terça-feira, 30 de outubro de 2018

Sita Sings the Blues (Sita Sings the Blues) 2008

O filme é sobre Sita, a deusa hindu do épico "The Ramayana" que acompanha Lord Rama num exílio de 14 anos numa floresta. Sita é raptada por Ravana, o governante de Lanka. O filme conta a história de Sita com Rama, ao mesmo tempo que conta a história biográfica da relação da realizadora com o marido.
Parte autobiografia, parte mitologia, parte musical...uma fusão de elementos surpreendentemente originais que fazem desejar que hajam mais filmes como este. Nina Paley apresenta a dissolução do seu casamento depois do marido aceitar um emprego na Índia. Ela transporta isso do conto hindu de Ramayana, no qual Sita permanece firme na sua devoção a Rama, apesar do tratamento insensível que tem em troca. A história é ainda mais envolvida por canções da década de 20 cantadas por Annette Hanshaw, em sequências musicais que ilustram a história de Sita. Não existem factos exactamente paralelos entre os fios narrativos da vida real de Paley e as aventuras de Sita, mas a dor é a mesma. E no processo Paley também demonstra como podemos usar a nossa dor para criar mais arte.
Também é um testemunho glorioso do mundo da animação, especialmente da animação por computador. Paley utiliza a tecnologia como uma ferramenta para criar estilos muito diferentes, cada um agradável e/ou encantador e/ou deslumbrante à sua maneira. O filme também inclui um intervalo de 2:30 minutos no qual os personagens se movimentam e obtêm comida, e os sons da audiência são ouvidos. As cortinas abrem após o intervalo para uma dança fabulosa coreografada com uma fantástica música indiana.
Filme escolhido pela Vanessa S. Dias.

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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Blissfully Yours (Sud Sanaeha) 2002

Para a sua segunda longa-metragem, "Blissfully Yours", Apichatpong Weerasethakul criou uma representação delicada e impressionista de uma tarde perguiçosa de Verão dividida entre Min (Min Oo), um birmanês que cruzou ilegalmente a fronteira para a Tailândia à procura de trabalho, a sua namorada Roong (Kanokporn Tongaram), uma mulher mais velha que Roong contratou para ajudar Min. O filme é descomprimido a um grau extremo: praticamente nada acontece na sua duração de duas horas, já que as tarefas rotineiras e os longos momentos de êxtase são capturados e explorados pelas suas nuances emocionais e sensuais.
"Blissfully Yours", uma descrição onírica da realidade de várias pessoas comuns, é um pouco menos bizarro em termos de cenário, do que estrutura e edição. Numa altura em que o cinema tailandês girava mais em torno de melodramas passados nas linhas das fábricas, era animador ver realizadores como  Weerasethakul ou Pen-ek Ratanaruang (do hipnotizante "Last Life In The Universe") tentarem trabalhar fora da caixa. Weerasethakul criou a produtora Kick The Machine para ajudar os jovens realizadores tailandeses a realizarem os seus projectos. O realizador disse que pretendia fazer um "filme sobre um desastre emocional", e conseguimos perceber porquê. O desconfortável triângulo amoroso torna-se mais óbvio quando as duas nulheres entram em conflito por pequenas coisas. 
Enquanto que o seu primeiro filme, "Mysterious Object at Noon" era um modelo para o cinema "no budget", e a preto e branco, "Blissfully Yours" explode com cores e luxúria, levando o realizador a inúmeros festivais no ocidente, incluindo o Festival de Cannes, onde ganhou o prémio Un Certain Regard, um dos mais importantes do certame.
Filme escolhido pelo Paulo Alexandre Mota.

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quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Yi-Yi (Yi-Yi) 2000

"O filme mais acessível de Edward Yang e provavelmente o melhor desde "Guling Jie Shaoniam Ska Ren Shijian", esta película do ano 2000 acompanha três gerações de uma família contemporãnea de Taiwan, de um casamento até a um funeral e, embora dure três horas, momento algum parece vão.
Trabalhando uma vez mais com actores amadores, Yang arranca um desempenho notável a Wu Nien-Jen  - ele próprio um importante argumentista e realizador - como N.J., um sócio de meia idade de uma empresa de informática em declínio, que espera formar uma parceria com um desenhador de jogos japonês, e que tem um encontro secreto em Tóquio com uma mulher (Su-Yun Ko) que abandonou trinta anos atrás. Outros personagens importantes em "Yi Yi" incluem o filho de oito anos do herói (Jonathan Chang), a filha adolescente (Kelly Lee), a mulher espiritualmente traumatizada (Elaine Jin), a sogra comatosa (Ru-Yun Tang) e o cunhado endividado (Hsi--Sheng Chen). O filho - um prodígio cómico e frio chamado - Yang-Yang  - tem mania de fotografar aquilo que as pessoas não vêem, por exemplo, a parte de trás das próprias cabeças, porque, para ele, é a parte da realidade que falta.O rapaz parece ser o porta voz de Yang, a quem parece não faltar nada quando entrelaça pontos de vistas divergentes e comoventes refrões emocionais, criando um dos mais ricos retratos da família do cinema moderno." 
Texto de Jonathan Rosenbaum
Venceu o prémio de Melhor Realizador em Cannes, com o Melhor Filme a fugir para "Dancer in the Dark".
Filme escolhido pelo Bruno Villar.

