sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Pausa

Aconteceu-me uma pequena desgraça com um dos meus discos rígidos. Desapareceram-me uma série de ficheiros, não todo, entre os quais os filmes que estavam programados para este ciclo. O espaço dos ficheiros está ocupado no disco, mas eles não aparecem lá. Ando a tentar resolver isto, mas se alguém tiver alguma pista, mande um mail para myonethousandmovies@gmail.com.

Entretanto, vou ter que fazer uma pausa até ao inicio do ano que vem. Um Feliz Natal e um Bom Ano de 2018 para todos.


segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Fantasporto 1982

Em 2018 vamos prestar uma série de homenagens ao Fantasporto, e provavelmente também a outros festivais, mas, numa série de ciclos, iremos aqui recordar várias edições deste festival, cada ciclo respeitante a um ano, com os filmes dessa edição a passarem aqui no blog. Ao fim de 37 anos este festival continua a ser um dos festivais de cinema fantástico mais importantes da Europa.
O Fantasporto - Festival Internacional de Cinema do Porto teve início em 1981, com uma edição experimental, mas foi em 1982 teve uma edição mais séria, com uma secção competitiva. Neste primeiro ano fizeram parte da selecção oficial 19 filmes, originários de países como Checoslováquia, Jugoslávia, Espanha, França, RFA, Estados Unidos, Polónia, entre outros. Destes 19 filmes, 14 irão passar neste ciclo do My Two Thousand Movies, ficando de fora apenas 5 por serem muito raros e serem impossíveis de se encontrar na internet.
Para tornar este "festival online" ainda mais realista, teremos um Júri que irá avaliar os filmes 37 anos depois. Será que o vencedor sería o mesmo? Vocês próprios podem ser júris, entrando no Grupo do Facebook do M2TM. 
Mais para a frente, em 2018, irão ser recordadas outras edições do festival, em cada ciclo respectivo. Por agora, preparem-se para a primeira edição do Fantasporto Online. Até já.

domingo, 17 de dezembro de 2017

Criadores de Stop-Motion: Jirí Barta

Jirí Barta é um realizador de stop-motion checo. Os seus filmes, muitos dos quais usaram madeira para fazer animação, obtiveram aclamação da crítica e ganharam muitos prémios, mas depois da queda do governo comunismo na Checoslováquia ele não conseguiu completar nenhum filme no espaço de 15 anos (uma situação parecida com o que viveu na Rússia Yuriy Norshteyn). Ao longo dos anos 90 tentou arranjar fundos para um filme chamado the Golem (que pode ser visto online), mas até agora só conseguiu completar um curto piloto em 1993.
Hoje vamos conhecer alguns dos seus trabalhos mais famosos.

O Flautista (Krysar) 1986
 O realizador Jiri Barta criou dezesseis bonecos com cascas de nozes e cento e setenta cenários em estilo gótico para recontar essa lenda do norte da Alemanha: a história de um flautista que consegue livrar uma rica cidade de seus indesejáveis ratos. Mas, quando os Conselheiros se recusam a pagar a quantia combinada, ele toca a sua flauta e atrai todos os cidadãos para fora da cidade. "Krisar" ganhou, em 1987, os prêmios dos festivais de Chicago, Espinho e Bilba, e concorreu no Fantasporto de 1987.
É uma média metragem, e não tem diálogos.
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The Last Theft  (Poslední Lup) 1987
Uma história sarcástica sobre um ladrão que se torna vítima das suas próprias vítimas. As suas vítimas veem do outro mundo, e levam-lhe o seu bem mais precioso, o sangue. A atmosfera fantasmagórica do filme é conseguida é conseguida através de animação artificial de colorização no filme. O estilo de Barta permanece sempre vanguardista, sem diálogo, sem qualquer localização geográfica, e uma história que testa a nossa capacidade de atenção.
Curta metragem que ganhou dois prémios importantes, nos festivais de Krakow e Valladolid.
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The Club of the Laid Off (Klub Odlozenych) 1989
Velhos manequins passam o resto das suas vidas quebrados e rachados num armazém velho e abandonado.  Novos manequins são trazidos para o armazém. Também estão velhos, mas são de uma geração mais nova. Os dois grupos têm de conviver um com o outro, o que não será fácil.
Uma grande curta, reminiscente de Svankmajer, com grande animação e uma óptima atmosfera decrepitada muito requintada. Um choque entre o passado e o presente, e a inevitável permutação dos dois.

