quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Violated Angels (Okasareta Hakui) 1967

"Já foi há algum tempo que Koji Wakamatsu deixou de fazer filmes (como este) em que a câmara assumia o olho guia e psicológico para debastar as mais recônditas intenções humanas. Desde há umas décadas para cá, ou melhor desde a saída, em 1972, desse tratado belicista e anarca Tenshi no kôkotsu (Ecstacy of the Angels) que o cinema de Wakamatsu se vai reduzindo cada vez mais àquilo que nunca foi, nunca quis ser nem mesmo quando tinha opurtunidade o era, ou seja, cinema erótico no sentido mais estricto do termo, ou seja lá o que isso fôr. O que ele fazia na altura era um cruzamento entre o abuso sexual, a vontade desmedida dos poderosos, digo , com uma mensagem sempre política e politizante, pois jamais se pode conceber neste cinema um espectador indiferente, que saia da sala da mesma forma como entrou. O que se pretendia era um cinema revolucionário, que instigasse à luta social, que defendia a mulher, o criminoso, o anarquista e o suicida, na medida em que urgia clarificar as suas razões. 
E é justamente o que Koji faz quando neste Violated Angels centra a narrativa na voz de um homicida que se infiltra numa clínica de enfermeiras, dando origem a um massacre sem precedentes. Baseada livremente numa história real, o intuito não é, certamente, enquadrar a narrativa num tempo, nem em elementos biográficos do próprio assassino. Tal como anteriormente em Taiji ga mitsuryosuru toki (The Embryo Hunts in Secret), de 1966 ou posteriormente no aqui já criticado Yuke, Yuke, Nidome no Shojo (Go, Go Second Time Virgin) de 1969 a essência passa exclusivamente na criação de uma simbólica oriunda de lugares estranhos, alienados, quotidianos na sua acepção mais básica, que fazem os personagens serem apenas joguetes nas mãos de uma mente que vê mais para além do seu estudo psicológico. A obra em si é psicológica, na medida que se desloca como um bloco para a compreensão total da existência. Quando o assassino irrompe da escuridão e entra no paraíso onde os anjos o convidam a entrar, e ele recusa apagando todos os restícios de sensualidade avulsa - rememorando a hecatombe em Go Go Second Time Virgin, onde os dois amantes platónicos matavam, em nome da sua mocidade, os espectros do trauma - o que está em causa não é (só) a interpretação fácil da degradação humana. Se em Koji Wakamatsu não existir esta visão: a da alegoria que se justifica a si mesma numa era que já não necessita de alegorias, todo o seu projecto caí e os seus filmes tornam-se incompreensiveis ou demasiado picuinhas. 
Na continuidade, porventura, de The Embryo Hunts in Secret, em que o psicopata anti-herói claustrofobizava no quarto a sua amante numa esteira em tudo semelhante aos rituais sadistas, para suprimir apenas o desejo edipiano que nutre pela sua mãe ignota, em Violated Angels o mesmo se passa. O anarca, serial-killer que, encontrando-se no meio dos anjos, pede às suas custas o Inferno, a radicalização do Mal como polaridade moral, enxerga, no meio da carnificina irreversível, a razão do seu estado romântico. O anjo que sobra, que olha ataraxicamente para o espectáculo desumano, é, afinal a redenção do imoralista à procura do sentido. O deleite e comprazimento de tal figura, passa por tratá-la como uma mãe perdida e que é encontrada no limite da procura. 
No meio do caos - e é no caos que todas estas obras de Wakamatsu, em suma, findam - o assassino sem rosto (porque o arrancou) encontra novamente a sua cara no regaço do derradeiro anjo, simultaneamente passando no ecrã que resgatou, agora, a cor, a face de uma criança sorrindo por sorrir, naquela inocência contemplativa do embrião que ainda não aprendeu a caçar em segredo."
* Texto de Miguel Patricio, daqui
Legendas em inglês.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