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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

The World of Kanako (Kawaki) 2014

O pai de Kanako, ex-investigador que não mantém contacto com ela, é informado do seu desaparecimento, e vai, quase literalmente, até ao inferno para tentar encontrá-la. Nesse caminho, descobre que a sua filha "exemplar" não era exactamente o que ele pensava.
Superficialmente esta história parece muito familiar: um homem partido que embarca numa árdua busca para vingar o seu coração. É uma reminiscência de outros títulos mais proeminentes no género chamado "Asian Extreme", um género pilotado por realizadores aclamados como Takashi Miike ("Audition", "13 Assassins") e Park Chan-Wook, que fez o género explodir no exterior com o êxito "Oldboy", em 2003. Este novo filme do japonês provocador Nakashima Tetsuya ("Confessions", "Kamikaze Girls") é uma obra não apenas cheia de acenos ao filme seminal de Chan-Wook, sobre um homem emocionalmente destruído a recolher as peças do seu passado, mas também faz referências a obras como "The Searchers", na sua consideração fordiana à imprudente raiva patriarcal. Enquanto possui alguns elementos no enredo que o ligam a "Confessions", abandona os seus formalismos por algo mais espontâneo, chegando a integrar alguns pontos com anime.
Tetsuya Nakashima desenvolve aqui um mundo marcado pela extrema violência, emocional e física, pontuada por momentos de exuberância. "Matsuko", "Confessions" e "The World of Kanako" foram todos adaptados de livros de autores diferentes, há um fascínio contínuo por jovens raparigas adolescentes, e pelo estranho mundo fechado que elas habitam. E apesar de algumas cenas de acção elegantemente encenadas, a grande atracção do filme acaba por ser o actor principal, Kôji Yakusho.
Filme escolhido pelo Diogo Barbosa.

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domingo, 21 de outubro de 2018

Uma Questão de Confiança (Trust) 1990

Maria é uma rapariga de 16 anos. No dia em que anuncia aos pais que está grávida e pretende desistir do liceu, o pai morre instantaneamente de ataque cardíaco, o namorado acaba com ela e a mãe expulsa-a de casa. Perdida e sozinha, Maria começa a vaguear pelas ruas em busca de um sítio para ficar. É então que encontra Matthew, um técnico informático, também ele um fugitivo aos abusos constantes do seu autoritário pai. Depois de uma primeira tentativa de ficarem em casa de Matthew, acabam por se mudar para casa de Maria, onde vivem a sua mãe e Peg, a irmã mais velha. À medida que os dias passam e as aventuras se sucedem, entre Maria e Matthew vai-se sedimentando uma relação de confiança, admiração e respeito mútuos. Maria chama-lhe amor.
Hal Hartley escreve e realiza o seu segundo filme, o sucessor do bastante prometedor "The Unbelievable Truth", também este um drama em tons de comédia negra, que regressa à mesma localização suburbana de Long Island, para mais uma vez se aprofundar na vida familiar disfuncional da classe trabalhadora e da classe média. É sobre a relação inimaginável entre dois desajustados de diferentes tendências, Adrienne Shelly como uma estudante do ensino médio grávida, e Martin Donovan um electricista intelectualmente talentoso e graduado. 
O filme combina a sagacidade da assinatura de Hartley com romance à mistura. Faz comentários irónicos sobre a respeitabilidade da classe média e oferece uma visão mais realista, porém mais sombria, sobre questões como o abuso dos pais e o assédio sexual. Também abraça questões controversas como o aborto. É um filme anti-convencional, não adequado para todos os gostos, mas orgulha-se em captar o verdadeiro sabor dos adolescentes rebeldes de "Rebel Without A Cause", de Nicholas Ray.
Filme escolhido pela Catarina Pires.

