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sexta-feira, 18 de junho de 2021

Scarface, o Homem da Cicatriz (Scarface) 1932

Um dos primeiros filmes sobre crime organizado, "Scarface" é baseado num livro escrito por Armitage Trail, mas o argumento, escrito pelo nativo de Chicago Ben Hecht, infusa os personagens com experiências de gangsters da vida real, como Al Capone, Deanie O´Banion, Johnny Torrio, e "Big Jim" Colosimo. O filme abre com um perfácio que clama que os acontecimentos são baseados em actividades da vida real mafiosa, e corrupção do governo. O perfácio desafio então os espectadores, perguntando o que eles vão fazer acerca disso. 
Os censores condenaram filmes como Scarface", que combinavam entretenimento e cometário social, porque, mesmo que os criminosos sofressem mortes violentas no final, porque, segundo eles, "ao longo do caminho criava-se sempre uma certa simpatia pelos criminosos, ou noutros casos, ensinava-se métodos do crime bem sucedidos a jovens influenciáveis". O mais perigo de uma série de filmes de gangsters do inicio da década de 30 tinha de ser este "Scarface", a quem Jason Joy, o chefe do SRC rejeitou a ideia inicial de fazer o filme ao produtor Howard Hughes, e que ele nem pensasse em fazê-lo sob nenhuma circunstância. Nesta altura os filmes de gangsters eram repugnantes, tanto para os censores como para o público, mas isso não fez Hughes mudar de idéias, e ordenou que Howard Hawks avançasse com o projecto. 
A primeira versão do filme era tudo o que Hughes queria, mas chumbou no SRC, como seria de esperar, por excesso de violência, e não só. Mostrava políticos e cidadãos comuns a socializar com gangsters, e depois a denunciá-los publicamente. Até a própria mãe do gangster principal tratava o filho com amor, e isso incomodava os censores. 
Muitas mudanças foram feitas para que o filme pudesse ser aprovado, e foi ordenado que ao título fosse acrescentado um sub-titulo, que seria "Shame of a Nation", para que não restassem dúvidas que o filme estava a acusar os gangsters e não a glorificá-los. Mesmo depois de todas as mudanças aprovadas, e o sub-titulo acrescentado, o filme ainda seria rejeitado por diversos censores locais, como em Nova Iorque, Virginia, Ohio, Kansas, Maryland. Ao todo viriam a ser feitas três versões do filme. 

domingo, 6 de junho de 2021

Frankenstein (Frankenstein) 1931

Num prológo antes da exibição dos créditos, um senhor de smoking sai de trás de uma cortina fechada e faz um "aviso amigável" ao público:
"Como vai? O Sr. Carl Laemmle [o produtor] acha que seria um pouco desagradável apresentar este filme sem apenas uma palavra de advertência amigável. Estamos prestes a desvendar a história de Frankenstein, um homem da ciência que procurou criar um homem segundo a sua própria imagem sem contar com Deus. É uma das histórias mais estranhas já contadas. Ele lida com os dois grandes mistérios da criação - vida e morte. Acho que vai emocionar. Isto pode chocá-lo. Pode até - horrorizá-lo. Então, se algum de vocês sente que não se consegue submeter os nervos a tal tensão, agora é sua hipótese. . . uh ... bem, nós avisamos."
A história de Frankenstein dificilmente causaria uma reação nos dias de hoje, mas o público que assistiu à estreia a 29 de Outubro de 1931, no Granada Theatre em Santa Barbara, Califórnia, achou o filme violento demais, e traumatizante para as crianças. Numa biografia do realizador James Whale, um produtor que acompanhou o realizador na estreia disse que o filme deixou o público nervoso, uma reação que deixou Laemme perturbado, ao ponto de considerar o filme um desastre. 
Depois das críticas recebidas na estreia, alguns estados foram exigentes e ordenaram uma série de cortes para que o filme fosse exibido, como por exemplo, na cena em que o monstro afoga a menina, uma cena que ainda é dura para os dias que correm, entre várias outras. Depois dos cortes terem sido feitos, ainda foram pedidos mais uma série de cortes para que o filme fosse exibido noutros estados.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

