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sábado, 19 de novembro de 2016

Capítulo 6 - Policial

Foi ainda no início deste blog que eu fiz um ciclo chamado "Policiais dos anos 80". Foi um ciclo que me deu bastante prazer a fazer, e pelo qual deu para perceber o "boom" do cinema policial nesta década, acompanhando igualmente a explosão do periodo do VHS. Se houve um género que os video clubes ajudaram a desenvolver foram os policiais. Muitos deles não tiveram a devida divulgação nas salas, com passagens despercebidas, enquanto outros se tornaram autênticos sucessos, como "Beverly Hills Cop" ou "48 Hours". Se seguirem este capítulo aconselho também a seguirem o ciclo dos "Policiais dos anos 80", caso não o tenham feito já.

A Máfia em Paris (Détective) 1985
Dois detectives investigam acontecimentos estranhos num hotel em Paris, enquanto um pugilista se prepara para um importante combate. Ao mesmo tempo entra em cena um casal que quer ajustar contas com o empresário do pugilista, e alguns malandrins, que tentam reaver dinheiro que lhes é devido.
Jean-Luc Godard no território do policial, puro e duro. Aqueles não familiarizados com as histórias de Godard. o uso intrusivo de música clássica, certamente que encontrarão neste filme uma experiência perturbadora. Mas os fãs de longa data do realizador facilmente reconhecerão aqui algumas obsessões familiares: a dificuldade em determinar a "verdade" de qualquer coisa, os constantes mal-entendidos entre os homens e as mulheres, o caos da vida urbana, e o impacto dos mídia em tudo, desde o desporto até ao sexo. O filme pode ser considerado como um tributo ao film noir. Os homenageados no grande ecrã são John Cassavetes, Edgar G. Ulmer, e Clint Eastwood. 
Contavam-se pelos dedos de uma mão os filmes de Godard disponíveis em VHS. Para além deste, só havia mais 4: "Atenção à Direita", "O Desprezo", "Eu Vos Saúdo, Maria" e "Pedro, o Louco". Dois clássicos, e três contemporâneos, era tudo o que havia do realizador.
Imdb 

Morto à Chegada (D.O.A.) 1988
Um professor universitário e escritor (Dennis Quaid) chega, já envenenado, a uma esquadra da polícia, mas ainda ajuda a descobrir quem o envenenou. O título do filme, "D.O.A.", significa "dead on arrival", mas convém esperar para ver se o herói acaba mesmo morto no fim. Para descobrir o assassino o protagonista vai contar com a ajuda de uma aluna, interpretada por Meg Ryan.
Estreia na realização de uma dupla de realizadores, Annabel Jankel e Rocky Morton, que só fariam mais um filme na carreira, o terrível "Super Mario Bros.". Aqui fazem um remake de um famoso noir dos anos cinquenta, realizado por Rudolph Maté. Os dois realizadores criaram a personagem de Max Headroom em 1984, e estavam destinados a ser uma dupla de sucesso, mas o fracasso de "Super Mario Bros" parece ter condenado a sua carreira. É essencialmente um filme de perseguição, com um ritmo rápido e algumas boas interpretações. Meg Ryan aparece aqui em inicio de carreira, pela segunda vez contracenando com Dennis Quaid, com quem tinha inciado uma relação durante as rodagens de "Innerspace". 
O filme também tinha um bom elenco de secundários: Charlotte Rampling, Daniel Stern e Brion James. 

Crime em Campo de Cebolas (The Onion Field) 1979
Dois polícias (John Savage e Ted Danson) abordam dois tipos na estrada por causa de um farol no carro onde viajavam. Acabam por ser desarmados e ficam reféns dos dois homens. Um dos policias é morto num campo de cebolas, o outro consegue fugir. Daqui para a frente o filme gira à volta do policia que ficou vivo, e dos dois criminosos que foram logo capturados e agora disputam na justiça o adiamento da sua pena de morte.
Realizado por Harold Becker em inicio de carreira, um realizador que se tornaria especialista no policial e o no thriller, e que teve no seu melhor filme "Sea of Love", com Al Pacino e Ellen Barkin. A história é baseada em factos reais, num livro best seller de Joseph Wambaugh, um homem que era polícia antes de se tornar escritor. Dois anos antes Robert Aldrich tinha feito um filme a partir do seu livro "The Choirboys", que tinha odiado, tal como os críticos. Depois desta experiência estava determinado a não perder o controlo de qualquer outra adaptação sua. Quando surgiu a idéia de adaptarem "The Onion Field", um dos seus livros mais famosos, não só tomou conta do argumento como também investiu dinheiro na sua produção. Queria, sobretudo, mostrar como as coisas realmente tinham acontecido, sem os aditivos de Hollywood, e o resultado é um trabalho extremamente profissional, mas que sofria em comparação com outros policiais dos anos 80 e 90. 
James Woods, no papel de um dos criminosos, é o melhor do filme, conquistando uma nomeação para os globos de ouro. 