O Embrião Caça em Segredo (Taiji ga Mitsuryô Suru Toki) 1966

A premissa deste filme é muito simples, mas de forma alguma isso diminui o seu poder. Uma jovem é convencida pelo seu empresário a ir para casa com ele. Quando chegam ao apartamento vão para a cama, mas ela descobre que o empresário é tudo menos normal. Aparentemente ele foi abandonado pela esposa, como podemos ver em flashbacks ao longo do filme, e tem problemas familiares. 
"O Embrião Ataca em Segredo" oferece-nos uma das primeiras variações de uma história que se repete continuamente no cinema japonês, em que duas personagens, geralmente um homem e uma mulher, retiram-se para um espaço edipiano e começam a evoluir através de um processo de exploração sexual e violência sobre o corpo e a mente. Esta situação abrange outros filmes japoneses, e foi muito bem explorada em obras como "O Império dos Sentidos", de Oshima, que Wakamatsu produziu, ou, mais recentemente, "Audition" (2000), de Takashi Miike.
Raramente se vê a utilização de violência perturbadora e poesia visual como neste filme de Wakamatsu. Não há muito a contar numa história onde uma mulher é mantida prisioneira e é continuamente espancada, torturada e humilhada, a menos que a história seja contada por Wakamatsu. E ele o faz através de uma escolha criativa de ângulos de câmara e uma edição virtuosa. A mente doentia do protagonista está dividida em termos sentimentais pela prisioneira, e a forma como Wakamatsu lida com o argumento consegue demonstrar essa dualidade. 
Fascinante na sua poesia austera e brutal, abriu caminho para outras obras primas do realizador, como "Violated Angels" (1967),  e "Go, Go, Second Time Virgin" (1969).
Legendas em inglês.



segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Secrets Behind the Wall (Kabe no Naka no Himegoto) 1965

 Num complexo habitacional, um jovem preparatório para a universidade espia a sua vizinha, uma ex-activista da paz que agora leva uma vida normal como dona de casa, tendo um caso secreto com um ex-amante. O voyeurismo deste jovem solitário e sombrio irá terminar numa explosão de loucura.
Os "pink films", como ficaram mais tarde conhecidos, eram filmes eróticos japoneses que ficaram conhecidos por estarem politicamente ligados à extrema esquerda. Os expoentes mais proeminentes usavam o sexo como um cavalo de Tróia para espalharem as suas mensagens subversivas e a metáfora perfeita para encenar a então convicção popular de que a esfera privada coincidia com a política. Emblemático a esse respeito, "Affairs Within Walls", ou "Secrets Behind the Wall", como preferirem, foi o primeiro filme "pink" a ser exibido fora do Japão, quando foi selecionado para o Festival de Cinema de Berlim.  Sexualidade, voyeurismo, e a política revolucionária são aqui implantados como elementos alegóricos, mas também funcionam como tropos eminentemente narrativos, encarnando os dilemas e atribulações dos personagens.
Kôji Wakamatsu já tinha dirigido 20 filmes para a Nikkatsu, entre 1963 e 1965,  e foi muito bem recebido em Berlim, mas temendo represálias do governo por não ter previamente submetido o filme ao conselho de classificação, decidiu lança-lo internamente apenas num circuito doméstico reduzido. Abandonou depois a Nikkatsu, tendo se dedicado a fazer produções independentes de baixo orçamento.
Legendas em inglês.

domingo, 27 de setembro de 2020

Kôji Wakamatsu, Enfant Terrible

 Kôji Wakamatsu é frequentemente chamado de "Godfather" do Pinku, um género de cinema erótico que floresceu no Japão no final dos anos 60m e durou até aos anos 90. Um jovem ex-presidiário e ex- executor da Yakuza, começou a produzir filmes em meados dos anos sessenta, a uma taxa surpreendente de mais de 20 filmes em cada três anos, quando o género ainda estava mal definido, e antes dos grandes estúdios recorrerem a ele para reverterem os seus grandes fracassos da década de setenta. O seu trabalho distingue-se do restante daquele período de várias maneiras. Os filmes de Wakamatsu são facilmente reconhecíveis não apenas pelo seu experimentalismo sem fim mas com forma, mas também pelo seu conteúdo altamente político. 
Os anos sessenta foram um período altamente agitado para o Japão, com protestos generalizados contra a presença americana, marcando o aparecimento de uma nova geração influenciada pelos valores americanos e pela riqueza do "milagre económico" do pós-guerra. Muito desse conteúdo político, muitas vezes fortemente críticos à sociedade japonesa é transmitido através da transbordante sexualidade dos filmes. As duras críticas ao Japão por vezes estendem-se a cenas em que a violação e a violência sexual são usados como metáfora para tudo, desde a presença militar americana até às restrições opressivas da sociedade. 
Mas os filmes de Wakamatsu mostram uma autoria política e formal genuína, e não são simplesmente explorações baratas. Em "Secrets Behind the Walls" ele usa a sexualidade complicada dos seus personagens para expressar a sua ideia sobre a sociedade, e em "Ectasy of Angels" expressa os seus ideias revolucionários. No entanto, isso não o separa do género em que ele está envolvido. O sexo é parte integrante dos seus filmes, assim como do público que se envolve com eles. Wakamatsu é um artista singular, com uma visão singular, mas não é uma excepção neste mundo do Pink.
Nas próximas semanas vamos conhecer uma parte da sua obra. Espero que gostem, vai haver por aqui muita raridade do mundo do cinema.

