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sexta-feira, 18 de novembro de 2022

O Palhaço (He Who Gets Slapped) 1924

A história de um inventor que, ao sofrer uma traição na vida, faz carreira tornando-se num palhaço cujo número consiste em ser esbofeteado por todos os outros palhaços. Ele apaixona-se por outra artista do circo, e aqueles que o traíram entram na sua vida novamente. 
Depois de ver os filmes que Sjostrom tinha feito na Suécia, o produtor Irving Thalberg recrutou Sjostrom para Hollywood. "He Who Gets Slapped" foi o primeiro filme que o sueco fez na MGM e provou ser um empreendimento lucrativo para todos os envolvidos. Sjostrom foi um dos poucos realizadores respeitados por Louis B. Mayer e Thalberg. "He Who Gets Slapped" era baseado na peça de 1914 de Leonid Andreyev, e o filme resultante parece, pensa e age como se fosse mais europeu do que qualquer coisa que os estúdios de Hollywood produziram na época.
É um conto de degradação, humilhação e sacrifício. Chaney é o pobre, mas prolífico cientista Paul Beaumont, tão dedicado no seu trabalho que, inevitavelmente, se torna um tolo inconsciente. 
É um de seus retratos mais magistrais. O seu desespero patético, demência, humildade e dignidade redentora estão totalmente intactos.
 

quinta-feira, 30 de maio de 2013

O Carro Fantasma (Körkarlen) 1921



Para todos os efeitos, até ao final da década de 1920 não havia tal coisa como um filme de terror. Claro, havia filmes que tinham elementos de horror, e já desde a versão de Frankenstein da Companhia Edison, em 1910, houve adaptações cinematográficas de romances góticos populares. Mesmo D.W. Griffith já se tinha envolvido por este território, no melodrama The Avenging Conscience (1914), que pedia emprestado alguns elementos do enredo de numerosos poemas de Edgar Allen Poe, e contava com uma das sequências de maior pesadelo no cinema mudo. Filmes como este, no entanto, eram melhor descritos como proto-filmes de terror, uma espécie de passo intermediário necessário antes do pleno florescimento do género no final da época do mudo, e início dos anos 1930. 
Não surpreendentemente, alguns dos filmes mais importantes do proto-horror vieram da Europa, que já tinha centenas de anos de história, mitos e folclores nos quais se inspirar, bem como nos recentes horrores da Primeira Guerra Mundial. Na Alemanha, vários cineastas basearam-se no Expressionismo para criar a sua própria linguagem psicologicamente sintonizada e altamente estilizada do proto-horror com filmes como Nosferatu, de FW Murnau (1922), uma adaptação não autorizada de Drácula de Bram Stoker, e Robert Weine em O Gabinete do Dr. Caligari (1919), filmes de um ciclo que já passou por aqui. No entanto, alguns dos filmes do proto-terror mais interessantes e provocadores surgiram na Escandinávia, uma região cujos auteurs do cinema mudo exibiam uma propensão natural para o visual assustador e elegante, tons melancólicos e uma obsessão com a morte, o sobrenatural, e a vida após a morte.
Proeminente entre estes filmes estava o magistral The Phantom Carriage (Körkarlen), de Victor Sjöström, um filme que é, provavelmente, melhor descrito como um melodrama espiritual. Baseado no livro de 1912 da escritora vencedora do Prémio Nobel, Selma Lagerlöf, que foi inspirada em vários contos do folclore europeu, "O Carro Fantasma" usa o sobrenatural como pano de fundo para uma parábola comovente sobre a tristeza, a culpa e a redenção. O personagem central é David Holm (interpretado por Sjöström, que muitas vezes era protagonista dos seus próprios filmes, e este foi o caso), um homem complexo que é, simultaneamente, simpático e desprezível. Embora possa ser charmoso e violento, também é egoísta e cruel, com os demónios internos alimentados pelo alcoolismo e uma amargura em relação à vida, que se torna uma profecia constantemente auto-realizável. Depois de ter sido abandonado pela esposa irritada e amendrontada (Hilda Borgström), passa a véspera de um Ano Novo a dormir embriagado num abrigo do Exército da Salvação, onde um jovem voluntário chamado Edit (Astrid Holm) mostra-se determinado a ajudá-lo.
Considerando o romance de Lagerlöf, o argumento de Sjöström não segue a ordem cronológica da história, mas sim, apenas em flashbacks que se revelam gradualmente as várias relações e ligações entre os personagens. Sjöström resiste a demonizar David, e em vez disso retrata-o como estando preso num ciclo vicioso, de ser vítima e vitimador.
Sjöström também constrói o passado do condutor da Morte (o Körkarlen do título original sueco) via Gustafsson (Tor Weijden), um amigo bêbado de David que lhe conta sobre o seu medo de morrer na véspera do Ano Novo, por causa da sua crença de que a última pessoa que morre no final do ano deve passar o ano seguinte na "afterlife" a conduzir a carruagem da morte agarrando as almas dos defuntos. Sjöström transmite esta ocupação sobrenatural e sombria com o uso elegante e impressionante de exposições múltiplas que tornam o motorista e o seu carro um pouco transparentes, para que assumam uma presença fantasmagórica que se move pelo mundo dos vivos, literalmente agarrando as almas dos recentemente falecidos. Sjöström baseia-se em imagens folclóricas para ter o rosto do motorista, em grande parte obscurecido por uma capa com capuz e tê-lo a transportar uma foice sem nenhuma finalidade funcional, excepto para associá-lo a centenas de anos de tradição do Grim Reaper. A técnica usada para criar a ilusão fantasmagórica é um dos mais antigos efeitos especiais do cinema, que remonta aos filmes do final do século 19 de Georges Méliès.
Ao contrário de tantos filmes de terror dos tempos correntes, Körkarlen tem um peso espiritual que adiciona uma verdadeira profundidade à sua imagem de terrível. Ajuda bastante que o filme seja tão bem fotografado pelo veterano Júlio Jaenzon, que emprega extraordinariamente bem o contraste e a escuridão em formas que evocam as comparações com o expressionismo, mas que sentimos serem totalmente naturais. Sjöström mantém-nos conectados com os personagens através de longos close-ups, evocando algumas imagens verdadeiramente inquietantes que são simultaneamente belas e perturbadoras. No entanto, apesar de toda esta bizarrice, o filme finalmente afirma-se não sobre o vazio da morte, mas sim sobre a importância da vida.

