domingo, 31 de março de 2019

John Ford - Antes da Guerra

John Ford, o icónico realizador americano, é hoje mais conhecido pelos seus westerns, embora nenhum dos filmes que lhe valeram o Óscar de Melhor Realizador - "O Denunciante" (1935), "As vinhas da Ira" (1940), "O Vale era Verde" (1941), "O Homem Tranquilo" (1952), - sejam deste género. Os seus filmes, quer sejam westerns ou não, eram notáveis por um ideal de masculinidade americana na viragem do século 20 - leal, autodepreciativo,  mas competente. Por causa da sua popularidade (assim como na popularidade de muitos actores que Ford ajudou a criar) e a habilidade que ele trouxe para a criação, os seus filmes tiveram uma poderosa influência na concepção do cinema americano, da sua própria história e valores.
Nascido em New England, filho de pais imigrantes irlandeses, começou a trabalhar no cinema na era do cinema mudo, como assistente do seu irmão Francis, actor e realizador. No final desta era, já tinha realizado mais de 60 filmes, muitos deles estão hoje perdidos, e depressa provou ser capaz de satisfazer as espectativas dos produtores e do público, ao mesmo tempo que acrescentava pequenos detalhes, fossem eles corajosos ou sentimentais, que dávamos seus filmes uma dimensão humana extra, que muitas vezes faltava a outros realizadores da época.
Depois vieram os talkies. Ford voltou a fazer mais de 60 filmes até à sua morte, em 1973. As coisas mudaram um pouco com a apresentação deste formato, o cinema sonoro era um formato que introduzia uma tensão entre o narrador visual e o poeta sentimental irlandês, que era Ford. Os estilos de interpretação envelhecem mais rapidamente do que a mecânica visual, e as obras de Ford mais conceituadas na altura, como as que referi no inicio do post, passam a ser menos valorizadas do que os westerns.
Este ciclo vai apanhar a história do realizador no período do inicio do cinema falado, e acompanha-o até ao momento em que ele partiu para a guerra, um período glorioso em que Ford ganhou 3 Óscares de Melhor Realizador. 12 anos, 27 filmes, muitos deles bastante difíceis de serem encontrados, mesmo na internet. Espero que apreciem este ciclo, já a partir de amanhã.



Esta será a sequência dos filmes que poderão ver por aqui, já anunciada antes:
- Born Reckless (1930) *
- Men Without Women (1930)
- Up the River (1930) +
- Arrowsmith (1931)
- Seas Beneath (1931)
 - Doctor Bull (1933) *
- Pilgrimage (1933)
- Judge Priest (1934)
- The World Moves On (1934) *
- The Lost Patrol (1934)
- Steamboat Round the Bend (1935)
- The Informer (1935)
- The Whole Town´s Talking (1935)
- Mary of Scotland (1936) +
- The Plough and the Stars (1936)
- The Prisioner of Shark Island (1936)
- Hurricane (1937)
- Wee Willie Winkie (1937)
- Four Men and a Prayer (1938)
- The Adventures of Marco Polo (1938) +
- Drums Along the Mohawk (1939)
- Stagecoach (1939)
- Young Mr. Lincoln (1939)
- The Grapes of Wrath (1940)
- The Long Voyage Home (1940)
- How Green Was my Valley (1941)
- Tobacco Road (1941)
* legendas em inglês
+ legendas em espanhol

The Tribulations of Balthazar Kober (Niezwykla Podróz Baltazara Kobera) 1988

Balthazar Kober (Rafal Wieczynski) é um jovem que se aventura pela Alemanha assolada pela peste do Século XVI. Possuído com poderes mágicos, o jovem Balthazar pode invocar o Anjo Gabriel ou a sua falecida mãe (interpretada por Emmanuele Riva). O herói é ajudado por um sábio filósofo
(Michael Lonsdale) que guia o viajante órfão enquanto viaja. A história é tirada de um livro do autor francês Frederick Tristan.
A história leva-nos a uma sociedade tumultuosa, onde a alfabetização e a divulgação de novas ideias ameaçam a ordem estabelecida. O nosso herói persegue uma mulher no submundo, num reverso da lenda de Orfeu, e é perseguido por um agente que parece não ser desde mundo. Com todos os bons contadores de histórias, Wojciech Has nunca explica tudo, mas a linda fotografia do filme a cores, e o perfeito senso do ritmo acompanha-nos na jornada de Kober.
O realizador Wojciech Has era conhecido por ter uma personalidade altamente individual, evitando condicionamentos políticos ou comerciais. Era um autor independente, e embora os seus melhores filmes tenham sido criados durante o auge da "escola polaca", continuou a fazer grandes filmes nas décadas seguintes. Devido à singularidade da sua linguagem, foi muitas vezes considerado um visionário dentro da filmografia polaca. "The Tribulations of Balthazar Kober" era o seu derradeiro filme, realizado 12 anos antes da sua morte.  Foi nomeado para o Leão de Ouro do Festival de Veneza, mas o grande vencedor desse ano seria Ermanno Olmi.
Legendas em Inglês.

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sexta-feira, 29 de março de 2019

O Diabo (Diabel) 1972

Filme anteriormente banido na Polónia, a segunda longa metragem de Andrej Zulawski é passada durante a sangrenta invasão prussiana da Polónia, onde uma figura satânica vestida de preto
(Wojciech Pszoniak) liberta Jakub (Leszek Teleszynski), preso por conspiração por assassinar o rei, em troca de uma lista dos colegas de Jakub conspiradores. Viajando por uma paisagem de neve, fogo, infernal e devastada pela guerra, com uma freira refém, e essa figura diabólica a reboque, Jakub encontra a sua família, amigos, e entes queridos ou mortos ou loucos.
Um épico de cerca de duas horas cheio de sexo, sangue e histeria, este filme é um Zulawski "vintage". As interpretações exageradas não são tão exageradas como a incorporação de estados emocionais. Disfarçado como um filme de época sobre a invasão prussiana, os críticos perceberam que na verdade era um comentário político de Zulawski sobre a Polónia em que o realizador tinha crescido. Consequentemente, o filme foi banido durante mais de 17 anos no seu país natal, tendo estrado finalmente já nos anos 80.
Visto hoje, é óbvio que Zulawski está a tentar criar um retrato de um mundo que está a enlouquecer, visto através dos olhos de um homem que encontra horror e degradação em todos os lugares por onde passa. O estranho leva Jakub numa visita guiada à devastação que se tornou a sua vida, e pede a Jakub que nela mergulhe e lhe dê algo em troca. É obvio, também pelo título do filme, que o estranho é um demónio metafórico que segue no ombro de Jakub.

