sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O Quimono Misterioso (The Crimson Kimono) 1959



Samuel Fuller adorava agitar as coisas. Ele fez muitos filme de baixo orçamento em que abordava assuntos difíceis, assuntos polémicos, e escreveu, produziu e dirigiu-os com uma combinação de intensidade crua e inteligência que raramente foi conseguida por outros realizadores. The Crimson Kimono (1959) é uma tal jóia, um fio policial urbano que na verdade é sobre o reverso do racismo (se é que existe tal coisa). 
Dois policias de LA, Charlie (Glenn Corbett) e Joe (James Shigeta), são designados para investigar o assassinato de uma stripper. São velhos amigos da guerra, mas no decurso do trabalho de detetive ficam caídos pela mesma mulher, Christine (Victoria Shaw). Quando Christine corresponde mais a Joe do que à personalidade machista de Charlie, este fica com raiva e inveja. Joe, um japonês-americano, toma os ciúmes do amigo como sendo racismo, e isto irá testar a relação entre os dois.
No seu livro de memórias chamado "A Third Face", Fuller contou como o chefe da Columbia Pictures, Sam Briskin, estava preocupado com os aspectos raciais da história. Briskin queria que o personagem de Charlie fosse mais um "filho da puta". Fuller resistiu: "A rapariga escolhe o tipo japonês porque ele é o homem certo para ela, não porque o homem branco é um filho da puta. A idéia do meu filme é que os policias são bons homens e bons cidadãos. A rapariga acontece apaixonar-se...pelo japonês. Eles têm química ". 
No final, Fuller levou a idéia dele avante. Como escreveu no livro de memórias, "Eu tentava fazer uma história de amor triangular não convencional, preenchida com racismo às avessas, uma espécie de mentalidade estreita que é tão deplorável como o fanatismo sem rodeios. Eu queria mostrar que os brancos não são os únicos susceptíveis a pensamentos racistas."
The Crimson Kimono é um exemplo clássico da arte inquieta de Fuller. Ao contrário da sua incursão anterior na cultura japonesa, House of Bamboo (1955), que era uma filme colorido,  totalmente filmado no Japão, este era a preto e branco, e filmado nas zonas baratas de Los Angeles. Mas, enquanto "House of Bamboo" era um filme com pouca vida, The Crimson Kimono está repleto de idéias semi-acabadas e floreios estilísticos. A narrativa de Fuller nem sempre é coerente, mas tem uma vontade de atirar as coisas para o público, tornando-se em algo divertido de se ver.
Os dois actores principais, Corbett e Shigeta, nunca tinham participado num filme antes, mas ambos têm excelentes interpretações. Os espectadores de hoje podem não perceber como as cenas românticas de Shigeta com Shaw foram revolucionárias. Havia uma grande abundância de filmes sobre romances inter-raciais, mas não era comum ver um filme que contava com um homem asiático-americano e uma mulher branca americana juntos. Curiosamente, Fuller pinta um retrato de Los Angeles em que os asiático-americanos e os americanos brancos se misturam livremente, o maior obstáculo para a relação de Kojaku com Christine é a lealdade de Kojaku para com o amigo, e os seus próprios sentimentos de perseguição. 

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