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domingo, 31 de maio de 2015
Sem Essa, Aranha (Sem Essa, Aranha) 1970
“Já fiz tudo que um branco podia fazer”, confessa o personagem principal de Sem essa Aranha. Depois de colocar os paulistas em transe, desencadeando uma nova onda de esquizofrenia paraindustrial entre cinéfilos e seguidores mais radicais — sem falar dos fãs de vanguarda e dos diluidores de carteirinha —, Rogério Sganzerla vem ao Rio mostrar que é realmente o melhor de todos. Os três filmes dirigidos para a produtora Belair — a nossa Atlântida udigrúdi —, no primeiro semestre de 1970, precisam ser revistos. Da Boca do Lixo paulista para o Beco da Fome carioca, Rogério Sganzerla chegou tocando o terror:“sempre tive a impressão que o diabo ia com a nossa cara!”. Sem essa Aranha foi o último filme da série carioca — e não deve nada às produções paulistas do diretor. O cineasta teve que sair do país às pressas, com as latas na mão. Os negativos foram levados a Paris e revelados no laboratório da Éclair. A associação entre Sganzerla e o ator Jorge Loredo é um dos maiores achados do cinema brasileiro. O personagem Zé Bonitinho — tipo criado por Loredo para a TV, caricatura genial do cafajeste local, cafona e colonizado, o galã fracassado que no fim das contas se dá bem, resumindo: o picareta — se mistura tão bem com o Aranha do filme que parece até uma invenção do próprio Rogério.
Números musicais com Moreira da Silva e Luiz Gonzaga, stripteases, um pacto com o demônio, artistas de circo, masturbação e morte completam essa eletrizante chanchada psicodélica, apresentada em quinze planos-seqüência de tirar o fôlego e enquadrados com estilo pela câmera-na-mão de Edson Santos. Estilhaços de Joyce, Rimbaud e — principal-mente — Oswald de Andrade ex plodem na tela:“reconheço e identifico o homem recalcado do Brasil, produto do clima, da economia escrava e da moral desumana que faz milhões de onanistas desesperados e de pe-derastas”. Um raio X do Rio e da tragicomédia brasileira.“O cinema não me interessa, mas a profecia”, dizia Rogério Sganzerla em 1968. Remier Lion
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sábado, 30 de maio de 2015
Copacabana Mon Amour ( Copacabana Mon Amour) 1970
A vida de alguns habitantes de Copacabana. Sônia Silk, uma prostituta (também conhecida como Miss Prado), é irmã de Vidimar, apaixonado pelo patrão, o Dr. Grilo. O patrão engravidou a irmã de Sónia, que perdeu o seu próprio filho ainda adolescente, e agora sonha cantar na Rádio Nacional. Sónia vê espíritos possuírem seres e objectos, e procura ajuda com o pai-de-santo Joãozinho da Goméia.
Produzido por Sganzerla e Júlio Bressane, como uma das seis obras primas feitas com um micro budget para a produtora Belair, num período record de 4 meses, no início da década de 70. Bressane e Sganzerla dirigiram a actriz Helena Ignez três vezes cada, nestes seis filmes, onde ela era o foco principal. A produtora Belair consistia em apenas 3 pessoas, Sganzerla, a sua esposa Ignez e o ex-marido desta, Bressane. Antes do casamento com Bressane, Ignez tinha sido casada com Glauber Rocha, de quem tinha um filho, e, de quem Sganzerla era muitas vezes crítico, visando-o como porta voz do cinema novo, respnsável por colocar uma metodologia de arte europeia no cinema brasileiro. Tanto Sganzerla como Bressane celebravam José Mojica Marins como um mestre, algo que também já o fazia Rocha, que o considerava o maior cineasta do mundo. A ditadura levou a uma dissolução forçada da Belair, obrigando os seus três intervenientes a emigrarem para a Europa.
Em 1970 a intersecção implícita entre o Tropicalismo e o Cinema Marginal era explícita. A banda sonora de Gilberto filme serve como um contraponto necessário para a visão escura e pós-godardiana de Sganzerla. O argumento, com a sua estrutura mínima recorrente, e elipses abstractas também se contrapõem às imagens oníricas coloridas do filme. É difícil de bater a presença de Ignez, desafiadoramente marchando através de uma Copacabana lotada, em praias solarengas no seu micro fato vermelho, e saltos altos. Ela é mais uma vez a mulher de todos, agora literalmente, viajando numa paisagem atemporal, como Alice no País das Maravilhas...a partir de encontros lésbicos encantadoramente inocentes, ou batalhas metafísicas sobre a vaidade ou ganância. Sganzerla pinta o Brasil contemporâneo como um inferno industrial, teimosamente ignorando o passado, que borbulha por todos os lugares, incorporados no corpo de uma prostituta envelhecida.
Sganzerla parece ser o cineasta mais profundo e poderoso a trabalhar em São Paulo, e a estética trash da Boca do Lixo mais ao seu estilo do que do Rio. Longe do Boca, Sganzerla é menos específico, mais abstrato e filosófico. "Copacabana Mon Amor" era um filme-chave para um realizador esquecido, que acabou por perder contacto com a realidade que teve como objectivo apresentar, em toda a sua verdade crua.
