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terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

A Caça (Cruising) 1980

"Cruising" é um filme único, embora seja um thriller baseado em assassínios reais de homens gays no bairro de Greenwich Village, em Nova Iorque, no final da década de 70, mas onde o interesse do espectador está no estado mental do personagem central,  em vez da resolução dos crimes. O filme retrata uma população gay caracterizada por uma vasta corrente oculta de inquietação enquanto procura saciar experiências. Os homens são retratados como constantemente em movimento, entrando e saíndo de clubes eróticos, tuneis no parque, quartos alugados, e cabines privadas em lojas de pornografia. Quando Steve Burns (Al Pacino), um heterossexual e inexperiente polícia de Nova Iorque é recrutado pelo departamento de homicídios para entrar disfarçado no submundo da cultura gay na busca do serial killer, acaba por apanhar os seus vicios.
"Cruising" de William Friedkin, foi lançado com um aviso de isenção de responsabilidade, destinado a desarmar o feroz antagonismo da comunidade gay, que tinha sido fortemente expressa em protestos durante a produção do filme. Segundo os produtores o filme não era uma acusação ao mundo homossexual, mas sim um pequeno segmento desse mundo, que não pretende ser representativo do todo. O filme provocou uma enorme onde de reacções, Gays do mainstream consideravam que o filme mostrava uma imagem homofóbica e obcecada por sexo da vida gay. Em contrapartida, alguns espectadores envolvidos no subcultura do mundo dos casacos de cabedal, elogiaram o retrato preciso de um estilo de vida pré-Sida, concentrado no sexo rápido.
A estreia de "Cruising" foi precedida por planos de protestos por todos os Estados Unidos, e o filme levou a classificação "R", embora muitos considerassem merecer a classificação "X". O filme estava, por exemplo, programado para estrear em São Francisco, mas antes o teatro que o iria exibir o filme foi pulverizado com graffitis anti-"Cruising", o que levou a Mayor da cidade a mudar a estreia para outro ponto da cidade. Piquetes e protestos marcaram a estreia em mais de 300 salas, o que levaram o filme apenas a ter uma bilheteira moderada. Friedkin era um realizador de primeiro plano, vinha de filmes de primeiro plano na década de 70, como "O Exorcista",  ou "Os Incorruptíveis contra a Droga", mas passados tantos anos "Cruising" é um grande filme de culto.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Capítulo 7 - Suspense

A palavra "suspense" já há muito que foi retirada dos dicionários dos cinéfilos. Sofreu uma americanização, e agora passou a ser chamado de "thriller". Não se sabe bem de onde vem este género, mas se teve algum impulsionador, sem dúvida que foi Alfred Hitchcock. Hitchcock desenvolveu a premissa do "suspense" de forma brilhante, ousando sugerir, mais do que mostrar, a violência que o seu conhecimento podia acarretar, sobretudo com as pessoas que o espectador mais facilmente se podia identificar. Os anos oitenta foram óptimos para esta premissa, provavelmente tão bons ou melhores que as décadas anteriores. Vamos conhecer neste capítulo alguns dos filmes de suspense mais brilhantes.

Sangue Por Sangue (Blood Simple) 1984
No Texas, o dono de um bar que normalmente não é reconhecido como uma boa pessoa, contrata um detective privado obscuro para obter provas (fotográficas) de que a sua esposa o anda a enganar com um dos empregados do bar. Quando o casal adúltero descobre que o marido percebeu a traição resolvem fugir, mas o marido enganado volta a contratar o detective, desta vez para matar o casal e esconder os cadáveres num sitio onde não possam ser encontrados.
"Blood Simple", o sublime filme de estreia dos irmãos Coen, não envelheceu um bocadinho desde a sua estreia, a mais de 30 anos atrás. Atravessado por uma grande tensão, e cheio de momentos de suspense, bem escrito, e soberbamente construido com um enorme senso de humor negro, é um filme noir deliciosamente perverso, bem modernizado e transportado para as planícies abertas do Texas. Onde o mal, o desejo e a culpa apodrecem nas paisagens húmidas e claustrofóbicas dos filmes noir dos anos 40. Os ingredientes chave estão todos aqui, ou seja, emoções intensas e a vontade de matar por causa dessas emoções, e a história construída de forma desonesta para manter os personagens na tela inconscientes do que realmente está a acontecer.
Brilhante o quarteto principal, Dan Hedaya (o dono do bar), M. Emmet Walsh (o detective), Frances McDormand (a traidora), John Getz (o traidor).