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Toys in the Attic (Na pude aneb Kdo má dneska narozeniny?) 2009
Num sótão cheio de lixo uma bonita boneca chamada Buttercup, vive num velho baú com os seus amigos: uma marioneta chamada Sir Handsome, o adorável Teddy Bear, um rato mecânico, e uma criatura de plasticina chamada Laurent. Quando Buttercup é raptada e levada para a "Terra do Mal" os seus amigos começam uma aventura para a resgatar.
Quando vemos esta obra-prima em stop-motion de Jirí Barta percebemos que não há uma quantidade de dinheiro que possa substituir o talento de um visionário com uma história inteligente, uma equipa dedicada, e um sótão cheiro de poeira e lixo.
É uma longa-metragem e tem legendas em inglês.
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sábado, 16 de dezembro de 2017

Um dia de Verão Soalheiro (Gu ling jie shao nian sha ren shi jian) 1991

"Épico em extensão mas não tanto em dimensão, este retrato subtil e rico de Taiwan assinado por Yang encaixa tantos pormenores na sua aparentemente breve duração de quatro horas que admira que o filme tenha saído tão curto. Passado em Taipei no princípio da década de sessenta, durante um único ano lectivo, "Um dia de Verão Soalheiro" mostra um país que ainda estava de ressaca por causa do influxo de nacionalistas chineses (liderados pelo repressivo Chiang Kai-shek). A Taiwan de Yang está dividida entre comunismo e democracia, nacionalismo e liberdade, com confusão, alienação e incerteza, conduzindo a uma desorganização por vezes debilitante. 
Por mais rigoroso que seja este filme, Yang infunde-o com toques de humor e humanismo que compensam a atmosfera angustiante de tragédia iminente. A realização é paciente e serena; o filme é como uma grande sinfonia de dezenas de personagens cujo tom e ritmo são habilmente orquestrados por Yang. Preferindo planos longos, estáticos ou lentos a grandes planos, Yang dá ao elenco grande liberdade para explorar as suas emoções (ou aparente ausência delas), representando para a história e para os outros, não apenas para a câmara; ainda assim, é óbvio que Yang quer que o filme seja tanto sobre lugares e coisas específicos como sobre pessoas. Não admira pois, que o filme revele factos e situações com o cuidado, planeamento e deliberação de um grande romance.
Tampouco surpreende o peso emocional da conclusão trágica do filme, o resultado do rigoroso design narrativo de Yang (por sua vez o resultado de quatro anos de preparação) que consegue entrelaçar a história das gangues de rua de Taipei, amor adolescente, rock and roll, valores culturais perdidos e a busca de uma identidade nacional. Embora frequentemente comparado com o clássico melancólico Fúria de Viver, de Nicholas Ray, "Um dia de Verão Soalheiro" é muito mais do que isso. Uma obra-prima da Nova Vaga de Taiwan, e um ponto alto do cinema do final do século XX, este é um filme cuja percepção de tempo e lugar é magistral, ultrapassando quase o domínio da mera narração. É como um álbum de fotografias multifacetado, composto por fotos verdadeiramente comoventes, que convidam à reflexão."
 Texto de Joshua Klein

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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