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quinta-feira, 28 de março de 2019

A Honra Perdida de Katharina Blum (Die verlorene Ehre der Katharina Blum) 1975

Katharina Blum é uma jovem ingénua que trabalha como governanta. Numa festa de carnaval conhece Ludwig Götten, um desertor procurado pela polícia. Sentem-se mútua e irresistivelmente atraídos e passam a noite juntos no apartamento dela. Na manhã seguinte aparece a polícia, mas Götten consegue fugir. A partir desse momento, Katharina é considerada suspeita ante as forças policiais sem saber muito bem de quê…
No início da década de 70 a Alemanha enfrentou uma vaga de terrorismo perpetuada por 6 anarquistas que roubaram bancos e raptaram industriais. A nação respondeu aprovando leis e restringindo a liberdade, dando poderes que permitiram à polícia abusar dos direitos civis enquanto erradicava o elemento anti-social. A imprensa alemã tornou-se numa grande aliada da polícia na desacreditação de indivíduos que eram suspeitos destas associações, ou possíveis anarquistas. Provou-se em pelo menos uma ocasião que a imprensa acidentalmente reportou um raid antes que este realmente acontecesse, uma confusão idêntica à que aconteceu no filme radical, "Z".
"A Honra Perdida de Katharina Blum" é um filme ousado de Volker Schlöndorff e Margarethe von Trotta, é uma história fictícia do escritor Heinrich Böll a acusar a policia e a imprensa de instigarem a violência. A pobre Katharina Blum é culpada apenas de se apaixonar, e o criminoso de que ela é amiga é apenas um desertor que roubou fundos oficiais. Mas na cultura policial enlouquecida pelo terror do seu país ele é perseguido como um terrorista, um rótulo conveniente que permitem que as autoridades o procurem e o prendem, o detenham e assediem, sem limites.
Muito bem realizado e interpretado, "A Honra Perdida de Katharina Blum" é um filme que supostamente colocou os seus criadores na mesma lista do que as pessoas como a fictícia Blum. A protagonista Angela Winkler está particularmente bem, ingénua o suficiente para ser simpática e dura o suficiente para não entrar em colapso sob pressão. Era um desafio angustiante que coincide com a morte da sua mãe, uma perda que a esmagou, mas que também a deixou livre para defender a sua "honra" da melhor maneira que sabe. 

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quarta-feira, 27 de março de 2019

No Trilho da Droga (Drugstore Cowboy) 1989

Em Portland, Oregon, no início dos anos 1970, Bob (Matt Dillon) é um viciado que sustenta a sua necesidade por drogas assaltando farmácias e drogarias, levando todos os medicamentos. Supersticioso, decide largar a vida de crimes depois que um dos membros de sua gangue morre.
Apesar de o período em que se passa a história ser o mesmo em que se desenrolava a Guerra do Vietnã, não há qualquer menção ao fato, porque Bob e sua turma estão completamente deslocados da realidade, e, apesar disso, desse não estar nem aí para a realidade. Para Bob, a sua vida de junkie é o que há. Ele não consegue enxergar outra vida além dessa. Não há julgamento moral: Bob é o que é e pronto. Assim, somos testemunhas de seu processo de reabilitação, na tentativa de deixar de ser um desajustado contra um ambiente presumidamente hostil que o cercava. O que interessa a Gus van Sant não é celebrar a vida de maluco, ou fazer a apologia de uma vida normal, caretésima: o que interessa ao diretor é, tão somente, mostrar o indivíduo como senhor de si, aquele que dita as suas próprias regras de existência em um mundo que se mostra mau e egoísta. Um grande achado de Gus van Sant foi colocar William Burroughs, junkie de carteirinha, como um padre, ex-viciado, que mostra a Bob como aprender a lidar com o mundo depois que todo o efeito das drogas passou e o que resta é só a normalidade. 
Drugstore Cowboy, lançado em 1989, serviu como prenúncio de toda uma estética despojada que marcaria o cinema independente da década de 1990 que ora estava às portas, além de aliar uma narrativa -um longo flashback - algo convencional a um certo experimentalismo, mais notadamente nas "viagens" de Bob.
*Texto da autoria do Alexandre Mourão.

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terça-feira, 26 de março de 2019

E Tudo o Fumo Levou (Up in Smke) 1978

De Pacas (Cheech) e Man Stoner (Chong) são dois maconheiros que, por um desses acasos, um dia se encontram, dividem um charo de responsa, travam amizade e se metem em várias aventuras mucho locas e terminam contrabandeando um furgão inteiramente feito de maconha do Mexico para os
EUA, tendo no encalço o incompetente sargento Stedenko (Stacy Keach) e a sua turma.
Queimando Tudo (up in smoke) é o primeiro filme da dupla Cheech & Chong. Pela sinopse apresentada trata-se de uma comédia (e das boas!) cujas piadas são de rolar de rir, mesmo que quem o veja seja um caretão que não saiba diferenciar um charro de um fino. A dupla já estava na ativa desde o início dos anos setenta, com alguns discos gravados (entre os quais os clássicos "big bambu" e "los cochinos") e, aqui, não perde a sua verve. De jeito nenhum! São tantas piadas que elas vão se atropelando. Mas quem está afim de uma análise mais, digamos, séria, pode encarar a obra em questão como uma tiração de sarro em cima da contracultura que, a essa altura, já estava morta - embora tenham esquecido de enterrar...
Outro filme que faz parte de minha memória afetiva: eu o vi em algum ponto de 1992, em uma madrugada televisiva qualquer, e foi amor à primeira fum... digo, vista! Ao menos duas sequencias n\ão me saem da cabeça: uma, a que mostra uma mulher entra na cozinha em que Stoner, sem querer, havia derrubado um pouco de pó de limpeza. Ela, confundindo-o por outro tipo de pó, o aspira, resultando nas mais estranhas e engraçadas expressões faciais que eu já vi, e a outra é o clímax, quando De Pacas, na guitarra, e Stoner, na bateria, sobem ao palco com a sua banda Alice Bowie e apresentam o clássico "earache my eye" (n.do a.: tão clássico que pouca gente, além deste parvo que vos escreve, conhece haha) 
"Queimando Tudo", ao fim, é um drug movie, mas no nível esculhambado da parada, manja? Não é um filme para ser levado a sério, muito pelo contrário. E nao se espante se, ao final dele, você tiver uma fome incontrolável e ficar com os olhos vermelhos.
Texto da autoria do Alexandre Mourão.

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segunda-feira, 25 de março de 2019

Dead of Night (Dead of Night) 1974

Charles e Christine Brooks (John Marley e Lynn Carlin) são pais de um jovem (Richard Backus) morto em combate no Vietnã. Embora Charles, ainda que relutantemente, aceite a morte de seu filho, Christine se recusa a aceitar o fato. Inexplicavelmente, horas depois, no meio da noite, o rapaz bate à porta de sua casa, de uniforme e sem apresentar um único arranhão. Ao longo dos dias, o rapaz apresenta um comportamento estranho, passando os dias em casa, apático. Ao mesmo tempo, a polícia investiga a morte de um motorista de caminhão cuja garganta foi dilacerada e todo o sangue drenado de seu corpo.
"Dead of Night" foi inspirado pelo conto "a pata do macaco", de W. M. Jacobs, e serve como alegoria para a Guerra do Vietnã (mostrando como soldados voltam para casa transformados em monstros), recheada de elementos pulp graças ao roteiro bem amarrado de Alan Ormsby. O filme se beneficia também do fato de ter dois atores, Marley e Carlin - ambos saídos do "faces", de John Cassavetes - que dão mais profundidade emocional aos personagens que interpretam. Graças a eles, o terror inerente à história se torna secundário quando vemos a desintegraçao de uma familia tipicamente americana.
Bob Clark, o diretor do filme, entrou para a história como o realizador de "assassinato por decreto", "porky's" e "a christmas story" (os dois ultimos, suas obras primas), consegue construir um clima a partir das tensões familiares, e sem perder a mão em nenhum momento. 
"Dead of Night", apesar de ser um filme de terror com óbvio subtexto político e social (cria do "Noite dos Mortos Vivos", de George "Zombie" Romero) nao deixa de ser uma pérola perdida em meio a tantos outros títulos feitos no período. Vale ser redescoberto.
* Texto da autoria do Alexandre Mourão.