Terror na Auto-Estrada (The Hitcher) 1986
C. Thomas Howell  é um jovem de Chicago que atravessa o pais de carro, até à Califórnia. A estrada do Texas é solitária e o jovem está cansado, mas encontra uma forma de se manter acordado ao dar boleia a Rutger Hauer.Não demora muito para que o jovem fique assustado com o seu passageiro, quando ele lhe diz que decapitou viciosamente a última pessoa que lhe deu boleira, e pretende fazer o mesmo com ele. A partir daqui começa um jogo entre o gato e o rato...
Originalmente foi um fracasso nos cinemas, mas tornou-se num fenómeno de culto para os fãs do VHS e da televisão por cabo. A razão para tal acontecer era muito simples: o filme agarra-nos pelos desenvolvimentos sórdidos, e nunca mais pára até ao seu final sangrento, e explosivo. Não faz muito sentido, porque nunca é claro quem é John Ryder ou porque escolheu fazer da vida de Halsey um inferno, mas tentar inventar teorias faz parte da diversão. Em muitos aspectos é um filme derivante de outro jogo mortal entre o gato e o rato, "Duel", de Steven Spielberg, mas também influenciou outros filmes pelo seu próprio direito, como "High Tension" (2003).
Rutger Hauer, o replicant de "Blade Runner" tem um dos seus momentos mais brilhantes. E não esquecer a realização de Robert Harmon" (em estreia), e o argumento de Eric Red (também em estreia), duas enormes promessas que infelizmente não corresponderam às expectativas.

No Rasto dos Assassinos (Cohen & Tate) 1988
Cohen e Tate são dois assassinos profissionais contratados pela máfia para matar a família Knight e os agentes do FBI que os protegem. Cohen é um atirador profissional e é regido por um determinado código de honra, Tate, no entanto, é um jovem rude e brutal sem escrúpulos. Tendo cumprido sua missão, raptam o filho de Knight e trazem-no para Houston, mas o jovem não é tão inocente como parece.
Escrito e realizado por Eric Red, com um orçamento muito limitado, "Cohen & Tate" seria um dos melhores filmes de suspense dos anos 80. E aqui tem que se falar em Eric Red, uma grande promessa do cinema americano independente, numa altura em que não havia cinema independente. Red tinha-se destacado como argumentista de duas das obras mais promissoras dos anos 80, "The Hitcher" e "Near Dark", e seria com todo o mérito que lhe seria dada uma hipótese de realizar a sua primeira obra com este "Cohen and Tate". Os três filmes (poderão ser todos vistos neste ciclo) têm um ponto em comum: pegam num outsider inocente, e atiram-no para o meio do perigo, com um ou mais psicopatas.
Red poderia ter feito uma carreira brilhante, mas dois anos depois viu-se envolvido num acidente que mudaria a sua vida. Matou duas pessoas involuntariamente e tentou cortar a sua própria garganta. Levou meses para se conseguir livrar de acusações em tribunal, e isso acabou por trazer implicâncias para a sua carreira. Também escreveria o argumento de "Blue Steel", de Kathryn Bigelow.