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terça-feira, 26 de março de 2013

O Vento (The Wind) 1928



"The Wind" era o épico de Victor Sjöström que explodiu nas salas quando os mudos estavam a ser ultrapassados pelos sonoros. Tanto "The Wind" como "The Jazz Singer" entraram em produção ao mesmo tempo, mas como poderia Sjöström ter previsto toda a nova tecnologia que o outro filme estava prestes a revelar?, condenando "The Wind" a ser um filme datado mesmo antes de ser lançado. Isto era uma pena, pois este era provavelmente um dos últimos grandes filmes mudos a serem lançados.
Victor Sjöström, trabalhando a partir de um romance de Dorothy Scarborough, faz grande uso da luz e da sombra, técnica que parece emprestada das obras dos realizadores alemães, como FW Murnau e Fritz Lang. Este filme, além de "The Informer", de John Ford, era provavelmente o mais próximo que qualquer filme americano esteve do surrealismo gritante dos expressionistas alemães. "The Wind" também apresentava um grande desempenho por parte de Lillian Gish (no seu último filme mudo), que expande o tipo de personagem "anjo-angustiado" que ela criou em "Broken Blossoms" de DW Griffith, em 1919.
Em The Wind, ela interpreta Letty Mason, uma jovem de bom coração que se muda da Virginia para morar com o primo Beverly (Edward Earle) e a sua esposa Cora (Dorothy Cumming) num rancho do Texas, no meio da bacia de poeira. Depressa Cora começa a sentir ciúmes dela, especialmente por causa do seu afecto para os filhos. 

Letty veio para o oeste, para o implacável deserto do Texas. Hipnotizada por tempestades de areia que parecem não ter fim, mas logo descobre que tem um problema maior, o facto de que, mesmo antes de saír do comboio, já se está a tornar num objecto de desprezo e luxúria.
A desolação implacável é o que faz "O Vento" resultar, e não um final feliz. Sjöström cria uma paisagem desolada e ameaçadora, não só na paisagem física, mas também na paisagem social, de que Letty não pode escapar. Quase todos os homens que se aproximam dela fazem-no com intenções lascivas. Ela também não encontra conforto na companhia feminina, porque a mulher mais próxima dela seria Cora, que a rejeita mesmo antes de conhece-la. 
Há muitas coisas sobre Gish que merece ser recordadas, numa carreira que se prolongou por mais de 75 anos. Aos 19 anos podia parecer ter 90, e aos 90 ter 19. A sua beleza era eterna. No cinema mudo participu em algumas das obras mais importantes, "O Nascimento de uma Nação", "Intolerância", mas a sua longa carreira expandiu-se pelo cinema sonoro, tendo sido nomeada ao Óscar uma única vez, num papel secundário em "Duelo ao Sol", acabando por ganhar um Óscar honorário em 1971. O seu último filme seria em 1987, "As Baleias de Agosto", de Lindsay Anderson, em que contracenava com algumas velhas glórias, como Bette Davis, Vincent Price, Anne Sothern, Harry Carrey Jr, entre outros.