A Cidade da Tristeza (Beiqíng chéngshì) 1989

"Há duas histórias diferentes para relatar. Uma é a maravilhosa história que acontece por vezes, algures, na maior parte dos casos de forma imprevisível: a ascensão de uma Nova Vaga, de um movimento artístico num país, e a emergência de um ou dois (raramente mais) cineastas excepcionalmente talentosos. Acontece isso com o movimento do Novo Cinema, nos anos 80, em Taiwan, e um dos realizadores mais dotados que apareceram na altura foi Hsiao-Hsien Hou. Começou por fazer filmes pessoais, autobiográficos, que revelaram o seu sentido de ritmo, a intensidade física dos seus planos, a força sugestiva, à primeira vista indiferente, como filmava até as mais simples situações. 
Há também uma segunda história, que diz respeito ao momento inevitável em que uma nação precisa do seu cinema para contar a si própria e ao mundo o seu percurso - revelar, por assim dizer, a sua autobiografia colectiva. Em 1989, o desaparecimento da ditadura militar que governou a ilha durante 40 anos, deu aos cineastas uma oportunidade para contar a história recente de Taiwan.  E é isto que Hou, o "autor vanguardista subjectivo", decidiu fazer (e aquilo que continuaria a fazer com o "Hsimeng Jensheng" e "Haonan Haonu"). "Beiqing Chengshi", que foi claramente reconhecido no seu país como um grande passo em frente na capacidade do cinema para olhar, finalmente, para o passado recente de Taiwan, constitui um momento de viragem - um facto que também permitiu que o filme se tornasse num grande sucesso junto do público.
Uma mistura de fresco histórico e filme moderno, a complexa estrutura narrativa de  Beiqing Chengshi (baseada nas vidas intrincadas de quatro irmãos) e a enorme quantidade de informação histórica que inclui transmitem uma sensação emocional e estética do período, os sentimentos individuais e colectivos, as reivindicações das diversas comunidades a que cada irmão pertence, queira ou não queira. Beiqing Chengshi não é só uma obra-prima. É um exemplo para todos os filmes que pretendem mostrar os principais acontecimentos de um país, e acabam, em vez disso, por se tornar quase sempre monumentos enfadonhos."
Texto de Jean-Michael Frodon

Parte 1
Parte 2
Parte 3
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segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Os Terroristas (Kong bu fen zi) 1986

Uma jovem escapa de um cerco da polícia. Sentindo-se oprimida e com a sua vida destruída, começa a irradiar as suas perturbações através de telefonemas anónimos. A partir daí, três histórias paralelas começam a se encaixar. O quebra-cabeças envolve, além da jovem terrorista, uma testemunha que fotografa os acontecimentos e um casal em crise.
Um filme profundo e onírico de histórias paralelas, sombrio, confuso e enigmático, onde tudo é magistralmente combinado. Edward Yang co-escreve o argumento com Hsiao Yehand, e cria uma atmosfera intensa, raramente vista num filme americano, que tem algo desagradável a dizer sobre a vida na grande cidade de Taipei, sobre aprender lições da vida da forma mais difícil, através da amarga experiência, que é possível ser terroristas sem realmente o perceber, e muitas vezes a nossa vida não corre tão bem como na ficção. Tudo termina como uma nota de ambiguidade, deixando-nos a nós descobrir se tudo o que realmente aconteceu era um sonho ou uma ficção. Para Yang pouco importa, para ele os personagens envolvidos perderam o equilíbrio e o seu lugar no mundo. 
O ambiente e a estrutura do filme, na forma como estuda a vida na sociedade, é bastante semelhante a um filme de Antonioni. Mostra um país que perdeu o seu equilíbrio espiritual, e está a sofrer de um enorme crescimento económico.Yang usa a movimentada paisagem urbana de Taipei como o terror eminente que confronta os cidadãos. É um olhar moderno sobre a forma como os habitantes da cidade, de todos os sectores da vida, se enganam em acreditar que o seu crescente conforto material tornou a sua vida muito melhor.  
 "The Terrorizer" é talvez a descrição de Yang mais desenvolvida sobre a modernidade urbana. Recebeu um prémio no Festival de Cinema de Locarno de 1986, e foi considerado o "filme mais original do ano" no festival London Film Festival, em 1987. Dos filmes deste ciclo é talvez o mais modernista, e o mais parecido com os filmes de arte europeus, que sem dúvida o influenciaram. Antonioni, por exemplo, é uma influencia óbvia e admitida pelo realizador. 