Perigosa Sedução (Sea of Love) 1989
Em Nova Iorque, ao investigar um caso no qual homens são assassinados depois de responderem a um anúncio de correio sentimental, o detective Frank Keller envolve-se na investigação, e ennvolve-se com Helen Cruger, a principal suspeita. Quanto mais ele se apaixona, mais provas surgem para incriminar Helen.
Se há um papel que parece destinado a Al Pacino é o de policia. E se "Sea of Love" não é dos seus melhores filmes, é a sua interpretação que faz o filme ser tão interessante. Com alguns toques que parecem inspirar o resto do elenco (Ellen Barkin muito bem no papel de mulher fatal, e John Goodman como polícia), Pacino estava afastado do cinema já há quatro anos, desde a sua interpretação em "Revolução" de Hugh Hudson, já no ano de 1985, e como esse filme tinha sido um grande flop, haveria que ter cuidado no regresso. Não foi preciso muito trabalho para o realizador Harold Becker levar o trabalho a bom porto. Bastou o argumento de Richard Price, e Al Pacino entrar em modo de piloto automático.
Pacino ficou fora dos Óscares, mas ainda conseguiu uma nomeação para os Globos de Ouro. O seu primeiro e único Óscar só seria conquistado quatro anos depois, em "Scent of a Woman".

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Capítulo 4 - Drama

A prateleira dos filmes de Drama era sempre das mais preenchidas, mas nem por isso das mais concorridas. Normalmente quem se deslocava a um clube de vídeo para procurar um filme em VHS procurava um filme de género, não que o Drama não fosse um género, mas era sempre dos menos procurados. Todavia, depois de uma pesquisa, mesmo pouco minuciosa, encontrava-se por lá belas surpresas. Havia um pouco de tudo nos lançamentos em vídeo, muitos clássicos de Hollywood, poucos filmes em língua não inglesa. "Casablanca", "O Mundo a Seus Pés", a trilogia "O Padrinho", e tantas outras pérolas. Começamos hoje aqui a selecção dos dramas.

O Navio (E La Nave Va) 1983
Orlando é um velho jornalista que embarca no luxuoso navio Glória N., que parte de Nápoles para o ritual do enterro da famosa cantora de ópera Edmea Tetua. Nele também estão amigos e conhecidos da diva, colegas de trabalho e pessoas importantes da época, que escondem as suas disputas internas em prol do funeral. Tudo corria bem, até o capitão resgatar do mar dezenas de refugiados sérvios, que fugiam do seu país e assinalavam o início da primeira Grande Guerra.
Fellini realizou este filme já na fase final da sua carreira, os três últimos seriam "Ginger e Fred", "Entrevista" e "A Voz da Lua". O grande foco do filme é o absurdo das classes altas e a sua ignorância sobre o que se passa no mundo, e isto reflecte-se bem na entrevista do Orlando ao grão duque austríaco. Do brilhante inicio, filmado no estilo de um velho filme mudo, gradualmente misturando som e cor enquanto os passageiros embarcam no navio, até ao grande final operático, "O Navio é um puro deleite visual.
Fellini era dos realizadores italianos mais bem representados em VHS, e mesmo assim tinha apenas cinco obras lançadas no mercado. Apenas uma do seu período neorealista, "La Strada".

Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon) 1975
Em 1972, numa tarde quente de Agosto em Brooklyn, dois zés-ninguém demasiado optimistas decidem assaltar um banco. Sonny é o cérebro da operação, e Sal é o seu cúmplice. O plano é conseguir dinheiro para uma operação de mudança de sexo, mas o resultado é um desastre. Não tarda que a rua em frente do banco se tenha transformado num circo de polícias, câmaras de televisão, multidões e até um rapaz de entrega de pizzas.
Por vezes o conceito mais simples pode ser o mais atraente e interessante. Era algo que Sidney Lumet já tinha feito antes com "12 Angry Men", e conseguia de novo com "Dog Day Afternoon", que provavelmente era o filme de assalto mais simples de todos os tempos. Tal como em "12 Angry Men" no território dos filmes de tribunal, é a partir dessa simplicidade que emerge a complexidade, criando um número interessante de personagens, idéias e conflitos.
Foi um dos melhores filmes dos anos setenta, e uma das melhores personagens de Al Pacino.
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As Coisas Mudam (Things Change) 1988
Um humilde engraxador, Gino (Don Ameche), concorda em confessar um crime e apanhar de três a cinco anos na cadeia. O crime foi na verdade cometido por um mafioso, que em troca lhe dará uma compensação financeira que lhe dará a chance de realizar o seu sonho: ter um barco de pesca na Sicília. Jerry (Joe Mantegna), um capanga encarregado de vigiá-lo até ao dia do depoimento, decide levá-lo para se divertir no fim de semana antes de Gino ser preso.
O argumentista e realizador David Mamet, que já tinha lidado com o engano em "House of Games", foca-se aqui na importância ética de manter a palavra. Gino recusa-se a voltar com a palavra atrás a Mr. Green (Mike Nussbaum) é como o Thomas Moore de "A Man for All Seasons", quando explica que não pode quebrar um julramento: "when a man makes a promise, he puts himself in his own hands like water. And if he opens his fingers to let it out, he need not hope to find himself again." 
É também um filme sobre a solidão, e o valor de manter a palavra num mundo onde tudo é flúido e fugaz.

As Montanhas da Lua (Mountains of the Moon) 1990
As Montanhas da Lua descreve a expedição levada a cabo em 1854 por Richard Burton e John Hanning Speke em busca da nascente do Nilo. Burton é um explorador polifacetado, culto e dinâmico. Fala mais de 40 idiomas e é também poeta e antropólogo. Speke, mais jovem, é um aventureiro. O seu sonho é viajar para África para explorar terra desconhecidas. Baseado nas suas biografias e nos artigos escritos pelos dois exploradores ingleses, As Montanhas da Lua é uma aventura de descobrimentos, amizade, ambição, traição e arrependimento.
Bob Refelson era um dos realizadores mais emblemáticos dos anos setenta, em parte por causa de "Five Easy Pieces", e realizava apenas o terceiro filme em 10 anos, e num registo muito diferente do que era habitual ver nele. Rafelson conta-nos aqui uma grande história, muito pesada e comovente, mas um pouco afastada da realidade. Era baseado no livro "Mountains of the Moon" de William Harrison, que também escreveu o argumento do filme em conjunto com Rafelson, sendo o livro baseado no próprio diário de Burton e Speke, servindo também de inspiração para o filme. 
Um grande destaque para a beleza da fotografia de Roger Deakins e para a iterpretação de Patrick Bergin, em foco neste inicio dos anos noventa, e de quem já vimos neste ciclo um filme, "Robin Hood".
Link a ser substituido

terça-feira, 11 de novembro de 2014

A Caça (Cruising) 1980



Steve Burns é um jovem detective que acaba de receber ordens do Capitão Edelson para resolver o caso de uma série de assassinatos brutais que estão a aterrorizar a comunidade gay de Nova Iorque. Com o seu aspecto, moreno de olhos e cabelos escuros, Steve encaixa no perfil das vítimas, mas terá de aprender e praticar as complexas regras desta subcultura para conseguir atrair o assassino...
Já passaram mais de 30 anos desde que este filme fracassou nas salas de cinema, quando estreou, mas desde então a crítica ao filme deu uma reviravolta de 180 graus. Em 1980 a imprensa homossexual criticou o filme violentamente por apresentar um retrato negativo da vida gay. No entanto, nos anos mais recentes, o filme tem sido visto como uma visão pro-gay, tendo sido injustamente criticado e estigmatizado na data da sua estreia, apesar das boas intenções estarem presentes. Porque nada mudou sobre o filme nos últimos 30 anos este foi reavaliado, por causa das mudanças culturais no seu país.
Hoje, os principais pontos de vista culturais são totalmente diferentes da década de oitenta, quando Ronald Reagan entrava pela primeira vez na Casa Branca e a sida ainda era uma doença desconhecida por esse mundo fora. Alguns dizem que eram tempos melhores, outros dizem que era uma época repressiva, conservadora, que suprimia os grupos minoritários e reprimia a expressão humana.
Como filme "Cruising" é notável, mergulhando no homo eroticismo que quase nunca é visto nos filmes de hoje. William Friedkin gozava do sucesso de "The French Connection" e "O Exorcista", e tinha uma estrela maior no elenco, Al Pacino. Mesmo assim, a sexualidade não filtrada transpira por todos os poros, recusando-se a refinar ou coíbir os detalhes da vida gay dos anos 70. Foi chocante na altura, e é chocante agora, não no sentido ultrajante, mas pela sua franqueza documentarista.

