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terça-feira, 3 de outubro de 2017

A Raposa (Gone to Earth) 1950

Com Gone to Earth (quem em Portugal recebeu o nome de A Raposa), Powell e Pressburger entram declaradamente no terreno do melodrama como ainda nunca o tinham feito. É um filme brilhante, mas que acabou por ter um efeito polémico: David Selznick não gostou do final e procurou modificá-lo, no que esbarrou com a firme oposição dos The Archers. O caso acabou em tribunal com uma decisão salomónica: Selznick não podia alterar o filme na Grã-Bretanha, mas pôde fazê-lo para a versão americana, saída em 1952, com o título Wild Heart e com cerca de um terço do seu conteúdo alterado.
Gone to Earth adapta uma novela de Mary Webb de 1917. É um filme campestre passado em plena época vitoriana (final do século XIX), que foi marcada por um grande puritanismo. Tal como todos os grandes melodramas (veja-se o caso de Douglas Sirk), nunca é inocente. No centro está uma rapariga que vive numa espécie de mundo panteísta e que adora uma raposa e que parece viver em estreita comunhão com a natureza, particularmente com os animais. É uma personagem tão deliciosa quanto contraditória. Um dia promete ao seu pai, fabricante de caixões de profissão e notável harpista, que casará com o primeiro homem que a pedir. Será disputada ardorosamente por dois homens: o reverendo da região (igreja protestante) o primeiro a pedi-la e um proprietário e caçador da região. Envolvida na indecisão da escolha, a rapariga casa com o reverendo, mas acaba por ser seduzida pelo seu outro pretendente e troca-o. Esta é uma das grandes virtudes de Gone to Earth. Não é comum num filme de 1950 o adultério ser abordado de forma tão explícita e, ainda por cima, de forma tão amoral. Não há nenhuma condenação explícita pelo acto da rapariga por parte do argumento. A condenação vem da sociedade de uma pequena aldeia regida por severos costumes morais e da própria família do reverendo. O mais interessante é, na minha opinião, a densidade das personagens que tinha sido o ponto débil do filme anterior, A Black Small Room Nenhum dos envolvidos neste triângulo corresponde ao protótipo do bom cidadão, tão típico na maioria dos filmes da época: o proprietário é agressivo e possessivo e não se conforma com a escolha da rapariga; o reverendo parece encarnar todas as virtudes cristãs, mas não deixa de revelar alguma hipocrisia e agressividade quando se sente trocado: a rapariga, personagem central do filme, parece volúvel e caprichosa: o seu maior amor é a sua raposa ao mesmo tempo que oscila entre os seus dois amantes e trocando um pelo outro, para depois voltar ao primeiro. É curioso, a quantidade de filmes de Powell e Pressburger em que as mulheres são a personagem central: Canterbury Tales, I Know Where I Am Going, Black Narcissus e Red Shoes, para além deste. A humanização das personagens por uma percepção da inexistência do maniqueísmo remete-nos para a sua própria ambiguidade, afinal tão comum a todos nós. Esteticamente o filme é belíssimo, com as suas cores vivas e o excepcional trabalho de fotografia de Christopher Challis, num dos seus primeiros trabalhos de uma carreira que se viria a revelar repleta de grandes obras. Foi este ambiente deslumbrante que levou muitos críticos a considerar Gone to Earth como um dos mais belos filmes campestres de todos os tempos. Come-se com os olhos. 
O filme termina de forma circular. As últimas imagens reproduzem, numa fase inicial, as primeiras. O desenlace anunciado que se assemelha ao de Red Shoes, era inevitável, embora não seja feliz. Para a posteridade foi a versão dos cineastas que prevaleceu. Embora não conheça a que foi modificada por ordem de David Selznick acredito, pelo que li, que o original é muito melhor. E é mais um dos grandes filmes dos The Archers. 
* texto de Jorge Saraiva

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terça-feira, 28 de março de 2017