A Patrulha Perdida (The Lost Patrol) 1934

Durante a campanha no deserto da Mesopotâmia durante a Primeira Guerra Mundial, um comandante de um regimento britânico é morto. Não tendo retransmitido ou registrado as suas ordens recentes, a patrulha de 12 homens não sabe onde está, nem onde se encontram os restantes soldados. Agora, liderados por um sargento corajoso, decidem descansar num forte abandonado onde esperam reforços para lutarem contra os árabes. Mas estes atacam silenciosos durante a noite, e vão matando os homens da patrulha um a um…
"The Lost Patrol" é um filme de John Ford bastante conceituado, baseado no livro de Philip MacDonald chamado "Patrol", que por sua vez já tinha tido uma adaptação para o cinema poucos anos antes, e emprega o conceito de "And Then There Were None", que é utilizado com muito suspense. Contando com Victor McLaglen como protagonista, um actor que viria a participar em inúmeros dos seus filmes, principalmente westerns, e com quem ganharia um Óscar no ano seguinte, em "O Denunciante": McLaglen o de Melhor Actor, Ford o de Melhor Realizador, mas lá já chegaremos. McLaglen tem uma grande interpretação, assim como todo o elenco de apoio, que incluía Boris Karloff, no papel de um fanático religioso que rapidamente perde a cabeça.  
Foi um dos grandes êxitos do realizador desta sua fase inicial do cinema falado, e apesar de hoje em dia estar um pouco datado, talvez por causa da sua história ter sido repetida inúmeras vezes, seria uma obra muito importante na carreira do realizador, que revisitaria continuamente temas semelhantes como o da coragem e covardia em muitos dos seus filmes posteriores.

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terça-feira, 11 de abril de 2017

Oito Desaparecidas (Lured) 1947

Oito Desaparecidas (Lured) marca de uma forma declarada a entrada de Sirk no filme noir, numa espécie de thriller com laivos de Hitchcock. Retoma a colaboração entre o realizador e George Sanders que se iniciara em Escândalo em Paris, o seu filme anterior. 
O filme é um remake de Pieges de Robert Siodmak, realizado em França em 1939. Como não tive oportunidade de o ver, não tenho possibilidades de fazer comparações. No caso vertente de Lured, trata-se de mais uma obra subestimada de Douglas Sirk, um pouco como sucedeu à maioria das suas realizações da década de 40, ofuscadas pelos melodramas dos anos seguintes e que se tornariam nos seus filmes mais populares e conhecidos. Mas foi exactamente o sucesso desses melodramas que abriu portas para o interesse pelos seus filmes anteriores, tanto da sua fase alemã, como dos seus primórdios em Hollywood que foi recuperada para este ciclo. Lured é um desses casos. Referi Hitchcock e o paralelismo com alguns dos seus filmes mais famosos desse período e a comparação não me parece descabida, tanto no conteúdo, como em alguns aspectos formais. Em Londres somos introduzidos a um serial killer, uma espécie de nova versão de Jack o Estripador, aqui com requintes poéticos que remetem para a obsessão pela morte de Charles Baudelaire. Há igualmente todo o processo para a polícia desvendar o possível criminoso, com todos os ingredientes comuns neste tipo de filmes: mistério, um desenvolvimento do argumento que nos leva a caminhar numa determinada direcção, para depois percebermos que as pistas são falsas e dão-nos abertura para percebermos quem de facto é o verdadeiro responsável. Hitchcock é imbatível neste tipo de filmes, mas Sirk não lhe fica muito atrás. O filme é ágil e desenvolto, com um ritmo muito vivo e sem quebras, prendendo de imediato a atenção do espectador. Mais na década 40 do que na seguinte, Sirk não ficou preso a um único tipo de filmes, movimentando-se com versatilidade por diferentes géneros. A direcção de actores é, como de costume, excelente, com a particularidade do papel principal pertencer a uma mulher, no caso, Lucille Ball. A cena mais interessante do filme, no entanto, deve-se à presença do mítico Boris Karloff, o célebre actor britânico de filmes de terror, sobretudo conhecido pelos seus papéis em filmes como Frankenstein, Scarface ou The Lost Patrol. Embora aqui tenha apenas um pequeno papel e numa lateralização ao contexto geral do argumento, temos um Karloff ao nível do que o conhecemos em muitas das personagens que encarnou: estranho, alucinado e completamente distante da realidade. 
Lured teve reacções mistas na altura da sua saída. Recentemente foi alvo de uma edição em blu-ray num pack que inclui o anterior Escândalo em Paris. Alguns críticos consideraram-no o menos interessante dos dois, referindo o mimetismo face à versão original. Não sei
se partilho essa opinião, uma vez que gosto muito de ambos. Sem ser uma obra prima, merece um visionamento atento, sobretudo para se descobrir outra faceta do realizador, normalmente menos conhecida. 
*texto de Jorge Saraiva.