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sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Werckmeister Harmóniák (Werckmeister Harmóniák) 2000

Numa cidade provinciana da Hungria faz muito frio, mas não neve. Neste frio desnorteado centenas de pessoas estão para das em redor da tenda do Circo, que fica na rua principal, para ver, como resultado desta espera, a carcaça empalhada de uma baleia verdadeira. As pessoas chegam de todos os lados, das cidades vizinhas, e mesmo dos lugares mais distantes do país, atrás desta criatura, como uma multidão sem rosto. Este corrente estado de coisas perturba a ordem da cidade, e algumas personagens tentam aproveitar-se da situação. A tensão cresce o suficiente para libertar emoções destrutivas...
O realizador húngaro  Béla Tarr realiza aqui uma fábula estranha mas espantosamente maravilhosa, que parece ser uma alegoria, mesmo que o realizador diga que não é. Pode ser vista como uma história sombria de terror cósmico, inquietante e não facilmente interpretado, pois fala da ordem harmónica das coisas perturbadoras, e do caos que se torna a ordem do dia. 
"Werckmeister Harmonies" é baseado num livro de 1989 (o ano em que o socialismo de estado terminou na Hungria), chamado ''The Melancholy of Resistance'' de László Krasznahorkai. Tarr, em conjunto com a sua esposa e montadora Agnes Hranitzky são fieis ao espírito do filme, embora o filme seja muito diferente em termos de estrutura,  incluindo um chocante take de oito minutos de duração, sem diálogos, que não estava no livro. 
A velocidade relativamente lenta e o preto e branco criam um clima visual chocante, que amplia a inquietação apocalíptica que é desencadeada quando o circo chega à cidade. Além disso, todos parecem comunicar através da telepatia e não da fala, o que aumenta mais a sensação única de hipnotizar e arrepiar que o filme tem. 
Filmes escolhido pelo Luis Baía.

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terça-feira, 16 de outubro de 2018

O Grande Engarrafamento (L'ingorgo) 1979

Um tremendo congestionamento atingiu o anel da auto-estrada de Roma. O maior engarrafamento já visto perdura pro mais de 36 horas. As pessoas bloqueadas nos seus carros reagem normalmente no início, mas com o passar do tempo começamos a ser testemunhas de alguns dramas pessoais, reacções histéricas e muito mais. Todos os episódios estão ligados como um enredo. Os carros e os seus donos são um microcosmos de histórias para um universo maior.
Um dos filmes cómicos negros de Luigi Comencini, feito por episódios com numerosas estrelas: Alberto Sordi, Annie Girardot, Fernando Rey, Marcello Mastroianni, Steffania Sandrelli, Ugo Tognazzi, Gérard Depardieu, Miou-Miou, e apresenta um gigante engarrafamento que serve de metáfora para a desorganização política de Itália, a indisciplina, e o caos social. Enquanto o industrial interpretado por Sordi se porta cinicamente as coisas funcionam melhor em Moscovo porque as linhas de tráfico estão sempre abertas. Cada personagem do filme se porta mal, e a última imagem do filme é uma longa linha de carros imóveis a irem, como a Itália, para lado nenhum.
É uma das últimas chamadas "commedia all'italiana", e também é um dos últimos filmes decentes de Luigi Comencini, que tinha-se destacado neste género nos últimos 20 anos.
Legendas em inglês.
Filme escolhido pelo João Ricardo Oliveira.

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segunda-feira, 15 de outubro de 2018

O Companheiro (The Dresser) 1983

Durante a 2ª Guerra Mundial vive um idoso (Albert Finney), mas famoso actor shakespeariano, que agora está frustrado, senil e à beira de uma crise nervosa. É conhecido pelo elenco e equipa apenas como "Sir" e continua com a sua temporada pelos teatros britânicos com um grupo de velhos actores, que ficaram isentos do serviço militar. Sir exerce uma tirânica liderança na companhia, que começa a desmoronar em virtude da sua idade e do seu estado de saúde. Ele conta com Norman (Tom Courtenay), o seu camareiro, um homossexual infinitamente fiel que tem uma dedicação tão extrema que até é irritadiça. Neste momento estão a encenar "Rei Lear" e Norman inclina-se às exigências por vezes absurdas do seu patrão, cuida da sua saúde e procura lembrá-lo do papel que está a encenar...
Peter Yates realiza esta competente, descontraída e teatral adaptação de uma premiada peça da Broadway de Ronald Harwood. O seu ponto mais forte é sem dúvida a interpretação, com ambos os protagonistas, Albert Finney e Tom Courtenay a serem nomeados para o Óscar, com a actriz Eileen Atkins a tentar, e quase conseguir, roubar o filme. 
Yates captura o ambiente levemente decadente da Grâ-Bertanha dos tempos da guerra, e evoca a sensação de dedicação dos pequenos actores, mesmo quando eles se queixam e reclamam. Sir, o personagem de Finney, baseado no actor Donald Wolfitt, de quem o argumentista Ronald Harwood supostamente foi camareiro, possui um domínio tirânico sobre toda a sua companhia, apesar de estar cheio de inseguranças que o transformam repetidamente de um egoísta de voz alta, num homem fraco a gaguejar, e agarra a nossa simpatia aos poucos, e é aqui que o poderoso desempenho de Finney brilha, transformando uma personagem estereotipado num ser humano real atormentado por todos os medos. Courteney acompanha o seu desempenho, que pela forma como ele habita o seu personagem, parece ter sido feito à sua medida.
Filme escolhido pelo Pedro Fiuza.