sábado, 26 de setembro de 2020

Um Clube só para Cavalheiros (The Cheyenne Social Club) 1970

Do nada, um cowboy recebe uma carta inesperada de um advogado desconhecido na distante cidade de Cheyenne, a dizer que acaba de herdar o Cheyenne Social Club, depois da morte do seu antigo proprietário, seu irmão. Ansioso por trocar as paisagens empoeiradas do Texas por uma vida fácil de empresário, John parte numa longa viagem com o seu melhor amigo, Harley. Acontece que o estabelecimento que ele acaba de herdar, não tem a melhor das reputações..
A carreira de Gene Kelly como realizador foi seriamente subestimada no período pós MGM, embora ele tenha sido responsável pela brilhante versão cinematográfica de "Hello Dolly". Toda a sua sagacidade ganha rédeas soltas neste western cómico sobre uma dupla de cowboys que herda um bordel. Mesmo tendo em conta que o assunto é um bordel, Kelly consegue contornar os duplos sentidos e apresetar uma comédia com bom gosto e que não ofende ninguém. Seria o seu último trabalho como realizador. 
Dois actores de peso como protagonistas, James Stewart e Henry Fonda, uma dupla que se manteve amiga durante mais de 50 anos na vida real, e que se reunia aqui pela ultima vez. Claramene um western esquecido, que lembramos aqui neste ciclo.


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

O Comboio das 3 e 10 (3:10 to Yuma) 1957

Dan Evans (Van Heflin), um rancheiro do Arizona que foi prejudicado pela seca, prontifica-se a levar o criminoso Ben Wade (Glenn Ford) de Bisbee para Yuma onde ele irá ser julgado. Acompanhado apenas pelo bêbado da cidade, Alex Potter (Henry Jones), Dan tem que lutar contra o capanga de Wade (Richard Jaeckel), o irmão da vitima do assassino que se quer vingar do criminoso, e também com a tentação de aceitar uma grande recompensa oferecida por Wade, em troca da sua liberdade.
Um filme sob a grande influência do enorme "High Noon", "3:10 to Yuma" tem uma premissa relativamente simples, mas permanece totalmente imersivo devido à concentração nas personagens, principalmente nos mind games psicológicos que um astuto fora da lei joga com todos ao seu redor, para conseguir ser libertado da prisão. O sentimento de total impotência para os cidadões compridores da lei, quando confrontados com homens maus, é abrangente, pois perguntamos se Evans comprometerá as suas virtudes e o senso de dever quando pressionado pelo bandido Wade.
Realizado por Delmar Daves e um argumento adaptado de uma obra de Elmore Leonard, por Halsted Welles, viria a ter um magnifico remake em 2007 realizado por James Mangold, que opunha Russell Crowe a Christian Bale. O filme de Daves não se pode dizer que seja realmente um western esquecido, mas pensei que ficaria bem neste ciclo.

 

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Invasores (The Man from the Alamo) 1953

Em 1836, John Stroud, um dos rebeldes do Texas que estão cercados no Forte Álamo, recebe a notícia de que a sua região foi atacada pelos mexicanos. Ganha um sorteio com outros homens e sai do forte para tentar ajudar a sua família e as de seus companheiros. Ao chegar lá só encontra o filho mexicano de um de seus empregados. A sua casa foi queimada e a esposa e os filhos estão mortos. O rapaz diz-lhe que os responsáveis pelo ataque foram milicianos americanos que se aliaram aos mexicanos contra os rebeldes.
O herói carrancudo e alienado que se tornaria a peça central dos grandes westerns dos anos 50 de Randolph Scott e Budd Boetticher faz a primeira participação provisória neste filme de 1953, disfarçado de Glenn Ford, que, como o único americano a sobreviver ao Álamo, deve suportar acusações de covardia até que tenha oportunidade de provar a sua valentia.
Este exame de covardia e bravura desenrola-se numa narrativa de aventura construída de forma tensa, que Boetticher conta em apenas 79 minutos, embalando o filme com acção e detalhes sobre a personagem para apresentar o seu protagonista de fora convincente. A reputação de Stroud como um covarde também serve como uma metáfora para todos os tipos de preconceitos e vários sinais de "fraqueza" no cruel mundo da fronteira americana. 

