domingo, 20 de outubro de 2013

Uma Luz no Submundo (The Naked Kiss) 1964



Uma cena que é absolutamente inesquecível, é aquela em que uma prostituta bate brutalmente num homem, onde Fuller se atira de câmera na mão, filmando na primeira pessoa, que nos obriga a alternar violentamente entre as perspectivas do agressor e da vítima. Num segundo estamos a bater, no próximo, estamos a ser espancados. Ao choque e à desorientação do efeito da violência é dado um choque adicional quando o homem derruba acidentalmente a peruca da prostituta, revelando uma cabeça rapada. A razão pela qual a cabeça é rapada não será revelada até quase ao final do filme, e o motivo paira sobre tudo o que acontece depois disso, funcionando como uma espécie de símbolo do tema central do filme.
A prostituta, cujo nome é Kelly (Constance Towers), tira 75 dólares que o homem lhe deve, rejusta a peruca, e sai para fora do apartamento. Vamos encontrá-la dois anos depois, quando ela sai de um autocarro na pequena, e aparentemente benigna cidade de Grantville. Neste altura, ela tem toda a intenção de continuar o seu negócio, com a primeira tarde romântica a ser passada com Griff (Anthony Eisley), chefe da polícia da cidade. Ele é a primeira lição de hipocrisia do filme.
A mulher, traumatizada por uma experiência no passado chamada "The Naked Kiss", finalmente, encontra trabalho como enfermeira num hospital para crianças deficientes, experiência que lhe permite encontrar um lado sensível no carinho e na paciência de seus pequenos pacientes. Aparentemente, Kelly vai encontrar a felicidade em Grant, o seu noivo e sócio de Griff, mas ela será testemunha de um evento chocante que vai ameaçar esta felicidade e até mesmo a sua saúde mental.  
The Naked Kiss era um, de dois filmes (sendo o outro Shock Corridor) que Fuller produziu de forma independente para Leon Fromkess. Fuller vinha a fazer filmes desde o final dos anos 1940, e tinha trabalhado, tanto a nível de um estúdio grande, fazendo quatro filmes para Daryl F. Zanuck na 20th Century Fox entre 1951 e 1955, e trabalhando de forma independente com a sua própria companhia de produção, onde ele fez outros seis filmes 1957-1961. No entanto, independentemente de onde trabalhava, ou para quem, Fuller sempre foi um artista ferozmente independente, fundindo as suas experiências pessoais e os assunto sensacionalistas e sempre infundindo a mistura com uma sensação inebriante de observação social e crítica política. Já tinha sido investigado pelo FBI e considerado um traidor em potencial pelo seu ponto de vista crítico da Guerra da Coreia em The Steel Helmet (1951) e ao próprio serviço em Pickup on South Street (1953), mas isso não era o suficiente para pará-lo, e muito menos impedi-lo.
Como Shock Corridor, que apresentava um jornalista empenhado em resolver um crime numa instituição mental, mas é inevitavelmente levado à loucura pelo microcosmo de insanidade americana, The Naked Kiss usa outro assunto tabloide sensacionalista para sondar o mais negro dos receios do país. A idéia de uma pequena cidade aparentemente inocente esconder segredos sombrios já não era uma coisa nova, mas há algo particularmente provocante na maneira como Fuller explora este assunto. Vemos tudo através dos olhos forasteiros de Kelly (ela está em todas as cenas do filme), que em cada canto, uma nova descoberta. Ela é uma mulher do mundo, que sabe como lidar com cada situação, e por isso é que esta situação é ainda mais perturbadora do que o que ela encontra em Grantville.

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