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domingo, 10 de dezembro de 2017

Poeira no Vento (Liàn Liàn Fengchén) 1986

Ah-Yuan e A-Yun são ambos da pequena cidade mineira de Jio-fen. Durante o dia Ah-Yuan é um estagiário e de noite vai para a escola, enquanto que A-Yun trabalha como ajudante de um alfaiate. Todos acham que eles foram feitos um para o outro, inclusive eles próprios. Contudo, o que não percebem é que não se pode controlar nem o tempo, nem o destino.
Um trabalho um pouco esquecido na filmografia de Hou Hsiao-Hsien, "Dust in the Wind" é o seu terceiro filme na trilogia sobre a adolescência, da qual fazem também parte "Um Verão com o Avô", e "Tempo Para Viver, Tempo Para Morrer", e é baseado nas memórias de infância do argumentista Wu Nien-Jen. É um filme que se apresenta como um tratado de um sociólogo, e uma meditação sombria da sociedade urbana de Taiwan, incluindo críticas severas ao sistema militar do país. 
O filme deixa mensagens visuais profundamente impressionáveis que ficam na nossa cabeça até bastante tempo depois do visionamento. Há imagens cintilantes de um pedaço de poeira, a soprar no túnel do comboio que eventualmente revela uma luz no final do túnel vindo de um comboio de passageiros que se aproxima, um ritual budista em frente a um oceano, e silhuetas de soldados contra um céu escurecido. 
Um solo de guitarra acompanha ocasionalmente o silêncio, infletindo no filme uma sensação de melancolia, ao mesmo tempo que preserva esses preciosos momentos no tempo.  

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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

História de Taipei (Qing mei zhu ma) 1985

Lung, um ex-membro da famosa equipa de basebal Little League, trabalha agora como operário numa velha fábrica de tecidos. Apesar do tempo que já passou, ele é incapaz de deixar para trás as memórias das glórias do passado. Um dia, ao reencontrar Ah-chin, um antigo parceiro de equipa que agora é taxista, vai acabar por revirar factos do passado ao falarem sobre a actual mulher de Lung, ex-namorada de infância do amigo. 
No seu segundo filme, Edward Yang escolheu o título em inglês "Taipei Story" para fazer eco na famosa obra prima de Ozu, mas os dois filmes não podiam ser mais diferentes. Enquanto Ozu puxa pelo espectador, convidando-o a simpatizar com os seus personagens, Yang mantém a audiência longe emocionalmente. Tsai Chin e Hou Hsiao-Hsien (o famoso realizador, numa das suas poucas aparições como actor) interpretam Lung e Ah-chin com uma tal reserva num cenário tão austero, que parece que Yang está literalmente a sufocar todo o oxigénio do filme. 
Em "Taipei Story" Yang retrata um mundo muito distante da imagem habitual de Taiwan, caracterizada por um crescimento económico ininterrupto, com harmonia e progresso para qualquer sector da população. As décadas do pós-guerra, particularmente a partir da década de setenta em Taiwan, certamente foram de rápida industrialização, mas tudo isto foi acompanhado por um enorme conflito de classes, e crise. 
Yang, um contemporâneo de Hou, fez apenas sete longas-metragens antes da sua morte por cancro. O trabalho dos dois realizadores foi moldado pelos duros anos da ditadura anticomunista em Taiwan, e de um ponto de vista geralmente oposicionista e dissidente. Alguns criticos sugeriram que "Taipei Story" era uma exposição da classe média taiwanesa, mas Yang responde atribuindo tragédias pessoais às próprias mudanças.

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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Tempo Para Viver, Tempo Para Morrer (Tóngnián wangshì) 1985

