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quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Daughters of the Dust (Daughters of the Dust) 1991

No início do século 20, a comunidade Gullah mantém as suas tradições africanas em solo americano. Entre a narrativa épica e o mito, o drama e o musical, temos a história de três gerações de mulheres da mesma família, unidas pela habilidade criativa da realizadora, e visuais marcantes que influenciariam novas gerações de artistas, como Beyoncé.
Primeiro filme de uma realizadora afro-americana a ganhar ampla distribuição nos Estados Unidos. Mas mais do que uma questão de representatividade, esta longa metragem de Julie Dash (a primeira) impressiona pelos detalhes visuais, e pelos toques poéticos na sua narrativa. Discussões sobre tradição, modernidade, buscas por novas identidade e géneros atrvessam a apresentação da cultura Gullah, ligada aos escravos libertados e aos seus descendentes no sul dos Estados Unidos.
Julie Dash traça graciosamente as suas ligações e contradições, o ponto onde o passado encontra o presente, onde a decisão de ficar ou ir é feita, onde ambos os sistemas de crenças podem combinar. Por tudo isso, há um sentimento de liberdade florescente,  aquilo que nos é transmitido pelos nossos ancestrais e pais encontrando aquilo que escolhemos para nós próprios, resultando numa mistura dos dois. 

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To Sleep With Anger (To Sleep With Anger) 1990

A vida de uma família negra de classe média de Los Angeles é interrompida pela chegada de um velho amigo do sul, neste drama servido por camadas. Inicialmente temos lembranças encantadoras do passado, mas conforme o tempo vai passando o visitante começa a mostrar-se cada vez mais sinistro, levando o um conflito inevitável. 
Estreado em 1990, pouco antes da primeira vaga de filmes de gangsters afro-americanos, como "New Jack City", "Straight Out of Brooklyn", e "Boyz N the Hood" serem lançados nas salas, o filme de Charles Burnett nunca alcançou o público que merecia. Enquanto os gangs, armas e drogas tomavam conta do novo cinema negro, esta história lírica de Burnett sobre o confronto entre o mundo moderno de South Central Los Angeles e as antigas superstições do sul americano foi substituída por uma série de explosivos, mas não menos maduros, dramas de acção. 
"To Sleep with Anger" é também um estudo tentador do efeito assombrador do passado no presente, com um fascinante tema sobrenatural: Harry será um demónio do passado ou apenas um indivíduo à procura de problemas? É um desempenho impressionante de Danny Glover, um dos melhores da sua carreira, senão mesmo o melhor. Nesta altura Glover já era um actor de sucesso. 
Legendas em inglês.

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quarta-feira, 1 de agosto de 2018

My Brother's Wedding (My Brother's Wedding) 1983

Dois irmãos tem visões muito diferentes sobre a vida: enquanto um acredita na simplicidade e o outro sonha com a possibilidade de ascenção social. O contraste entre os dois torna-se mais violento com o passar do tempo e cria uma distância cada vez maior entre os dois, mas uma hipótese de conciliação surge quando um convida o outro para ser o seu padrinho de seu casamento.
O menos conhecido dos três primeiros filmes de Charles Burnett (os outros são "Killer of Sheep" e "To Sleep With Anger", que também poderão ver neste ciclo), viu mais de 30 minutos cortados da sua versão original, que não era a pretendida pelo realizador, é uma mistura entre uma novela da vida real e melodrama do crime urbano, num filme cujas personagens nunca proferem uma nota falsa. Burnett que é reconhecido por muitos críticos como o melhor realizador que ninguém conhece, neste filme a cores de baixo orçamento mostra porque é tão reconhecido no underground do cinema norte-americano, enquanto ataca habilmente os problemas do guetto entre a população negra, no centro-sul da Los Angeles do crime, onde impera a resignação e o desemprego.
Como é costume, Burnett consegue gerir muito bem o seu conjunto de actores, a maioria dos quais não profissionais, e os seus dons como contador de histórias fazem o filme crescer de forma constante até ao seu final. 
Filme sem legendas.

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terça-feira, 31 de julho de 2018

Illusions (Illusions) 1982


"Illusions" retrata um estúdio ficcional da Hollywood dos Anos 40, e define o cinema como um historiador poderoso, no entanto, omite muitas culturas da sua história. O protagonista Mignon Dupree expressa a necessidade de "filmes que dêem ao público situações e personagens que eles possam reconhecer como parte das suas próprias vidas". "Illusions" é um filme francamente auto-consciente, pois ocorre num estúdio fictício, e os seus personagens discutem directamente a produção de Hollywood. O título do filme refere-se às falhas que retratam a realidade.