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sábado, 24 de agosto de 2013

O Diabo Manda (The Devil Commands) 1941



O ícone do terror Boris Karloff tem um de seus papéis mais ressonantes em The Devil Commands. Como pioneiro nas pesquisas de ondas cerebrais o Dr. Julian Blair é uma mistura característica de ameaça e vulnerabilidade. Blair começa o filme como um homem de família alegre e um cientista respeitado, mas a morte prematura da sua esposa Helen (Shirley Warde), leva-o para longe dos seus respeitados colegas e da amorosa filha Anne (Amanda Duff). 
Decidido a usar a tecnologia de gravação de ondas cerebrais para contactar com a esposa do "além", Blair junta-se a uma espiritualista manipuladora, Mrs. Walters (Anne Revere). Abandona a filha Anne, e muda-se para uma vila distante para realizar o seu trabalho sinistro, e ainda ajuda a encobrir o assassinato da sua própria empregada, mantendo ao mesmo tempo a simpatia do público.
"The Devil Commands" foi feito em pouquissímo tempo e com um orçamento apertado pelo realizador Edward Dmytryk, ainda em início de carreira. É graças aos créditos de Dmytryk que o filme, apesar de ter pouco mais de uma hora de duração, leva algum tempo para permitir que os personagens se desenvolvam. Por exemplo, embora a Sra. Blair apareça em apenas algumas cenas antes da sua morte, ainda se sente o calor entre o casal, fazendo posteriormente a dor de Julian, prolongada e crível.
Karloff acaba por não ser a figura sinistra central do filme. Essa seria Anne Revere, obscura e estranhamente sexy como a inescrupulosa Sra. Walters. Revere, provavelmente, poderia ter se tornado um ícone do terror pelo seu próprio direito, se quisesse, ou lhe tivesse sido dada uma hipótese (ironicamente, esta descendente do patriota americano Paul Revere foi colocada na lista negra, como o realizador). O seu desempenho aqui vai intrigar os devotos do terror clássico e os fãs casuais que podem nunca ter ouvido falar dela, ou visto um seu filme. 
Junto com o resto do filme, Mrs.Walters mostra uma janela invulgarmente clara sobre os medos da época, em 1941, quando os EUA estavam a lidar com a postura isolacionista em relação à Segunda Guerra Mundial. A ansiedade é espelhada na própria rejeição da sua família e da respeitabilidade de Blair, a fim de buscar o fantasma de sua esposa. Esta busca é uma casa de espelhos invertida como que a enviar jovens soldados ao exterior, para morrer. Aqui ele vai trazer Helen de volta dos longos mares da morte. 
Blair tenta provar que a corrente eléctrica gerada pelo cérebro humano não desaparece após a morte (e não é por acaso que as correntes das mulheres são mais fortes do que os homens), e os cérebros vivos podem ser aproveitados como receptores de ondas cerebrais de uma pessoa falecida. Por outras palavras, os seres humanos podem se transformar em rádios portáteis. Embora a idéia seja aqui apresentada como ficção científica, ao que parece, dentro do contexto do filme, é muito possível. Quando as suas idéias são inicialmente rejeitadas, Blair responde:“They called radio impossible!”.
"The Devil Commands" também apresenta um medo mais concreto, da tecnologia a funcionar e atravessar a linha entre a vida e a morte. A idéia do Dr. Blair provavelmente parecia plausível para a época, e se simpatizarmos com a dor de Blair, também temos de concordar com os seus colegas: ele colocou as suas obsessões pessoais acima do bem-estar dos outros, colocando a cidade, e até mesmo toda a humanidade em perigo. Um medo crescente pairava sobre a população do mundo em 1941, observando como a ciência e a tecnologia se movimentavam para a criação de novas maravilhas, como o rádio, e novos horrores como a bomba atómica.
Apesar de um final apressado que deixa muitas perguntas sem resposta, esta pequena jóia é um choque com personagens fortes e perguntas provocativas por toda a parte.
Filme bastante raro, com legendas em inglês.

