Mostrar mensagens com a etiqueta Elia Kazan. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Elia Kazan. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

A Voz do Desejo (Baby Doll) 1956

"Baby Doll" é o resultado da combinação e expansão de duas peças de Tenneessee Williams, "Twenty-Seven Wagons Full of Cotton" e "Unsatisfying Supper". O filme começa com a visão de uma jovem mal vestida, loira, deitada num berço, com um homem calvo de meia idade a espia-la lascivamente por um buraco na parede. Enrolada, e chupando o polegar, ela dorme pacificamente até ouvir o som do homem a alargar o buraco na parede para que possa ter uma melhor visão do corpo da jovem posado provocativamente. Ela sai furtivamente do berço e entra silenciosamente na sala onde confronta Archie, o seu marido. A jovem a quem ele chama de "Doll" fará 20 anos. Quando eles se casaram dois anos antes, Archie tinha combinado com o já falecido pai dela que não consumaria o casamento até ela ter 20 anos.
Quando "Baby Doll" estreou foi denunciado como lascivo, revoltante, sujo, obsceno, moralmente repelente e provocador. Uma crítica na Time afirmava que era o filme americano mais sujo que jamais tinha sido exibido legalmente. Tão forte foi a revolta do público contra o filme, que muitos cinemas foram obrigados a cancelar a sua exibição. Apesar de tal oposição, o filme foi um êxito nas bilheteiras, porque temas como a repressão sexual, luxúria, sedução, decadência moral e corrupção humana atraiam um elevado número de pessoas aos cinemas. O argumento teve um longo atraso de 3 anos por causa de imposições do PCA. Elia Kazan recusou-se a fazer uma das principais mudanças sugeridas, a cena do swing, que afirmavam ser uma cena de sedução muito clara, ao ponto de sugerir que Baby Doll está a ter um orgasmo físico. 
Embora o PCA tenha garantido finalmente o selo de aprovação, o filme foi depois duramente criticado pela Legião Católica de Decência quando estreou em Nova Iorque. Embora os líderes protestantes desafiassem a visão da Legião Católica de Decência e defendessem a "moralidade essencial" do filme, todos os grupos religiosos concordaram que a forma com que a Warner divulgou o filme era questionável. Os cartazes retratavam uma jovem Carroll Baker a fazer beicinho com pouca roupa, posando sedutoramente em pé contra o batente da porta, ou enrolada no seu berço a chupar o dedo. Alguns cinemas que exibiram o filme chegaram mesmo a receber ameaças de bomba.

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Um Eléctrico Chamado Desejo (A Streetcar Named Desire) 1951

 Adaptado da peça de Tennessee Williams do mesmo nome, que ganhou o prémio Pulitzer e gozou de um enorme sucesso na Broadway. Elia Kazan usou grande parte do elenco da peça no filme, e fez apenas algumas mudanças no argumento, para satisfazer o chefe do PCA, Joseph Breen. "A Streetcar Named Desire", passado no bairro françês de New Orleans nos anos imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, conta a história de Blanche Dubois, uma frágil e neurótica ex-professora de inglês, que chega ao apartamento da sua irmã grávida Stella, e do cunhado Stanley, da sua cidade natal Laurel, no Mississipi. Ela clama que tirou um tempo de folga por causa de uma exaustão nervosa, mas na verdade perdeu o emprego porque seduziu um jovem de 17 anos, que o seu pai denunciou. 
A versão cinematográfica foi a fonte de um amargo conflito entre os censores, o realizador Elia Kazan, e o dramaturgo Tennessee Williams. Antes mesmo das filmagens começarem Joseph Breen disse ao produtor que o filme não seria feito sem grandes cortes em algumas cenas e diálogos. Depois de ler o argumento Breen escreveu u memorando para a Warner Bros relatando que eles teriam de remover todas as interferências de sexo e perversão em referência a Blanche e o seu jovem amante, assim como algumas referências a que Blanche fosse uma ninfomaníaca.  Além disso Breen também previu problemas com uma cena de violação e sugeriu várias alternativas, incluindo Blanche inventar a violação e Stanley provar que não a violou. Nas negociações que sucederam entre os censores e a produtora, esta última acabou por levar a melhor, porque Kazan e Williams mantiveram-se firmes, e a produtora não quis perder já todo o dinheiro investido, mas Breen acabou por levar a melhor na parte da violação.
Depois do filme terminado, a Warner deparou-se com outro problema, a LOD (Catholic Legion of Decency), que planeou avaliar o filme com a categoria C (de condemned) que deixaria muitos católicos afastados do filme, mas a Warner pediu para Kazan se reunir com um representante da LOD, o padre Patrick Masterson, que disse ao realizador que não faria nada, porque não era um censor. Só que a produtora não precisava de autorização do realizador ou argumentista para fazer cortes no filme, e a mando da LOD cortou mesmo algumas cenas na versão final. 
Quando o filme estreou criou uma tempestade de controvérsia, foi considerado imoral, decadente, vulgar e pecaminoso, mesmo depois dos cortes substanciais a que já tinha sido sujeito. Kazan lutou contra os cortes mas perdeu, e durante anos faltaram aqueles cinco minutos, que apesar de não serem muito tempo eram cruciais para o filme. A restauração de 1993 devolveu os minutos em falta, e agora já se pode ver o filme em toda a sua extensão e beleza.