Curta metragem realizada por Julie Dash, um dos nomes mais importantes deste movimento da "L.A. Rebellion", era a última curta metragem da realizadora, antes de se estrear nas longas, em 1991. Em 34 minutos Dash revive engenhosamente temas e estilos clássicos de Hollywood, com o fim de submetê-los a uma forte crítica histórica. Com imagens filmadas num preto e branco de alto contraste por Ahmed El Maanouni, Dash infunde um repertório visual de musicais e melodramas com inflexões modernistas. Combina o retrato intimo com reflexos e exposições múltiplas que capturam o jogo angustiante de Hollywood, e das múltiplas e ocultas identidades.
Filme sem legendas.

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segunda-feira, 30 de julho de 2018

Ashes and Embers (Ashes and Embers) 1982

Anos se passaram desde que Nay Charles regressou de lutar na guerra do Vietname, mas as cicatrizes mentais deixadas por esta experiência nunca foram curadas. Pelo contrário, cresceram ainda mais. Como um veterano negro, não há lugar para ele na América, nem casa, se é que alguma vez houve alguma. Sente-se irritado com todos em redor - a namorada, Liza Jane, o seu filho Kimathi, e a avó resistente que vive no campo. Não consegue discernir nem o amor nem a bondade à sua volta, nem focar-se numa direcção para seguir a vida. Liza Jane espera atraí-lo para o movimento negro de libertação em que participa, mas ele recusa todos os convites para se aproximar pessoas ou fazer parte de uma comunidade.
"Ashes and Embers" de Haile Gerima, passa por tantos momentos de inquietação, como o seu protagonista em estado de choque. É como uma longa e indigesta montagem sem indicação de que curso irá seguir, ou quando passa subitamente para outro ponto da vida de Nay Charles. O filme de Gerima não é linear, meio experimental, meio narrativo, mas, acima de tudo, um filme de combate. No filmes, de uma forma quase Resnaisca Nay Charles descola-se no tempo e no espaço com a facilidade e a anarquia da memória.
Estreado em 1982, depois da primeira vaga de filmes sobre o Vietname, como "Coming Home", ou "Apocalypse Now", que é citado ironicamente no filme, e antes da segunda vaga, que começaria quatro anos depois com "Platoon",  mas o que mais se aproxima de Nay Charles é o Travis Bickle de "Taxi Driver".
Filme raro, sem legendas.

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domingo, 29 de julho de 2018

A Different Image (A Different Image) 1982


Alana (Margot Saxton-Federlla), uma estudante de parte, explora a sexualidade, os ideais ocidentais de beleza, e a sua própria auto-estima na Los Angeles dos anos 80. Vincent (Adisa Anderson), um amigo de longa data, sente-se pressionado a transformar esta relação platónica numa relação sexual, que desencadeia a frustração de Alana com os padrões de beleza e as normas de género ocidentais.

Um olhar comovente sobre os jovens que entram na idade adulta num mundo dominado por divisões sexuais, geracionais e raciais, "A Different Image" seria reconhecido como um marco do cinema feminista negro, mesmo mais de 30 anos depois do seu lançamento. Uma jovem profissional de Los Angeles que luta para ser vista como mais do que um objecto sexual, enquanto o seu amigo tenta envolver-se com ela, acabando por perceber que precisa conciliar as suas expectativas e experiências com as dela. O filme enfatiza bastante o uso da montagem, justapondo vários tipos de fotografias de algumas mulheres, quando das suas sequências narrativas. 
A realizadora é Alile Sharon Larkin, que tinha 29 anos quando fez esta sua primeira longa metragem, de quem se diz que imaginou e criou um cinema negro contra as convenções de Hollywood, e contra o cinema de Blaxploitation.
Filme muito raro, não tem legendas.