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O Palhaço (He Who Gets Slapped) 1924


É um conto de degradação, humilhação, e sacrifício. Lon Chaney é o prolífico cientista Paul Beaumont, tão dedicado ao seu trabalho que, inevitavelmente, se torna alheio ao mundo. O patrão de Beaumont, rico e imundo, é o Barão de Regnard (Marc McDermott). Regnard tem vindo a enganar Beaumont, envolvido com a sua esposa Maria (Ruth King) e planeando roubar o fruto do seu trabalho científico.
O mundo de Paul Beaumont desaba quando Regnard apresenta os trabalhos de Beaumont, como a sua própria criação, para a Academia. Beaumont tenta, em vão, convencer a Academia do roubo, mas eles tomam o lado do Regnard, um homem rico e influente, ao contrário do pobre e desconhecido Beaumont. Beaumont é desprezado pela traição do seu patrão, pelo riso da academia, e com a descoberta da infidelidade da sua esposa, e, finalmente, pela bofetada humilhante que Regnard dá no seu rosto. É uma bofetada que agora ecoa obsessivamente na cabeça de Beaumont. É então que ele se transforma no palhaço, "He".
O palhaço "He Who Gets Slapped" (HE) em breve será a fúria do circo Paris. Debaixo da cara pintada está o antigo Paul Beaumont, que repete aquele momento cruel de humilhação vez atrás de vez, todas as noites, numa grande interpretação, mas sempre com a vingança a pairar sobre a sua cabeça. O público faz do palhaço uma estrela, e agora está perdido de amores por Consuelo (Norma Shearer, que depressa se tornaria na Sra. Irving Thalberg), mas ela está apaixonada por Bezano (John Gilbert) que, naturalmente, significa amor não correspondido por "HE".
Chaney tem um dos seus papéis mais naturais, e uma das suas mais seguras performances em grande parte devido ao realizador Victor Sjöström, que também dirigiu Chaney e Norma Shearer, no ano seguinte, em "Tower Of Lies" (infelizmente, mais um filme perdido). Victor Sjostrom era uma espécie de ícone. Era o realizador preferido de estrelas como Greta Garbo ou Lillian Gish, e a sua obra-prima, "The Phantom Carriage" (1921), foi uma influência considerável sobre Ingmar Bergman. Depois da chegada do som Sjostrom aposentou-se da vida de realizador para regressar ao seu primeiro amor, de ser actor, mas ainda serviu de mentor para o jovem Bergman, que lhe devolveu o favor, reservando-lhe um papel de extraordinária beleza como o Dr. Isak Borg de Morangos Silvestres (1957, possivelmente o maior filme de Bergman).
Depois de ver os filmes que Sjostrom tinha feito na Suécia, o produtor Irving Thalberg recrutou Sjostrom para Hollywood. He Who Gets Slapped foi o primeiro filme que o sueco fez para a MGM, e provou ser um empreendimento lucrativo para todos os envolvidos. Sjostrom era um dos poucos realizadores respeitados tanto por Louis B. Mayer como por Thalberg. He Who Gets Slapped é baseado numa peça de 1914, por Leonid Andreiev. A obra resultante, parece muito mais um filme europeu do que qualquer outro que os estúdios de Hollywood tinham produzido naquela altura.
 A diva deste filme é Norma Shearer. Chamou a atenção do produtor Irving Thalberg exactamente neste filme, e assinou um contrato com a MGM, tendo casaso com o rico produtor em 1927. Os mais críticos acusaram-na de se casar pela sua carreira. No entanto, ela foi nomeada para seis Óscares, e recebeu um por seu papel em The Divorcee. Morreu a 12 de junho de 1983, na Califórnia.
Intertitles em inglês.

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