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sábado, 4 de junho de 2016

A Marca do Assassino (Koroshi no Rakuin) 1967

Depois de fracassar numa missão por causa dos seus sentimentos por uma mulher, um assassino profissional, o número 3, passa a ser perseguido pelo fantasmagórico assassino número 1, de quem ele não conhece a identidade.
"O filme, a história de um matador de aluguel, Número 3, que falha em uma missão e passa a ser perseguido pelo Número 1, não é apenas puro exercício formal, na medida em que vemos a queda, a transformação de um personagem. A insanidade e o profissionalismo do assassino Hanada (Jo Shishido) vão ruindo em paralelo com o delírio visual da mise-en-scenepsicotrópica de Suzuki; o visual surrealista prende o espectador em seu interessante contraste de luz e sombras. Cria, portanto, a (i)lógica própria do filme. Porém, não há de se perder de vista, o verdadeiro desejo de Suzuki é entreter, fazer o que bem quiser com os elementos fílmicos, a possível reflexão sobre perda de identidade do assassino parece ser apenas uma âncora pra todo esse delírio visual.
À época, Suzuki estava ligado à produtora Nikkatsu. Fazia filmes sobre a yakuza, uma das especialidades dessa produtora de filmes B. A Marca do Assassino opera um ruptura tão intensa com toda aquela produção, que o cineasta acabou por ser afastado da produtora, vindo a ficar por 10 anos em litígio até ganhar na justiça o direito à deposição de cópia de todos os seus filmes na Cinemateca Japonesa, uma indenização, além de um pedido público de desculpas por parte da Nikkatsu.
Talvez o mais radical de sua geração, trilhando ora americanismo e a cultura Pop, ora a estética dos mangá, Suzuki arregaça com tudo, pretende um cinema sem amarras com o verossímil, com o próprio cinema. Um cinema de clima, sensorial, alucinante. É visível a influência em Jarmush – a forma como utiliza a música, além de uma cena de Ghost Dog, além de Tarantino – alguns momentos de Kill Bill I e seu uso de grafismos. Um cinema pulsante, intenso e único. Adjetivar A Marca do Assassino é, sobretudo, reconhecer o talento de Seijun Suzuki em ser criterioso apenas com si mesmo." Texto de Allan Kardec Pereira

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quinta-feira, 2 de junho de 2016

Tokyo Drifter (Tôkyô Nagaremono) 1966

Tetsuya "Phoenix Tetsu" Hondo é um implacável assassino de uma quadrilha da Yakuza que foi recentemente desativada quando Kurata, o chefe, resolveu aposentar-se. Otsuka, líder de uma quadrilha rival, tenta recrutar Tetsu para o seu lado, mas o assassino nega o convite. Assim, o chefe do crime resolve eliminá-lo.
Alguns filmes apenas têm para oferecer um estilo visual impressionante, mas no caso de Tokyo Drifter (1966), de Seijun Suzuki, isso é mais do que suficiente, e torna-se uma celebração de todo o potencial do cinema. Visto por estes olhos, o filme de gangsters como género torna-se um ponto de partida em que vale qualquer coisa, desde interromper a narrativa para um selvagem e desorientado número de discoteca, homenagear o Oeste americano numa briga de bar entre prostitutas e Yakuzas que combatem com marinheiros americanos. A história, que ziguezagueia da vida nocturna de Tóquio para as vistas rurais cobertas de neve (que pode parecer muito incompreensível numa primeira visão) segue um ex-condenado que tenta endireitar a vida, mas as probabilidades estão contra ele. Perseguido a cada passo por antigos membros de gangues, rivais nos negócios e policias, Tetsu segue o seu próprio código de honra, que o mantém em movimento, atirando os seus inimigos uns contra os outros, enquanto resgata Chiharu, a cantora de um clube noturno (interpretada pela pop star Chieko Matsubara).
Tal como o protagonista de "Tokyo Drifter", Suzuki era um "maverick" que seguiu o seu próprio caminho, mesmo a escrever por linhas tortas. De certa forma, o comportamento auto.destrutivo de Tetsu espelha a própria experiência do realizador na indústria cinematográfica japonesa, e é autobiográfica em espírito. Quando ele foi trabalhar para a Nikkatsu, no final dos anos 50, este estúdio era especializado em filmes de género, mas logo depois da chegada de Suzuki começaram a perceber que a maioria dos sucessos comerciais eram do género Yakuza, muitos deles realizados pelo próprio realizador. Em sete anos Suzuki realizou mais de 25 filmes até conseguir os elogios da crítica em "Youth of the Beast". Com o tempo o realizador cansou-se da Yakuza, e começou a puxar os seus filmes para os limites do género, experimentando em aparência e estilo. Começou a provocar o estúdio que lhe enviou um alerta depois do delírio que foi "Tokyo Drifter", mas Suzuki ignorou os seus avisos fazendo ainda mais dois filmes dentro desta linha, o segundo foi  "Branded to Kill" (1967).
"Tokyo Drifter" foi assim um filme pouco apreciado pelos críticos e cinéfilos na altura da sua estreia, mas com o tempo tornou-se num grande filme de culto, e hoje é apreciado como um dos mais importantes filmes japoneses da década de 60.