Imdb    

sábado, 24 de julho de 2021

Herança Cruel (Pinky) 1949

A história, adaptada de um livro de Cid Rickets Sumner, foi primeiro concebida como um filme chamado "Quality". A personagem principal é Patricia Johnson, uma mulher negra de pele mais clara, de alcunha Pinky, nascida no Mississipi numa altura de grandes preconceitos raciais. Depois de acabar o colégio vai para Boston para fazer um grau em enfermaria e trabalhar, num sitio onde passa por "branca". Apaixona-se por um doutor que não sabe nada do seu passado nem família. 12 anos mais tarde regressa ao sul, a casa da avó...
As acções do anticomunista HUAC, que investigava todas as possibilidade de deslealdade ao governo colocaram muitos realizadores nervosos no final dos anos 40, e uma tendência promissora de filmes com conteúdo social foi interrompida. "Quality", tal como outros filmes que expunham a dura realidade do racismo, estavam entre os que os argumentistas comunistas consideravam ser um importante passo na luta contra o racismo, mas estes filmes também deixavam outros americanos preocupados, o que levaria uma investigações da HUAC, mais agressivas. HUAC queria dizer House Un-American Activities Committee. A 20th Century Fox arquivou os seus planos para "Quality", que tratava em detalhes o tópico volátil inter-racial, mas encarregou Pjilip Dunne de reescrever o argumento e minimizar severamente o livro para depois renomear o filme para "Pinky". O filme foi exibido nos cinema de todo o país sem problemas, até em locais onde o racismo era mais proeminente, mas não passou nos censores de Marshall, no Texas. 
A cidade tinha nos livros um estatuto que permitia aos funcionários locais agirem como uma agência de censura de filmes, com poderes para pré-visualizar todos os filmes que pudessem ser exibidos publicamente e rejeitar todos os que fossem de um carácter a ser prejudicial aos interesses da cidade. E foi assim que o operador de um cinema da cidade, chamado Gelling, foi condenado por uma contravenção ao violar o estatuto local e ter mostrado o filme. Foi assim que nasceu um dos casos mais mediáticos em tribunais americanos, "Gelling vs. State of Texas.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

O Esplendor na Relva (Splendor in the Grass) 1961

"Desde as primeiras notas da intensa música de David Amram e da imagem inicial de Bud (o estreante Warren Beatty) e Deanie (Natalie Wood) a beijar-se num carro ao pé de uma tumultuosa catarata, "Esplendor na Relva" resume o encanto do melodrama de Hollywood no seu melhor. As paixões reprimidas pela sociedade (o lugar é Kansas, 1928), encontram uma expressão deslocada em cada explosão de côr, som e movimento gestual.
A repressão, no filme, está em toda a parte, uma força que tortura as personagens em direcções monstruosas e disfuncionais. Os homens são obrigados e ter sucesso e a ser machões, enquanto as mulheres têm de escolher entre a virgindade e comportamentos "de puta" - esse é o caso de Ginny, a irmã anti-convencional e "flapper" de Bud, indelevelmente encarnada por Barbara Loden.
O realizador Elia Kazan trabalhou no cruzamento da narrativa clássica, criada no estúdio, com as formas inovadoras e dinâmicas introduzidas pela representação segundo o Método e a Nova Vaga Francesa. Aqui, trabalhando com o dramaturgo William Inge, ele conseguiu uma síntese sublime das duas estratégicas. O filme faz uma análise lúcida e concentrada das contradições sociais determinadas por classe, riqueza, indústria, igreja e família. Ao mesmo tempo, "Esplendor na Relva" é uma película, na qual as personagens se definem como indivíduos autênticos, actuando e reagindo num registo muito longe dos clichés de Hollywood."
Texto de Adrian Martin.
Filme escolhido pela Cláudia Marques.

