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quinta-feira, 1 de março de 2018

No Céu Tudo é Perfeito (Eraserhead) 1977

"Produto notável de mais de cinco anos de filmagens intermitentes e de montagem pós-produção, "Eraserhead" foi a primeira longa-metragem de Lynch, depois de várias curtas prometedoras mas raramente vistas. Uma popular "fita de meia noite" e um filme de culto, este "sonho de coisas sombrias e perturbadoras", segundo a descrição do próprio Lynch, assegurou ao cineasta uma base de admiradores apaixonados e antecipou as extraordinárias imagens de "O Homem Elefante" (1980), "Dune" (1984) e "Coração Selvagem" (1990), bom como as bizarras narrativas distorcidas de "Twin Peaks", "Estrada Perdida" e "Mulholland Drive" (2001).
Com a sua intriga estranha, cenário de desolação pós-industrial e imagística a preto e branco, que parece extraída do subconsciente de um neurótico introvertido, "No Céu Tudo é Perfeito" atraiu comparações com as mises en scène expressionistas de "O Gabinete do Dr. Caligari" (1919) a decadência urbana futurista de "Metrópolis" (1926) e a paisagem de sonho absurda / surrealista de "Un Chien Andalou" (1929) - e todas elas com alguma justificação, embora muitos comentadores comecem as suas discussões acerca desta obra, notando que a pergunta "Sobre o que é este filme?" é mal colocada, senão irrelevante, tratam tipicamente de argumentar que, mesmo com as suas idiossincracias, é um filme de narrativa com diálogo, um protagonista, e uma linha de história mais ou menos linear.
O último argumento não é fácil de provar pelo resumo de uma intriga convencional. "No Céu Tudo é Perfeito" abre com um homem de aspecto estranho (Jack Fish) puxando alavancas nas profundidades dum planeta, enquanto para fora da boca do nosso flutuante "herói", Henry Spencer (Jack Nance), surge uma criatura tipo verme, talvez a simbolizar concepção e nascimento. Ao chegar ao seu esquálido bloco de apartamentos, localizado no centro de uma erma paisagem urbana, um vizinho informa-o que a sua namorada Mary o quer para jantar em casa dos seus pais. Durante uma refeição, entre outros pratos, há uma galinha-miniatura que deita sangue e mexe as pernas para cima e para baixo quando ele lhe espeta um garfo. Henry fica a saber que é pai de um bebé permaturo ainda internado no hospital. Mary vai lá com Henry, mas vem-se embora pouco depois, quando o choro constante do bebé defeituoso e aparentemente quadriplégico a mantêm acordada toda a noite.
 O bebé, que parece um cruzamento de um réptil com um feto de vitelo, torna-se cada vez mais repulsivo e flagelado pela doença. Depois de fantasiar sobre uma mulher loura (Laurel Near), com bochechas de esquilo, que canta num palco e pisa vermes umbilicais dentro do seu radiador, e passando uma noite com a sua sedutora vizinha (Judith Anna Roberts), Henry imagina a sua própria cabeça a saltar - para ser substituída pela do filho - e de seguida levada para uma fábrica onde será convertida em borrachas para pontas de lápis. 
Nenhum simples resumo da intriga, por mais exacto que seja, pode lograr transmitir o tom deste filme único e desafiante. A sensação de mal-estar, até de horror, que resultam de o ver e que continuam a aumentar de intensidade a cada novo visionamento são simplesmente inesquecíveis." Texto de SjS

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quinta-feira, 4 de abril de 2013

Um Coração Selvagem (Wild at Heart) 1990



Vencedor surpresa da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1990, "Um Coração Selvagem" era um filme muito aguardado, dado o culto que pairava sobre David Lynch, depois do filme de 1986, "Veludo Azul" e a sua peculiar série de televisão Twin Peaks. "Um Coração Selvagem" é um típico "filme de Lynch", misturando emoções humanas genuínas com personagens absurdas, humor negro e situações surreais, é um cocktail explosivo de romance e violência.
Os dois personagens principais são Sailor Ripley (Nicolas Cage) e Lula Pace (Laura Pace), jovens amantes em fuga da psicótica mãe de Lula, Marietta, perversamente interpretada por Diane Ladd, mãe de Dern na vida real. Na chocante cena de abertura, Marietta contrata um homem para esfaquear Sailor, mas este consegue escapar, literalmente rebentando com os miolos do seu adversário. Sailor passa alguns anos na prisão, período em que Lula obedientemente espera por ele. Quando ele sai, ela espera-o e seguem para uma noite de amor e de dança, dirigindo-se depois para a Califórnia. Marietta, por sua vez, contrata um detective particular (Harry Dean Stanton) para segui-los, mas como acha que isto não é suficiente, apela a um chefe do crime local chamado Santos (JE Freeman) para contratar assassinos para matarem Sailor. 
"Wild at Heart" é a versão de Lynch de "Romeu e Julieta" com uns toques de "Bonnie & Clyde", e apenas por diversão, também tem algumas alusões visuais e temáticas da "O Feiticeiro de Oz", e até uma alucinação de última hora envolvendo a Good Witch of the East , interpretada por Sheryl Lee, a Laura Palmer de "Twin Peaks, flutuando numa bolha brilhante. Aqueles que não apreciam Lynch tendem a olhar para os seus filmes e ver apenas loucura, mas há um método nos seus filmes, que o elevam bem acima de qualquer realizador "normal". Os mundos que ele cria são decididamente bizarros, mas são sempre reflexões do nosso próprio mundo, o brilho dos seus filmes é o modo que ele usa para que nos possamos ver a nós próprios e ás nossas obsessões. 
"Wild at Heart" não funcionaria se não acreditassemos realmente no romance entre Sailor e Lula, e é por isso que as interpretações de Cage e Laura Dern são tão cruciais. De certa forma, eles são caricaturas. Cage intrepreta um Elvis que é uma espécie de James Dean, gritando com orgulho que o casaco de pele de cobra é "um símbolo da minha individualidade e da minha da crença na liberdade pessoal." Dern, por outro lado, é a loira estúpida e hypersexual. No entanto, logo abaixo das superfícies vertiginosas destas personagens sentimos a batida de corações humanos genuínos, e Lynch não se importa de pontuar a narrativa visceral com momentos de silêncio em que estes dois personagens interagem, falando sobre o seu passado e as suas ambições e segredos de compartilhamento. Por toda a sua exuberância, eles são claramente seres humanos com emoções, desejos e crenças. Como muitos outros filmes de Lynch, este também é extremamente violento. Parte disso é por causa da modo visceral com que Lynch apresenta a violência e também por causa de sua tendência para encontrar o humor no sangue.
O fabuloso elenco conta ainda com Willem Dafoe, Crispin Glover, Isabella  Rossellini, Fraddie Jones, entre outros.

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