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Bush Mama (Bush Mama) 1979

Uma mulher negra à beira de um ataque de nervos. Uma filha para criar e outro bébé a caminho, o marido na prisão, a Assistência Social que ameaça cortar os benefícios caso ela não faça um aborto, os vizinhos que falam demais. A violência racista da sociedade americana se precipita sobre uma vida. Mas sua imaginação não cabe no mundo estreito que fizeram para ela. Dorothy sonha. 
 "Dorothy observa o mundo de sua janela e no recorte dessa moldura o que ela vê e ouve é um espaço que repele e nega sua subjetividade. Portanto, muitas das vezes em que Dorothy se põe diante dessa janela, seu corpo se revela cansado, o seu próprio exercício de olhar o mundo vem carregado com a vontade de desistir dele. Ainda assim, ela insiste em olhar, como se a atitude em si mesma fosse uma possibilidade de resistência. Quando Haile Gerima filma a atriz Barbara Jones na ação de se colocar observando o ambiente externo enquanto, internamente, tudo lhe sugere não desafiar o que está dado lá fora, sob a moldura retangular da janela de um apartamento na periferia de Los Angeles, há na repetição desse enquadramento uma forte marcação política sobre o próprio cinema ao qual Gerima está vinculado. Um que está ciente do quão insubordinado pode ser o simples gesto de levantar os olhos. E observar o mundo de sua própria janela. E ligar uma câmera.
 Quando surgem então as primeiras imagens de Bush Mama (1979), segundo longa-metragem de Gerima, aquilo que a princípio parece ser a encenação de mais um baculejo da polícia na população negra é, na verdade, uma declaração pessoal do diretor sobre seu direito de olhar. Não sabemos, e o filme em nenhum momento revela esse dado, mas as cenas projetadas em câmera lenta na abertura do longa são da própria equipe de filmagem, incluindo aí também o diretor, sendo abordados pela polícia no meio da rua. A câmera que captura essas cenas está atrás de uma janela, escondida, discretamente dando um zoom no que vê."
Texto de Fora de Quadro 
Este filme não tem legendas. 

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quinta-feira, 26 de julho de 2018

Penitentiary (Penitentiary) 1979

Um homem chamado Martel Gordone envolve-se numa luta com dois motociclistas por causa de uma prostituta, e mata um dos dois. Gordone é apanhado e enviado para a prisão, onde se junta à equipa de boxe num esforço para garantir a liberdade condicional, mas cedo começa a estabelecer o domínio sobre o gang mais duro da prisão.
"Penitentiary" é o primeiro filme de uma trilogia com o mesmo nome, escrita e realizada por Jamaa Fanaka, de quem já tínhamos visto aqui "Bush Mama". É um filme que se aproxima muito mais da Blaxploitation do que outro género qualquer, embora esta fosse apenas uma sombra do que tinha sido alguns anos atrás. A maioria dos filmes que ainda eram feitos, eram mais uma homenagem a este sub-género do que propriamente um novo capítulo. 
Numa entrevista em que Fanaka foi interrogado sobre o realismo de "Penitentiary", desde o diálogo ao retrato da vida na prisão, ele respondeu: "Mas tu achas que George Lucas já esteve no espaço? Eu consegui até agora evitar o encarceramento penitenciário". Era uma coisa incrível, já que o filme desde há muito que vinha a ser elogiado pelo seu realismo em retratar a vida na prisão. O filme de Fanaka também foi elogiado pelo seu comentário social, na forma como mostra com desprezo o lado duro, e na pior das hipóteses sádico, da vida na prisão, mostrando o quanto longe um homem pode ir para fazer justiça. Esta é no entanto uma leitura pretensiosa acerca do filme, porque existem observações vagas a este respeito. Mas o que é realmente recomendável neste filme, são as interpretações. Leon Isaac Kennedy, na sua estreia como protagonista brilha radiantemente. 
Legendas em inglês.

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quarta-feira, 25 de julho de 2018

Emma Mae (Emma Mae) 1976

Emma Mae é uma jovem do interior que chega a Los Angeles com a sua tia, usando uns terríveis saltos altos, e como um peixe fora da água no seu novo bairro no centro da cidade. Vai viver com os primos que pensam que ela é uma nerd, mas Emma vai provar-lhes que estão enganados. Acaba por se envolver com um traficante de droga, e é inevitável fazer amigos indesejáveis, que a vão levar por um caminho do lado errado da lei.
É estranho pensar que tantos anos passarem desde "Boyz N´the Hood" (1991), de John Singleton e ainda se encontra tanto em comum com o filme de Jamaa Fanaka "Emma Mae", que chegamos a uma conclusão que possívelmente Singleton poderá tenha visto este filme para se inspirar para o seu de 1991. O estilo naturalista de Fanaka preenche o tempo com shots em exteriores, aproveitando ao máximo as músicas pelas quais eles pagaram os direitos. Sempre uma parte importante de qualquer filme "negro" as músicas são certamente funky. 
Jerri Hayes era a protagonista, uma jovem estudante de drama na UCLA da altura, e que tem uma interpretação cheia de carisma. Era o seu primeiro filme, e esta jovem nunca mais seria vista na tela a partir daqui. Fanaka nunca quis tornar Hayes numa nova Pam Grier, mas sem dúvida que ela dá bastante porrada no final do filme. Quando "Emma Mae" foi vendido a um distribuidor no exterior, o nome teve de ser mudado para "Black Sister´s Revenge", para fazer o filme parecer o oposto do que Panaka pretendia.
O filme não tem legendas.

