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domingo, 26 de agosto de 2018

A Ilha Nua (Hadaka no Shima) 1960

A vida dura e intolerável de uma família de quatro pessoas, os únicos habitantes de uma pequena ilha japonesa no arquipélago de Setonaikai. Eles cultivam uma colheita de batatas e trigo para comer e vender, mas a cruel ironia é que na ilha em que vivem não têm água potável para beber e irrigar os campos.
"A Ilha Nua" foi o improvável primeiro sucesso internacional do prolífico autor japonês Kaneto Shindô, que já tinha dirigido 14 longas metragens na década anterior, incluindo o provocador "Children of Hiroshima" (1952), que disputou a sexta edição do Festival de Cannes. Esta 15ª longa-metragem de Shindô é apresentada no formato de documentário sobre a luta diária de uma pequena família para cultivar um terreno árido numa ilha isolada, que tornou essa ilha conhecida para o mundo, depois de ter ganho o Grand Prix do Festival de Moscovo, e tornar-se um sucesso de bilheteira imprevisto, que acabou por salvar a produtora de Shindô, a Kindai Eiga Kyokai. Mesmo assim o filme ainda teve algumas críticas de japoneses, que estavam preocupados com o retrato de uma família camponesa isolada, que dava uma imagem primitiva do Japão.
"Hadaka no Shima" é a verdadeira essência do cinema minimalista. Não existem realmente diálogos no filme, e é pouco preciso na história. Shindô pretendia que o filme fosse uma espécie de experiência, uma tentativa de fazer um poema cinematográfico que transmitisse a vida camponesa rural, sem recorrer ao diálogo, e nesse aspecto é realmente bem sucedido. 
Shindô viria mais tarde a ser conhecido por "Onibaba" e "Kuroneko", dois filmes que já passaram por aqui.
Filme escolhido pela Joelle Ghazar.

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quinta-feira, 24 de julho de 2014

O Gato Preto (Kuroneko) 1968



Uma mulher e a sua afilhada são violadas e assassinadas por um grupo de samurais, durante a guerra civil. Pouco tempo depois, uma série de samurais regressados da guerra a essa área, são encontrados mortos com a garganta rasgada. O governador chama um jovem herói para acabar com o que aparentemente é um fantasma. Ele acaba por encontrar as duas belas mulheres, e depois de uma purificação espiritual vai envolver-se num duelo emocionante com um demónio.
Em parte baseado numa história do folclore japonês chamada "A Vingança do Gato", este filme de Kaneto Shindô é provavelmente a entrada definitiva do bakeneko (gato-demónio), sub-género do cinema de terror japonês, que também contava com obras como "Ghost Cat of Nabeshime" (1949) de Kunio Watanabe, "Ghost Cat of Arima Palace" (1953) de Ryohei Arai, ou "The Mansion of the Ghost Cat" (1958), de Nakagawa, obviamente traduzidos para inglês. As tradições teatrais japonesas estão no core deste clássico "kaidan eiga", com fortes elementos do teatro de Noh em algumas encenações e coreografias, assim como uma clara influência de Kabuki nas acrobacias e nos espíritos dos gatos.
Além de enraizado no antigo folclore japonês, é um filme envolvido tanto no tormento psicológico como na vingança do outro mundo. É portanto, um desvio significativo em relação à maioria dos filmes do realizador, que são elogiados pelo realismo do pós-guerra e forte crítica social. O historiador do cinema japonês Donald Richie descreveu Shindo como um "dos melhores pictorialistas do Japão", uma afirmação bastante apoiada por este filme, filmado elegantemente num visceral e expressionista preto e branco, é mais um filme arrebatador visualmente, cuja estética ajuda a completar um conto (talvez excessivamente) familiar de amor, perda e vingança.
Muito mais um filme de terror do que "Onibaba", do mesmo realizador, com as suas duas belas mulheres, e elementos do vampirismo e a mudança sobrenatural de forma, foi ignorado injustamente durante muito tempo, talvez devido ao crescimento dos filmes de monstros do Japão, mas com o tempo foi-lhe reconhecido o valor. 

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quarta-feira, 23 de julho de 2014

Onibaba (Onibaba) 1964



Uma velha mulher e a sua afilhada ganham a vida a matar samurais rebeldes, atirando o seu corpo para um grande buraco, para depois vender os seus pertences. Quando Hachi (um amigo do marido morto da jovem), regressa da guerra, começa uma relação aberta com a rapariga, causando que a jovem passe menos tempo com a velha, que se sente abandonada...
"Onibaba", de Kaneto Shindô, foi feito de forma independente, fora do sistema de estúdio japonês, e é um melodrama de terror atmosférico, com base num antigo conto popular budista. Passado no período feudal do Japão, conta a histórias de pessoas desesperadas, a tentar não apenas permanecer vivas num mundo de caos, como também tentando manter uma aparência de humanidade. Sentimentos e sexualidade são o coração da história,  com os instintos básicos - não só a fisicalidade animalesca mas também a necessidade de ligação - são o último refugio dos personagens.
Shindo teve a idéia brilhante de fazer o filme no meio das canas altas de Suski, que teve um efeito intenso na narrativa. É passado no tempo da guerra, e há até mesmo a sugestão da destruição quase apocalíptica, porque nunca vemos quaisqueres sinais genuínos de civilização, apenas os seus restos espalhados. O campo serve para isolar os personagens, criando uma espécie de microcosmos de humanidade que é, para todos os efeitos, tirado da guerra do mundo exterior.
A um nível puramente estético, "Onibaba" é uma excelente peça de cinema, enquanto Shindo carrega a sexualidade na mise-en-scene, em tudo, desde as folhas a balançar, o esvoaçar dos pássaros, ao nascer da lua. Há muito pouco diálogo, de modo que os recursos visuais são muito mais importantes, tanto narrativamente como simbolicamente. A atmosfera estranhamente atraente é agravada por uma partitura musical de Hikaru Hayashi que se articula de uma mistura de jazz livre com batidas tribais e vozes humanas que soam como gritos de uma sessão de tortura.

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