Um conto impossível. Taro, um idoso que morre sem abrigo em Tóquio, contou a Yosuke, um desempregado, sobre uma estátua de ouro que deixou anos atrás, numa casa perto do mar, em Noto. Yosuke vai até lá, e conhece Saeko, uma mulher que vive na casa onde Taro deixou a estátua. Ela tem um estranho problema: a água acumula-se nela, e só consegue livrar-se de duas formas: ou cometendo actos perversos, como furtar numa loja, ou atingindo o orgasmo no acto sexual.
Realizado em 2001, adaptando o livro de Yo Henmi, “Warm Water Under a Red Bridge” foi a última longa metragem do japonês Shohei Imamura. Depois deste ele apenas dirigiu mais um projecto antes da sua morte, em 2006, um segmento do projecto “11’09”01 – September 11.”No entanto, no que refere apenas a longas metragens, “Warm Water” era uma comovente despedida do realizador, combinando a comédia romântica com o seu original estilo, para fazer uma fábula moderna imaginativa.
"Warm Water Under a Red Bridge" é um retrato cativante da excentricidade provinciana, e uma generosa homenagem à fecundidade feminina, incorporando várias sub-tramas peculiares, e personagens secundárias, como o treino de um estudante africano para uma maratona, ou a competição de Yosuke pelo tesouro. O filme também consegue voltar a reunir o casal de "Unagi", Kôji Yakusho e Misa Shimizu, que foi um dos filmes com que Imamura conseguiu ganhar a Palma de Ouro. Concorrendo de novo para este galardão, não conseguiu ganhar graças a uma concorrência fortissima: "O Quarto do Filho", "A Pianista", "O Elogio do Amor", "Mullholand Drive", entre outros.
Sadako foi criada como uma empregada doméstica em casa do seu marido, que continua a tratá-la como uma serva. Enquanto o marido está fora, Sadako é repetidamente violada por um estranho, que lhe faz nascer um instinto indomável para a sobrevivência. Uma relação bizarra desenvolve-se entre o violador, que continua a perseguir a mulher assustada, algures entre a violência e o amor, e Sadako, cujas intenções de matá-lo levam a um desfecho impressionante.
Antecipando "Cerimónia" de Nagisa Oshima, na sua representação metafórica da morte da classe samurai através de linhas de sangue contaminadas, ligações místicas, relações incestuosas, fragilidade e impotência, "Intenção de Matar" tem a marca característica das preocupações recorrentes de Shohei Imamura: a sensualidade e a resistência das mulheres, a manifestação do individualismo numa sociedade codificada, as idiossincrasias e instintividade primitiva que definem o comportamento humano. Voltamos ao imaginário animal como um substituto para o comportamento humano que Imamura tinha incorporado em "Porcos e Couraçados" e "A Mulher Insecto".
Enquanto que o título faz lembrar um thriller noir, "Intenção de Matar" é mais apropriadamente descrito como um melodrama perversamente nacional sobre como a sociedade japonesa permite que os homens patéticos manipulem e controlem as mulheres nas suas vidas. Imamura também utliliza várias sequências de sonhos surreais para exprimir algumas partes mais emocionais do filme, que, juntamente com o retrato contundente da hipocrisia social, ganhou muitas comparações com os filmes de Buñuel.
Originalmente lançado em 1961, "Porcos e Couraçados" é um belo filme que captura maravilhosamente um período único na história japonesa. Depois da derrota do país na Segunda Guerra Mundial o Japão foi alvo de uma significativa presença americana, e com o país a recuperar dos efeitos muito graves da guerra isto teve um impacto significativo sobre a população. Afastando-se das crenças do tempo da guerra, lidavam com a desconfiança das gerações mais velhas e, lutando para sobreviver em circunstâncias difíceis, a população mais jovem japonesa foi lutando contra uma espécie de crise de identidade.
Paralelismos entre o Japão como país, e as vidas dos personagens deste filme, constantemente percorrem Porcos e Couraçados, impregnando as decisões com um maior significado e profundidade. Os dois protagonistas principais, um pequeno yakuza, Kinta (Hiroyuki Nagato), e a sua namorada Haruko (Jitsuko Yoshimura), estão num ponto importante de inflexão e há um sentido ao longo do filme em que as decisões que eles tomam vão definir as suas vidas.
Kinta esforça-se para alcançar sucesso como gangster, através de esquemas para obter dinheiro dos ricos e tentativas de favores de gangues mais poderosos, para levar a cabo assassinatos. Está desesperado para conquistar reputação como um gangster. Haruko por outro lado, quer sair da cidade portuária de Yokosuka em que vivem, vendo para lá da vida tradicional dos seus pais.
