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sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Warm Water Under the Red Bridge (Akai Hashi no Shita no Nurui Mizu) 2001

Um conto impossível. Taro, um idoso que morre sem abrigo em Tóquio, contou a Yosuke, um desempregado, sobre uma estátua de ouro que deixou anos atrás, numa casa perto do mar, em Noto. Yosuke vai até lá, e conhece Saeko, uma mulher que vive na casa onde Taro deixou a estátua. Ela tem um estranho problema: a água acumula-se nela, e só consegue livrar-se de duas formas: ou cometendo actos perversos, como furtar numa loja, ou atingindo o orgasmo no acto sexual.
Realizado em 2001, adaptando o livro de Yo Henmi,  “Warm Water Under a Red Bridge” foi a última longa metragem do japonês Shohei Imamura. Depois deste ele apenas dirigiu mais um projecto antes da sua morte, em 2006, um segmento do projecto “11’09”01 – September 11.”No entanto, no que refere apenas a longas metragens, “Warm Water” era uma comovente despedida do realizador, combinando a comédia romântica com o seu original estilo, para fazer uma fábula moderna imaginativa.
"Warm Water Under a Red Bridge" é um retrato cativante da excentricidade provinciana, e uma generosa homenagem à fecundidade feminina, incorporando várias sub-tramas peculiares, e personagens secundárias, como o treino de um estudante africano para uma maratona, ou a competição de Yosuke pelo tesouro. O filme também consegue voltar a reunir o casal de "Unagi", Kôji Yakusho e Misa Shimizu, que foi um dos filmes com que Imamura conseguiu ganhar a Palma de Ouro. Concorrendo de novo para este galardão, não conseguiu ganhar graças a uma concorrência fortissima: "O Quarto do Filho", "A Pianista", "O Elogio do Amor", "Mullholand Drive", entre outros.
Foi um filme escolhido pelo Kinta Jarreto.

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quinta-feira, 26 de maio de 2016

Intenção de Matar (Akai Satsui) 1964

Sadako foi criada como uma empregada doméstica em casa do seu marido, que continua a tratá-la como uma serva. Enquanto o marido está fora, Sadako é repetidamente violada por um estranho, que lhe faz nascer um instinto indomável para a sobrevivência. Uma relação bizarra desenvolve-se entre o violador, que continua a perseguir a mulher assustada, algures entre a violência e o amor, e Sadako, cujas intenções de matá-lo levam a um desfecho impressionante.
Antecipando "Cerimónia" de Nagisa Oshima, na sua representação metafórica da morte da classe samurai através de linhas de sangue contaminadas, ligações místicas, relações incestuosas, fragilidade e impotência, "Intenção de Matar" tem a marca característica das preocupações recorrentes de Shohei Imamura: a sensualidade e a resistência das mulheres, a manifestação do individualismo numa sociedade codificada, as idiossincrasias e instintividade primitiva que definem o comportamento humano. Voltamos ao imaginário animal como um substituto para o comportamento humano que Imamura tinha incorporado em "Porcos e Couraçados" e "A Mulher Insecto".
 Enquanto que o título faz lembrar um thriller noir, "Intenção de Matar" é mais apropriadamente descrito como um melodrama perversamente nacional sobre como a sociedade japonesa permite que os homens patéticos manipulem e controlem as mulheres nas suas vidas. Imamura também utliliza várias sequências de sonhos surreais para exprimir algumas partes mais emocionais do filme, que, juntamente com o retrato contundente da hipocrisia social, ganhou muitas comparações com os filmes de Buñuel.

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domingo, 22 de maio de 2016

Porcos e Couraçados (Buta to Gunkan) 1961

Originalmente lançado em 1961, "Porcos e Couraçados" é um belo filme que captura maravilhosamente um período único na história japonesa. Depois da derrota do país na Segunda Guerra Mundial o Japão foi alvo de uma significativa presença americana, e com o país a recuperar dos efeitos muito graves da guerra isto teve um impacto significativo sobre a população. Afastando-se das crenças do tempo da guerra, lidavam com a desconfiança das gerações mais velhas e, lutando para sobreviver em circunstâncias difíceis, a população mais jovem japonesa foi lutando contra uma espécie de crise de identidade.
Paralelismos entre o Japão como país, e as vidas dos personagens deste filme, constantemente percorrem Porcos e Couraçados, impregnando as decisões com um maior significado e profundidade. Os dois protagonistas principais, um pequeno yakuza, Kinta (Hiroyuki Nagato), e a sua namorada Haruko (Jitsuko Yoshimura), estão num ponto importante de inflexão e há um sentido ao longo do filme em que as decisões que eles tomam vão definir as suas vidas.
Kinta esforça-se para alcançar sucesso como gangster, através de esquemas para obter dinheiro dos ricos e tentativas de favores de gangues mais poderosos, para levar a cabo assassinatos. Está desesperado para conquistar reputação como um gangster. Haruko por outro lado, quer sair da cidade portuária de Yokosuka em que vivem, vendo para lá da vida tradicional dos seus pais.
Baseado num argumento de Hisashi Yamauchi, o filme é uma obra um pouco complexa, com as acções das personagens secundários muitas vezes a terem mais importância do que aparentam. Um retrato impressionante do pós-guerra, a vida no Japão, selvagem e caótica contada por Shohei Imamura, "Porcos e Couraçados" é um documento que define não apenas o estilo singular Imamura - uma agressão deliberada à serenidade de Yasujiro Ozu -, mas também define profundamente a sua visão humana do mundo, muitas vezes apresentada através dos sonhos, desejos e desespero das pessoas que compõem os estratos mais baixos da sociedade do seu país. Tal como muitos outros filmes de Imamura, "Porcos e Couraçados" é preenchido com criminosos, chulos e prostitutas, mas o que liga muitos dos personagens simpáticos dos seus filmes não é tanto as suas profissões ou mesmo a realidade sombria económico e social que os rodeia , mas a vitalidade e o desafio que eles apresentam nesse meio. A visão do mundo Imamura é escura e profundamente cínica, é uma qualidade que fez dele, na minha opinião, o maior cineasta do cinema novo japonês.