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quinta-feira, 16 de maio de 2013

O Gato Miou Três Vezes (The Comedy of Terrors) 1963



Mr Trumble (Vincent Price) é o parceiro de uma falhada companhia funerária, do seu padrasto, Amos Hinchley (Boris Karloff). Quando o proprietário, o Sr. Black (Basil Rathbone), lhes dá um ultimato final - para pagarem as contas ou estarão nas ruas em 24 horas - Trumble tem um plano diabólico, e em conjunto com o seu assistente Felix Gillie (Peter Lorre), começa a fazer uma onda de homicidios...
O sexto dos filmes góticos da AIP, "Comedy of Terrors" foi uma mudança no formato existente da série. O criador da série, Roger Corman já tinha tentado arduamente evitar que os filmes se tornassem clones repetitivos - filmes como The House of Husher (1960) e The Pit and the Pendulum (1961) foram seguidos por outros baseados em bandas desenhadas e a atmosfera de Poe, Tales of Terror (1962) e The Raven (1963), enquanto que o regresso ao terror directo, The Haunted Palace (1963), foi baseado numa obra de HP Lovecraft. Neste sexto conto, o argumentista Richard Matheson fornece um conto original que contém uma variedade de influências clássicas de Shakespeare. 
O argumento é muito bem escrito, desde o início, com um prólogo de abertura mostrando os coveiros tirando um corpo para fora do seu caixão antes de atirarem o corpo na sepultura e partirem para casa com o caixão agora re-utilizável​​. A mistura de personagens é muito divertida - do frequentemente bêbado Mr Trumble, a sua esposa oprimida, o pai frágil e com dificuldades de audição, um homem com uma herança de vilania que só se quer indireitar, e uma personagem que parece quase Dickensiana na sua primeira aparição antes de se tornar imortal e perfeitamente shakespeariano. Enquanto The Raven parecia confuso sobre a sua direcção cómica, Comedy of Terrors é muito mais assertivo, com a comédia verbal e visual non-stop. Continuamente imprevisível o filme constrói um clímax eficaz e um final maravilhoso.
Jacques Tourner era mais conhecido pelos seus filmes de terror atmosféricos do final dos anos quarenta, e no final dos anos 1950 andava a fazer obras de Sword and Sandal, em Espanha, e séries de baixo orçamento para televisão - trabalhando com a AIP Gothic mostrou que ainda tinha algum talento como realizador, com um excelente timing cómico e algumas cenas atmosféricas remniscentes dos filmes de terror de Val Lewton.

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domingo, 5 de maio de 2013

Black Sabbath (I Tre Volti Della Paura) 1963



A antologia gótica de horror de Mario Bava consiste em três contos de terror diferentes, cada um com o seu próprio tom e estilo únicos, mas todos contêm aquele inimitável toque de Bava. Cada um dos filmes desdobra-se como um exercício de estilo e atmosfera, reforçada por histórias intrigantes que cuidadosamente se desdobram para revelar uma picada mortal no conto.
Como um todo, Black Sabbath é mais do que satisfatório. O que torna tudo ainda mais atraente é a introdução do filme pelo próprio Boris Karloff, com um discurso lírico sobre a mecânica do medo. Cada segmento é introduzido por um pequeno cartão-título que contém a sua própria quota de indução ao medo, todos belamente capturados pela câmera de Bava.