"Taiwan nos anos 50: a vida de Ah Xiao, uma criança, é uma sequência, aparentemente interminável, de jogar aos berlindes, correr atrás dos colegas, e ouvir os planos da avó que planeia voltar para a China Continental. Depois de um primeiro e traumatizante contacto com a morte, porém, a vida torna-se mais sombria, e o rapaz transforma-se num adolescente violento, apanhado entre sentimentos de dever filial e a necessidade de afirmar o seu valor entre os bandos de rua.
Em muitos aspectos, o filme autobiográfico de Hou Hsiao-Hsien acerca da entrada na idade madura marca um claro avanço sobre a sua obra anterior, "Um Verão com o Avô" (1984). A película abriu caminho para "Beiqing Chengshi" (1989) e a sua estrutura narrativa mais complexa, com o seu uso de análise de uma personagem individual para explorar as dinâmicas da sociedade taiwanesa num determidado momento. Aquilo que dá forma à infância e adolescência de Ah Xiao é uma comunidade insegura acerca da sua identidade e futuro, desde a sua separação do continente comunista, despoletando emoções contraditórias, que podem potencialmente conduzir à delinquência e crime, ou, como no caso de Hou, a uma idade adulta mais realizada. A direcção de "Tempo Para Viver, Tempo Para Morrer" é não-enfática, mesurada, reflectiva, ao estilo de Ozu, tomando mais poderosos os paroxismos de uma emoção excruciante quando eventualmente se lhes é permitido incendiar o grande ecrã. O filme é um trabalho de assinalável maturidade, desenvoltura e clareza". GA   
Entre os vários festivais que participou, conta-se o Festival de Berlim, onde venceu o Forum of New Cinema.

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segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Um Verão com o Avô (Dong dong de jiàqi) 1984

Quando dois jovens irmãos, rapaz e rapariga, passam um verão crucial longe de casa, mudam para sempre. Ting-Ting e Tung-Tung são filhos da cidade, mas quando a mãe fica doente, são obrigados a deixar Taipé para trás para passar o verão com os avôs, no interior. À medida que os dias passam, o mais velho, Tung-Tung, começa a perceber o que é ter responsabilidades, e que está a crescer lentamente para se tornar num adulto. 
Uma espécie de sequela para o seu "The Boys from Fengkuei" (1983), o filme que trouxe Hou Hsiao-Hsien para a ribalta, é uma deliciosa captura da inocência infantil, por um rapaz e a sua irmã mais nova, enquanto visitam os avôs nas férias do Verão. É o primeiro filme de Hou sobre a trilogia da "coming-of-age", que mais tarde incluiria mais dois filmes, "A Time to Live, a Time to Die" (1985) e "Dust in the Wind" (1986). Para estes dois jovens que sempre viveram na cidade, esta viagem permite que conheçam as crianças da aldeia, que se banham à luz do Sol, escalam árvores e nadam no rio, actividades que não são habituais nos jovens da cidade.
Ao manter um diário, Tung-Tung revela os seus pensamentos internos sobre as férias do Verão, o drama que desenvolve com os seus familiares, e as preocupações com a sua mãe doente no Hospital. Todos estes acontecimentos passam de vez em quando pelo filme, numa posição reflexiva que nos diz da posição da criança amadurecida as alegrias e os perigos de crescer, embora nem todas as coisas façam sentido para ele. 
"A Summer at Grandpa's" mostra Hou na sua forma mais gentil, mas também sentimos isso nos dois filmes seguintes, onde ele cria uma narrativa maior, com lívidas lembranças e experiências de infância, que proporcionariam um contraponto para os seus filmes seguintes.

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domingo, 3 de dezembro de 2017

The Sandwich Man (Er zi de da wan ou) 1983

As primeiras evidências de que a nova vaga de Taiwan compreendia um movimento coerente chegou com duas antologias sobre a sociedade taiwanesa contemporânea. "In Our Time (1982), que já vimos neste ciclo, apresentava quatro curtas metragens por quatro realizadores diferentes, que mais tarde se distinguirão, incluindo Edward Yang. No ano seguinte, chegava-nos outra antologia, chamada "The Sandwich Man", que vai muito mais além na forma como aborda a vida taiwanesa, e constitui um avanço na utilização de técnicas cinematográficas inovadoras para explorar problemas contemporâneos. 
Baseado em histórias de Chun-ming Huang, "The Sandwich Man" uma antologia em três partes que revela a influência do movimento da literatura rural cada vez mais influente de Taiwan, procurando preservar histórias do passado agrário do país, e traçando o modo como a urbanização tem impacto sobre a sociedade taiwanesa. Hou Hsiao-Hsien, e outros realizadores da nova vaga de Taiwan estão profundamente  atraídos por histórias e ambientes rurais, que eles usam para capturar a singularidade e a especificidade da experiência de Taiwan, bem com o os aspectos das suas próprias histórias de vida.
Nesta antologia, as três histórias exploram a sociedade taiwanesa dos anos 60 para retratar alegoricamente o desenvolvimento económico da ilha, e os custos humanos que o desenvolvimento da ilha implica. Os filmes combinam realismo critico com as técnicas estéticas modernas, tentando usar o cinema para explorar os problemas actuais, e desenvolvendo um novo estilo cinematográfico para fazê-lo. 
Legendas em inglês. 