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sexta-feira, 22 de março de 2019

Ódio Cego (The Boys Next Door) 1985

Roy Alston (Maxwell Caulfield) e Bo Richards (Charlie Sheen) são dois adolescentes desajustados
que, depois de se formarem, partem de sua cidade natal rumo a Los Angeles para um fim de semana marcado por uma escalada de violência que deixa uma trilha de corpos por onde eles passam.
"The Boys Next Door" (que no Brasil se chamou "ódio cego", na época em que foi lançado em VHS, para depois se tornar homônimo do clássico de John Huston "os desajustados"), pode ser considerado um filme anti-Brat Pack,distante das obras fofas e doces de John Hughes. O que temos aqui é um retrato selvagem de uma juventude enraivecida, como é o caso do personagem de Maxwell Caulfield, ao passo que o personagem de Charlie Sheen é um poço de ambivalência, que apenas segue o seu amigo, juntando-se a ele nos crimes. Embora fique sugerida uma homossexualidade latente na relação entre os dois rapazes, o que interessa à diretora, Penelope Spheeris, é retratar a alienação de uma juventude sem perspectivas de fazer parte da sociedade. Ela, conhecida como a "antropóloga do rock'n'roll", já havia mostrado essa mesma juventude alienada e enraivecida em clássicos como o documentário "The Decline of Western Civilization" (que mostra a efervescência da cena punk angelena com a participação de bandas como X, Black Flag, Circle Jerks, Germs e outros) e sua obra prima "Suburbia", de 1983. Quem viu esses filmes sabe do pendor mostrado pela diretora para tratar dessa juventude transviada que anda na beira do precipício social. É como se, tomando emprestado uma definiçao de Vincent Canby, Penelope Spheeris tirasse toda a poesia que há em "Terra De Ninguém" (badlands), de Terence Malick, assim como todos os floreios de "O SelvagemDa Motocicleta" (rumble fish), de Francis Ford Coppola. 
Penelope Spheeris continuou explorando a a juventude errante em "sonhos e vingança" (dudes), de 1987, e dirigiu a segunda parte de seu "The Decline of Western Civilization": "The Metal Years", e até que dirigisse o seu grande sucesso de público "Quanto Mais Idiota Melhor" (wayne's world), realizou videos para o Megadeth, como o de "in my darkest hour". Infelizmente todo o seu som e a sua fúria se diluíram em filmes como "A Família Buscapé" (the beverly hillbilies) e "Os Batutinhas" (the little rascals). O que vale, no entanto, é a sua primeira fase, e é por ela que Penelope Spheeris é sempre lembrada.
* Texto da autoria do Alexandre Mourão.
Uma pequena nota: as legendas estão péssimas, por isso estão separadas. 

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Legendas
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quinta-feira, 21 de março de 2019

Golpe Baixo (The Longest Yard) 1974

Burt Reynolds é Paul Crewe, um ex-jogador de futebol americano que caiu em desgraça e que foi banido da NFL. Preso por agredir um guarda e resistir à prisão, acaba em uma penitenciária cujo diretor (Eddie Albert) mantém um time formado pelos guardas. Pressionado, Paul forma um time de presidiários, aos trancos e barrancos, do qual fazem parte figuras que, de outra forma, se odiariam. Todos com um propósito em comum: ir à forra contra os guardas opressores, dando neles uma surra daquelas. Paul Crewe, por sua vez, enxerga no jogo a sua chance de resgatar a honra perdida.
"Golpe Baixo" (the longest yard) é um veículo e tanto para Burt Reynolds. Com roteiro de Tracy Keenan Wynn, em cima de um argumento de Albert S. Ruddy, o filme é dirigido pelo mestre Robert Aldrich. Se, essencialmente, o que temos é uma história sobre inconformismo e anti-autoridade (além de lidar com um tema caro ao cinema americano: o da segunda chance, ou, parafraseando Paulo Vanzolini, o do levanta-sacode-a-poeira- e-dá-a-volta-por-cima), com Aldrich na direção é inevitável a sensação de que vemos um repeteco de seu "Os Doze Condenados" (the dirty dozen - nota do autor: um dos filmes da vida deste que vos escreve). Os elementos se repetem: um outsider recruta um bando de facínoras, mequetrefes, pústulas, pulhas mal encarados e demais sujeitos de maus bofes,e os treina para uma missão quase impossível.
E que elenco de párias! Trata-se de um verdadeiro quem é quem de character actors, dos melhores que Hollywood já viu: Ed Lauter (cuja cara parecia talhada num pedaço de madeira), o varapau Richard Kiel, Robert Tessier, Mike Henry e outros.
Mas o grande destaque é o jogo entre guardas e prisioneiros no qual o título brasileiro do filme se mostra plenamente justificado. São 47 minutos em que Robert Aldrich faz uso de uma edição frenética, transformando o jogo visto na tela em uma cópia perfeita de uma partida verdadeira, com a montagem paralela, com imagens do jogo intercalando-se às imagens da torcida, do banco de reservas, slow motion, sons de ossos se partindo, corpos se batendo.
Esse é um dos filmes que fazem parte da minha memória afetiva. Eu o vi, pela primeira vez, em 1985, aos doze anos, quando foi exibido na televisão, e nesses anos que se passaram - nesses 34 anos -, em todas as suas reexibições, em cada uma delas era como se "Golpe Baixo" fosse uma novidade para mim. 
Não esperem uma obra prima do cinema, ou mesmo um filme de incomparável qualidade artística, ou mesmo um desses cult movies que vão do nada para lugar nenhum,sabe? Desses filmes que sao uma espécie de pré tudo e pós nada cinematográfico? Nada disso. O único intuito de "Golpe Baixo" é divertir, e nisso ele é bem sucedido.
* Texto da autoria do Alexandre Mourão.