Baseado num argumento de Hisashi Yamauchi, o filme é uma obra um pouco complexa, com as acções das personagens secundários muitas vezes a terem mais importância do que aparentam. Um retrato impressionante do pós-guerra, a vida no Japão, selvagem e caótica contada por Shohei Imamura, "Porcos e Couraçados" é um documento que define não apenas o estilo singular Imamura - uma agressão deliberada à serenidade de Yasujiro Ozu -, mas também define profundamente a sua visão humana do mundo, muitas vezes apresentada através dos sonhos, desejos e desespero das pessoas que compõem os estratos mais baixos da sociedade do seu país. Tal como muitos outros filmes de Imamura, "Porcos e Couraçados" é preenchido com criminosos, chulos e prostitutas, mas o que liga muitos dos personagens simpáticos dos seus filmes não é tanto as suas profissões ou mesmo a realidade sombria económico e social que os rodeia , mas a vitalidade e o desafio que eles apresentam nesse meio. A visão do mundo Imamura é escura e profundamente cínica, é uma qualidade que fez dele, na minha opinião, o maior cineasta do cinema novo japonês.
Na tarde de 15 de Agosto de 1955, no décimo aniversário da rendição do Japão, cinco pessoas encontram-se numa estação de comboios, cada uma usando o emblema do antigo exército imperial no seu peito. No dia da rendição, um general do exército havia escondido uma lata de valor inestimável num abrigo anti-aéreo. Tinha sido acordado que o general e os seus três soldados se encontrariam 10 anos mais tarde para dividir o seu saque, mas no dia acordado aparece uma pessoa a mais. Além disso, um deles é uma mulher, que diz ser irmã do general morto. Começam a cavar o chão onde a lata foi enterrada, mas à medida que o trabalho progride cada um deles torna-se vítima do seu próprio egoísmo, desconfiança e ganância.
Considerando que o filme policial convencional iria delinear claramente os criminosos e os cidadões inocentes cumpridores da lei, Shohei Imamura, conhecido pela sua reputação das suas observações astutas do comportamento humano, nunca iria permitir que tais considerações fossem simplificadas. Assim, Imamura estabelece algumas das suas observações mais cruéis sobre a humanidade, e sobre os habitantes da favela, classificando-os como lascivos, seres gananciosos e irracionais. Na verdade, o tema sobrejacente que melhor resume todo o filme é que o homem não é melhor que os insectos ou os animais que também vagueiam pelo planeta, com a única diferença de que os humanos são apenas muito mais neuróticos.
Para além do conteúdo temático, é interessante notar que visualmente o filme é tão interessante como os filmes posteriores de Imamura. Colaborando pela primeira vez com o parceiro de longa data, Masahisa Imeda, a iluminação do filme e a atmosfera "noir", teriam feito de John Alton um homem orgulhoso. Este era apenas o terceiro filme de Imamura.
ShoheiImamuraainda faz filmes maravilhosos.A sua humanidade, humor,e apreciação sensualnão diminuiuao longo dos anos. A históriada batalhade um médicocontra a hepatite,em 1945,é um pretextopara mostraro outro lado davida japonesa,um longo caminho desdea ponte sobre oRioKwai. Os soldadosestão lá,do mesmo modo. Há uma fortalezana vila cheiadeprisioneiros aliados, para nos lembrarde que háuma guerra.Hitlerestá morto, os alemães renderam-se,mas o exércitoImperial vailutar até aoúltimo homem, ou assimas vozes daautoridadeinsistem, na rádio.O Dr.Akaginão pode ouvir isto: émuito doloroso para ele.Temassuntos mais importantespara tratar, como a saúde daspessoas.Primeiro, eleé visto comouma figura cómica, a correr no seu fato branco, com um chapéuamarrado às costas, uma pequena mala preta na mão,acenando paratodos os quepassam.Ao examinaro paciente,deitado no chão,rodeadopor parentesemocionados, o seu diagnóstico é, inevitavelmente, "hepatite". Ooficial de saúdedo exército,um pedante que se julga importante, recusa-se a aceitar a análise deAkagideuma epidemia eque, se algonão for feito rapidamente,muitas pessoasvão morrer. "Karo Sensei", passado no porto deuma pequena ilhanos últimos diasda Segunda Guerra Mundial, no Japão,abre com obom médicoa recitar afilosofiado pai, sobre a profissão:"Ser ummédico de famíliaé ter todas as pernas.Seumaperna estiver partida, corre-se com a outra.Seambas as pernasestiverem partidas, corre com as mãos". E, de facto, lá vai Akagi(Emoto), a correr pela praia-. passando por umcasal-vestido comum fato branco e um chapéude palha, para a vila, para tratarmais um caso dehepatite, queatingiu proporções de epidemiadurante a guerra. Akagiconcentra a sua forçaquase inteiramentesobre o vírus, o que toda a gente parece ter. Há muita coisa sobre "Dr. Fígado" que se parece comoum conto de fadas, embora com uma inclinaçãodecididamenteanárquica.Inamura, tal como fez em "A Enguia", mapeia ocoração humanoatravés de uma sériede vinhetascómicas,as quais estãoinescrutavelmenteligadas entre si paraformaruma cartografiaemocional.O filme em si,sente-se comouma espécie de sonho hiper-realista,com um simbolismoeum final quedeve ser visto paraser acreditado.Ainda assim, o trabalho de Inamuraé sempreprofundamente pessoal,e é isso quedá a "Dr. Fígado" o seu tomesperançoso. Legendas em inglês.
