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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Os Olhos Sem Rosto (Les Yeux Sans Visage) 1960



O tipo de filme de terror normalmente referido como "poético", mas que poderia facilmente ser descrito como "lento", "Les Yeux Sans Visage" é um marco no filme de género pelo simples facto de que mostra apenas o quanto assustador algo tão simples como uma máscara pode ser. Livre e limpo como os filmes de terror modernos são barrocos, "Les Yeux Sans Visage" é um filme acerca de um génio louco, mas qual é o génio que não tem um pouco louco? O médico, o Dr. Génessier (Pierre Brassuer), com uma predilecção para a realização de transplantes de tecidos vivos e cuja filha acaba de morrer num acidente de carro, deixando-o a bater mal na sua propriedade enorme, fora de Paris, com a sua fiel assistente, Louise (Alida Valli). Mas a filha do médico, Christiane (Edith Scob), não está morta, mas sim com o rosto terrivelmente desfigurado, fica sozinha no quarto (sem espelhos) usando uma simples máscara branca, enquanto o médico trabalha para lhe devolver o rosto.
O problema com a sua técnica é que ela requer novos tecidos, e por isso uma série de jovens parisienses começaram a desaparecer nos últimos tempos, guiadas para um pérfido destino por Louise, cujo próprio rosto tinha sido perfeitamente restaurado pelo médico, e que agora o segue como uma serva, embora seja capaz de tudo pelo patrão. O realizador Georges Franju traz a esta triste história, pelos autores de Diabolique e Vertigo, Pierre Boileau e Thomas Narcejac, um humor irónico, por vezes ajudado pela maravilhosa banda-sonora de Maurice Jarre. Mas o tom aqui é muito mais uma afluência da alienação, como Christiane, possivelmente levada à loucura pelo trauma, perambula na sua máscara branca e preocupada como é perfeitamente compreensível, com os dilemas sobre os métodos do seu pai. Embora este filme tenha alguns toques surreais admiravelmente leves, sabe como manter os choques para os momentos certos, que não podem superar a ligeireza da história, o excesso de confiança do filme na sua imagem central da mascarada Christiane (que, deve-se dizer, a sua figura fica gravada na nossa mente durante alguns dias). Inspirado por Jean Cocteau, assim como por Tod Browning ou Jacques Tourneur "Les Yeux Sans Visage" é um filme assombroso, quase hiper-real. Cada sequência tem uma precisão inevitável, o mesmo sentido de destino inelutável que gira em Vertigo, dos mesmos autores.

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Imdb

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Os Muros do Desespero (La Tête Contre les Murs) 1959



Para se livrar do seu filho problemático François (Jean-Pierre Mocky),  Maître Gérane (Jean Galland) interna-o num hospital psiquiátrico, propriedade do Dr. Varmont (Pierre Brasseur), um adepto dos tratamentos tradicionais, em constante conflito com o Dr. Emery (Paul Meurisse), cuja terapia, mais moderna, tem a psicologia dos doentes em conta. François depressa faz amizade com Heurtevent (Charles Aznavour), um jovem epiléptico, e os dois decidem fugir do hospital...
Filme de estreia de Georges Franju (depois de uma carreira notável de curtas metragens), confirmou o seu estatuto como poeta das regiões mais obscuras da mente humana, e uma das visões menos moralistas do cinema de finais dos anos cinquenta, e anos sessenta. A história é a de uma família da classe média que abandona o filho numa instituição mental, depois deste cometer actos irracionais, e actos de vandalismo contra o seu pai.
O filme, baseado num romance de Herve Bazin, foi em grande parte instigado pela sua jovem estrela Jean-Pierre Mocky, que também escreveu o argumento e foi um dos co-produtores. O que faz do filme tão belo, para além das interpretações, é a atmosfera misteriosa criada por Franju. Quando é necessário, ela consegue ser tão dura e realista como o tratamento de Truffaut aos jovens no último quarto de "Les Quatre Cents Coups", noutros momentos ele injecta alguns twists, marcados pelo horror e o irracional. É um filme estranho de se ver, estranhamente erótico, que parece tão húmido e claustrofóbico como a própria prisão do asilo, e a mestria de Franju neste tipo de terreno já era por demais evidente, e atingiria o seu ponto mais alto no filme seguinte.
As legendas estão em português, mas faltam 3 minutos, entre os minutos 14 e 17. Esses 3 minutos que faltam podem tirar em inglês, num ficheiro que está aqui em anexo.

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Legenda dos 3 minutos que faltam em inglês
Imdb