O primeiro é o giallo-esque "Telephone", um desconfortável conto de obsessão, paixão e vingança. Rosy (Michèle Mercier) regressa a casa para o seu luxuoso apartamento, para receber chamadas sinistras que parecem ser de um gangster maníaco que ela ajudou a prender. O gangster parece ver Rosy em cada movimento dentro do seu domicílio, deleitando-se com os seus movimentos cada vez mais em pânico. Rosy eventualmente chama a sua confidente e ex-namorada Mary (Lydia Alfonsi) e pede-lhe para vir e ficar a noite. Bava faz um excelente uso do local que fornece o pano de fundo para esta história. Logo assume uma atmosfera mais ameaçadora como com o decorrer da noite e Rosy torna-se uma prisioneira na sua própria casa. Aparentemente, a subtrama lésbica foi completamente retirada no corte da versão americana.
De seguida temos Wurdalak, um conto assustador envolvendo vampirismo, uma família condenada e o recente regresso do seu patriarca dos mortos-vivos - interpretado com uma alegria diabólica por Boris Karloff. Wurdalak é uma criatura vampírica específica para a Europa Oriental, onde o conto é definido. Ele ataca aqueles que mais gosta - a família, amigos e amantes - transformando-os em outros sugadores de sangue que vagueiam pelas horas crepusculares.
Vladimire d'Urfe (Mark Damon) busca refúgio numa quinta isolada depois de descobrir um corpo decapitado com uma espada nas suas costas. É recebido com cautela pela família que espera ansiosamente o regresso do pai, que se aventurou para fora para rastrear um Wurdalak. Á família foram dadas instruções estritas para negar a entrada ao pai se ele voltar depois da meia-noite. Logo depois da meia-noite a paisagem começa a sufocar sob uma névoa esvoaçante, Papa Gorca regressa e quando insiste em ser permitido entrar, logo se põe a matar a sua própria família transformando-os em sanguinárias criaturas da noite. 

Wurdalak é uma peça altamente atmosférica e maravilhosamente iluminada, também bem sucedida na sua utilização de locais limitados. Como nos outros dois contos de Black Sabbath, o lugar onde os personagens são mais ameaçados é no santuário da sua própria casa. A quinta da família aqui é inicialmente acolhedora e convidativa e aparece como um farol de esperança e luz na escuridão que o rodeia. Mas, não por muito tempo. Logo se assume como um ambiente estranho e ameaçador.
Por último, mas não menos importante, temos "The Drop of Water" - uma história extremamente inquietante de uma enfermeira que rouba um anel a partir do leito de morte de um medium, para sofrer as consequências horripilantes na privacidade da sua própria casa. Quando ela é chamada já tarde na noite e lhe pedem para preparar o corpo recém-falecido de uma medium local, Helen (Jacqueline Pierreux) deixa o conforto relativo por uma noite, para embarcar numa jornada. Chegando a casa da mulher morta, é deixada entrar por uma empregada que a leva através dos doces coloridos corredores espalhados pela casa. Estamos tão chocados como Helen quando vemos o morbido sorriso da morta apoiado num dos seus travesseiros. Helen repara num anel ornamentado e acha que ninguém vai reparar, tirando-o dos dedos da morta. Voltando para casa, Helen é atormentada pelos sons de uma torneira a pingar e a memória do sorriso assustador da mulher morta. Eventualmente, com nervos em frangalhos, Helen percebe, tarde demais, que roubar os mortos não é coisa boa para se fazer.
O clima predominantemente assustador deste capítulo final é bastante opressivo. O apartamento compacto de Helen, muito parecido com o de Rosy em "Telephone", e a casa da família condenado em "Wurdalak", logo assume uma atmosfera estranha, como a pobre mulher a ser atormentada pelo som de gotas de água e uma mosca a zumbir. O uso de Bava de luz e sombra é fascinante e certamente está entre os melhores nos seus pesadelos góticos. O final desagradável sugere muito fortemente que um destino semelhante irá acontecer à vizinha intrometida, que encontrou o corpo de Helen e tirou o anel para si mesma ...
 