domingo, 20 de setembro de 2020

Tempestade na Planície (Thunder Over the Plains) 1953

Em 1869, o Texas ainda não foi readmitido na União. O Capitão Porter (Randolph Scott), um texano, tem de cumprir ordens contra o seu próprio povo. Traz consigo o líder rebelde que sabe que é inocente do assassínio pelo qual ele é acusado. Mas na tentativa de provar a sua inocência, Porter sabe que agora ele é um homem procurado.
Realizado por André de Toth, com a ajuda do seu grande director de fotogafia Bert Glennon, que filmou com nomes tão importantes como John Ford ou Josef Von Sternberg, e que se encontrava prestes a trocar o cinema pela televisão, que filmam para extrair o máximo de realismo e impacto emocional. Aqui, uma cena filmada num bar, parece ter saído de um bar de verdade (pronunciando a técnica de iluminação natural de Clint Eastwood por décadas). 
Para além do excelente elenco, com o lendário Randolph Scott e Lex Baker nos principais papéis, o filme traz consigo uma visão essencial para os fãs dos westerns dos anos cinquenta. Foi uma época conturbada, em que apenas dois estados não tinham sido admitidos de volta na União, depois da Guerra Cívil. De Toth pinta uma cidade tenebrosa, cheia de corrupção, opressão fiscal e crime. 

Falsa Justiça (Silver Lode) 1954

O incansável e versátil pioneiro da era muda que, ao longo de cinco décadas, dirigiu tantos actores, desde Shirley Temple a John Wayne, Allan Dwan floresceu na década de 1950 com uma série de westerns fora de vulgar, de baixo orçamento ainda que menos consistentes do que os de Anthony Mann, Budd Boetticher, ou Andre de Toth, mas tão interessantes. O mais conhecido deles, Silver Lode, de 1954, abre com uma premonição de A Quadrilha Selvagem (a encenação da violência pelas crianças) e prossegue como uma transmutação sem créditos da curta história de Jorge Luis Borges, Ragnarök. 
Liderando os rangers sinistros temos o vingativo Ned McCarthy (Dan Duryea), que interrompe as festividades do 4 de Julho com um mandado de prisão contra Dan Ballard (John Payne), um fazendeiro local, amado e prestes a se casar. As pessoas da cidade em primeiro lugar defendem o acusado, mas, como começam-se a espalhar insinuações, e a busca do protagonista pela verdade torna-se uma caça ao homem, e a fragilidade da justiça na comunidade torna-se incrivelmente clara. 
 Um pesadelo de um dia encenado quase em tempo real, o enganosamente modesto Silver Lode tem um dinamismo e uma criatividade que ultrapassam a apatia de muitos westerns de recursos muito maiores. Feito numa altura em que o western alcançava o pináculo clássico e mostrava os primeiros sinais de quebra de quebra, o filme não esconde um significado político. Com um pequeno script, muito tenso e resistente da autoria de Karen DeWolf, era claramente um ataque ao macarthismo e ao domínio da Mafia. A cena clímax dentro de uma igreja é especialmente notável, com ripas sombrias a caírem, e o brilho da luz nos cantos. (A belíssima fotografia é do grande John Alton.). Dwan capta o sentimento de uma cidade inteira usando apenas alguns cenários bastante simples.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Fuga Sem Rumo (Lonely are the Brave) 1962

Kirk Douglas é Jack Burns, um velho cowboy que enfrenta dificuldades para se adaptar à modernidade. Desempregado, visita uma antiga paixão (interpretada por Gene Rowlands) que se casou com o seu amigo Paul Bondi (Michael Kane). Ao ser informado que Paul foi preso por ajudar imigrantes mexicanos, Jack resolve forçar uma situação para ir para a cadeia para poder rever o amigo. Mas, ao fugir das grades, ele é perseguido implacavelmente pela polícia, comandada por Walter Matthau.
"Lonely are the Brave" é um caso raro e quase único: um western americano de esquerda. Baseado num livro de Edward Abbey, com argumento de Dalton Trumbo, um dos mais famosos perseguidos pelo Macarthismo, e que claramente era um especialista neste tipo de produções. A realização é de David Miller, um realizador também de esquerda, pouco reconhecido, autor de "Executive Action", um filme sobre o assassinato de JFK.
"Lonely are the Brave" é um filme sobre um homem que se contenta com a vida ao ar livre. É o último da sua espécie, o cowboy errante. O problema é que o céu aberto está a desaparecer ao seu redor, onde quer que vá a terra é propriedade de alguém, ou é proibido entrar. Kirk Douglas é o último cowboy, que não consegue perceber que os tempos mudaram, principalmente quando ele tenta resgatar um velho amigo da cadeia, e as coisas se vão complicar. Boas interpretações de Gana Rowlands e Walter Matthau, mas o filme é de Douglas.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Homens Violentos (The Violent Men) 1955