Link
Imdb

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Um Eléctrico Chamado Desejo (A Streetcar Named Desire) 1951

Depois de perder o trabalho e a sua casa no Mississippi, Blanche Dubois desloca-se para New Orleans, para visitar a irmã, Stella. Blanche mal consegue acreditar no nível em que Stella caiu. Vive num apartamento apertado num bairro decadente da cidade, casada com um brutamontes chamado Stanley, que parece saído directamente da idade da pedra. Não demora muito até que o seu ar de senhora e o seu criticismo exagerado a tornem numa visita pouco desejada, e Stanley começa a acreditar que ela esconde alguma coisa...
Adaptação de Tennessee Williams de uma peça sua vencedora de um Pulitzer em 1947, estava rodeada de controvérsia desde o primeiro minuto, mas tornou-se num filme marcante no modo como mudava o retrato do sexo no cinema americano. Apesar de algumas alterações à peça original de Williams, e alguns cortes de última hora para cumprir com os Códigos de Produção de Hollywood, o filme foi devastado com uma enorme onda de criticismo, para não falarmos em total condenação, pelas suas conotações eróticas e evidentes referências sexuais. Mesmo assim foi um grande sucesso, tendo conseguido 12 nomeações ao Óscar, tendo apenas ganho quatro (incluindo Melhor Actriz e Melhor Actor/Actriz Secundários).
Foi realizado pelo cineasta independente Elia Kazan, que já tinha dirigido a primeira adaptação teatral da peça. O elenco era constituído na sua maioria por actores que tinham colaborado na adaptação teatral de Kazan, principalmente Marlon Brando, que aqui participava na sua segunda obra cinematográfica. A principal mudança era a inclusão da actriz Vivien Leigh, como Blanche, repetindo o papel que tinha interpretado na primeira adaptação inglesa da mesma peça, dirigida na altura pelo então marido Laurence Olivier. Era o seu papel mais icónico desde a sua participação em "Gone With the Wind", como Scarlett O´Hara. Doze anos passaram entre estes dois filmes, que valeram dois Óscares a Vivien Leigh.
O que é tão impressionante neste filme, mesmo hoje em dia, é a intensidade sensual e o realismo, em vez da prosa altamente estilizada da peça, e, como é óbvio, os cenários teatrais. O cenário claustrofóbico (que quase faz lembrar uma cela num asilo), e a fotografia quase noir criam um sentimento sufocante de opressão, que reflecte e acentua a crescente tensão sexual na casa dos Kowalski, e a descida à degradação mental de Blanche. Até a música é profundamente evocativa, sugestionando a atmosfera de um bordel barato de Paris.

Link
Imdb

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Quando o Rio Se Enfurece (Wild River) 1960



Um jovem administrador de terrenos para a TVA vem ao Tennessee rural para supervisionar a construção de uma represa no rio Mississippi. Ele encontra forte oposição da população local, e grande parte da história gira em torno do despejo de uma mulher idosa, da sua casa situada numa ilha do rio, e no caso de amor deste jovem com a neta daquela mulher.
Este poderoso drama histórico sobre o conflito entre a necessidade pública e a autonomia privada continua a ser um dos melhores filmes de Elia Kazan. A história começa com um noticiário real mostrando a devastação provocada aos pobres agricultores do Tennessee depois do rio Mississippi, mais uma vez inundar a área, estabelecendo, assim, a presença da TVA, onde trabalha Montgomery Clift, como um mal necessário - mas é impossível não tomar o lado, pelo menos parcialmente, da idosa Ella Garth (Van Fleet), cuja identidade está envolvida com a ilha que a sua família possuiu desde há anos. Embora seja claro que Garth, tenha de ser "convencida" a mudar-se, a história de como isso vai acontecer, permanece atraente até ao final. 
"Wild River" é mais memorável, no entanto, pelas suas interpretações notáveis ​​- principalmente por Jo Van Fleet (cuja caracterização merece um louvor) e a jovem Lee Remick, que nunca mais iria aparecer tão deslumbrante ou tão comovente. Este foi supostamente o filme preferido de Remick, de todos os filmes em que participou, e é fácil de perceber porquê: ela investe na personagem com uma vida de perdas e esperança, transformando o que é claramente um conveniente romance em algo com uma dimensão verossímil. Outros actores - incluindo o próprio Cliff  - também estão muito bem, mas são Van Fleet e Remick que realmente fazem este filme tão poderoso e de imperdível visualização.

Link  
Imdb