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terça-feira, 19 de março de 2019

Asia Central: Século 21


A Quadrilha (The Outfit) 1973

Earl Macklin está sedento de vingança. Ele quer vingar a morte de seu irmão e não vai hesitar um só instante em seu objetivo até acertar as contas com os responsáveis, nem que tenha que mandar para o inferno todos aqueles que tentarem impedi-lo.
Em linhas gerais o que temos aqui é um filme na linha da vingança cega e obstinada, marca registada de Richard Stark, também autor de "à queima roupa" (point blank), de John Boorman, e que trazia Lee Marvin em seu melhor papel. Se Boorman se aproveita da história para criar um filme policial ultramegaestilizado que, em alguns momentos, se torna uma bela investigação sobre a memória, John Flynn, ao contrário, entrega um filme de ação genuíno, perfeito, objetivo. Era essa a sua característica: a objetividade. Talvez ele a tenha herdado de Robert Wise, com quem trabalhou em "homens em fúria" (odds against tomorrow). Ele vai direto ao assunto, sem firulas narrativas, dando a "a quadrilha", com o auxilio luxuoso de uma câmera nervosa, o tom de urgência que a história pede. 
O elenco também ajuda - e muito! O papel de Earl Macklin caiu direitinho para Robert Duvall. Quem também está nele é Joe Don Baker (que puta ator!), Karen Black, Tim Carey e Robert Ryan. Com todos esses elementos, por que "a quadrilha" não é considerado um clássico do cinema ao nível de um "gun crazy", por exemplo? Vai saber... E ser subestimado era algo do qual John Flynn sabia. Mesmo tendo feito filmes muito bons como "na solidão do desejo" (the sargeant), "a outra face da violência" (rolling thunder); "a marca da corrupção" (best seller); e "fúria mortal" (out for justice), seu nome é, no mais das vezes, associado pela critica àquela pecha de filmes descartáveis, sem muito conteúdo, sem que neles fossem observadas as sutilezas em sua objetividade realista. 
Depois desse filme há que ser pensado: a obra de John Flynn não seria merecedora de uma revisão? 
* Texto do Alexandre Mourão.

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segunda-feira, 18 de março de 2019

Contrato Para Matar (The Killers) 1964

“Os Assassinos” (The Killers), de 1964, é a terceira adaptação do conto de Ernest Hemingway. As outras duas foram as de Robert Siodmak, de 1946 – um clássico noir -, e a segunda um curta metragem de Andrei Tarkovsky (em co-direção com Alexander Gordon e Marika Beiku), de 1957, mas nenhum deles se iguala a essa versão dirigida por Don Siegel. Como se sabe, o filme foi produzido originalmente para a televisao, mas por causa de sua brutalidade foi exibido nos cinemas.
Se o conto de Hemingway, e consequentemente as suas adaptações cinematográficas, mostra dois assassinos que vão a um restaurante rural para eliminar um homem marcado. Don Siegel subverte muda completamente o ponto da história, mostrando Charlie Strom (Lee Marvin) e Lee (Clu Gulager) como os dois assassinos contratados para eliminar Johnny North (John Cassavetes) que, ao ficar frente a frente com o seu destino, o aceita. A sua passividade diante da morte, aceitando-a sem implorar, choca a dupla. Os dois, após investigar o motivo de tanta submissão, descobrem que Johnny North estava envolvido com Sheila Farr (Angie Dickinson), namorada de Jack Browling (Ronald Reagan). 
Don Siegel fez um trabalho e tanto com seu elenco. Conhecido por sua direção de atores econômica e eficiente, ele arranca performances memoráveis de Dickinson e Reagan. Ela, uma femme fatale na mais pura acepção do termo; ele, na performance de sua vida, a sua ultima atuação antes de se dedicar à política. “Os Assassinos” é um filme que se sustenta pelo olhar, seja na cena de abertura em que o rosto do personagem de Lee Marvin aparece refletido nas lentes dos óculos escuros de Clu Gulager, assim como os olhos de John Cassavetes que não saem da cabeça de seus executores. 
Don Siegel é um realizador que fez muito a minha cabeça como cinéfilo em formação: títulos como “Meu Nome é Coogan” (Coogan’s Bluff), de 1968; “Os Abutres Têm Fome” (Two Mules For Sister Sara), de 1970; “Perseguidor Implacável” (Dirty Harry), de 1971; e “O Homem Que Burlou A Máfia” (Charley Varrick), de 1975, da mesma forma que este “The Killers” formaram o meu gosto estético por filmes que Rogério Durst, crítico de cinema do jornal O Globo, nos anos noventa, alcunhou de Cine-Machão. Filmes secos, diretos, crus. Todos os títulos acima citados foram vistos na televisão, em madrugadas passadas em claro esperando a próxima atração do Coruja Colorida. 
* Texto da autoria do Alexandre Mourão. 

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sábado, 16 de março de 2019

Quem Programa Sou Eu: Alexandre Mourão

"Se a mim fosse perguntado, acerca dos filmes que escolhi para os próximos dias, se eles são os melhores filmes de todos os tempos na minha opinião, a resposta seria: - Não, não mesmo. Na minha lista de melhores de todos os tempos figuram títulos como "operação frança" (french connection), de William Friedkin - que sempre encabeça a lista -, "o bandido da luz vermelha", de Rogério Sganzerla, e " o segundo rosto" (seconds), de John Frankenheimer. Os filmes que escolhi, apesar disso, não são daqueles que façam parte de uma lista respeitável... É que - vou contar uma coisa - tenho comigo uma frase lida nas Escrituras, e que sigo à risca: "nem só de obras primas viverá o cinéfilo"
Assim, elaborei essa lista de filmes em que estão presentes realizadores muito queridos (como Don Siegel e Andrzej Zulawski) e filmes presentes em minha memoria afetiva, vistos em reexibições nas madrugadas televisivas, geralmente no Corujão, ou em incansáveis e sessões de VHS. Espero que os filmes escolhidos sejam do agrado de todos.
É isso…"

Estas são as palavras do Alexandre Mourão para nos apresentar este ciclo. O Alexandre é um "velho" seguidor dos Thousand Movies, já desde 2012, e é um cinéfilo daqueles que eu gosto, porque não gosta só de "obras-primas", tal como eu. "Obras-primas" até é uma palavra de que eu não gosto de usar, e quem conhece este blog, sabe do que eu estou a falar.
Os próximos dias são da exclusiva responsabilidade do Alexandre, e creio que todos vamos ganhar bastante com isso. 
Se quiserem participar nesta rubrica, escrevam para myonethousandmovies@gmail.com. Até segunda-feira.

sexta-feira, 15 de março de 2019

Olney São Paulo

Chega assim ao fim o ciclo dedicado a Olney São Paulo, um dos cineastas brasileiros mais esquecidos e que mereceu aqui honras de um ciclo em nome próprio, que contou com a maravilhosa ajuda do Yves São Paulo, um familiar seu, que me forneceu todos os textos que acompanharam as postagens. O meu grande obrigado. 

Podem ler mais sobre o Olney neste endereço.  

Obrigado a todos, e até já.

Pinto vem Aí (Pinto vem Aí) 1976

Chico Pinto foi prefeito de Feira de Santana (Bahia) e deposto no meio de seu mandato pela ditadura instaurada no Brasil em 1964. Em 1976, Olney São Paulo realiza Pinto Vem Aí para mostrar o retorno do político que teve seus direitos de seguir exercendo seu mandato cassados. O cineasta perseguido dá voz a um político perseguido.
O que me chama particular atenção com Pinto Vem Aí é o ar de deboche que começa com o título, se esbarra nos títulos do genérico apresentado em pichações nos muros, e continua com a participação das crianças ajudando a desenvolver uma campanha eleitoral. Escavações em Pompeia encontraram pichações de direto conteúdo erótico/pornográfico. Uma das imagens símbolo da luta contra a ditadura no Brasil é exatamente a de um homem a fazer pichação “abaixo à ditadura”. Unindo as duas coisas, Olney brinca com as palavras, com o nome do político e com o caráter obsceno da pichação para, de maneira velada ou metafórica, levantar o dedo do meio para o governo corrente. A democracia está voltando para a alegria orgástica de toda população que não aguenta a repressão militar.

