ganhou a Palma de Ouro, o Grande Prémio do Júri e o FIPRESCI Prize. Em 1971 ganhou o Óscar de Melhor Filme em Lingua Estrangeira, e em 1972 ainda conseguiu ser nomeado para o Óscar de Melhor Argumento. 
Uma palavra especial para a banda sonora de Ennio Morricone. Uma das minhas preferidas.

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