"A Enguia"foi o 16º filmedeShohei Imamura (excluindo os documentários feitospara televisãonos anos setenta) e o segundo a ganhara Palma de Ouro. Feito quando o realizador estava a fazer 70 anos, mas isso não significa que seja um filme de um realizador "velho". É um conto sobre o sexo, a morte, crime, tentativa desuicídio edoença mental.Quaisquersinais de queImamurafoisuavizandoos seus filmes com o passar dos anos, é completamente errado. Na verdade, esteé um filme tão salgado e estranho comoos seus melhores trabalhos, sem medo de entrar num território mais sombrio,oua fazê-locom um toque mais cómico.Ao longo de "A Enguia"somos convidados arecordar os filmes anteriores de Imamura: há vestígios de"Vengeance is Mine","O Profundo Desejo dos Deuses",entre outros. Takuro Yamashita (Yakusho)recebeuma carta anónimainformando quea esposaestá a ter um caso, na sua própria casa, enquanto ele vai à pesca durante a noite. Nessa noite, sendo mais uma das noites de pescaria, regressa a casamais cedodo que é habitual,para descobrirque as afirmaçõescontidas na carta,são de factoverdadeiras. Acaba por matar a esposa, esfaqueando-a várias vezes, mas permite que oamante consiga fugir.Na prisão, encontra uma
enguia que se tornará o seu animal de estimação. Ao sair em liberdade
abre uma barbearia, fora da cidade, onde se irá cruzar com uma mulher,
Keiko (Shimizu) com tendências suicidas, que lhe faz lembrar a
ex-esposa. Keiko, também recuperando de uma antiga relação, com um homem
mais interessado no dinheiro da mãe dela, vai querer aproximar-se de
Yamashita, mas este persiste em não querer envolver-se. Seuma produção de Hollywoodfosse contar a históriade um homem quemata a mulhernum ataque deciúmes,e não alguémfalsamentecondenado, comofoi o caso do filme deFrankDarabont, "The Shawshank Redemption", mas alguém realmenteculpado, seria apresentado comoumpsicopatademente. Mas aqui, mais uma vez, ShoheiImamurafoca a suacâmera na vasta moral cinzentachamada humanidade, e dá-nos uma história impressionante história de redenção. Mais uma vezImamuraleva-nos atravésdos marginalizadosna sociedade japonesa: os loucos,os pobres,e, claro,os culpados, e mais uma vez desenha umparaleloentre o nossosupostomundo "civilizado"e o que podemos chamar de mundo animal, desta vez personificado por umenguia, um sinuoso animal de estimação.No universo deImamurao julgamento moralé suspensoa favor daclareza,retratandoa vidaconfusa denós, seres humanos, e como podemosfacilmente tropeçardoispassos para a direitae alcançarcoisas maravilhosas, mas também como podemosfacilmente tropeçaralguns passospara a esquerdaesomos transformados emdemónios,e comopodemos ultrapassar esses actosterríveis, se formos felizes o suficientepara andarpelo caminho certo.
Os filmes sobre a Segunda Guerra Mundial são muitos, assim como muitos são os que tocam no bombardeamento atómico de Hiroshima e Nagasaki, em 1945. O Japão continua a ser a única vítima infeliz de um real atentado à bomba usando armas atómicas/nucleares, por isso, qualquer filme que toque neste tema fora do Japão, mereça uma revisão deste "Black Rain" para mostrar a perspectiva de quem viveu o atentado por dentro. Baseadono romance deMasujiIbuse, "Chuva Negra" é referido comoa chuvaque caiulogo depois danuvem de cogumeloter rebentado, por causa do conteúdo da alta radioatividadena atmosfera,o quecaiu do céufoi realmentecontaminado, e foi reportado em ser de cor negra.Mas o filmenão é um exercíciode meteorologia, mas sim, é bastanterico no dramasobre o sofrimentode todas as vítimasdirectas e indirectas da bomba atómica, assim como nas cicatrizes psicológicasinfligidas. Colocandoo seu fulcronapersonagem principal, Yasuko(YoshikoTanaka), que estava suficientemente perto de Hiroshimaparaa chuva negracair sobreela,fala dopreconceitoque todostêm sobre ela.Confrontada coma discriminação socialque dificultaa sua capacidade dese casar,e pior,a necessidade deestar isoladanumapequena vila desobreviventes dabomba atómica, fala doshorrores da guerradapiorespécie, e isto é uma parte do que cada um tem de sofreraté ao fimda sua vida.Embora aaldeia onde elaresida tenha personagens interessantesque se encorajam a uns aos outros a manter o espírito livre, há sempreuma sensaçãosinistrapendendosobre este lugar, e uma um, todos oshabitantes têmde enfrentaro inevitável. Mas nem tudo é tristeza e melancoliano filme, já que ainda há espaço para a comédia, tão necessária paraelevar o humordepressivo.Masas cenas maispoderosassão as do início.Apesar de nãoter grandesefeitos especiaispara recriar oseventos do diatrágico, como qualquer blockbuster americano, a sua simplicidade, trás a mensagem e imagenssuficientemente fortes para nos causar impressão.Não há uma grande explosão, mas sim uma bombasolitáriasuficiente paracausararrepiosnasinfelizes vitimas,e as vítimas diretas são aqui retratadasda forma mais realistapossível. "Chuva Negra" atinge bem o objectivo de ser um filme anti-guerra nuclear, mas certamente que não será de fácil visualização. É o meu filme preferido de Imamura.