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quinta-feira, 5 de maio de 2016

Desejo Insaciável (Hateshinaki Yokubô) 1958

Na tarde de 15 de Agosto de 1955, no décimo aniversário da rendição do Japão, cinco pessoas encontram-se numa estação de comboios, cada uma usando o emblema do antigo exército imperial no seu peito. No dia da rendição, um general do exército havia escondido uma lata de valor inestimável num abrigo anti-aéreo. Tinha sido acordado que o general e os seus três soldados se encontrariam 10 anos mais tarde para dividir o seu saque, mas no dia acordado aparece uma pessoa a mais. Além disso, um deles é uma mulher, que diz ser irmã do general morto. Começam a cavar o chão onde a lata foi enterrada, mas à medida que o trabalho progride cada um deles torna-se vítima do seu próprio egoísmo, desconfiança e ganância.
Considerando que o filme policial convencional iria delinear claramente os criminosos e os cidadões inocentes cumpridores da lei, Shohei Imamura, conhecido pela sua reputação das suas observações astutas do comportamento humano, nunca iria permitir que tais considerações fossem simplificadas. Assim, Imamura estabelece algumas das suas observações mais cruéis sobre a humanidade, e sobre os habitantes da favela, classificando-os como lascivos, seres gananciosos e irracionais. Na verdade, o tema sobrejacente que melhor resume todo o filme é que o homem não é melhor que os insectos ou os animais que também vagueiam pelo planeta, com a única diferença de que os humanos são apenas muito mais neuróticos.
Para além do conteúdo temático, é interessante notar que visualmente o filme é tão interessante como os filmes posteriores de Imamura. Colaborando pela primeira vez com o parceiro de longa data, Masahisa Imeda, a iluminação do filme e a atmosfera "noir", teriam feito de John Alton um homem orgulhoso. Este era apenas o terceiro filme de Imamura.

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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Dr. Fígado (Karo Sensei) 1998

 

Shohei Imamura ainda faz filmes maravilhosos. A sua humanidade, humor, e apreciação sensual não diminuiu ao longo dos anos. A história da batalha de um médico contra a hepatite, em 1945, é um pretexto para mostrar o outro lado da vida japonesa, um longo caminho desde a ponte sobre o Rio Kwai. 
Os soldados estão lá, do mesmo modo. Há uma fortaleza na vila cheia de prisioneiros aliados, para nos lembrar de que há uma guerra. Hitler está morto, os alemães renderam-se, mas o exército Imperial vai lutar até ao último homem, ou assim as vozes da autoridade insistem, na rádio. O Dr. Akagi não pode ouvir isto: é muito doloroso para ele. Tem assuntos mais importantes para tratar, como a saúde das pessoas. Primeiro, ele é visto como uma figura cómica, a correr no seu fato branco, com um chapéu amarrado às costas, uma pequena mala preta na mão, acenando para todos os que passam. Ao examinar o paciente, deitado no chão, rodeado por parentes emocionados, o seu diagnóstico é, inevitavelmente, "hepatite". O oficial de saúde do exército, um pedante que se julga importante, recusa-se a aceitar a análise de Akagi de uma epidemia e que, se algo não for feito rapidamente, muitas pessoas vão morrer.
"Karo Sensei", passado no porto de uma pequena ilha nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, no Japão, abre com o bom médico a recitar a filosofia do pai, sobre a profissão: "Ser um médico de família é ter todas as pernas. Se uma perna estiver partida, corre-se com a outra. Se ambas as pernas estiverem partidas, corre com as mãos". E, de facto, lá vai Akagi (Emoto), a correr pela praia -. passando por um casal - vestido com um fato branco e um chapéu de palha, para a vila, para tratar mais um caso de hepatite, que atingiu proporções de epidemia durante a guerra. Akagi concentra a sua força quase inteiramente sobre o vírus, o que toda a gente parece ter.
Há muita coisa sobre "Dr. Fígado" que se parece como um conto de fadas, embora com uma inclinação decididamente anárquica. Inamura, tal como fez em "A Enguia", mapeia o coração humano através de uma série de vinhetas cómicas, as quais estão inescrutavelmente ligadas entre si para formar uma cartografia emocional. O filme em si, sente-se como uma espécie de sonho hiper-realista, com um simbolismo e um final que deve ser visto para ser acreditado. Ainda assim, o trabalho de Inamura é sempre profundamente pessoal, e é isso que dá a " Dr. Fígado" o seu tom esperançoso.
Legendas em inglês. 