Brigada Anticrime (Sharky´s Machine) 1981
Tom Sharky (Burt Reynolds) é um policia dos narcóticos em Atlanta, que foi rebaixado depois de uma captura mal sucedida. Nas profundezas desta humilde divisão, ao investigar um caso de alta prostituição, Sharky tropeça num assassinato da Máfia com laços governamentais, e responde reunindo a sua equipa de investigadores ("sharky´s machine") para descobrir os cabecilhas dos criminosos e leva-los à justiça, antes que estes matem todos os investigadores e testemunhas, incluindo o próprio Sharky. 
Burt Reynolds atrás e à frente das câmaras, no seu filme mais maduro até aos dias de hoje, numa obra bastante fiel ao livro de onde é inspirado, "Born Innocent", escrito por William Diehl. Infelizmente grande parte da rica narrativa do livro foi perdida nas duas horas de duração do filme, mas Reynolds estava mais interessado na caracterização das personagens e nas sequências de acção, e nesse campo trabalhou muito bem. É um filme violento, uma espécie de primo não muito afastado de "Dirty Harry", mas Reynolds contrabalança as sequências de violência com uma pitada de humor. 
Tem um grande elenco, que inclui nomes como Vittorio Gassman, Brian Keith, Charles Durning, Henry Silva, Rachel Ward, entre outros.

quarta-feira, 23 de março de 2016

O Maoísta (La Chinoise) 1967

Paris, Verão de 1967. Alguns tentavam aplicar os princípios que romperam com a burguesia da URSS e dos partidos comunistas ocidentais em nome de Mao Tse Tung... Imersos no pensamento de Mao e em literatura comunista, um grupo de estudantes franceses começa a questionar a sua posição no mundo e as possibilidades de o mudar, mesmo que isso signifique considerar o terrorisrmo como via possível.
"Para apreciar "La Chinoise" de Jean-Luc Godard, hoje em dia, é preciso colocá-lo no contexto da sua evolução artística da altura, que se estende por um longo período de tempo, mesmo antes das suas realizações, quando ele era um jovem crítico de uma publicação rebelde". Com a sua primeira longa-metragem, "À Bout de Souffle" (1960), Godard tinha saltado da crítica para realizador de cinema da Nouvelle Vague, um movimento iconoclasta que reflectia a turbulência cultural daquele período. Godard era a figura emblemática do grupo, inovador, provocador, e constantemente a desafiar o "status quo" da narração fílmica.
"La Chinoise" concentrava-se nas actividades de cinco estudantes radicais de esquerda, que lutam para esclarecer e avançar com os seus objectivos revolucionários. O título refere-se à divisão emergente que se registava na altura entre o marxismo-leninismo da Rússia e o e o maoismo chinês, acentuado pelo recente lançamento da revolução cultural chinesa. Os estudantes radicais deste filme preferem as noções extremistas da versão chinesa do comunismo. Assim, como Godard, estes revolucionários ficam descontentes com a narrativa comunista convencional, e procuram algo mais.
Os personagens principais são vagamente baseados numa história de Dostoiévski, "Os Possessos", embora a história acabe por vaguear para uma direcção completamente diferente. Agora, pode-se analisar "La Chinoise" para perceber até onde ela representa uma modernização do conto de Dostoiévski, mas o foco de Godard, é um pouco diferente, pois a sua visão é muito mais política do que o conto original.

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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Os Quatrocentos Golpes (Les Quatre Cents Coups) 1959