Vencedor da Palma de Ouro em 1983, superando filmes de Robert Bresson, Martin Scorsese e Andrei Tarkovsky, "A Balada de Narayama" talvez seja o melhor cartão de visita para o trabalho de Imamura. Embora tenha algumas semelhanças com "O Profundo Desejo dos Deuses", é mais acessível em termos de argumento. Adaptado do romancedo mesmo nome(que já tinha sidotransformado em filmeanteriormente), com sequênciasadicionadas a partir do livroJinmusof Tohoku(ambos escritos por FukazawaShichiro), "A Balada deNarayama" é passadonuma pequena aldeia, no alto de uma montanha,longe de qualquertraçoda sociedade.Não nos é ditoem que períodoo filme se passa, mas o meu palpite seria cerca de há100 anos atrás,mas isso não ficaclaro.Oshabitantes da aldeia vivemuma vida difícil, trabalhando os campos paracultivar alimentos suficientespara manter as famíliasvivas.Vivemsegundo um rigoroso códigoque incluia tradição de quequando se chega àidade madura de70 anos, as pessoas são obrigadas a escalar a montanhatraiçoeira, dando a sua vida paraque Deusolhe sobre a aldeia.O filme centra-se naavóOrin (SumikoSakamoto) e na sua família. Está quase a chegar a essenúmero mágico de 70 anos, e uma vezlá terá de aceitaro destino, mas enquanto issoelaocupa-se em tentar manter os filhos e unidos, assegurando que a família continue a serforte e felizdepois dela partir. A verdadeira beleza de"A Balada deNarayama" reside na maneira com que,constantemente,subverteavisão do que é"certo"e"humanitário".As regrase valores daaldeia sãobrutalmenteduras,bem como a tradição de "ter de subir" a montanha, e o modo de lidarcom o roubotambém é terrível- uma famíliaé enterradaviva porum crime por um crime dessa natureza. No entanto,Imamuratem uma maneirade fazercom que estas leis pareçamjustificáveis,e os moradores possam desfrutar da tranqulidade.Tudo o que eles fazemparece dependerdo equilíbrio.Orinenvergonha-se da suaboa saúde -as crianças brincam sempre com o facto dela ainda tertodosos dentes da frente. Estaabnegação foca-sena preservaçãoda unidade familiarpara alémda própria vida e é a chave parao filme.Soa comoum anúncio sobre o comunismo, masa propagandanão parece sera intençãodoImamura. É um filmeemocionalmentepoderoso, que é uma vantagem sobre "O Profundo Desejo dos Deuses".Tudo por causa dos últimos45 minutos.Uma vez que Orinacredite que feztudo o que podiapelasua família,finalmentepedeaos anciãos da aldeia quelhe concedama passagematé à montanhae é o filhoTatsuhei(KenOgata) que concorda emlevá-laaté lá.Esta jornadaé feita lentamentee praticamenteem silêncio(as regras dizem que os condenados nãodevem proferir uma palavra) como Tatsuhei a esforçar-se perante um terreno acidentado.Quandose aproximam do cimosão recebidos porum tapete derestos de esqueletos, dos anteriores anciões que alí perderam a vida. Orinsinaliza o localque acha maisadequadoe o filhodeixa-a para ela conhecer oseu Deus.É um momentoextremamentebelo, apesardo ambientepotencialmente perturbador, demonstrando o poder dacapacidadedo filmepara brincar comas crençase sentimentos.Não éuma cena deprimente, apenas é profundamentecomovente. O filme está cheiodessasjustaposições,para criarem uma experiênciaque é tãoinstigante como bonita. A ênfasefrequenteno sexoe em algumas cenasde brutalidade e, já agora, no humor ousado, podem afastaralguns espectadores,mas mesmo assim este é um filme obrigatório.
Superficialmente "A Vingança é Minha" é um filme sobre um serial killer.