Proprietário de um rancho e ex-oficial do Exército, John Parrish, pensa em vender o seu negócio ao proprietário de Anchor Ranch e mudar-se para longe com a sua noiva. Contudo, o baixo preço oferecido por Lee Wilkenson, proprietário do Anchor Ranch, fá-lo hesitar. Quando um dos seus homens é morto, Parrish decide ficar com o objectivo de lutar. Entretanto, em Anchor Ranch, surgem problemas. A ambiciosa mulher de Lee, Martha, mantém uma ligação com o cunhado. Este, por sua vez, engana-a com uma rapariga da cidade. Um filme cheio de intrigas e traição.
Produzido por Louis J. Rachmil para a Columbia Pictures, este agradável western encontra-se muito esquecido nos dias de hoje. É um western colorido bastante absorvente, dirigido com um toque genuíno por Rudolph Mathé, e com um elenco de estrelas de primeira linha, como Glenn Ford, Barbara Stanwick, Edward G. Rpbinson e Brian Keith. Com esplêndidos valores de produção, tem até uma banda sonora da autoria do lendário Max Steiner.
A premissa convencional de "The Violent Men" é seguida por algum desenvolvimento de personagens interessante e complexo, algumas impressionantemente subtis, outras escandalosamente melodramáticas. A ambiguidade moral do personagem de Ford é equilibrada pelo Wilkinson de Robinson, cuja crueldade é muito bem construida nas primeiras cenas, antes que o personagem faça a sua primeira aparição. Quando aparece, já não merece muita simpatia. 

domingo, 13 de setembro de 2020

O Correio do Inferno (Rawhide) 1951

Tom Owens trabalha como assistente de Sam Todd na distante estação de comboio em Rawhide (Nevada). Um dia chega Vinnie Holt, que carrega o bebé nos braços. Sabendo que uma quadrilha está nas redondezas, Todd e Owens obrigam Vinnie a ficar na estação até ao próximo dia. No entanto, chega à estação um desconhecido chamado Zimmerman, que inicialmente se faz passar por um xerife, mas logo revela-se ser o líder do bando..
"Rawhide" não é um filme de acção, mas um conto psicológico lento com foco nas ansiendades, como por exemplo, como um simples crime pode ser complicado por personalidades imprevisíveis e a presença de uma mãe ferozmente protectora do seu filho. Ameaças são trocadas e planos são forjados, mas a maior parte do filme é focado em personalidades complicadas em modo de sobrevivência. Supostamente foi inspiração para o filme de Tarantino "The Hateful Eight", projectando o mesmo tipo de impasses e a exploração de personalidades, até toda a acção irromper no terceiro acto.
Realizado por Henry Hathaway a partir de um argumento original de Dudley Nichols, o argumentista de "Stagecoach" e de tantos outros filmes de John Ford, tem um excelente elenco estrelado por Tyrone Power, Susan Hayward, e Hugh Marlowe, e também por um excelente naipe de secundários, como Dean Jagger, Edgar Buchanan, Jack Elam e Jeff Corey, 

sábado, 12 de setembro de 2020

Céu Vermelho (Blood on the Moon) 1948

Jim Garry, um cavaleiro solitário, encontra casualmente John Lufton e os seus homens. Lufton teme-o, acreditando que ele é um dos pistoleiros que está a ser recrutado por Tate Riling, um desalmado especulador que cobiça o gado de Lufton. Na realidade Garry e Riling são velhos conhecidos, e agora este pretende contratar pessoas que o ajudem nos seus projetos desonestos.
Depois de alguns grandes trabalhos no campo da montagem, que incluíam "Citizen Kane" e "The Magnificent Ambersons", ambos de Orson Welles, Robert Wise chegou à cadeira de realizador, pela mão do produtor Val Lewton, depois de ter sido chefe dos estúdios de terror da RKO. Estreou-se com "The Curse of the cat People" e "The Body Snatcher", mas depressa mudou para o filme do mundo do crime, em obras como "Game of Death" e "Criminal Court", mas foi com "Born to Kill" que realmente se destacou, um noir maravilhosamente duro e brutal. De seguida ele fez "Blood on the Moon", um título que pode sugerir um regresso ao território da ficção científica, mas que na realidade não tem nada a ver. É um híbrido entre o noir e o western, com os seus tons noir bastante vívidos, e uma personagem central moralmente ambígua, interpretada por um sempre excelente Robert Mitchum.
Wise aproveita ao máximo os espaços fechados e as sombras para criar uma atmosfera sombria, e também beneficia do excelente elenco, que além de Mitchum contava com Barbara Bel Geddes, Robert Preston e Walter Brennan. Um western a descobrir.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