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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A Enguia (Unagi) 1997


"A Enguia" foi o 16º  filme de Shohei Imamura (excluindo os documentários feitos para televisão nos anos setenta) e o segundo a ganhar a Palma de Ouro. Feito quando o realizador estava a fazer 70 anos, mas isso não significa que seja um filme de um realizador "velho". É um conto sobre o sexo, a morte, crime, tentativa de suicídio e doença mental. Quaisquer sinais de que Imamura foi suavizando os seus filmes com o passar dos anos, é completamente errado. Na verdade, este é um filme tão salgado e estranho como os seus melhores trabalhos, sem medo de entrar num território mais sombrio, ou a fazê-lo com um toque mais cómico. Ao longo de "A Enguia" somos convidados a recordar os filmes anteriores de Imamura: há vestígios de "Vengeance is Mine", "O Profundo Desejo dos Deuses",entre outros.
Takuro Yamashita (Yakusho) recebe uma carta anónima informando que a esposa está a ter um caso, na sua própria casa, enquanto ele vai à pesca durante a noite. Nessa noite, sendo mais uma das noites de pescaria, regressa  a casa mais cedo do que é habitual, para descobrir que as afirmações contidas na carta, são de facto verdadeiras. Acaba por matar a esposa, esfaqueando-a várias vezes, mas permite que o amante consiga fugir. Na prisão, encontra uma enguia que se tornará o seu animal de estimação. Ao sair em liberdade abre uma barbearia, fora da cidade, onde se irá cruzar com uma mulher, Keiko (Shimizu) com tendências suicidas, que lhe faz lembrar a ex-esposa. Keiko, também recuperando de uma antiga relação, com um homem mais interessado no dinheiro da mãe dela, vai querer aproximar-se de Yamashita, mas este persiste em não querer envolver-se. 
Se uma produção de Hollywood fosse contar a história de um homem que mata a mulher num ataque de ciúmes, e não alguém falsamente condenado, como foi o caso do filme de Frank Darabont, "The Shawshank Redemption", mas alguém realmente culpado, seria apresentado como um psicopata demente. Mas aqui, mais uma vez, Shohei Imamura foca a sua câmera na vasta moral cinzenta chamada humanidade, e dá-nos uma história impressionante história de redenção.
Mais uma vez Imamura leva-nos através dos marginalizados na sociedade japonesa: os loucos, os pobres, e, claro, os culpados, e mais uma vez desenha um paralelo entre o nosso suposto mundo "civilizado" e o que podemos chamar de mundo animal, desta vez personificado por um enguia, um sinuoso animal de estimação. No universo de Imamura o julgamento moral é suspenso a favor da clareza, retratando a vida confusa de nós, seres humanos, e como podemos facilmente tropeçar dois passos para a direita e alcançar coisas maravilhosas, mas também como podemos facilmente tropeçar alguns passos para a esquerda e somos transformados em demónios, e como podemos ultrapassar esses actos terríveis, se formos felizes o suficiente para andar pelo caminho certo.

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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Chuva Negra (Kuroi Ame) 1989


Os filmes sobre a Segunda Guerra Mundial são muitos, assim como muitos são os que tocam no bombardeamento atómico de Hiroshima e Nagasaki, em 1945. O Japão continua a ser a única vítima infeliz de um real atentado à bomba usando armas atómicas/nucleares, por isso, qualquer filme que toque neste tema fora do Japão, mereça uma revisão deste "Black Rain" para mostrar a perspectiva de quem viveu o atentado por dentro.
Baseado no romance de Masuji Ibuse, "Chuva Negra" é referido como a chuva que caiu logo depois da nuvem de cogumelo ter rebentado, por causa do conteúdo da alta radioatividade na atmosfera, o que caiu do céu foi realmente contaminado, e foi reportado em ser de cor negra. Mas o filme não é um exercício de meteorologia, mas sim, é bastante rico no drama sobre o sofrimento de todas as vítimas directas e indirectas da bomba atómica, assim como nas cicatrizes psicológicas infligidas.
Colocando o seu fulcro na personagem principal, Yasuko (Yoshiko Tanaka), que estava suficientemente perto de Hiroshima para a chuva negra cair sobre ela, fala do preconceito que todos têm sobre ela. Confrontada com a discriminação social que dificulta a sua capacidade de se casar, e pior, a necessidade de estar isolada numa pequena vila de sobreviventes da bomba atómica, fala dos horrores da guerra da pior espécie, e isto é uma parte do que cada um tem de sofrer até ao fim da sua vida. Embora a aldeia onde ela resida tenha personagens interessantes que se encorajam a uns aos outros a manter o espírito livre, há sempre uma sensação sinistra pendendo sobre este lugar, e um a um, todos os habitantes têm de enfrentar o inevitável. 
Mas nem tudo é tristeza e melancolia no filme, já que ainda há espaço para a comédia, tão necessária para elevar o humor depressivo. Mas as cenas mais poderosas são as do início. Apesar de não ter grandes efeitos especiais para recriar os eventos do dia trágico, como qualquer blockbuster americano, a sua simplicidade, trás a mensagem e imagens suficientemente fortes para nos causar impressão. Não há uma grande explosão, mas sim uma bomba solitária suficiente para causar arrepios nas infelizes vitimas, e as vítimas diretas são aqui retratadas da forma mais realista possível.
"Chuva Negra" atinge bem o objectivo de ser um filme anti-guerra nuclear, mas certamente que não será de fácil visualização. É o meu filme preferido de Imamura.