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quinta-feira, 26 de maio de 2016

Gate of Flesh (Nikutai no Mon) 1964

A história, tirada de uma novela de Taijiro Tamura, centra-se à volta de um grupo de prostitutas, que se uniram por entre as ruínas da cidade de Tóquio, para sobreviverem. Trabalham sem chulos aderindo a um rigoroso conjunto de regras, a mais importante das quais é que nunca podem dormir com um homem de graça. No mundo delas o amor e o sexo são rigorosamente separados, e na verdade, é mais do que isso: o amor não é uma possibilidade, e se alguma delas quebrar essa regra será brutalmente espancada, humilhada, e expulsa do grupo para sempre.
O dia a dia destas mulheres é interrompido com a chegada de duas personagens. Primeiro chega Maya, uma jovem de 18 anos (interpretada pela estreante Yumiko Nogawa), uma jovem desesperada e obrigada a roubar para sobreviver. Ela não é como as outras, tem um ar muito inocente, mesmo quanto sentimos que ela esconde algo muito mais obscuro. A segunda chegada é a de Shintaro Ibuki (interpretado pelo habitual de Suzuki, Jo Shishido), um ex-soldado japonês, possivelmente psicopata, que se esconde no meio das prostitutas, porque é procurado por esfaquear um soldado americano. Também é procurado pela ligação a um assalto, do qual pode ou não estar a esconder o produto do roubo...
Tal como o título sugere, há abundância de elementos chocantes e de exploitation em "Gate of Flesh". Na verdade, para um filme japonês feito em meados da década de sessenta, é surpreendentemente explícito na sua mistura entre sexo e violência, embora Seijun Suzuki tenha uma grande habilidade em sugerir muita nudez, sem, na verdade, mostrar muito. No entanto, apesar de parecer ser um filme simplista, transmite um olhar bastante agudo sobre as dificuldades enfrentadas pelo Japão na esteira da Segunda Guerra Mundial, e sobre a essência melodramática do amor proibido.
"Gate of Flesh" também beneficiava do estilo visual único de Seijun Suzuki, como era habitual nas obras deste autor. Não é dos seus filmes mais conhecidos, mas é dos melhores deste período.