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sábado, 13 de outubro de 2018

Dvoe (Dvoe) 1965

Um jovem músico corteja uma bela mulher que se recusa a responder a qualquer coisa que ele diga, apesar dos múltiplos encontros entre os dois. Eventualmente ele descobre que ela é surda, e o resto do filme seguimos o silencioso romance entre os dois.
Mikhail Bogin era o realizador da União Soviética mais liricista entre os que começaram em meados da década de sessenta, ganhando reputação internacional com esta sua primeira obra, uma média metragem de nome "Dvoe" (1965), uma história de amor entre um jovem músico e uma rapariga surda. Nesta obra de estreia, as relações pessoais são retratadas de uma forma calorosa e com sinceridade, mas a actriz que intrepreta a heroína com uma deficiência auditiva não consegue comunicar com linguagem de sinais. A falta de uma linguagem de sinais pode significar uma tentativa de esconder ou minimizar a incapacidade de sintetizar o poder estatal, e uma ideologia de reprimir todos os outros tipos de linguagens.
"Dvoe" foi bastante reconhecido na altura da estreia, vencendo o prémio FIPRESCI no Festival Internacional de Moscovo, além de ter recebido óptimas críticas, como a do crítico Howard Thompson do New York Times:
"See "Dvoe," whatever you do. It was made at the Riga Studios in Latvia, under a young director of uncommon skill and insight named Mikhail Bogin, who wrote the screenplay with Yuri Chulyukin. Ever so simply and sweetly, minus one drop of saccharine, the picture conveys the growing love of the spirited oboist and the beautiful girl in her silent world who studies at a pantomime theater for deaf mutes. 
 "What is music like?" she scribbles. There is a moment of freezing beauty with the boy watching the girl as the balcony scene from Romeo and Juliet is pantomimed on the stage. The picture is most effective when the sound track goes silent, as at the climax when the deaf girl attends a concert."
Legendas em Inglês.
Filme escolhido pelo Bruno Andrade.

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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

The Lottery (The Lottery) 1969

Trabalho mais famoso de Shirley Jackson, e uma das curtas histórias mais famosas de todos os tempos, é sem dúvida este “The Lottery", um conto que ela publicou nas páginas do The New Yorker em 26 de Junho de 1948. Em 1969 Larry Yust dirigiu uma curta metragem como parte da  Encyclopedia Britannica’s Short Story Showcase, uma série de filmes educativos para serem exibidos em salas de aula. A história deste filme talvez seja um pouco chocante para ser exibida numa sala de aulas, mas foi das de maior sucesso na série. 
O filme começa com o público da cidade a participar numa lotaria. Enquanto conversam entre si ficamos a saber muito sobre a loteria. Tem lugar sempre no dia 27 do mês. Deve acontecer anualmente porque o  Old Man Warner participa há 77 anos. A loteria deve ter começado como uma espécie de ritual pagão ligado ao cultivo. O que não sabemos até ao climax é qual é o prémio por ganhar a "loteria". Não vou revelar aqui qual é o "prémio", mas para aqueles que não estão familiarizados com o conto,  Shirley Jackson escreveu por exemplo "The Haunting".
"The Lottery" da Encyclopedia Britannica Films foi escrito e realizado por Larry Yust, que hoje é mais conhecido pelo seu trabalho como fotógrafo, que podem ver aqui. Yust era graduado pela Universidade de Stanford, com um diploma em artes teatrais. O seu pai trabalhou como editor na Encyclopedia Briticannica.
Curta metragem sem legendas.
Filme escolhido pelo Pedro Salgado de Oliveira.