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A Balada de Narayama (Narayama-Bushi Kô) 1983


Vencedor da Palma de Ouro em 1983, superando filmes de Robert Bresson, Martin Scorsese e Andrei Tarkovsky, "A Balada de Narayama" talvez seja o melhor cartão de visita para o trabalho de Imamura. Embora tenha algumas semelhanças com "O Profundo Desejo dos Deuses", é mais acessível em termos de argumento.
Adaptado do romance do mesmo nome (que já tinha sido transformado em filme anteriormente), com sequências adicionadas a partir do livro Jinmus of Tohoku (ambos escritos por Fukazawa Shichiro), "A Balada de Narayama" é passado numa pequena aldeia, no alto de uma montanha, longe de qualquer traço da sociedade. Não nos é dito em que período o filme se passa, mas o meu palpite seria cerca de há 100 anos atrás, mas isso não fica claro. Os habitantes da aldeia vivem uma vida difícil, trabalhando os campos para cultivar alimentos suficientes para manter as famílias vivas. Vivem segundo um rigoroso código que inclui a tradição de que quando se chega à idade madura de 70 anos, as pessoas são obrigadas a escalar a montanha traiçoeira, dando a sua vida para que Deus olhe sobre a aldeia. O filme centra-se na avó Orin (Sumiko Sakamoto) e na sua família. Está quase a chegar a esse número mágico de 70 anos, e uma vez lá terá de aceitar o destino, mas enquanto isso ela ocupa-se em tentar manter os filhos e unidos, assegurando que a família continue a ser forte e feliz depois dela partir.
A verdadeira beleza de "A Balada de Narayama" reside na maneira com que, constantemente, subverte a visão do que é "certo" e "humanitário". As regras e valores da aldeia são brutalmente duras, bem como a tradição de "ter de subir" a montanha, e o modo de lidar com o roubo também é terrível - uma família é enterrada viva por um crime por um crime dessa natureza. No entanto, Imamura tem uma maneira de fazer com que estas leis pareçam justificáveis, e os moradores possam desfrutar da tranqulidade. Tudo o que eles fazem parece depender do equilíbrio. Orin envergonha-se da sua boa saúde - as crianças brincam sempre com o facto dela ainda ter todos os dentes da frente. Esta abnegação foca-se na preservação da unidade familiar para além da própria vida e é a chave para o filme. Soa como um anúncio sobre o comunismo, mas a propaganda não parece ser a intenção do Imamura
 É um filme emocionalmente poderoso, que é uma vantagem sobre "O Profundo Desejo dos Deuses". Tudo por causa dos últimos 45 minutos. Uma vez que Orin acredite que fez tudo o que podia pela sua família, finalmente pede aos anciãos da aldeia que lhe concedam a passagem até à montanha e é o filho Tatsuhei (Ken Ogata) que concorda em levá-la até lá. Esta jornada é feita lentamente e praticamente em silêncio (as regras dizem que os condenados não devem proferir uma palavra) como Tatsuhei a esforçar-se perante um terreno acidentado. Quando se aproximam do cimo são recebidos por um tapete de restos de esqueletos, dos anteriores anciões que alí perderam a vida. Orin sinaliza o local que acha mais adequado e o filho deixa-a para ela conhecer o seu Deus. É um momento extremamente belo, apesar do ambiente potencialmente perturbador, demonstrando o poder da capacidade do filme para brincar com as crenças e sentimentos. Não é uma cena deprimente, apenas é profundamente comovente
O filme está cheio dessas justaposições, para criarem uma experiência que é tão instigante como bonita. A ênfase frequente no sexo e em algumas cenas de brutalidade e, já agora, no humor ousado, podem afastar alguns espectadores, mas mesmo assim este é um filme obrigatório. 