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terça-feira, 24 de julho de 2018

Killer of Sheep (Killer of Sheep) 1978

Stan trabalha num matadouro. A sua vida pessoal é monótona. A insatisfação e o tédio mantem-no insensível às necessidades da sua adorada esposa, e ele deve lutar contra as influências que o desonram e o pôem em perigo, e à sua familia. Esta não é uma história vulgar. Como um artista de côr a trabalhar dentro de um meio não necessariamente amigável, Charles Burnett travou uma enorme batalha para se tornar um cineasta. Tal como aconteceu com muitos estudantes dos anos 60, ele pegou na sua câmera de 16 milímetros para fazer a tese na UCLA, com foco na zona perturbadora de Watts, em Los Angeles, numa meditação invulgarmente bela e comovente sobre a raça e a rejeição do sonho americano. Com a esperança de ver o filme a ser lançado comercialmente, mas não percebeu que as muitas canções incluídas como parte da poesia em geral, eram inseguras. Os custos por causa das questões dos direitos de autor, feita a distribuição eram impossíveis, e além de algumas sessões em festivais, o filme acabou por se tornar numa lenda pouco vista.
Escuro e num estilo documentarista, "Killer of Sheep" de Charles Burnett é uma janela para um mundo que poucos já ousaram entrar, e muitos nem sequer sabiam existir. Capturando o olhar, o tacto, do sentido da pobreza como nenhum outro filme o tinha feito antes, representa uma notável perspectiva artística. Sem qualquer narrativa real a falar de personagens, com sequências tiradas directamente da implacável vida real, permanece como uma experiência surpreendentemente autêntica, e um verdadeiro testemunho dramático sobre o espírito humano. Enquanto se vive claramente na década de 70, Burnett baseia-se nos antigos blues e numa banda sonora soul, para fazer um exame intemporal da vida à margem da sociedade normativa, uma olhada para situações flagrante e as circunstâncias insondáveis​​. Quando um matadouro parece mais convidativo do que a casa de uma família pobre, reconhecemos que o comentário cultural é muito potente.
Burnett rodou "Killer of Sheep" ao longo de uma série de fins de semanas com um orçamento apertado de um pouco menos de US $ 20.000, com amigos e parentes como actores. Nenhuma destas características devem ser tomadas como limitações, porque o que o filme vale em parte por causa destes pormenores. Se não fosse pelo sentido quase poético do ritmo e as conotações bíblicas do diálogo, Killer of Sheep poderia muito bem passar por um documentário sobre a vida no ghetto de Watts. Killer of Sheep é desenvolvido a partir de evocações do comportamento Afro-americano.

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segunda-feira, 23 de julho de 2018

L.A.Rebellion - Criando um Novo Cinema Negro

No final da década de sessenta, estudantes e activistas dos corpos docentes, pressionavam as poucas escolas de cinema de destaque no país para lidarem com a relativa falta de diversidade na produção cinematográfica norte americana, e a admitirem mais estudantes de cor. Foi no rescaldo da revolta de Watts, e contra o pano de fundo do contínuo movimento dos Direitos Civis, e da escalada da Guerra do Vietname, que um grupo de estudantes africanos e afro-americanos entrou na Escola de Teatro, Cinema e Televisão da UCLA, como parte de uma iniciativa projectada para responder às comunidades de cor (incluindo asiáticas, chicanas e nativas americanas). Agora conhecida como a "L.A. Rebellian" (Rebelião de Los Angeles), estes artistas praticamente desconhecidos criaram uma paisagem cinematográfica única, à medida que, ao longo de duas décadas, os alunos chegaram, orientaram-se, e passaram a tocha para o grupo seguinte.
Na altura em que o programa terminou, em 1973, tinha admitido uma massa critica de estudantes negros que emergiam desta iniciativa: Charles Burnett, Julie Dash, Billy Woodberry, Haile Gerima, Jamaa Fanaka, Barbara McCullough, Larry Clark, Alile Sharon Larkin, Ben Caldwell and Zeinabu irene Davis, para nomear os mais conhecidos.
Passadas várias décadas, este continua a ser um dos movimentos mais importantes da história do cinema, e um exemplo para as várias gerações de jovens estudantes desta área. Vamos, então, recordá-lo aqui, através de uma série de 10 filmes, que veremos nos dias seguintes. Espero que gostem.