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terça-feira, 24 de maio de 2016

Youth of the Beast (Yajû no Seishun) 1963

Joe Shishido interpreta um durão com uma agenda secreta. O seu comportamento violento chama a atenção de um duro chefe da Yakuza, que imediatamente o recruta. Depressa ele tenta fazer um acordo com um gang rival, e começa uma guerra de gangs. As suas reais motivações são gradualmente reveladas à medida que vamos descobrindo que tudo está relacionado com o assassinato de um polícia que é mostrado logo no inicio do filme.
Nas últimas décadas, desde que os seus filmes começaram a cruzar o oceano, Seijun Suzuki tornou-se numa figura de culto nos Estados Unidos, um génio impetuoso e original, habituado a quebrar as regras da desconexão lógica e da estética. Os seus estranhos filmes eram muitas vezes comparados com os de Samuel Fuller ou David Lynch, sendo ele próprio um fã fervoroso de Jim Jarmusch, que lhe agradeceu nos créditos finais de "Ghost Dog: Way of the Samurai" (1999). Na altura do lançamento deste filme, que muitos consideram o seu "breakthrough", já tinha realizado quase 30 filmes, no espaço de uma década. A maior parte eram filmes baratos, rápidos e simples, considerados "program pictures", uma expressão idêntica aos filmes de série B nos Estados Unidos.
"Youth of the Beast" era um "film noir" maravilhosamente distorcido pelos padrões de Suzuki. Começa a preto e branco, com dois policias a investigarem um aparente duplo suicídio de uma "call girl", e um homem casado com quem ela tinha um caso. Suzuki deixa logo caír a primeira pista de que este não é um crime normal. Tal como acontece na maioria dos filmes de Suzuki, a história não é central. À medida que a sua carreira evoluía as suas narrativas tornavam-se cada vez mais confusas e implausíveis, a tal ponto que ele acabou por ser demitido da Nikkatsu no final dos anos sessenta. "Youth of the Beast" não é um filme tão fragmentado narrativamente, mas o seu estilo visual ultrapassa a história.
Sexo e violência são admiravelmente misturados, e existe aqui um certo sadismo, ao desviar a atenção para as personagens mais bizarras. um dos personagens centrais é gay, e usa uma pequena navalha para cortar quem ousar lembrá-lo de que a sua mãe era prostituta. Uma das marcas de Suzuki é o tratamento do crime organizado como se fosse um estilo de vida absurdo.
Legendas em Inglês.

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terça-feira, 17 de maio de 2016

Take Aim at the Police Van (Jûsangô Taihisen' Yori: Sono Gosôsha o Nerae) 1960

Uma van da polícia é assaltada, e os dois prisioneiros que viajavam lá dentro são mortos. O guarda da prisão que se encontrava de serviço é suspenso, e não vê outra solução senão procurar ele mesmo os criminosos. Quem eram as vítimas, quem eram os seus familiares e namoradas, e quem mais estava na Van nessa noite? À medida que a investigação avança outros morrem, coincidências ocorrem, enquanto o polícia se aproxima da verdade.
Desde o final dos anos cinquenta e através dos anos sessenta, os filmes de gangsters selvagens eram o principal negócio da Nikkatsu, o mais antigo estúdio do Japão. Numa tentativa de fazer aproximar o público mais jovem que crescia habituado às importações que chegavam dos Estados Unidos e França, a Nikkatsu começou a produzir filmes de acção que incluíam elementos dos westerns, comédias, e filmes sobre a rebeldia juvenil. Seijun Suzuki era um dos nomes mais importantes nesta altura, ao lado de Toshio Masuda, e Takashi Nomura,e não será por acaso que este filme terá vários filmes seus.
"Take Aim at the Police Van" é brilhantemente fotografado por Shigeyoshi Min, que usa algumas cenas clássicas dos filmes americanos, tal como a utilização da câmara no pára-choques dianteiro, que compunha muitas vezes as sequências de abertura. Os locais utilizados para as filmagens ajudam a manter o filme fresco, e ajudam a capturar o ambiente do pós-guerra das cidades japonesas. Koichi Kawabe foi encarregado de fazer a banda sonora do filme, e faz um magnifico trabalho, adicionando o suspense necessário, além de serem notadas muitas familariedades com os film noir americanos.
A história é o clássico "whodunit". Os argumentistas Shinichi Sekizawa e Kazuo Shimada vão deixando muitas pistas para nos deixarem ocupados a pensar até ao final em quem é o principal criminoso, que vai mantendo o filme interessante.
Legendas em inglês.

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