Foi feito muito tempo antes da vaga recente de Hollywood começada com
"O Silêncio dos Inocentes", mas alguns anos depois dos pioneiros do
género, como "A Kiss Before Dying"(1951), "The Boston Strangler"(1968),
"Peeping Tom" (1960), "Psico" (1960) e 10 Rillington Place (1971). O
filme está alinhado com estas obras anteriores, seguindo as actividades
do assassino, em vez da investigação para localizá-lo, mas
estilisticamente, é muito diferente. Baseado na história verdadeira de
Nishiguchi Akira, que foi preso em 1964 depois de uma matança por todo o
país, o filme segue o assassino Iwao Enokizu enquanto viaja pelo Japão,
vivendo de fraudes e enganos, além de cometer uma série de assassinatos
insensíveis, incluindo narrativamente os seus problemas da infância
pré-guerra, e a problemática do pós-guerra, e a sua relação amarga com o
pai, um católico devoto.
Neste contexto, conteúdo e estrutura narrativa, a abordagem do filme é
complexa e meticulosa. Começando com o transporte de Iwao para a
esquadra da polícia depois da sua detenção, a história desenrola-se
inicialmente numa forma não-linear, pulando para trás e para a frente
através do tempo, nem sempre com a ajuda gráfica da data actual e local.
A descoberta do primeiro corpo, por exemplo, vem depois da captura de
Iwao, mas muito pouco tempo antes são mostrados os acontecimentos que
levaram ao assassinato em si. Ocorrendo no início da narrativa, esta não
é uma matança no estilo dos thrillers tradicionais modernos, mas uma
matança desajeitada, amadora e deliberadamente desagradável, o fracasso
das tentativas de Iwao colocar inconsciente a sua vítima com um martelo,
obrigando-o a recorrer a uma faca, que é espetada violentamente no
peito de um homem que só depois vai morrer. É uma cena chocante por
todas as razões. O efeito sobre a nossa percepção de Iwao é imediata, e
quando um pouco mais tarde, ele procura numa loja para comprar uma faca
de cozinha (ele escolhe a mais barata, que é um detalhe interessante),
este simples acto provoca um arrepio de medo sobre o que ele vai fazer
com esta compra. Um segundo assassinato segue de seguida, tão
desagradável de se ver como o primeiro, e a partir daqui até mesmo a
ameaça de violência por parte de Iwao deixa-nos os nervos em franja.
Como a narrativa de flashback a torna-se cada vez mais linear em termos
de estrutura, a personagem de Iwao é consideravelmente mais expandida, e
a história à sua volta proporciona uma imagem mais clara do caminho
que o levou de criança para adulto rebelde, a ser tão destrutivo. Tendo
estabelecido Iwao como tema do filme, Imamura engana-nos a todos,
ignorando-o depois e concentrando-se na relação que se desenvolve entre a
sua jovem esposa e o pai idoso. Mas mesmo o fio dessa história avança
de uma forma inesperada.
Repetidamente o filme leva-nos a lugares inesperados e perturbadores.
Grande parte da violência ocorre fora da narrativa e, ocasionalmente,
joga com as nossas expectativas. Como se a própria narrativa não fosse
suficientemente confusa, Imaura também inclui algumas referências
intrigantes a aspectos menos discutidos da sociedade japonesa.
E, para finalizar, o filme é muito atraente. Pelo seu realismo
documental, pela sua técnica da narrativa complexa mas emocionante, pelo
desempenho magnífico de Ken Ogata, pela sua abordagem de não julgamento
ao material consistente, e pela profundidade intelectual e emocional.
Imamura ainda tem coragem de terminar o filme com uma cena de
peculiaridade surrealista que, todavia, funciona perfeitamente para o
filme, justamente por causa de suas possíveis leituras escondidas. "A
Vingnaça é Minha" é o cinema realmente grande, desafiador, inteligente e
de confronto, uma história brilhantemente contada, tratada com firmeza e
explorando o lado mais obscuro da natureza. Isto nem sempre torna fácil
a sua visualização, mas é uma experiência memorável.
Realizado em 1968 por Imamura, "O Profundo Desejo dos Deuses" é um filme
que é parte drama etnológico, e parte comentário sócio-político.
A acção é passada na ilha fictícia de Kurage em Okinawa, a província
mais quente e mais a sul do Japão. É uma área que foi notícia em 2010
depois da renúncia de primeiro-ministro Hatoyama Yukio do cargo, em
parte por não cumprir a promessa de mudar a base militar dos EUA,
impopular, e que está localizada naquela zona desde a guerra, para um
local com uma população mais amigável. Esta zona continua a ser um
destino popular de férias para turistas japoneses e foi o local chave
para um filme perfeito de Takeshi Kitano sobre a yakuza, Sonatine. Mas
nada disto nos irá preparar para a visão de Imamura sobre esta região.
O filme gira à volta da família Futori, e na altura em que os vamos
encontrar já se isolaram socialmente de todos os outros na ilha. Nekichi
está agarrado ao seu trabalho num poço aquoso que ele cava para
deslocar uma rocha enorme que muitos acreditam ter sido lá depositada
pelos deuses, como punição pelos seus actos anteriores, que incluem a
pesca com dinamite e um caso de amor com a sua irmã Uma, agora a esposa
do seu ex-companheiro Ryugen. O avô Yamamori está preocupado com o
desejo de Nekichi para com Uma, que causou a ira dos deuses, mas como
ele próprio engravidou a filha, não está realmente na posição de o
aconselhar. O resultado dessa união foi a retardada Toriko, que se deita
com todos, excepto o filho de Nekichi, Kametarô, o único membro são da
familia.