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domingo, 24 de maio de 2015
A Mulher de Todos (A Mulher de Todos) 1969
Ávida por visitar a exótica Ilha dos Prazeres, a ninfomaníaca Ângela Carne e Osso convida o amante para a viagem. Desconfiado, o marido contrata um detetive particular que acaba por descobrir o plano e apaixonar-se pela jovem. Desconcertado diante do flagrante, o empresário prepara uma terrível vingança.
"Fica difícil pensar que alguém, algum dia, pudesse fazer algum filme mais ácido-cáustico-venenoso que O Bandido da Luz Vermelha, seja no Brasil, seja no mundo. Talvez só o autor do próprio que pudesse tentar repetir o feito. Dessa feita que nasce A Mulher de Todos, filme que só não é mais improvável que seu diretor.
Essa excepcional obra-prima nascida da Boca do Lixo, da pornochanchada, dos quadrinhos e do fundo do lixo da cultura de massa tem como pano de fundo a história pra lá de maluca de Ângela Carne e Osso, que é nada mais nada menos que Helena Ignez no auge do tipo de atuação que ela mesma criou na época do Bandido quando interpretava Janete Jane – mas a prostituta rancorosa não tem nada a ver e não chega nem perto desse literal mulherão, que o tempo todo é explosiva, debochada, sensual, perigosa, maluca, imprevisível … O tipo de fúria libidinosa que só Sganzerla mesmo saberia domar de forma decente.
Sem estrutura definida e cheio de personagens tão malucos/bizarros quanto a protagonista – tipo um doutor nazista fã de quadrinhos (feito pelo Jô Soares!) e um toureiro aveadado que só se ferra na mão de Ângela – e com personagens mais declamando frases inacreditáveis de tão impensáveis do que dialogando propriamente, a estética que Sganzerla imprime a cada plano é algo incrível, filmando com a profundidade e noção de quadro de Orson Welles interiores dignos dos filmes mais toscos da era dourada do nosso cinema de sacanagem, uns exteriores anárquicos, e uma movimentação ininterrupta de dar dor de cabeça, o filme só confirma o que muita gente já sabe: os filmes de Rogério estão entre os mais originais da cinematografia mundial.
Esse filme, particurlarmente, é um verdadeiro teco na cara tanto dos falsos moralistas quanto dos pseudoliberais, e uma verdadeira saraivada de deboche e sarcasmo impensável na época da ditadura, e mais impensável ainda agora, quando mesmo com um bom aqui e outro bom ali, está tudo muito comportadinho para se pensar em fazer filme tão experimental em forma e conteúdo assim dentro do cinema de ficção.
E se o mundo fosse um lugar decente, Sganzerla seria tão importante quanto Ford, Welles e Godard. Falei mesmo. São poucos os que pegam a cultura de massa ruim, e com isso fazem uma obra-prima pra lá de rebuscada e refinada, e melhor ainda, na base do esculacho e da gozação." Por Bernardo Brum. Daqui.
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terça-feira, 19 de maio de 2015
O Bandido da Luz Vermelha (O Bandido da Luz Vermelha) 1968
São Paulo, década de 60. Jorge (Paulo Vilaça) é um assaltante de casas, a polícia chama-o do "bandido da luz vermelha", por usar sempre uma luz vermelha para entrar nas casas. Engana a polícia ao utilizar técnicas muito peculiares de assaltos. Viola as vítimas, tem longos diálogos com elas e e protagoniza fugas ousadas, para depois gastar o fruto do roubo de maneira extravagante. Tem uma paixão chamada Janete Jane (Helena Ignez), envolve-se com outros assaltantes, um polícia corrupto, e acaba por ser traído.
Filme de estreia de Rogério Sganzerla, anuncia a sua divergência do cinema novo logo na cena de abertura. Na banda sonora são sobrepostas dobragens de um homem e uma mulher, a sobrepor frases como "guerra total na Boca do Lixo", descrevendo o filme como um western sobre o terceiro mundo. O resultado é uma inundação de informação que tanto pode dissuadir como cativar o espectador. Se este decidir ser arrastado para o mundo do Bandido da Luz Vermelha, e as suas corajosas façanhas na Boca do Lixo em São Paulo, com a sua atmosfera vibrante, descobre-se uma miscelânea de géneros (do western ao film noir), cheia de imagens e sons que fazem uma interessante crítica ao estado do país no final da década de sessenta.
O filme não consegue esconder as suas influências, incluindo um dos heróis de Sganzerla, Orson Welles. Alucinante e feito com uma montagem muito rápida, "O Bandido da Luz Vermelha" é um manifesto do próprio Sganzerla, uma educação cinematográfica sentimental, do cinema e da sociedade, na sua forma mais delirante possível.
O filme é baseado em factos reais, nos crimes do famoso assaltante João Acácio Pereira da Costa.
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