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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O Espantalho (Scarecrow) 1973



Max é um ex-condenado que tem vindo a poupar dinheiro para abrir uma lavagem de carros em Pittsburgh. Lionel é um marinheiro que volta para casa para ver o filho que nasceu enquanto ele estava no mar. Juntos foram um par improvável, enquanto Max aprende um pouco como Lionel lida com o mundo: ele acha que os espantalhos não assustam as aves, mas sim diverte-os.
O road movie e a vasta paisagem social e demográfica, muitas vezes turbulenta, dos Estados Unidos, têm, ao longo dos anos sido motivo de inspiração para vários realizadores, argumentistas, e até mesmo actores. Dissidentes da contra-cultura, anti-heróis, famílias em conflito, solitários, viajaram pelos Estados Unidos de ponta a ponta, em viagens que os afectaram emocionalmente, qualquer que seja o seu destino. O final dos anos sessenta, e o inicio dos anos setenta, viram saír para a rua uma série considerável destes filmes, um período totalmente compreensível, dadas as transformações radicais da época. Alguns exemplos: Easy Rider, Two-Lane Blacktop, Five Easy Pieces, The Sugarland Express, Vanishing Point, The Last Detail, entre muitos outros.
Entre estes filmes, estava um de Jerry Schatzberg, acabadinho de dirigir um jovem Al Pacino em "The Panic in Needle Park" (1971), que deu ao público a sua própria visão com "Scarecrow", acabando por ganhar a Palma de Ouro, em 1973, ex-áqueo com "The Hireling", de Alan Bridges. Mais uma vez com Pacino, agora ao lado de Gene Hackman, é um filme que segue o caminho de dois homens que vivem à margem da sociedade. Dois andarilhos da classe trabalhadora, em vez de rebeldes da contra-cultura, um com uma enorme ingenuidade, energia e humor, o outro com uma dose de mau humor, nervosismo e cansaço do mundo, ambos em busca de algo, qualquer coisa, para dar sentido às suas vidas. Percorrendo um longo caminho da Califórnia para Pittsburgh, as suas personalidades opostas acabam por ter um efeito profundo sobre o outro, durante as suas experiências, ora brutais, ora cómicas.

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terça-feira, 16 de abril de 2013

Serpico (Serpico) 1973



Em Serpico, de Sidney Lumet, Al Pacino solidificou o seu status de actor de Hollywood ao interpretar o personagem do título, um policia da vida real da cidade de New York, chamado Frank Serpico, que, durante 12 anos, se recusou a ser corrompido contrariando a vaga que se tinha infiltrado nas forças policiais.
Baseado na biografia escrita por Peter Maas, Serpico era claramente uma história biográfica desde o início, com foco no que faz um protagonista solitário lutando contra o sistema. No entanto, o desempenho de Pacino, a direção corajosa de Lumet, e o argumento muito bem escrito por Waldo Salt (Midnight Cowboy) e Norman Wexler garantiram que não seria um conto moral simplista do bem contra o mal, a honestidade contra a corrupção. Estes elementos certamente que existem, mas são temperados pela complexidade do personagem de Serpico e a conclusão ambígua de que, quando a reforma na polícia foi realizada, era quase quase impossível de detectar todos os erros que foram cometidos.