A esta micro sociedade chega o engenheiro Kariya, um homem de família,
natural de Tóquio, que chega mal preparado para lidar com as
excentricidades do clã Futori, ou mesmo para o seu anfitrião Ryugen,
cuja idéia de hospitalidade é pedir à sua esposa para dar ao seu
visitante, um "bom tempo". Quando ele rejeita a mulher, a raiva de
Ryugen com a esposa manifesta-se em violência física e violação. Depois
de contratar Kametarô como assistente e tentá-lo com perspectivas de
vida na cidade grande, Kariya é alvo de Toriko, que usa a resistência
dele e tentando-o a abandonar o seu trabalho para viver uma vida
primitiva e idílica com o clã Futori.
O filme tem quase três horas de duração, e está repleto de detalhes
excêntricos e muitas vezes surreais, e é sustentado por uma série de
preocupações temáticas, do fascínio de Imamura com o primitivismo ao
efeito intrusivo e prejudicial ao desenvolvimento industrial, um tema
que era querido a muitos realizadores nos anos 60 e, apesar da sua
verdade essencial, desde então, passou para os domínios do cliché
cinematográfico. Aqui o paraíso é imaculado muito antes do filme
começar, os locais têm sido tentados a mudar das plantações de arroz
para a agricultura da cana de açúcar, principalmente para servir uma
fábrica construída pelos mais ricos que agora governam a economia da
ilha. Kariya foi enviada para a construção de uma estrutura depois do
seu antecessor ter parado de enviar notícias, e desaparecido.
O destino da ilha e da família Futori está ligado à religião e ao
folcore da região. Os governantes da ilha foram capazes de construir a
fábrica sem protesto local, porque eles eram considerados como deuses, a
inundação que depositou a pedra gigante na terra Futori é vista como
castigo divino para a imoralidade de Nekichi.
Como vamos então categorizar "O Profundo Desejo dos Deuses"? Como um
drama antropológico que nos mostra os extremos de uma comunidade, e não o
que podemos aceitar como representante da norma, algo que é apanhado de
forma mais eficaz nos rituais locais, danças e canções, quer no
comportamento da família Futori. Encontra falhas em todos os aspectos da
celebração do primitivismo, enquanto a sua visão crítica da influência
destrutiva de forasteiros constituem uma parte muito pequena do drama
envolvente para ser o principal foco do filme. Mas é precisamente esta
recusa a obedecer a um padrão único reconhecível de genérico ou de
estilo que faz deste filme uma fascinante visão, como um filme com
várias histórias sendo contadas simultaneamente em três línguas,
incluindo uma da própria invenção do contador de histórias.
Legendas em inglês.
"O Pornógrafo"é uma comédiaabsurda e ultrajante sobre a sexualidadeeo papel do sexonum mundo modernodominadopela ganânciae pela manipulação.Opornógrafodo título éSubuOgata (Shoichi Ozawa), que faz filmespornográficose comercializauma grande variedade deliteraturasexual, fotos, gravações de áudioilícitas,e medicamentospara a impotência- tudo isso contando à sua amanteviúvae proprietáriaHaru (Sumiko Sakamoto) que vendeequipamentos médicos.De certa forma,aOgata, esta parece seruma afirmação verdadeira. Cada vez maisvê o mundo, e especialmente oshomens,comodoentescom a sexualidade,e vêa sua obra "imoral" como uma espécie decura. A profissão deOgatacomeça apenas como uma forma deganhar dinheiro,mas comopelo caminho vai cruzando com batidas policiais, mafiosos locais, ladrões, e os seus própriosimpulsos sexuaiscomplicados, torna-se mais filosóficocom o seu trabalho. Ele quer a jovem de15anos de idade,Keiko(KeikoSagawa), filha de Haru,que está doentee à beirada morte,que o encoraja acasar-se com a filha, porque pensa que Ogata tem pouco interesse. Enquanto isso, Haru tenta permanecerpura, devidoa um votoque fez para oseu primeiro marido, que acreditater reencarnado e a observa. Comestes impulsos sexuais estreitamente interligados através da narrativa,é estruturado"O Pornógrafo". A narrativa de Imamura, muitas vezes, correde uma forma maisou menos tradicional, para ser interrompidapela invasãodesequências de sonhoperturbadoramentereais.Estesestranhos sonhossurgem de temposa tempos, semaviso,muitas vezessurgindoespontaneamente a partir decenas quea princípio pareciaser totalmenterealistas.Imamura nuncadeixou bastante clarode quem são estes sonhos,embora presumivelmenteeles possamser atribuídos aOgata. Certamente queos posteriores, com a imagem daimpotência sexual, sejam seus,mas alguns anteriorespodem pertenceraHaruou à sua filha.Emqualquer caso, estasinterjeiçõesadicionam àrepresentação estilizadado filmeo desejosexual.Tudoculmina quandoOgatatorna-seimpotente eé levado arejeitarcompletamentea sexualidade humananas suas formascomuns, procurandoa construção de umamulher perfeitamecânicapara satisfazer os seus desejos. "O Pornógrafo"é uma visãoúnica eincrivelmenteestranhada sexualidadenum mundo deganância erepressão sexual,onde o aspectohumano,pessoal, do sexoé cada vez maissubstituido pelaeconomia,legalidadee desejomecânico.Como tal, estefilme de 1966é um trabalhoincrivelmentepresciente, prevendo, entre outras coisas, oentorpecimentoda sexualidadena era dapornografia na internet. Legendas em inglês.