Um jovem parisiense, Antoine Doinel, negligenciado pelos pais, foge da escola, escapa-se para o cinema, foge de casa, começa a roubar, e tenta (desastrosamente) regressar. Tal como a maioria dos jovens, ele apanha-se em mais sarilhos por coisas que pensa estarem correctas do que pelos seus verdadeiros pecados. Ao contrário da maioria dos jovens, ele leva muita porrada. Habita numa Paris sombria e decadente, uma cidade que parece ser grande e cheia de oportunidades, mas apenas aos olhos de uma criança.
No início dos anos 50, com a ajuda do teórico e critico de cinema André Bazin, um jovem de 20 anos de idade, François Truffaut, começou a escrever regularmente para o jornal "Cahiers du Cinema". Truffaut rapidamente ganhou reputação como um crítico intransigente e cruel, com um sentimento claro de que era grande conhecedor de cinema, embirrando com alguns mestres franceses como Marcel Carné ou René Clair. Depois de casar com Madeleine Morgenstern, filha de um distribuidor de quem Truffaut muitas vezes criticava os filmes, este desafiou-o: "Se sabes tanto, porque não fazes um filme?"
Truffaut aceitou a oferta, e o resultado foi "Les Quatre Cents Coups", um filme que mudaria para sempre a paisagem do cinema francês e mundial. É dificil imaginar como um filme aparentemente tão simples, um retrato autobiográfico de uma juventude em revolta, teria um impacto tão duradouro, mas isso é inegável. Embora teoricamente não tenha sido o primeiro filme da Nouvelle Vague, o sucesso comercial e crítico do filme dava poderes a Truffaut e ao movimento como um todo, de uma forma como nenhum outro filme o fez. Outros filmes o seguiriam, de realizadores como Jean-Luc Godard, Eric Rohmer ou Jacques Rivette, e o cinema nunca mais seria o mesmo. 
"Les Quatre Cents Coups" introduzia-nos ao inesquecível Antoine Doinel, um personagem romântico que se tornaria na figura principal de um quinteto de filmes de Truffaut, durante duas décadas, oferencendo a possibilidade de ver crescer e se tornar adulto um personagem. Doinel seria encarnado em todos os filmes por Jean-Pierre Léaud, ele próprio um rebelde, em quem a personagem foi moldada. 
Fotografado em Widescreen anamórfico a preto e branco, por Henri Decaë, que havia começado com argumentista durante a Segunda Guerra Mundial, e que depois trabalharia com grandes mestres da realização, como Louis Malle, Claude Chabrol ou Roger Vadim, captura o dia a dia da vida de Paris com grande habilidade, no final da década de cinquenta.  Saíu de Cannes com o prémio de melhor realizador, e conseguiu uma nomeação para o Óscar de Melhor Argumento. 

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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O Pornógrafo (Le Pornographe) 2001



Na década de 1970, Jacques Laurent foi um grande realizador de filmes pornográficos, em França. No início dos anos 80 desistiu de fazer cinema, frustrado por não ser capaz de fazer o tipo de filmes que queria. Quase vinte anos depois e fortemente endividado, Jacques é obrigado a voltar a fazer filmes pornográficos, embora ainda tenha a intenção de abordar os filmes de forma mais significativa. Desiludido com o seu trabalho, fica animado quando entra em contacto com o filho, Joseph, que o abandonou anos antes, ao descobrir a profissão do pai.
O segundo filme de Bertrand Bonello é um estudo meditativo, intensamente sombrio, de um homem a passar por uma crise de meia-idade infernal e a progressão do seu filho até a idade adulta. Habilmente discreto, o filme usa tomadas longas e diálogos escassos para amplificar o clima existencialista transmitido pelos desempenhos extraordinários dos seus dois actores principais: Jean-Pierre Léaud e Jérémie Renier. É ao mesmo tempo um trabalho provocativo é filmado sumptuosamente, que nos convida a refletir sobre o sentido das nossas próprias vidas num mundo cada vez mais corrompido e artisticamente falido.
Desde a sua estreia em "Les 400 Coups" de François Truffaut, que Jean-Pierre Léaud é um emblema do Cinema Francês d'auteur, um actor amado por fãs do cinema do mundo todo. Nos últimos anos, a sua carreira vinha a passar por uma espécie de renascimento, com Léaud finalmente a encontrar papéis que correspondem tanto ao seu talento como à sua aparência de meia-idade. No filme de Olivier Assayas "Irma Vep" (1996), ele tem um desempenho impressionante como um cineasta a lutar para recuperar os seus poderes criativos. Em Le Pornographe, Léaud encontra-se num papel semelhante, embora aqui o seu papel seja mais central e isso permite-lhe ter o que pode ser considerado como um dos seus melhores desempenhos até então. Longe de ser o energético rebelde, na flor da sua juventude, aqui vemos os últimos vestígios de um homem a olhar para trás com uma profunda tristeza melancólica.
Com base neste e outros filmes recentes similares, Jérémie Rénier parece ser um digno sucessor de Jean-Pierre Léaud. Em Rénier há uma intensidade semelhante ao desempenho e presença na tela para o que vemos com a sua co-estrela mais velha, fazendo-o material ideal para dramas sérios de filmes franceses. Embora a contribuição de Rénier seja impressionante, a presença do seu personagem no filme parece estranhamente intrusivo, e isso mostra um dos pontos fracos do filme. Ao dar tanta atenção a Joseph, a sua vida amorosa e as atividades políticas, o filme desvia a nossa atenção da crise de meia-vida do pai.
O filme contém material sexualmente explícito (algum do qual foi retirado pelo Board of Film Classification britânico) - que alguns espectadores podem achar ofensivos. Para estas breves cenas, Bonello contratou duas estrelas pornográficas, Ovidie e Titof. É discutível se tais cenas fazem uma contribuição positiva para o filme - um crítico mais cínico diria que elas foram incluídas só pelas audiências. Um fã mais generoso diria que essas cenas, filmadas com muito frio e um falso-erotismo mecânico, são fundamentais para a condução da extensão da frustração do personagem central.