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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A Vingança é Minha (Fukushû Suru Wa Ware ni Ari) 1979


Superficialmente "A Vingança é Minha" é um filme sobre um serial killer. Foi feito muito tempo antes da vaga recente de Hollywood começada com "O Silêncio dos Inocentes", mas alguns anos depois dos pioneiros do género, como "A Kiss Before Dying"(1951), "The Boston Strangler"(1968), "Peeping Tom" (1960), "Psico" (1960) e 10 Rillington Place (1971). O filme está alinhado com estas obras anteriores, seguindo as actividades do assassino, em vez da investigação para localizá-lo, mas estilisticamente, é muito diferente. Baseado na história verdadeira de Nishiguchi Akira, que foi preso em 1964 depois de uma matança por todo o país, o filme segue o assassino Iwao Enokizu enquanto viaja pelo Japão, vivendo de fraudes e enganos, além de cometer uma série de assassinatos insensíveis,  incluindo narrativamente os seus problemas da infância pré-guerra, e a problemática do pós-guerra, e a sua relação amarga com o pai, um católico devoto.
Neste contexto, conteúdo e estrutura narrativa, a abordagem do filme é complexa e meticulosa. Começando com o transporte de Iwao para a esquadra da polícia depois da sua detenção, a história desenrola-se inicialmente numa forma não-linear, pulando para trás e para a frente através do tempo, nem sempre com a ajuda gráfica da data actual e local. A descoberta do primeiro corpo, por exemplo, vem depois da captura de Iwao, mas muito pouco tempo antes são mostrados os acontecimentos que levaram ao assassinato em si. Ocorrendo no início da narrativa, esta não é uma matança no estilo dos thrillers tradicionais modernos, mas uma matança desajeitada, amadora e deliberadamente desagradável, o fracasso das tentativas de Iwao colocar inconsciente a sua vítima com um martelo, obrigando-o a recorrer a uma faca, que é espetada violentamente no peito de um homem que só depois vai morrer. É uma cena chocante por todas as razões. O efeito sobre a nossa percepção de Iwao é imediata, e quando um pouco mais tarde, ele procura numa loja para comprar uma faca de cozinha (ele escolhe a mais barata, que é um detalhe interessante), este simples acto provoca um arrepio de medo sobre o que ele vai fazer com esta compra. Um segundo assassinato segue de seguida, tão desagradável de se ver como o primeiro, e a partir daqui até mesmo a ameaça de violência por parte de Iwao deixa-nos os nervos em franja.
Como a narrativa de flashback a torna-se cada vez mais linear em termos de estrutura, a personagem de Iwao é consideravelmente mais expandida, e a história  à sua volta proporciona uma imagem mais clara do caminho que o levou de criança para adulto rebelde, a ser tão destrutivo. Tendo estabelecido Iwao como tema do  filme, Imamura engana-nos a todos, ignorando-o depois e concentrando-se na relação que se desenvolve entre a sua jovem esposa e o pai idoso. Mas mesmo o fio dessa história avança de uma forma inesperada.
Repetidamente o filme leva-nos a lugares inesperados e perturbadores. Grande parte da violência ocorre fora da narrativa e, ocasionalmente, joga com as nossas expectativas. Como se a própria narrativa não fosse suficientemente confusa, Imaura também inclui algumas referências intrigantes a aspectos menos discutidos da sociedade japonesa.
E, para finalizar, o filme é muito atraente. Pelo seu realismo documental, pela sua técnica da narrativa complexa mas emocionante, pelo desempenho magnífico de Ken Ogata, pela sua abordagem de não julgamento ao material consistente, e pela profundidade intelectual e emocional. Imamura ainda tem coragem de terminar o filme com uma cena de peculiaridade surrealista que, todavia, funciona perfeitamente para o filme, justamente por causa de suas possíveis leituras escondidas. "A Vingnaça é Minha" é o cinema realmente grande, desafiador, inteligente e de confronto, uma história brilhantemente contada, tratada com firmeza e explorando o lado mais obscuro da natureza. Isto nem sempre torna fácil a sua visualização, mas é uma experiência memorável.

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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O Profundo Desejo dos Deuses (Kamigami no Fukaki Yokubo) 1968