"The Insect Woman",o títuloanglicizado do filme de Shohei Imamura"Nippon konchuki", não é de nenhum modo umatradução directae, na realidade, soa como uma produção de série B, de Roger Corman. O título originaltraduzidodirectamente soaria a algo como "Entomological Chronicles of Japan", quemais proximamente refletiria aviagemde uma personagemlutando pela vida, como uma metáforapara a históriado século XX,no Japão. Tal como o seumentor,o grandeYasujiroOzu,Imamuraestava profundamentepreocupado com a naturezado que significavaser japonês, embora eleandasse aexplorara questãode uma perspectiva muitodiferente, substituindo oformalismo rígido deOzufocalizado numa deteriorização da classe média, por um estilo visual mais eclético e um fascíniopelo lado sombrioda sociedade japonesa. No filme anterior, Porcos e Couraçados(1961), Imamura tinha mostradoum enormefascínioeumprofundo respeito pormulheres fortes,resistentes, capazes degarantir a suaprópria identidade eum lugar numa sociedadeque constantementequerreduzi-las aesposasobedientes, mães efuncionárias. EmA MulherInsecto, ele leva este fascínio a uma posição extremista,com apersonagem deToméMatsuki(Sachiko Hidari), que nasce como uma filha bastarda de umapequena vila agrícolaem 1918e, posteriormente,luta contrainúmeros obstáculosdurante astumultuadas décadasseguintes, atéao tempo presente(o filme émarcado por importantesmarcoshistóricos, incluindoa rendição do Japãoem 1945 eoprograma de televisão em 1959,do casamento realdo príncipe herdeiroAkihitoeShodaMichiko). No início tudo parece estar contraela,começando pelo seu status queé desvalorizadoainda maispela naturezamá e reputaçãoda mãe(não se sabe quemo pai de Tome porque a mãe dormiu comtodos os homens da aldeia) e do abuso sexual que vai sofrendo lentamente, do padrastoChuji(Kazuo Kitamura). Quando em adulta, Tométenta integrar-se na sociedadejaponesa, masum casamento fracassado eter um filhofora do casamentomantém-na constantementeà margem, socialmente.Elaencontra consolonuma igreja, onde pode derramara sua dore pesar, e finalmente encontratrabalho como empregada domésticanuma pousadaque funciona como umbordel.Embora elaseja a primeirachocada coma natureza do seutrabalho, finalmenteconsegue aceitá-loe até mesmoabraçá-lo, manipulandotodos à sua voltaa subindoaté ao topo substituindo a Madam (TanieKitabayashi).Ao longo do filmeToméprova serinfinitamente adaptável, eobservá-laé como assistir adiferentes personagens, a sua maleabilidadepor vezesfaz diferentes encarnaçõesdifíceis de conciliar,excepto através por causa da sua necessidadede sobrevivência. Imamura sempre foi interessado em atingir novas fronteiras, descrevendoos cantos mais obscurosda sociedade japonesa, e esse é o caso de "A MulherInsecto". A sua visão emúltima instância, é uma estranha mistura de compaixão e distância, acompanhadas por um trabalho de câmera inquieto eumas transições quemuitas vezesisolamum momento degrandeturbulência emocional. Éum processo lento, por vezes um pouco confuso, porque Imamurae o seu argumentistaKeijiHasebe(comquem ele trabalhou emdois outros filmes) tendem a saltarpara trás e para a frente no tempo,mas éum intrigante, embora grosseiro, retratodaluta das mulheres no Japãomoderno.
Imamurarejeitou ocinemaconvencional e idealista do Japão dadécada de 1950, paraproduzir e dirigira sua própria visão dopovo oprimido pelasociedade japonesa.Explorandoa antítese da classe médiada sociedade da sua juventude,Imamuraficoufascinado pormarginais, criminosos eprostitutas quecoloriramo seu mundoquando ele era umcomerciante do mercado negro na Segunda Guerra Mundial. Como um estudantede sociologiajaponês,fezcomédiasobscurase contospungentes detabus culturaissobre a sobrevivênciadapobreza -tanto como ficção, comodocumentário.