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Ciganos do Nordeste (Ciganos do Nordeste) 1976

Documentário encomendado pela Rede Globo de Televisão para fazer parte de sua série, ainda existente, Globo Repórter, Olney São Paulo tomou a estrada em busca destas personagens erráticas para transformar em tema de seu mais novo filme. Aproveitando a oportunidade de ter dinheiro para filmar, fez mais que uma obra de reportagem para televisão, realizando dois cortes diferentes, um
para quem havia feito a encomenda e outro com sua própria visão sobre as personagens párias de seu filme, esta ultima enviada para diversos festivais de cinema. 
O filme abre com um grupo de ciganos montados em jumentos, montando acampamento ao lado de estrada, seu lado marginal, uma identificação que pode ser logo encontrada em como Olney São Paulo aborda estas personagens, o cineasta independente correndo de um lado para outro para encontrar os temas de seus filmes e realizar seus registros, à margem do mundo das grandes produções – especialmente ao considerarmos seus status como documentarista, desde sempre visto como lado menor do cinema, adorador de dinheiro e maquinário “de última geração”. A simplicidade dos jumentos e a montagem de acampamento à beira de pista poderia ser o resumo de um cinema independente e – por que não? – de guerrilha, ainda que recebendo o suporte minoritário de gigante das comunicações, mas que não enxergava este “documentário” como uma peça merecedora de prioridades.

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quinta-feira, 14 de março de 2019

Sob Ditame de Rude Almajesto: Sinais de Chuva (Sob Ditame de Rude Almajesto: Sinais de Chuva) 1975

Este é um dos filmes mais queridos dentro da filmografia de Olney São Paulo, ensaio baseado em crônica, filmado na roça de irmão mais novo, figurando alguns de seus familiares, sobrinhos, avô.
Não somente os cientistas com seus métodos bem estabelecidos e aceitos por pares acadêmicos dispõem de técnica para estudar o ambiente no qual trabalham. O tratado científico popular, seu Almajesto, mesmo não sendo aceito por sua falta de precisão por este mesmo grupo científico, é passado de geração em geração por àquele aspecto da literatura costumeiramente esquecido, mas de extrema importância, a oralidade. E é por meio de uma narração dinâmica que simula uma conversa entre sertanejos a demonstrar os métodos de prever quando choverá neste semi-deserto, que Olney São Paulo apresenta algo da tradição popular, passada ao longo das décadas, atravessando fronteiras.
O filme é de uma beleza lírica imagética ímpar ao captar nas lentes de sua câmera em filme colorido as características peculiares da região do semiárido baiano. Lá estão os vespeiros, a terra seca, os mandacarus, e até a inesperada aparição de redemoinho.

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O Forte (O Forte) 1974

Segundo longa-metragem de ficção de Olney São Paulo, baseado em romance do escritor Adonias Filho, O Forte apresenta a chegada de engenheiro a Salvador, responsável por erguer parque de diversões no lugar onde correntemente reside o Forte de São Marcelo, edificação centenária que se
encontra no meio do mar, e onde por muito tempo foram encaminhados prisioneiros políticos.
O filme em questão teve produção tumultuada, muitas brigas entre diretor e produtor, equipamentos de má qualidade (em muitos casos filmando com películas fora do prazo de validade), e tendo ainda que lidar com a morte de um de seus atores principais.
Ainda assim, mostra-se como uma das obras mais encantadoras desta filmografia. Um filme que, assim como seu antecessor fictício Manhã Cinzenta, abandona certos tradicionalismos narrativos para misturar o fantástico com o real, a encenação ficcional com o documentário. Em certos trechos do filme a câmera se dirige diretamente a moradores da cidade de Salvador, capital do estado da Bahia, e pergunta: o que você acha da derrubada do Forte de São Marcelo? Em outros momentos o lado romântico da adaptação fala mais alto, seja nos romances do engenheiro protagonista, seja na figura de sua esposa. O tempo em O Forte não é linear, ecoando a história dos prédios que circundam seus personagens, para além de suas próprias memórias. Salvador é uma cidade de sofrimentos e aprisionamentos, e suas paredes sussurram os fantasmas de seus dias idos.

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quarta-feira, 13 de março de 2019

Como Nasce uma Cidade (Como Nasce uma Cidade) 1973

Filme encomendado à Olney São Paulo em ocasião da comemoração dos 100 anos da cidade de Feira  de Santana, Como Nasce Uma Cidade é filme sobre as idiossincrasias que marcam o crescimento da urbanidade e flerte com o “progresso” e a “modernidade” enquanto tenta-se manter conectado com o passado. De seu lançamento até nossos dias, Feira de Santana comemorou algo em torno de oitenta anos, símbolo de um lugar lutando por encontrar suas raízes e suas identidades numa mutabilidade constante, querendo apontar sua importância num cenário muito mais amplo que o meramente local, porque cidade grande que se prese tem que suspirar em virar metrópole com tudo que este título tem para entregar, e portanto tem que experimentar a passagem do tempo diferente de todo o resto.
À primeira vista Como Nasce Uma Cidade pode ser visto como documento histórico sobre um local em específico – Feira de Santana, interior do estado da Bahia – mas o espectador com olfato apurado (porque a cinefilia atiça todos os sentidos) notará certa universalidade no ensaio sobre esta cidade, o confronto entre velho e novo, entre moderno e tradicional – nem todo progresso leva para frente.

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terça-feira, 12 de março de 2019

Manhã Cinzenta (Manhã Cinzenta) 1969

Um grupo de líderes estudantis se reúne e pensa em organizar resistência frente à ditadura estabelecida. Presos, são submetidos a torturas e a um julgamento feito por cérebro artificial. O lado maquínico da lei e da ordem são impostos sobre a paixão e a liberdade humana.
O mais conhecido dos filmes de Olney São Paulo, Manhã Cinzenta foi exibido em diversos festivais ao redor do mundo, incluindo a Quinzena dos Realizadores, em uma de suas primeiras versões. Fugindo do tradicional, Olney monta seu filme com o que Glauber Rocha chamou de “montagem caleidoscópica”, o que pode ser evocado como uma resistência do próprio cineasta ao tradicionalismo aristotélico de empregar começo meio e fim, respectivamente, evocado até mesmo pela estudante líder estudantil, que apesar da angústia e apatia que abate seus companheiros, anuncia: eles me encontrarão de pé. O cérebro mecânico adota leis e ordens, mas a arte não possui regras intransponíveis. 
A existência do filme tem uma história por si só. Rendeu prisão e tortura ao realizador, acusado de compactuar com sequestro de avião desviado para Cuba, sob alegação de que seu filme teria sido exibido a bordo. Todas as cópias de Manhã Cinzenta encontradas pelas forças militares foram destruídas. Antes da perseguição o cineasta conseguiu exportar cópias para outros países, e assim o filme figurou em festivais internacionais depois de banido de solo brasileiro. O público brasileiro somente teve acesso ao filme graças membro do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que trocou o filme de latas em sua cinemateca, mantendo uma cópia exibida clandestinamente em cineclubes e em casas de amigos.