O Homem das Pistolas de Ouro (Warlock) 1959

A cidade de Warlock é atormentada por um gang, levando os moradores a contratarem Clay Blaisdell, um pistoleiro famoso, para interceder como marshall. Quando Blaisdell chega, vem acompanhado pelo amigo Tom Morgan, um jogador que é extraordinariamente protetor da vida e da reputação de Blaisdell. Entretanto, Johnny Gannon, um dos antigos fora-da-lei, oferece-se para aceitar o cargo de xerife oficial por rivalidade com Blaisdell, e uma mulher chega à cidade acusando Blaisdell e Morgan de terem assassinado o seu noivo. O palco está montado para um conjunto complexo de conflitos morais e pessoais. 
Apesar dos seus primeiros filmes lidarem mais com diversas questões sociais, o trabalho posterior de Edward Dmytryk, particularmente as produções de grande orçamento em CinemaScope, muitas vezes apresentavam elementos de injustiça em escala mais épica. "Warlock" lida com os habitantes insignificantes de uma pequena cidade, mas o brilho de uma grande fotografia em widescreen trai um pouco a verdadeira intimidade do drama. A realização de Dmytryk, no entanto, mantém um equilíbrio sólido de ação, tensão constante, e o tumulto de duas linhas de personagens específicos: Henry Fonda com a sua raça de homem da lei contratado, e Richard Widmark a superar a pressão dos colegas, assumindo na comunidade uma vital posição para o benefício da cidade. Adaptado da novela de Oakley Hall, pelo argumentista Robert Alan Authur, este é um western agradável evocando generosamento os conflitos e a ação do incidente de OK Corral, embora por outras palavras. 
O elenco é magnifico, e conta com caras conhecidas, como Richard Widmark, Henry Fonda, Anthony Quinn, Dorothy Malone, e Dolores Michaels.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Aviso à População

 Tenho reparado que atualmente os links ficam "online" muito menos tempo do que anteriormente. Não sei ao certo quanto tempo é, se 6 meses ou mais, mas por causa disso muitos links mais antigos estão offline. 
A minha prioridade é sempre seguir com o blog em frente, postar novos filmes, novos ciclos, por isso se derem de caras com algum link offline deixem mensagem, de uma das seguintes formas:
- ou no post do filme
- ou no chat do blog (é mais fácil)
- ou mandem mail para myonethousandmovies@gmail.com
Eu, ou atualizarei o link, ou envio-vos o filme por mail, sempre que possível. Isto porque há uns tempos tive um problema com o computador, e perdi uma série de filmes, mas ainda tenho a maioria dos filmes que estão no blog, e atualizarei logo.  
O melhor mesmo, é tirarem o filme logo quando ele é postado, e guardarem para vê-lo mais tarde.

Obrigado pela vossa compreensão.


terça-feira, 8 de setembro de 2020

Terror no Texas (Terror in a Texas Town) 1958

Prairie City, no Texas, é uma pequena cidade que tem um "dono", Ed McNeil (Sebastian Cabot). Com a ajuda de pistoleiros, comandados por Johnny Crale (Nedrick Young), McNeil aterroriza a população forçando-os a vender as suas terras, pois sabe que há uma quantidade enorme de petróleo na região. O proprietário Sven Hansen (Ted Stanhope), um sueco que pescara baleias no passado, é assassinado por Johnny, pois não quis vender as suas terras. Logo depois George Hansen (Sterling Hayden), o filho de Sven, chega à cidade e, vendo que o xerife (Tyler McVey) é corrupto, tem como única alternativa agir por conta própria.
Estranho e surreal e único entre os westerns da época. Embora contenha a maior parte dos clichés do género (o xerife corrupto, o magnata ganancioso por terras, o pistoleiro sinistro, o herói vingador), cada cada cliché tem uma variação. A música é bizarra e por vezes parece não encaixar, mas acaba por aumentar a sensação invulgar que temos ao ver o filme. A história está repleta de dilemas morais que lhe conferem uma profundidade surpreendente.
Escrito, sob pseudónimo, por Dalton Trumbo, um dos nomes mais fortemente perseguidos pelo Macarthismo, e realizado por Joseph H. Lewis, um dos mais reconhecidos realizadores da série B, conta-nos uma história bastante directa sobre o bem vs. o mal. Sombras de "Johnny Guitar" são imediatamente evocadas quando Hayden surge na sequência de abertura, empunhando um arpão contra um inimigo invisível, e também vemos Frank Ferguson, que interpretou um xerife no mesmo filme, mas o filme segue por um caminho muito diferente, e com muito entretenimento do inicio ao fim. 