Imamuranasceu a 15 de Setembro de 1926, em Tóquio, como o terceiro filho deum médico. Estudou na elite do ensino japonês na companhia dos filhosdos privilegiados.Em vez deseguir asatitudes dosseus colegas, rejeitou as suascurtas visões de espíritoe desprezopelas classes mais baixas. Imamuradesprezava a opressão dassociedades quemais tarde viriam asero focodos seus filmes. Andava impressionadocom a liberdadeexpressanos filmes do pós-guerra, como "Rashomon" deAkiraKurosawa.Depois de se formarpela Universidade de Waseda, em 1951,juntou-se aos Shochiku Films. Entrou como assistente de realizador com o objectivo detrabalhar comKeisureKinoshita.Nesse período ajudouvários realizadores, como MasakiKobayashi,YuzoKawashima, e NomuraYoshitaro, mas asua passagemmais marcante foicomoaprendiz demestreYasujiroOzu. Trabalhou emtrês filmes memoráveisde Ozu: "Early Summer", 1951; "Flavor of Green Tea over Rice", 1952; e "Tokyo Story", 1953.Mas, foi no terceiro que Imamura se sentia mais frustado e revoltado. Sentia que o trabalho de câmera de Ozuera rígidoe sem imaginação,e que os actoresforam instruídos paraserdemasiadoempolados eorganizados,e queo sistema de promoção da produtora asfixiava a criatividade. Imamuraopôs-se àvisão conservadorae idealizada deOzuda vidajaponesaperfeita, comactores passivose formais.Queria produzirfilmesque retratassemo conflito dos verdadeiramente corajosos para a sociedade da vidajaponesa.NaShochiku, ele gostava de trabalhar comYuzoKawashima, que fez filmessobre a vida das classes mais baixas.Kawashimatambém se rebelioucontra as políticasdo estúdioShochiku, assim, em 1954,os doismudaram-se para os NikkatsuStudios. Imamuraentrou noprograma de treino dos NikkatsuStudios, querecrutavanovos talentose ofereciasalários mais altos.Lá trabalhou comoargumentista eassistente de realização deKawashimanuma série decomédias.Em 1955,Imamurarecebeu pela primeira vez crédito como assistente de realização. Durante este período desenvolvia asua própria abordagemsobre o cinema. Em 1958,Imamurafez a sua estreia na realização com"Stolen Desire", umacomédia de humor negrosobreuma trupe de atoresitenerante.Era o iníciodo seu fascínio pelas correntesda sociedadee um desejo dedesafiar apercepçãode valores morais.Recebeu um prémio deNovos Talentospara este filme, e naquele ano, fez mais duas obras: "Nishi Ginza Station" e "Endless Desire".
Como sistema antigo dos estúdios japonesesa entrarem em declinio,talentososjovens realizadores chegavam à tona. OBaguNuberu, ou New Wave, nomeado a partir da NouvelleVaguefrancesa, caracterizou anova geração de cineastasque surgiramna década de 50. Imamurae os seus contemporâneos, comoNagisaOshima eMasahiroShinoda, com quem elejá tinha trabalhado naShochiko, rejeitaram a fórmula estabelecida porOzu, deeufemismotranquilopara celebraras correntesprimitivas da vidajaponesa.A visão dosnovos realizadoresveioa espelhar asociedade do pós-guerra, com a pobreza, mercados negros,corrupção,e proscritos. Imamurafocou-se nasclasses mais baixas, a que estava ligado durante os seus anos da escola. Abraçoutemas tabus, como o incesto e aprostituição.Muitos dos seusfilmesconcentravam-se emcomportamentosjaponesesculturais, como asuperstiçãoe as atitudesem relação ao sexo, e a desafiar os seus espectadorespara transcenderos valores tradicionais. O primeiro filme a marcar distintamente a obra deImamurafoi "Pigs and Battleships",de 1961, uma sátira sobre traficantesque vendiamanimaisque foram alimentados como lixodeixado porbases americanasestacionadas no Japão. O filme, quecausou um escândalo, continhaum dostemas popularesdo cinema deImamura, do homem como animal.Não sóos americanoseram vistos comoporcos, mas também oscomerciantes do mercado negrojapones, que faziam fortunas com o que faziam. Em 1965,Imamuracriou a suaprópria companhia de produçãoindependente,a ImamuraProductions,para que pudessecontinuar aproduzir filmesque caracterizaram a sua análiseoriginaldo Japão, do seu povoe da sua cultura. A carreira de Imamura prolongou-se por mais de 40 anos. Nos anos 70 esteve mais virado para os documentários, mas regressou em grande durante a década de 80. A partir da década de 80 assumiu uma carreira mais séria, tendo ganho a tão pretendida Palma de Ouro do Festival de Cannes, por duas vezes.Pertence ao grupo de realizadores muito restrito que conseguiu esta proeza. Neste ciclo, vamos ver cinco dos filmes da primeira fase de Imamura, que é a minha preferida, e depois, mais cinco filmes da fase posterior. Espero que gostem. Até amanhã.