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segunda-feira, 11 de março de 2019

O Grito da Terra (O Grito da Terra) 1964

Duas jovens camponesas que enxergam seu espaço natal de maneiras diferentes. Lóli (Lucy Carvalho) quer subir de vida, abandonar a pobreza de sua família e, quem sabe, ir para a cidade. Mariá (Helena Ignez) gosta do trabalho na terra, e pensa em poder continuar nela e prover para sua
família. Mesmo não sendo dada a tremores, as terras do interior baiano são cambiáveis, se movimentam, as cercas das grandes fazendas avançam sobre a de pequenos agricultores. A chegada do Professor (Lídio Silva) mexe com os ânimos dos proprietários de terra com sonhos de grandeza. Estudar para não ser explorado, para saber lutar por seus direitos. Palavras que não devem ser ditas, sob pena de ter seu barraco incendiado.
Neste cenário de lutas pela terra que Olney São Paulo nos apresenta seu primeiro longa-metragem, Grito da Terra. Filma o sertão com algumas reminiscências de sua cinefilia, colocando seu gosto pelo cinema de faroeste, até mesmo encontrando uma pedra imensa que poderia aproximá-lo dos épicos filmados no Monument Valey. E como nos faroestes, o sertão é terra sem lei, quem tem dinheiro contrata matadores, avança cercas, impõe preços impraticáveis para explorar a miséria dos mais pobres. Diferente dos faroestes, a perspectiva tomada frente aos embates de ricos e pobres não é de fabulário, porque o que Olney apresenta em seu filme não é conflito deixado para contos de um país em formação, sendo antes casos corriqueiros.
Vale aqui uma nota especial para a trilha sonora original de Remo Usai e as canções de Fernando Lona, escritas em conjunto com o cineasta Orlando Senna.

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Um Crime na Rua (Um Crime na Rua) 1954

Um assassinato é cometido e dois detetives seguem a pista do crime a partir de um cigarro encontrado na cena do crime. Filme amador feito por um grupo de amigos se valendo das referências do cinema policial que costumavam assistir unido a alguns costumes folclóricos – como colocar uma moeda na boca do morto para pagar sua passagem na terra dos mortos, remontando à Grécia antiga.
A vontade de fazer cinema já estava muito bem tatuada em Olney São Paulo quando um de seus amigos aparece em Feira de Santana, cidade onde morava, com uma câmera de filmar de 16mm. Mesmo sem equipamento ou experiência para fazer o filme, os amigos escrevem uma história e começam a filmagem. Parando o filme na câmera e voltando a fita dentro dela, fazem as diferentes sequências em diferentes locações – uma peça histórica sobre o interior do Brasil, e em especial para a história da cidade de Feira de Santana. Depois de pronto, viajam por algumas cidades da Bahia exibindo a peça feita por cinéfilos em clubes. Por algumas décadas resistiu em apenas uma cópia exibida para amigos e familiares, e hoje surge aos espectadores como uma curiosidade, quase um filme de férias de família, o primeiro passo do cinéfilo em direção à direção de cinema (um segredo partilhado por metade da cinefilia).

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sábado, 9 de março de 2019

Olney São Paulo

"Por muito tempo os filmes de Olney São Paulo ficaram fadados ao escuro de latas guardadas em prateleiras e esquecidas debaixo de camadas de poeira. Um esquecimento não feito ao acaso devido à má qualidade de sua obra – o que não é o caso – mas sim esquecimento programado, ainda que com certo descuido. Cineasta marginal, que financiava a maior parte de seus próprios filmes com dinheiro do bolso com seu salário de funcionário público, filmando com rolos de película vencida ou montando seus filmes durante a madrugada (horário mais barato do aluguel do equipamento de montagem), que viu um de seus filmes caçado e destruído pela ditadura brasileira instalada a partir de 1964 (por sorte, não puseram as mãos em todas as cópias, e o filme em questão figurará em nosso ciclo). Se tinha alguém que poderia ter todos os motivos do mundo para abandonar o cinema e não mais querer saber dele, esse alguém era Olney São Paulo. Não o fez. Até seu leito de morte (prematura – aos 41 anos) em 1978 seguiu planejando filmar. Bem-vindos ao mundo do cinema de Olney São Paulo, feito com um pedaço de folclore brasileiro esquecido, feito com um pouco de folclore inventado pelo próprio autor – seja em ficção, seja em documentário, seja numa inusitada mistura dos dois."

Este ciclo terá a colaboração do Yves São Paulo, familiar do realizador, que gentilmente cedeu os filmes (a maior parte deles inéditos na internet) e os textos que acompanharão o ciclo, com muita informação que ajudará a conhecer um pouco melhor o realizador.  Podem conhecer o blog do Yves, Siga a Cena. O meu muito obrigado pela sua ajuda.

Irei estar fora no fim de semana, por isso passeremos aos filmes a partir de segunda-feira. Bom fim de semana, e até já.


sexta-feira, 8 de março de 2019

Ao longo de quase 4 semanas fizemos um viagem ao interior de um dos sub-géneros mais importantes e também mais relegados do cinema italiano. Foi uma seleção de 25 filmes imprescindíveis, esperemos que tenham gostado. Obrigado aos que seguiram.


Terror na Opera (Opera) 1987

Uma jovem cantora de ópera chamada Betty (Cristina Marsillach) é colocada no centro das atenções  antes da noite de estreia de "MacBeth", de Verdi, quando a protagonista da ópera Mara Czekova fica lesionada. Um fã enlouquecido persegue Betty enquanto que mata todos que são próximos a ela. Será   que Betty consegue desmascarar o assassino antes de se tornar na próxima vítima?
Em 1987 Dario Argento realizou aquele que muitos fãs consideram o seu último grande filme, "Opera". O filme supostamente foi feito durante os momentos mais tumultuosos da vida do realizador, ao mesmo tempo que falecia o seu pai, e também na altura em que ele terminava um longo relacionamento com a actriz Daria Nicolodi. A história do filme gira em volta de um assassino sádico que tem laços com um jovem cantora de ópera, é um dos melhores argumentos mais de toda a carreira de Argento, com todos os eventos a desdobrarem-se como se fossem uma tragédia de Shakespeare. 
O filme, tal como a peça, estava amaldiçoado, e isso levou a alguns contratempos pelo caminho. A música de Giuseppe Verdi com a partitura de Claudio Simonetti, junto com o heavy metal que é injectado no filme nas partes de assassinato, são partes integrantes de todo o filme. Apesar de Argento ser conhecido pelos seus visuais barrocos, os seus filmes sempre tiveram uma grande dívida para com os compositores, que ao longo das várias etapas da sua carreira sempre contribuíram com bandas sonoras assombrosas e ameaçadores, que faziam parte do ambiente dos seus filmes. Em termos visuais, "Opera" tinha uma das composições mais elegantes da carreira de Argento. O filme ocorre praticamente apenas em dois lugares: a casa da Ópera e o apartamento de Betty. As cores não são tão vívidas como a maioria dos filmes do realizador, mas os fãs dos primeiros filmes de Argento vão gostar de alguns detalhes que já eram usados anteriormente, como o excessivo uso da chuva ou o assassino de luvas negras, que são usados com grande efeito. Um filme imperdível. 