O Retrato de Jennie (Portrait of Jennie) 1948

Eben Adams (Joseph Cotten) é um pintor talentoso mas fracassado lutando na era da Depressão em Nova Iorque, mas que nunca foi capaz de encontrar inspiração para uma pintura. Um dia, depois de encontrar, finalmente, alguém em comprar um quadro seu, conhece uma estranha jovem chamada Jennie Appleton (Jennifer Jones), com quem começa uma amizade invulgar.
 Numa tarde de Inverno de 1932, um artista frustrado encontra uma jovem misteriosa no Central Park, e a sua vida será transformada pela sua presença assombrosa. Uma produção prestigiosa de David O. Selznick, "Portrait of Jennie" (1948) é uma incursão de Hollywood na espiritualidade romântica, reminiscente de filmes como "The Enchanted Cottage" (1945), "The Ghost and Mrs. Muir" (1947), assim como do conto sobrenatural de 1990, "Ghost". Selznick tentou dar a "Portrait of Jennie" um certo brilho artístico,   contratando um argumentista e escritor de prestigio como Ben Hecht, que já tinha então brilhado em vários filmes, e conquistado várias nomeações aos Óscares, uma delas em "Notorious", de Alfred Hitchcock, outra em "Wuthering Heights", de William Wyler, só para dar dois exemplos. Hetch escrevia apenas o perfácio, embora não fosse creditado.
Dirigido por William Dieterle, realça-se o tom estranho, com sequências de cor deslumbrantes, como o furação de New England na parte final do filme, cujas nuvens da tempestade são de um verde doentio, e no retrato final magistral de Adams a pintar Jennie, revelado num impressionante Technicolor. 
Selznick estava tão apaixonado por Jennifer Jones que depois de a roubar do seu anterior marido, Robert Walker, dominaria a actriz emocionalmente e profissionalmente. Segundo o que é contado, ele só escolhia para contracenar com a actriz, actores com relações estáveis, e que fossem conhecidos pela sua fidelidade, como eram os casos de Gregory Peck e Joseph Cotten, que contracenou com Jones em diversos filmes, incluindo este. Embora a produção de "Portrait of Jennie" fosse um sacrifício emocionamente por causa da relação da actriz com o produtor, acabaria por ser um impulso para as suas estrelas. Joseph Cotten ganharia o prémio de Melhor Actor no Festival de Veneza, e mesmo que Jennifer Jones não tivesse sido nomeada para um Óscar, foi elogiada pela crítica em geral como a problemática heroína. O filme ganhou o Óscar de Melhores Efeitos Especiais. 

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domingo, 26 de março de 2017

Cartas de Amor (Love Letters) 1945

Quando um homem, com pouco talento para escrever, pede a outro para escrever cartas de amor por ele, há sempre complicações. O homem sem talento casa com a rapariga, e confessa uma noite que não escreveu as cartas para acabar com uma faca nas costas. O escritor das cartas apaixona-se pela mulher a quem as escreveu para se tornar no seu segundo marido, mesmo que ela tenha assassinado o seu amigo. Singleton (Jennifer Jones), não se lembra do crime, nem de nada dos seus primeiros 22 anos de vida como Victoria Remington. No segundo casamento ela pensa porque terá dito "Eu aceito-te, Roger", em vez de "Eu aceito-te. Alan".
William Dieterle dirige este melodrama romântico de mistério, com argumento de Ayn Rand, baseado no livro "Pity Mr. Simplicity" de Chris Massie. Ayn Rand, escritora e argumentista nascida na Rússia, foi das muitas personalidades que emigrou para os Estados Unidos no período da Segunda Guerra Mundial, ficando conhecida, sobretudo, por "The Fountainhead", por ter escrito o argumento baseado num livro seu. "Love Letters" era uma variação do conto de "Cyrano De Bergerac". Há uma interpretação enorme de Jennifer Jones, já que o filme foi feito à sua medida, e um trabalho de câmara excepcional de Lee Garmes para nos manter totalmente focados na personagem principal, e uma banda sonora assombrosa de Victor Young. A dupla Jones e Dieterle ainda funcionaria melhor na sua colaboração seguinte, "Portrait of Jennie", realizado três anos depois, e que seria dps melhores filmes do realizador.
"Love Letters" foi nomeado para quatro Óscares, incluindo a nomeação de Jennifer Jones para Melhor Actriz, a terceira que conseguia aos 26 anos. 

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