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sábado, 2 de dezembro de 2017

Os Rapazes de Fengkuei (Feng Gui Lai de Ren) 1983

Ah-Ching e os seus amigos acabaram de terminar a escola no sitio onde vivem, uma ilha de pescadores, e passam a maior parte do tempo a beber e a brigar. Decidem partir para a cidade grande em busca de trabalho, mudam-se para um apartamento e todos têm que encarar as dificuldades de se viver numa realidade diferente da que cresceram. 
Para introduzir-mos Hou Hsiao-Hsien neste ciclo, nada melhor do que o filme que o introduziu como "auteur". "The Boys from Fengkuei", também conhecido em várias partes do mundo como "All the Youthful Days", é um filme notável, um raro clássico que também era uma declaração de intenção artística por um cineasta que até então só fazia filmes de género, de estúdio. Sendo a fonte principal desta Nova Vaga do cinema tailandês, Hou chama a atenção por um estilo e estética que estão associados ao realismo natural, com shots longos e amplos, uso de filmagens em exteriores e a utilização de actores não profissionais, além de algumas referencias a Ozu para interpretar o modo de vida em Taiwan. 
Há uma vibração juvenil que atravessa o filme, uma sensação de despreocupação que no entanto está afectada pela realidade de Taiwan, que se moderniza gradualmente. A realidade de que a vida está cheia de incertezas, e de que é preciso trabalhar para sobreviver, tanto no sentido físico como psicológico, que é tratado com bastante positividade por Hou, que nos envolve com histórias humanas que não são diferentes de grandes obras neorelistas de obras de realizadores como Roberto Rosellini ou Vittorio de Sica. 
A acção desenrola-se entre dois cenários, a aldeia portuária de Fengkuei, de onde os jovens são originários, e a urbanização de Kaohsiung, para onde eles vão viver. É uma experiência nova para eles, e através dos seus olhos testemunhamos não só a beleza (e feiura) de viver na Taiwan dos anos oitenta, mas também nos trás a evocação de tempos que nunca mais voltarão atrás. 

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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

That Day on the Beach (Hai tan de yi tian) 1983

Duas amigas que não se veem há mais de trinta anos, encontram-se. Uma é uma pianista de concertos de sucesso, que regressou de uma tournée na Europa, e a outra acaba de começar um novo negócio. 
Um drama sério sobre uma família perturbada é o filme de estreia do realizador taiwanês Edward Yang, que o co-escreveu com  Nien-Jen Wu. Yang está creditado por ter iniciado a Nova Vaga do cinema de Taiwan com esta sua primeira obra, mas se for bem analisado é um filme demasiado longo, e inclui basicamente material de uma soap opera. Através do uso de constantes flashbacks com revelações sobre a vida familiar, amantes secretos, e mudanças constantes na forma como os personagens principais se comportam ao longo dos anos, parece ser um filme mais profundo do que realmente é.
Ainda assim, é uma primeira obra impressionante sob qualquer padrão. A história é simples, mas a forma como é contada é complexa, e isso é o que permite transcender o género do melodrama. Yang constroi uma narrativa fraturada sobre a dissolução de um casal burguês, que vive na cidade de Taipei.  O acto da comunicação e revelação libertam as suas personagens femininas de ficarem aprisionadas pelos seus respectivos passados e atormentadores masculinos.  
Edward Yang faleceu com uma curta idade de 59 anos, deixando o mundo com os seus filmes que retratam a realidade do seu país de uma forma honesta, e com humanismo. 
Legendas em inglês.

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