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Abril no M2TM

Quando um ciclo é sobre um realizador não faz mal estragar a surpresa, porque todos já sabem o que vem a seguir. Assim, aqui fica a lista dos filmes a ver em Abril, no ciclo John Ford - Antes da Guerra:

- Born Reckless  (1930) *
- Men Without Women (1930)
- Up the River (1930) +
- Arrowsmith (1931)
- Seas Beneath (1931)
- Doctor Bull (1933) *
- Pilgrimage (1933)
- Judge Priest (1934)
- The World Moves On (1934) *
- The Lost Patrol (1934) 
- Steamboat Round the Bend (1935)
- The Informer (1935)
- The Whole Town´s Talking (1935)
- Mary of Scotland (1936) +
- The Plough and the Stars (1936)
- The Prisioner of Shark Island (1936)
- Hurricane (1937)
- Wee Willie Winkie (1937)
- Four Men and a Prayer (1938)
- The Adventures of Marco Polo (1938) +
- Drums Along the Mohawk (1939)
- Stagecoach (1939)
- Young Mr. Lincoln (1939)
- The Grapes of Wrath (1940)
- The Long Voyage Home (1940)
- How Green Was my Valley (1941)
- Tobacco Road (1941)

* legendas em inglês
+ legendas em espanhol

Enquanto Abril não vem, teremos Olney São Paulo em versão integral e inédita, já a partir de Sábado, e nas últimas duas semanas teremos mais um convidado especial a programar. Quem será?
Falta um filme para acabar o ciclo Giallo. Até já.



quinta-feira, 7 de março de 2019

O Estripador de Nova Iorque (The New York Ripper) 1982

Um assassino em série assassinando e mutilando jovens mulheres, geralmente prostitutas, anda a aterrorizar Nova Iorque nos anos 80, tal como Jack, o Estripador o tinha feito algumas décadas anteriormente, em Londres. O tenente da polícia Fred Williams está a seguir o caso e recebe ajuda do psiquiatra e professor universitário Paul Davis. Quando uma estudante sobrevive a um ataque do estripador as entrevistas com ela levam a um suspeito, uma figura sombria com a mão direita deformada. Mas será que é mesmo ele o assassino?
Tal como a maioria dos giallos desta era, testemunhamos os crimes do ponto de vista do assassino, sabendo muito pouco sobre a sua identidade, além de uma certa particularidade - o assassino gosta de falar como um pato. Também gosta de fazer telefonemas ameaçadores e fazer grasnidos como o Pato Donald enquanto faz o seu trabalho. É um dos aspectos mais estranhos do filme. 
"O Estripador de Nova Iorque" funciona com qualquer típico filme de crime e mistério, mas com Lúcio Fulci ao leme já sabemos que podemos contar um estilo único e uma estética visual. Há uma mistura fascinante de terror clássico italiano dos anos 70, com algumas cenas absolutamente cheias de cor, e uns exteriores sujos de Nova Iorque que nos remetem a "Taxi Driver" ou aos primeiros filmes de Abel Ferrara. São dois estilos muito diferentes, cuja mistura satisfaz bastante o espectador.
O nível de violência, especificamente a violência sexualizada, causou uma grande agitação entre os censores, principalmente no Reino Unido, que provocou que o filme fosse banido em muitas salas e dificultou o seu lançamento em VHS. Também seria dos últimos grandes lançamentos de Fulci, que a partir daqui dedicar-se-ia sobretudo a filmes de baixo orçamento.

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quarta-feira, 6 de março de 2019

Tenebre (Tenebrae) 1982

O escritor de best-sellers de mistério Peter Neal (Anthony Franciosa) viaja de Nova Iorque para Roma para promover o seu novo livro, "Tenebre".  Um assassino obcecado por Neal começa uma série de brutais assassinatos tal como estão descritos no livro. São seguidos por notas enigmáticas tiradas do livro, endereçadas ao autor. Quem vai investigar será o capitão dos homicídios Germani (Giuliano Gemma), e a inspectora Altieri (Carola Stagnaro), que suspeitam de todos, inclusive do escritor.
Em 1982, exausto com a experiência que foi fazer "Inferno", Dário Argento voltaria mais uma vez ao giallo puro, com "Tenebrae", um termo latino que significa escuridão ou sombras. Segundo relatos, uma das inspirações de Argento para este filme foi um stalker que o perseguiu na vida real, durante a rodagem de um filme anterior. Outras das inspirações foram "Sherlock Holmes" de Arthur Conan Doyle e "The Red Shoes", de Michael Powell e Emeric Pressburger. 
De um ponto de vista narrativo, "Tenebrae" não se desvia da impressão deixada com "O Pássaro com Plumas de Cristal", e tal como "Deep Red" usa flashbacks / memórias do ponto de vista do assassino. Mas, mesmo assim nenhum giallo de Argento, até agora, se tinha afastado tanto do tema, como este "Tenebrae". 
Do ponto de vista visual, raramente há um momento em que o filme não ostente habilmente o seu trabalho de câmara acrobático e composições difíceis. Um dos momentos mais memoráveis inclui uma jovem que está a ser aterrorizada por um cão feroz, e sem saber como vai parar ao covil do assassino.
Destaque especial para o elenco, que para além de Franciosa e Gemma, contava com um bom naipe de secundários, que incluíam John Steiner, Lara Wendel, Ania Pieroni, e um tal de Jogh Saxon, que Argento foi buscar directamente ao primeiro giallo, "A Rapariga que Sabia Demais", talvez por alguma razão.

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terça-feira, 5 de março de 2019

A Casa das Janelas Malditas (La Casa dalle Finestre che Ridono) 1976

Stefano é um restaurador contratado para uma pequena aldeia perto de Ferrara para restaurar uma pintura de São Sebastião, feita por um pintor mentalmente perturbado chamado Buono Legnani, na igreja local. Stefano foi recomendado pelo seu amigo, Dr. Antonio Mazza, e descobre que Legnani era conhecido como "o Pintor da Agonia", porque costumava pintar pessoas à beira da morte. Além disso foi dado como morto há muitos anos, mas o seu corpo nunca foi encontrado. António andou em investigações e conta a Stefano que descobriu um segredo sobre o pintor e os aldeões.
"A Casa das Janelas Malditas", de Pupi Avati, posiciona-se como um giallo desde início, não apenas pelo seu enigmático e comprido título (típico do género), mas também pelo prólogo monocromático, em que duas figuras vestidas com robe apunhalam repetidamente um homem, enquanto uma voz masculina é ouvida delirantemente sobre cores infeciosas.
Noutros aspectos, "A Casa das Jenelas Malditas" também é um giallo clássico, com as suas intrigas psicossexuais, assassinatos brutais, reviravoltas imaginativas, mas aparte a abertura ensanguentada do filme, Avati em grande parte dispensa o grandioso estilo barroco visto em obras de Bava, Argento ou Fulci. Em vez disso, o seu lento acumulo de tensão paranóica é mais parecido com os filmes da década de sessenta de Roman Polanski, que como já vimos neste ciclo teve bastante inflência em vários giallos, com Avati a fazer o terror manifestar-se mais na mente das pessoas do que na tela. O resultado enervante faz desde filme um giallo bem acima da média, apesar de não ser dos mais conhecidos, nem ter um realizador ou actores conhecidos. 