Realizado em 1968 por Imamura, "O Profundo Desejo dos Deuses" é um filme que é parte drama etnológico, e parte comentário sócio-político.
A acção é passada na ilha fictícia de Kurage em Okinawa, a província mais quente e mais a sul do Japão. É uma área que foi notícia em 2010 depois da renúncia de primeiro-ministro Hatoyama Yukio do cargo, em parte por não cumprir a promessa de mudar a base militar dos EUA, impopular, e que está localizada naquela zona desde a guerra, para um local com uma população mais amigável. Esta zona continua a ser um destino popular de férias para turistas japoneses e foi o local chave para um filme perfeito de Takeshi Kitano sobre a yakuza, Sonatine. Mas nada disto nos irá preparar para a visão de Imamura sobre esta região.
O filme gira à volta da família Futori, e na altura em que os vamos encontrar já se isolaram socialmente de todos os outros na ilha. Nekichi está agarrado ao seu trabalho num poço aquoso que ele cava para deslocar uma rocha enorme que muitos acreditam ter sido lá depositada pelos deuses, como punição pelos seus actos anteriores, que incluem a pesca com dinamite e um caso de amor com a sua irmã Uma, agora a esposa do seu ex-companheiro Ryugen. O avô Yamamori está preocupado com o desejo de Nekichi para com Uma, que causou a ira dos deuses, mas como ele próprio engravidou a filha, não está realmente na posição de o aconselhar. O resultado dessa união foi a retardada Toriko, que se deita com todos, excepto o filho de Nekichi, Kametarô, o único membro são da familia.
A esta micro sociedade chega o engenheiro Kariya, um homem de família, natural de Tóquio, que chega mal preparado para lidar com as excentricidades do clã Futori, ou mesmo para o seu anfitrião Ryugen, cuja idéia de hospitalidade é pedir à sua esposa para dar ao seu visitante, um "bom tempo". Quando ele rejeita a mulher, a raiva de Ryugen com a esposa manifesta-se em violência física e violação. Depois de contratar Kametarô como assistente e tentá-lo com perspectivas de vida na cidade grande, Kariya é alvo de Toriko, que usa a resistência dele e tentando-o a abandonar o seu trabalho para viver uma vida primitiva e idílica com o clã Futori.
O filme tem quase três horas de duração, e está repleto de detalhes excêntricos e muitas vezes surreais, e é sustentado por uma série de preocupações temáticas, do fascínio de Imamura com o primitivismo ao efeito intrusivo e prejudicial ao desenvolvimento industrial, um tema que era querido a muitos realizadores nos anos 60 e, apesar da sua verdade essencial, desde então, passou para os domínios do cliché cinematográfico. Aqui o paraíso é imaculado muito antes do filme começar, os locais têm sido tentados a mudar das plantações de arroz para a agricultura da cana de açúcar, principalmente para servir uma fábrica construída pelos mais ricos que agora governam a economia da ilha. Kariya foi enviada para a construção de uma estrutura depois do seu antecessor ter parado de enviar notícias, e desaparecido.
O destino da ilha e da família Futori está ligado à religião e ao folcore da região. Os governantes da ilha foram capazes de construir a fábrica sem protesto local, porque eles eram considerados como deuses, a inundação que depositou a pedra gigante na terra Futori é vista como castigo divino para a imoralidade de Nekichi.
Como vamos então categorizar "O Profundo Desejo dos Deuses"? Como um drama antropológico que nos mostra os extremos de uma comunidade, e não o que podemos aceitar como representante da norma, algo que é apanhado de forma mais eficaz nos rituais locais, danças e canções, quer no comportamento da família Futori. Encontra falhas em todos os aspectos da celebração do primitivismo, enquanto a sua visão crítica da influência destrutiva de forasteiros constituem uma parte muito pequena do drama envolvente para ser o principal foco do filme. Mas é precisamente esta recusa a obedecer a um padrão único reconhecível de genérico ou de estilo que faz deste filme uma fascinante visão, como um filme com várias histórias sendo contadas simultaneamente em três línguas, incluindo uma da própria invenção do contador de histórias.
Legendas em inglês.

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domingo, 13 de janeiro de 2013

O Pornógrafo (Erogotoshi-Tachi Yori: Jinruigaku Nyûmon) 1966


"O Pornógrafo" é uma comédia absurda e ultrajante sobre a sexualidade e o papel do sexo num mundo moderno dominado pela ganância e pela manipulação. O pornógrafo do título é Subu Ogata (Shoichi Ozawa), que faz filmes pornográficos e comercializa uma grande variedade de literatura sexual, fotos, gravações de áudio ilícitas, e medicamentos para a impotência - tudo isso contando à sua amante viúva e proprietária Haru (Sumiko Sakamoto) que vende equipamentos médicos. De certa forma, a Ogata, esta parece ser uma afirmação verdadeira. Cada vez mais vê o mundo, e especialmente os homens, como doentes com a sexualidade, e vê a sua obra "imoral" como uma espécie de cura.
A profissão de Ogata começa apenas como uma forma de ganhar dinheiro, mas como pelo caminho vai cruzando com batidas policiais, mafiosos locais, ladrões, e os seus próprios impulsos sexuais complicados, torna-se mais filosófico com o seu trabalho. Ele quer a jovem de 15 anos de idade, Keiko (Keiko Sagawa), filha de Haru, que está doente e à beira da morte, que o encoraja a casar-se com a filha, porque pensa que Ogata tem pouco interesse. Enquanto isso, Haru tenta permanecer pura, devido a um voto que fez para o seu primeiro marido, que acredita ter reencarnado e a observa.
Com estes impulsos sexuais estreitamente interligados através da narrativa, é estruturado "O Pornógrafo". A narrativa de Imamura, muitas vezes, corre de uma forma mais ou menos tradicional, para ser interrompida pela invasão de sequências de sonho perturbadoramente reais. Estes estranhos sonhos surgem de tempos a tempos, sem aviso, muitas vezes surgindo espontaneamente a partir de cenas que a princípio parecia ser totalmente realistas. Imamura nunca deixou bastante claro de quem são estes sonhos, embora presumivelmente eles possam ser atribuídos a Ogata. Certamente que os posteriores, com a imagem da impotência sexual, sejam seus, mas alguns anteriores podem pertencer a Haru ou à sua filha. Em qualquer caso, estas interjeições adicionam à representação estilizada do filme o desejo sexual. Tudo culmina quando Ogata torna-se impotente e é levado a rejeitar completamente a sexualidade humana nas suas formas comuns, procurando a construção de uma mulher perfeita mecânica para satisfazer os seus desejos. 
"O Pornógrafo" é uma visão única e incrivelmente estranha da sexualidade num mundo de ganância e repressão sexual, onde o aspecto humano, pessoal, do sexo é cada vez mais substituido pela economia, legalidade e desejo mecânico. Como tal, este filme de 1966 é um trabalho incrivelmente presciente, prevendo, entre outras coisas, o entorpecimento da sexualidade na era da pornografia na internet.
Legendas em inglês.