Ainda no início do filme, vemos Serpico ser graduado na academia da polícia, um homem ainda jovem, cheio de boas intenções e uma crença, resistir sempre na luta pela justiça. Os primeiros dias na polícia são uma série de pequenas decepções: descobre que os policias fazem vista grossa para infrações de trânsito de proprietários locais, se estes lhes pagarem um almoço, testemunha um "interrogatório" brutal de um suspeito de violação, e é lhe negado qualquer crédito para a prisão deste suspeito pelos seus superiores. Os problemas dentro da força policial só irão piorar a partir daí, a tal ponto que Serpico começa a arriscar a sua própria segurança, não participando na elaboração de subornos e propinas que gozam os outros oficiais à paisana da polícia, com quem ele trabalha. Porque ele nunca leva dinheiro, os outros oficiais não confiam nele, o que o coloca em perigo, não perigo físico directo, mas como outro polícia lhe diz, mas no sentido de que um parceiro pode "deixar de ajudá-lo" quando ele precisar. O facto de a cena inicial do filme ser um flashforward de Serpico a ser conduzido para o hospital depois de ter sido baleado no rosto ressalta a enormidade da ameaça à sua segurança, sabemos que algo pode acontecer a qualquer momento, e é apenas uma questão de tempo.
Porque o tema da corrupção policial profundamente enraizada é muito maior e mais complexo do que um filme de 130 minutos poderia explorar, Lumet e os seus argumentistas optaram por se focar na personagem de Serpico, traçando o seu desenvolvimento a partir de novato idealista a veterano endurecido e cínico. Assim, grande parte do filme repousa sobre os ombros de Al Pacino (ele que vinha fresco do filme de Coppola, "O Padrinho"), e dá-nos um desempenho poderoso de um personagem maior do que a vida. De cabelos compridos, barba totalmente por fazer e definitivamente fora do mainstream conservador e bem vestido da sua profissão, Serpico foi sempre um outsider, fisicamente e ideologicamente. Ele foi uma espécie de mártir, disposto a tudo para defender os seus ideais.  
No entanto, como o filme mostra claramente, Serpico não era nenhum santo. Muito dado a explosões de violência sem piedade, Serpico destruiu grande parte da sua vida pessoal por causa da sua carreira. Isto é mais evidente na relação com Laurie (Barbara Eda-Young), uma enfermeira dedicada, com quem ele vive e em quem ele despeja a maioria da sua ira e ressentimento pessoal. Uma mulher forte e resistente, Laurie ainda tem os seus limites, e as cenas entre ela e Serpico quando as coisas estão a chegar ao fim são dolorosamente fieis à realidade, sugerindo o desgosto de amar alguém, mas ao mesmo tempo saber que não se pode viver com essa pessoa.
Não é de estranhar que Serpico seja mais um produto da sua época. Lançado em 1973, durante uma altura em que a criminalidade e a violência eram manchetes regulares, era feito para um público rodeado de agitações sociais e à procura de respostas. Serpico é a obra mais benigna das respostas do cinema para os crimes da vida real no final da década de 60 e início da de 70, considerando-se entre outros vigilantes, como Clint Eastwood em Dirty Harry (1971), Joe Don Baker em Walking Tall (1973), e Charles Bronson em Death Wish (1974). Serpico, por outro lado, não emprega a violência fora do sistema para resolver os problemas que via, mas tentou trabalhar a partir de dentro para fora. Que a sua experiência foi longa, cansativa e, finalmente, limitada no seu sucesso é a prova tanto da gravidade dos problemas com a polícia de Nova York na década de 1960, como da natureza profundamente enraizada da corrupção em geral. 