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

O Aventureiro Romântico (The Gunfighter) 1950

Jimmy Ringo é um pistoleiro com fama de "rápido no gatilho". Em 1880, durante uma das suas viagens, decide parar em Cayene, uma pequena cidade do Oeste. E os seus objetivos são nobres: ver o filho e reencontrar o grande amor da sua vida. Ringo é amigo do Xerife da cidade, que o protege da curiosidade dos locais. O problema é que um homem vingativo do seu passado e outros competidores descobrem que ele está na cidade e começam a armar emboscadas e a desafiá-lo constantemente para duelos.
No final dos anos 40 o western começava a crescer. Uma série de filmes, incluindo este "The Gonfighter" traziam uma temática mais complexa e obscura, ao contrário de outros westerns que se baseavam mais em tiroteios. Este filme de Henry King abordava questões bastante relevantes, como o preço da fama e a cultura das celebridades, personificado por Gregory Peck como Jimmy Ringo, um actor muito forte, que gozava do máximo respeito nesta altura da sua carreira, no papel de um rápido pistoleiro cuja fama e reputação lhe trazem muito pouco sossego.
Bob Dylan cantou sobre este filme numa canção de 1986 chamada "Bownsville Girl". Peck disse que este era um dos seus papéis preferidos, um homem em conflito, que tal como Dylan quer mudar a sua identidade e evitar ser preso ou abatido por causa da sua má fama. O que ele realmente quer é encontrar uma mulher e um terreno, para passar os restantes dias no sossego. Foi nomeado para o Óscar de Melhor Argumento Original, com um dos argumentistas a ser André de Toth. 

sábado, 5 de setembro de 2020

O Jardim do Diabo (Garden of Evil) 1954

Três americanos que se dirigem para os campos do Ouro da Califórnia, vão parar a uma pacata vila Mexicana, onde lhes é oferecida a tarefa de seguir uma senhora mas profundezas das montanhas infestadas de índios no México, para resgatar o marido da mulher, preso num desabamento na sua mina de ouro. Pelo trabalho eles recebem 2 mil dólares cada um, enquanto que cada um faz os seus planos para ficar com a mulher, e talvez mesmo a mina de Ouro.
Produzido em 1954 pela 20th Century Fox, foi um dos primeiros filmes em Cinemascope, lançado para atrair o público da TV de volta aos cinemas. O tema da ganância é roubado mais obviamente, embora com muito menos imaginação, a "O Tesouro da Sierra Madre", feito sete anos antes. 
Filmado em exteriores no centro do México, com as montanhas cinzentas para sustentarem o tema austero, tinha uma equipa de produção fabulosa: realização de Henry Hataway, Milton Krasner na fotografia, montagem de James B. Clark, música de Bernard Hermann, e um grande naipe de actores, como Grary Cooper, Susan Hayward, Richard Widmark, Hugh Marlowe ou Cameron Mitchell. Mesmo assim algo correu mal, e o filme caíu no esquecimento com o passar dos anos. Dizem que foi por causa do produtor Charles Brackett cujo nome nem aparece nos créditos.