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sábado, 12 de janeiro de 2013

A Mulher Insecto (Nippon Konchûki) 1963


"The Insect Woman", o título anglicizado do filme de Shohei Imamura "Nippon konchuki", não é de nenhum modo uma tradução directa e, na realidade, soa como uma produção de série B, de Roger Corman. O título original traduzido directamente soaria a algo como "Entomological Chronicles of Japan", que mais proximamente refletiria a viagem de uma personagem lutando pela vida, como uma metáfora para a história do século XX, no Japão. Tal como o seu mentor, o grande Yasujiro Ozu, Imamura estava profundamente preocupado com a natureza do que significava ser japonês, embora ele andasse a explorar a questão de uma perspectiva muito diferente, substituindo o formalismo rígido de Ozu focalizado numa deteriorização da classe média, por um estilo visual mais eclético e um fascínio pelo lado sombrio da sociedade japonesa.
No filme anterior, Porcos e Couraçados (1961), Imamura tinha mostrado um enorme fascínio e um profundo respeito por mulheres fortes, resistentes, capazes de garantir a sua própria identidade e um lugar numa sociedade que constantemente quer reduzi-las a esposas obedientes , mães e funcionárias. Em A Mulher Insecto, ele leva este  fascínio a uma posição extremista, com a personagem de Tomé Matsuki (Sachiko Hidari), que nasce como uma filha bastarda de uma pequena vila agrícola em 1918 e, posteriormente, luta contra inúmeros obstáculos durante as tumultuadas décadas seguintes, até ao tempo presente (o filme é marcado por importantes marcos históricos, incluindo a rendição do Japão em 1945 e o programa de televisão em 1959, do casamento real do príncipe herdeiro Akihito e Shoda Michiko).
No início tudo parece estar contra ela, começando pelo seu status que é desvalorizado ainda mais pela natureza má e reputação da mãe (não se sabe quem o pai de Tome porque a mãe dormiu com todos os homens da aldeia) e do abuso sexual que vai sofrendo lentamente, do padrasto Chuji (Kazuo Kitamura). Quando em adulta, Tomé tenta integrar-se na sociedade japonesa, mas um casamento fracassado e ter um filho fora do casamento mantém-na constantemente à margem, socialmente. Ela encontra consolo numa igreja, onde pode derramar a sua dor e pesar , e finalmente encontra trabalho como empregada doméstica numa pousada que funciona como um bordel. Embora ela seja a primeira chocada com a natureza do seu trabalho, finalmente consegue aceitá-lo e até mesmo abraçá-lo, manipulando todos à sua volta a subindo até ao topo substituindo a Madam (Tanie Kitabayashi). Ao longo do filme Tomé prova ser infinitamente adaptável, e observá-la é como assistir a diferentes personagens, a sua maleabilidade por vezes faz diferentes encarnações difíceis de conciliar, excepto através por causa da sua necessidade de sobrevivência. 
Imamura sempre foi interessado ​​em atingir novas fronteiras, descrevendo os cantos mais obscuros da sociedade japonesa, e esse é o caso de "A Mulher Insecto". A sua visão em última instância, é uma estranha mistura de compaixão e distância, acompanhadas por um trabalho de câmera inquieto e umas  transições que muitas vezes isolam um momento de grande turbulência emocional. É um processo lento, por vezes um pouco confuso, porque Imamura e o seu argumentista Keiji Hasebe (com quem ele trabalhou em dois outros filmes) tendem a saltar para trás e para a frente no tempo, mas é um intrigante, embora grosseiro, retrato da luta das mulheres no Japão moderno. 

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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Shohei Imamura

Imamura rejeitou o cinema convencional e idealista do Japão da década de 1950, para produzir e dirigir a sua própria visão do povo oprimido pela sociedade japonesa. Explorando a antítese da classe média da sociedade da sua juventude, Imamura ficou fascinado por marginais, criminosos e prostitutas que coloriram o seu mundo quando ele era um comerciante do mercado negro na Segunda Guerra Mundial. Como um estudante de sociologia japonês, fez comédias obscuras e contos pungentes de tabus culturais sobre a sobrevivência da pobreza - tanto como ficção, como documentário.