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segunda-feira, 4 de março de 2019

Pensione Paura (Pensione Paura) 1978

Francesco Barilli já tinha provado ser um grande talento a criar uma atmosfera de pesadelo com seu mais famoso filme "Il Profumo Della Signora em Nero" (1974), e enquanto esse é uma verdadeira jóia, o seu segundo Giallo "Pensione Paura", de 1977, não lhe fica muito atrás. Com apenas alguns assassinatos e uma história obscura que não está muito preocupada com a série de crimes, "Pensione Paura" não é exemplo típico para o género Giallo. Passada numa casa de hóspedes na zona rural da Itália na fase final da 2 ª Guerra Mundial, "Pensione Paura" mantém uma espessa atmosfera de pesadelo, o que faz o filme parecer um sonho febril sombrio, por vezes. Bonito, mas incrivelmente estranho, o filme exala uma atmosfera constante da desgraça que é intensificada por personagens para lá de dementes, e uma banda sonora magnífica que se destaca entre as melhores do género.
Quando a 2 ª Guerra Mundial se aproxima do fim, Rosa (Leonora Fani) e a mãe Marta (Lidia Biondi) estão mantendo uma misteriosa velha hospedaria aberta para um grupo de pessoas dementes, entre eles o sórdido e sinistro playboy Rodolfo (Luc Merenda), assim como o amante de Marta (Francisco Rabal), que está escondido de alguém. Rosa, que aguarda ansiosamente o regresso do pai da guerra, anda a escrever cartas para ele diariamente ... Como em qualquer Giallo, é claro, há uma série de homícidios envolvidos, e a velha e decadente guest-house, em decomposição, tem uma configuração imaginável. Leonora Fani está muito bem no papel de adolescente inocente, uma personagem que facilmente sentimos estar com medo. O resto dos personagens são quase totalmente dementes. Um actor italiano de culto, Luc Merenda ("Torso", "Milano Trema", "L'Uomo Senza Memoria", ...) tem o papel masculino principal, e é brilhantemente sinistro. Outra grande personagem é interpretada pelo actor espanhol Francisco Rabal .
"Pensione Paura" é um exemplo fantástico do poder atmosférico do filme de terror italiano. Sem mostrar nada explicitamente 'horrível' na primeira parte, o filme mantém uma atmosfera estranhamente bela e exclusivamente de pesadelo e tristeza pura, desde o início até ao fim. Enquanto o filme não é muito sangrento para os padrões italianos do terror, mas é completamente intransigente.

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Suspiria (Suspiria) 1977

Jéssica Harper é Suzy Bannion, uma estudante de ballet americana numa academia alemã, que testemunha os últimos momentos de outra estudante que morre misteriosamente, e de forma cruel, assassinada, o que leva a suspeitar que existe algo mais na academia do que aparenta. Os instrutores parecem um pouco antagónicos, e a equipa um pouco estranha, e alguns acontecimentos levam-na a suspeitar que existem adoradores do ocultismo naquele meio.
"Suspiria" de Dário Argento, é frequentemente considerado um filme de terror clássico, um dos melhores filmes do sub-género giallo, e talvez o melhor do realizador. Mais de 40 anos depois da sua estreia ainda é um filme maravilhoso de se ver, a parte visual uma classe própria , e a forma como usa a cor e a luz que nunca foi correspondida. É uma excursão ao cinema sensorial, onde a história e as personagens estão ali para transmitir o que o realizador e argumentista Argento quer contar: um clima de mau presságio e causar alguns choques horripilantes.
Sem dúvida que o melhor do filme são os seus recursos visuais, preenchidos com composições inventivas e esquemas de cores vibrantes que saltam da tela. Os visuais deste filmes foram inspirados pelo processo Technicolor e pelos filmes sobre contos de fadas, como "Branca de Neve e os Sete Anões". O director de fotografia autor desta obra prima era Luciano Tovoli, não muito conhecido mas que tinha acabado de trabalhar com Antonioni em "Profissão: Repórter" e Zurlini em "O Deserto dos Tártaros", e que voltaria a trabalhar com Argento no seu próximo giallo: "Tenebre".
A música mais uma vez desempenha um papel proeminente num filme de Dário Argento. A partitura musical era composta pelos Goblin, uma banda de rock progressivo que já havia trabalhado com Argento em "Deep Red". Embora os Goblin tivessem vários membros que já tinham trabalhado com Argento noutros filmes, seria com "Suspiria" que eles alcançariam o seu melhor momento. A música funde-se perfeitamente com os seus visuais, e existe uma grande intensidade criada por estes dois elementos. 

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domingo, 3 de março de 2019

Abril vai ser de John Ford



Ciclo "John Ford - Antes da Guerra", a começar no final deste mês, e a prolongar-se por Abril fora, veremos cerca de 25 filmes correspondentes ao período entre 1930 e 1941. Dos mais clássicos, aos mais desconhecidos. Preparem-se.

O Mistério da Casa Assombrada (Profondo Rosso) 1975

Uma psíquica que tem o poder de ler mentes consegue ler o pensamento de um assassino que está na plateia, e torna-se na sua próxima vítima. Um pianista inglês envolve-se na resolução do crime e começa a investigar, mas descobre que muitas das suas vias de investigação foram interrompidas por novos assassinatos e começa a perguntar como é que o assassino consegue acompanhar os seus movimentos de tão perto.
Depois de ter dirigido três giallos no espaço de dois anos, Dário Argento passaria os anos seguintes a tentar dar um novo rumo à sua produção. Realizou dois episódios e produziu uma série de televisão chamada "La Porta Sul Buio", e para o cinema realizou um híbrido entre a comédia histórica e o drama chamado "Cinco Dias em Milão", que teve resultados muito pobres nas bilheteiras, e depois de uma tentativa de adaptar Frankenstein, voltou ao género que o fez popular, o giallo. O enredo de "Deep Red", como é conhecido internacionalmente, era muito parecido com o dos seus primeiros três filmes. Girava em volta de um detective amador que começa a investigar depois de testemunhar o crime original, que coloca toda a acção em movimento. E tal como nos anteriores, o protagonista terá uma companhia que o irá ajudar nas investigações.
"Deep Red" foi também um filme de transição para Argento. Uma ponte entre os seus giallos de início de carreira e a sua posterior produção de terror e sobrenatural. É também um dos seus melhores filmes, pois prefigura alguns dos seus dispositivos estilísticos que viriam a consumir o seu trabalho posterior, mas ainda estava profundamente enraizado numa narrativa firme e absorvente."Deep Red" é acima de tudo um filme de crime e mistério, mas já está colorido com elementos de horror e sobrenatural.

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