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

O Rasto da Pantera (Track of the Cat) 1954

Track of the Cat é um western noir. Dirigido pelo lendário William Wellman, perto do final da sua carreira, que tinha começado no período do cinema mudo. O filme é bastante interessante cinematograficamente, porque o background nas cenas ao ar livre é a preto e branco. A única cor visível é a roupa das personagens que se destaca nitidamente contra o fundo. O filme conta a história da rica, mas muito disfuncional família Bridges. Eles são os donos de uma quinta nas montanhas, no noroeste, por volta da passagem para o século XX. 
 Robert Mitchum é a estrela principal como Curt, o irmão do meio de três irmãos. Está obcecado com a idéia de que uma mítica pantera negra se disse estar a vaguear pelas colinas e aparece a cada ano com as primeiras quedas de neve. William Hopper e Tab Hunter são os irmãos, mais velho e mais novo, respectivamente, e Teresa Wright interpreta a irmã. As outras pessoas da casa (ou do filme) são a religiosa mãe sempre a recitar a bíblia, o pai alcoólatra, a namorada do filho mais novo, e o empregado da família, Joe Sam, um antigo e misterioso nativo americano que prevê a aparecimento anual da fera. 
A história começa no início da manhã no primeiro nevão da estação. Os fazendeiros são despertados pela agitação do gado. Quando os filhos se preparam para ir atrás da pantera suspeita, e a mãe prepara o café da manhã, rapidamente se torna evidente o quanto problemática esta família é. O filho mais velho é um seguidor de Joe Sam e está no processo de esculpir um gato como um talismã para afastar a criatura. Mitchum é o "homem" da casa e também cobiça a namorada de Tab. 
 Os pais são personagens muito interessantes. Beulah Bondi, que pode ser vista como a mãe de Jimmy Stewart em "It's a Wonderful Life", é uma personagem completamente diferente aqui. Ela é uma mulher muito dura a citar Bíblia, mas esconde um certro egoísmo bem obscuro. O pai (Philip Tonge) dá uma das melhores representações de alcoólatra já vistas. Bebe, fica feliz, desmaia, acorda e começa tudo novamente. Não tem idéia do que está a acontecer com o resto da família. 
Track of the Cat, de William Wellman tem uma reputação como um interessante western psicológico, sendo um dos favoritos de Martin Scorsese. Wellman tenta aliar uma aventura ao ar livre simbólica com um drama familiar disfuncional e claustrofóbico. O filme de 1954 é baseado em um romance de Walter Van Tilburg Clark, cujo livro mais conhecido, "The Ox-Bow Incident", tinha sido filmado por Wellman, em 1943. Enquanto o filme anterior está mais preocupado com as injustiças sociais, Track of the Cat olha para as injustiças dentro de uma família.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Homem Sem Rumo (Man Without a Star) 1955

Dempsey Rae (Kirk Douglas) é um cowboy sem rumo que faz da sua casa um vagão de carga de um comboio, e fica feliz onde quer que ele o leve, mas a sua amizade com um novato chamado Jeff Jimson atira-o para aventuras que ele nunca teve. Os dois vão parar a uma pequena cidade do Wyoming, onde arranjam trabalho numa quinta, de uma mulher chamada Reed Bowman.
"Man Without a Star" foi um dos primeiros filmes a ser feito pela produtora de Kirk Douglas, criada para lhe oferecer mais oportunidades e melhores papéis de protagonista, pois nesta altura ele era conhecido pelo ego monstruoso que tinha, que de certa forma prejudicava a sua carreira. Para realizar ele escolhia King Vidor, um veterano já com uma carreira notável, que não fazia westerns com frequência, mas quando fazia eram costume ser bons, como era o caso de "Billy the Kid", ou "Duelo ao Sol".  Tanto este como o filme anterior de Vidor, "Rub Gentry", tinham mulheres fortes como protagonistas, neste caso era Jeanne Crain., muito bem secundada por Claire Trevor.   
O tema central do filme é o gradual desaparecimento da liberdade, à medida que o velho Oeste se acomoda e coloca arame farpado nos seus territórios, para marcar as linhas de separação. O personagem de Douglas é um viajante feliz, contente por por ir cada vez mais para o Oeste para fugir destas linhas de separação. 

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Westerns Esquecidos

Chegou ao fim um longo ciclo de 3 meses, feito numa altura em que cheguei a não ter muito tempo, mas com mais ou menos custo, lá chegamos ao fim. O ciclo do Cinema Espanhol no Tempo de Franco era um ciclo que já tinha em mente há alguns anos, mas o qual nunca tive tempo para organizar a 100%. Aproveitei o período do confinamento para o colocar em acção, finalmente. Espero que tenha sido do vosso agrado.
Ao longo destas últimas semanas, pensei alterar a programação, porque normalmente depois de um ciclo mais "pesado", gosto de fazer um mais simples. Tinha pensado fazer um sobre os westerns noir, e comecei a juntar os filmes, mas a certa altura cheguei também a alguns westerns que não tinham a ver com esse tema. Como o tema "westerns noir" já não fazia sentido, resolvi mudar o título do ciclo para "Westerns Esquecidos", porque grande parte deles não são conhecidos do grande público.
Claro que a palavra "esquecidos" é sempre subjectiva, por isso tenham em conta que este ciclo também é subjectivo. Podia chamar-lhe só "westerns", mas tenham em conta que o pano de fundo são os westerns noir. Serão mais de 20 filmes, uns mais esquecidos do que outros, mas espero que gostem. Até já.