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quarta-feira, 20 de março de 2013

Scarface - A Força do Poder (Scarface) 1983


Scarface, a grandiosa e moderna reformulação por Brian De Palma do clássico de gangsters de Howard Hawks, de 1932, é a própria definição do excesso, e talvez seja por isso que tem persistido por tanto tempo como um totem cultural. Centrado em torno de desempenho gloriosamente perturbado de Al Pacino e emoldurado pelos visuais estilísticos de De Palma, banda-sonora de Giorgio Moroder com sintetizadores pulsantes, Scarface descaradamente ultrapassa todos os limites imagináveis ​​na sua história de ascensão e queda familiar, no cenário das guerras da cocaína em Miami do início dos anos 80. Épico, tanto em extensão como ambição, o excesso do filme é o seu conceito central, atraindo-nos para um mundo que, principalmente na altura, era muito familiar nos noticiários da noite, e ainda mergulha com estética e tal exagero narrativo, que nunca estamos demasiado perturbados pelos seus horrores.
Pacino, no que se tornou um dos seus desempenhos mais referenciados, interpreta Tony Montana, um gangster sarcástico que chega a Miami, como parte do infame êxodo Mariel em 1980, que inundou a costa da Flórida, com mais de 125 mil refugiados cubanos durante vários meses, muitos dos quais acabaram por se tornar criminosos ou doentes mentais (há sugestões de que Tony é ambos). O argumentista Oliver Stone, que recentemente tinha ganho um Oscar por escrever Midnight Express (1978), usa a estrutura narrativa básica do argumento de Ben Hecht, de 1932, e a maioria dos seus temas principais, com um foco particular na necessidade incessante de Tony para provar a si mesmo a sua origem, e a subida ao topo é patológica. Com um sotaque cubano e uma arrogância implacável que esconde a sua pequena estatura, Pacino rapidamente estabelece Tony como uma presença feroz, só esperando para aproveitar uma oportunidade, a natureza animalesca impulsionada na violência, mas é sempre fermentado por uma inteligência clara e uma boa compreensão das pessoas ao seu redor. Tony sabe o que quer e está disposto a fazer qualquer coisa para obtê-lo, e é isso que o faz ser tão assustador e fascinante, imoral ainda que filosoficamente consistente. 
Depois de, com o seu amigo Manny Ribera (Steven Bauer), assassinar um refugiado político e realizar com sucesso um grande negócio de droga, Tony chama a atenção de Frank Lopez (Robert Loggia), um dos maiores barões da droga de Miami, que o traz para o seu cartel. Apesar do poder de Frank, Tony rapidamente o considera ser "suave", e, silenciosamente, mina a sua autoridade, e eventualmente apreende os negócios de Frank, bem como a sua gelada namorada Elvira (Michelle Pfeiffer), embora a verdadeira paixão sexual de Tony parece estar dirigida à sua irmã mais nova Gina (Mary Elizabeth Mastrantonio). Uma aliança com o traficante boliviano Alejandro Sosa (Paul Shenar) cimenta totalmente o seu poder, que é literarizado na frase "The World is Yours", um slogan publicitário que ele transforma no seu mantra pessoal (um dos vários elementos que Stone pede emprestado ao original de 1932).  “I want the world and everything in it,”  declara Tony a certa altura do filme, um desejo que, essencialmente, sela o seu destino. Brutal e grosseiro, mas estranhamente atraente, Tony é a personificação do gangster Robert Warshow como herói trágico, um personagem que é, literalmente, o lado escuro dos ideais americanos sobre a individualidade, a ambição e o sucesso.
Não surpreendentemente, Scarface foi um filme polémico, especialmente com o conselho de classificação da MPAA, que originalmente avaliou o filme como "X" pela linguagem universal e violência gráfica. Com mais de 200 declarações de "fuck" e os seus diversos derivados, uma sequência em que um homem está acorrentado a uma cortina do chuveiro a ser esquartejado com uma serra elétrica (quase inteiramente fora do ecrã), e imagens de Pacino não apenas a cheirar linhas de coca , mas literalmente inalando pilhas dela, Scarface tornou-se numa espécie de prova de fogo para o quão longe um filme mainstream poderia ir. 

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