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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O Túmulo Vazio (The Body Snatcher) 1945


"The Body Snatcher" continuava a vaga de filmes de terror inteligentes do produtor Val Lewton para a RKO, uma série de filmes de série B com alguns sustos e emoções fortes, mas que sempre superavam o seu objectivo modesto. Os filmes de Lewton eram extraordinários, não apenas por causa atmosfera lúgubre como pelo aclamado uso inventivo de sombras para sugerir o horror em vez de mostrar-lo diretamente. Para Lewton, estas produções de terror de baixo orçamento tornaram-se numa maneira de explorar a atracção sexual e estranheza (Cat People), questões de classe (The Leopard Man) e a psicologia da infância (The Curse of the Cat People). The Body Snatcher é, superficialmente, um conto de um silêncio assustador de assassinos em série que incorpora tanto de uma história da vida real do início do século XVIII, dos assassinos Burke e Hare, como de uma curta história de Robert Lewis Stevenson baseada nesses eventos. Burke e Hare eram uma dupla de assassinos que mataram 18 pessoas e depois venderam os cadáveres das suas vítimas para o Medical Edinburgh College, onde os médicos essencialmente eliminavam as provas através da dissecação. O filme capta os temas subjacentes deste incidente macabro, investigando as questões da moralidade levantadas pela história: os compromissos envolvidos na investigação científica, o valor comparativo de vidas humanas e a ética da profissão médica em geral.
Dr. MacFarlane (Henry Daniell) é um pesquisador respeitado, o chefe de uma escola para médicos em formação e um especialista em anatomia. No entanto, a sua prática está contaminada pela associação com o sinistro John Gray (Boris Karloff), um homem monstruoso que cava sepulturas e fornece o hospital, mais propriamente o médico, com um suprimento constante de cadáveres para dissecção e estudo. O médico vê Gray como uma terrível necessidade, uma maneira de contornar as leis que ele acredita que restringem a pesquisa científica e limitam o progresso da medicina. Se Gray poder fornecer a escola com mais cadáveres, segundo MacFarlane, poderá treinar melhores médicos que podem, mais tarde, salvar mais vidas. No entanto, as justificações à parte, Gray também parece ter uma enorma influência sobre o médico, pois eles aparentemente já se conhecem desde hà muitos anos e estavam de alguma forma envolvidos juntos nos crimes de Burke e Hare. MacFarlane arrasta o seu jovem assistente Fettes (Russell Wade) para a história, para este receber os cadáveres de Gray, assinando e pensando que eles eram obtidos através de meios legais. 
Lewton, em conjunto com o realizador Robert Wise, criam uma atmosfera tipicamente obscura e sombria. As ruas de Edimburgo, parece constituir-se principalmente de becos escuros através dos quais os personagens sinistros como Gray, podem circular, com a sombra estendia por todas as paredes. O design do som é igualmente impressionante. Uma pedinte que parece estar constantemente em volta da acção, preenche a noite com canções melancólicas. O constante trote do cavalo de Gray, com os cascos ecoando no vazio da noite, enquanto puxam a carruagem, sinalizando a chegada da desagradável carga, durante a noite.
 O desempenho de Karloff como Gray é poderoso e surpreendentemente complexo. Karloff tem uma presença intimidante, especialmente quando revela a sua técnica com uma só mão para sufocar as vítimas. Este personagem sinistro torna-se claro que é mais complexo do que um simples vilão de filme de terror, porque na realidade ele é um homem solitário e pobre, com muito pouco para viver para além da sensação de poder que recebe de associar-se com um médico famoso como MacFarlane. Há uma nota de tristeza na interpretação de Karloff, um leve núcleo emocional sob a superfície do mal. Esta complexidade marca Karloff como um dos grandes nomes do cinema de terror. Este filme foi a sua última colaboração com o seu companheiro, e também ícone dos anos 30 e 40, Bela Lugosi, que tem aqui um papel menor, como o servo de Karloff, Joseph. O confronto entre estas duas lendas da tela é terrivelmente desequilibrado. Aqui, Karloff domina claramente Lugosi, mas é muito divertido ouvir o actor húngaro dizer, através de seu sotaque característico, "I'm from Liverpool".

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