 Imamura nasceu a 15 de Setembro de 1926, em Tóquio, como o terceiro filho de um médico. Estudou na elite do ensino japonês na companhia dos filhos dos privilegiados. Em vez de seguir as atitudes dos seus colegas, rejeitou as suas curtas visões de espírito e desprezo pelas classes mais baixas. Imamura desprezava a opressão das sociedades que mais tarde viriam a ser o foco dos seus filmes.  
Andava impressionado com a liberdade expressa nos filmes do pós-guerra, como "Rashomon" de Akira Kurosawa. Depois de se formar pela Universidade de Waseda, em 1951, juntou-se aos Shochiku FilmsEntrou como assistente de realizador com o objectivo de trabalhar com Keisure Kinoshita. Nesse período ajudou vários realizadores, como Masaki Kobayashi, Yuzo Kawashima, e Nomura Yoshitaro, mas a sua passagem mais marcante foi como aprendiz de mestre Yasujiro Ozu. 
Trabalhou em três filmes memoráveis ​​de Ozu: "Early Summer", 1951; "Flavor of Green Tea over Rice", 1952; e "Tokyo Story", 1953. Mas, foi no terceiro que Imamura se sentia mais frustado e revoltado. Sentia que o trabalho de câmera de Ozu era rígido e sem imaginação, e que os actores foram instruídos para ser demasiado empolados e organizados, e que o sistema de promoção da produtora asfixiava a criatividade.
 Imamura opôs-se à visão conservadora e idealizada de Ozu da vida japonesa perfeita, com actores passivos e formais. Queria produzir filmes que retratassem o conflito dos verdadeiramente corajosos para a sociedade da vida japonesa. Na Shochiku, ele gostava de trabalhar com Yuzo Kawashima, que fez filmes sobre a vida das classes mais baixas. Kawashima também se rebeliou contra as políticas do estúdio Shochiku, assim, em 1954, os dois mudaram-se para os Nikkatsu Studios.

Imamura entrou no programa de treino dos Nikkatsu Studios, que recrutava novos talentos e oferecia salários mais altos. trabalhou como argumentista e assistente de realização de Kawashima numa série de comédias. Em 1955, Imamura recebeu pela primeira vez crédito como assistente de realização. Durante este período desenvolvia a sua própria abordagem sobre o cinema. 
Em 1958, Imamura fez a sua estreia na realização com "Stolen Desire", uma comédia de humor negro sobre uma trupe de atores itenerante. Era o início do seu fascínio pelas correntes da sociedade e um desejo de desafiar a percepção de valores morais. Recebeu um prémio de Novos Talentos para este filme,  e naquele ano, fez mais duas obras: "Nishi Ginza Station" e "Endless Desire".


Com o sistema antigo dos estúdios japoneses a entrarem em declinio, talentosos jovens realizadores chegavam à tona. O Bagu Nuberu, ou New Wave, nomeado a partir da Nouvelle Vague francesa, caracterizou a nova geração de cineastas que surgiram na década de 50. Imamura e os seus contemporâneos, como Nagisa Oshima e Masahiro Shinoda, com quem ele já tinha trabalhado na Shochiko, rejeitaram a fórmula estabelecida por Ozu, de eufemismo tranquilo para celebrar as correntes primitivas da vida japonesa. A visão dos novos realizadores veio a espelhar a sociedade do pós-guerra, com a pobreza, mercados negros, corrupção, e proscritos.  
Imamura focou-se nas classes mais baixas, a que estava ligado durante os seus anos da escola. Abraçou temas tabus, como o incesto e a prostituição. Muitos dos seus filmes concentravam-se em comportamentos japoneses culturais, como a superstição e as atitudes em relação ao sexo, e a desafiar os seus espectadores para transcender os valores tradicionais.  
O primeiro filme a marcar distintamente a obra de Imamura foi "Pigs and Battleships", de 1961, uma sátira sobre traficantes que vendiam animais que foram alimentados com o lixo deixado por bases americanas estacionadas no Japão. O filme, que causou um escândalo, continha um dos temas populares do cinema de Imamura, do homem como animal. Não só os americanos eram vistos como porcos, mas também os comerciantes do mercado negro japones, que faziam fortunas com o que faziam.
Em 1965, Imamura criou a sua própria companhia de produção independente, a Imamura Productions, para que pudesse continuar a produzir filmes que caracterizaram a sua análise original do Japão, do seu povo e da sua cultura.
A carreira de Imamura prolongou-se por mais de 40 anos. Nos anos 70 esteve mais virado para os documentários, mas regressou em grande durante a década de 80. A partir da década de 80 assumiu uma carreira mais séria, tendo ganho a tão pretendida Palma de Ouro do Festival de Cannes, por duas vezes.Pertence ao grupo de realizadores muito restrito que conseguiu esta proeza.
Neste ciclo, vamos ver cinco dos filmes da primeira fase de Imamura, que é a minha preferida, e depois, mais cinco filmes da fase posterior. 
Espero que gostem. Até amanhã.