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terça-feira, 9 de outubro de 2018

Aguenta-te, Canalha! (Giù la Testa) 1971

No México, na altura da revolução, Juan, o líder de uma família de bandidos, conhece John Mallory, um expecialista em explosivos do IRA em fuga dos britânicos. Ao ver a habilidade de John com explosivos Juan decide convencê-los a juntar-se aos bandidos para um assalto ao banco de Mesa Verde. Entretanto John fez contacto com os revolucionários, e pretende usar a sua dinamite neste serviço. 
Muito possivelmente a menos apreciada das obras-primas de Sérgio Leone, "Giù la Testa" pode não ter a presença icónica de Clint Eastwood, mas tem um argumento inteligentemente escrito e um realizador no pico dos seus poderes. É uma espécie de comédia, apesar do tratamento sério da guerra contra a opressão, com fortes comentários sobre como o poder elitista usava as classes mais baixas sem instrução, para cumprir as ordens enquanto continuam a recolher recompensas dos seus esforços. Enquanto muitos espectadores vai apreciar muito mais a comédia e a acção, é realmente a compaixão de Leone para com as lutas de classe que elevam este filme a um dos melhores westerns spaghetti de sempre.
O filme não se esforça para ter muita precisão histórica, mas permanece vital como uma alegoria interessante celebrando as virtudes do homem comum e os vícios dos poderosos e ricos. Em muitos aspectos, é um filme de tendências esquerdistas, não muito diferente de muitos que eram populares naquela época, mas não é um comentário a nenhum evento em particular, mas sim a uma ideologia. Embora não seja o clássico do género como outros filmes de Leone, a sua complexidade faz com que mereça a pena uma visualização.
Filme escolhido pelo Marco Santos.

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segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Tex, o Pistoleiro (Tex e il Signore Degli Abissi) 1985

"Desde 1987 que sou fã e coleccionador de TEX, banda desenhada italiana (fumetti) da autoria de Giovanni Luigi Bonelli. Deste modo, é óbvio que a passagem ao cinema do personagem era algo que não podia perder. Pessoalmente, este western-spaghetti, apesar de já ter sido produzido numa fase tardia (1985), é provavelmente o meu filme favorito do género. Para isso muito contribuiu o protagonista do filme, o actor Giuliano Gemma, que detém um lugar no topo das minhas preferências. O filme é uma adaptação fiel (note-se os diálogos e as roupas dos personagens, por exemplo) dos números 40, 41 e 42 de TEX (Editora Vecchi), no qual os rangers Tex Willer e Kit Carson, acompanhados pelo seu amigo índio navajo Jack Tigre, são destacados para investigar um carregamento de armas que foi roubado na fronteira entre os Estados Unidos e o México.
A aventura leva-os a diversos perigos, a tiroteios com renegados mexicanos e a uma tribo de índios fanáticos que possuem uma arma terrível e sobrenatural que consegue transformar os cadáveres das suas vítimas em pedra! Algumas das personagens principais da BD estão presentes no filme (Tex, Carson, Tigre, El Morisco e o seu criado Eusébio) e quem gosta de acção, aventuras, explosões, tiroteios e alguns elementos sobrenaturais irá gostar deste filme de Duccio Tessari. O elenco, à excepção de Giuliano Gemma (Tex Willer) e William Berger (Kit Carson), que são presenças habituais em muitos westerns-spaghetti, é composto por ilustres desconhecidos tais como Carlo Mucari, Isabel Russinova, Flavio Bucci e Peter Berling. G.L. Bonelli tem um breve papel como feiticeiro e narrador da história. 
A ideia inicial deste filme era servir de episódio piloto que daria origem a uma série televisiva de TEX na televisão italiana (RAI) mas devido ao fraco sucesso nas bilheteiras o projecto foi cancelado. Este Tex, o Pistoleiro foi-me dado a conhecer em formato VHS no Clube de Vídeo Trinitá de Portalegre, e segundo consegui apurar, apenas há edições DVD oficiais na Itália e na Alemanha. Eu adquiri a versão italiana, que não tem extras e está apresentado no formato 4:3. Em suma, são cerca de 100 minutos de bom entretenimento, a um ritmo rápido e com um Giuliano Gemma em bom plano, que mostra em algumas sequências as suas habilidades de ginasta, além do manejo das armas de fogo."
Filme escolhido pelo Emanuel Neto, com o seu texto a ser retirado daqui

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sábado, 6 de outubro de 2018

Bandidos (Bandidos) 1967

O famoso pistoleiro Richard Martin viaja num comboio que é assaltado por Billy Kane, um antigo aluno seu. Kane poupa Martin, mas dispara sobre as suas mãos, que fica incapacitado de disparar. Anos depois, Martin encontra um condenado que escapou da prisão, injustamente acusado pelo assalto ao comboio. Começa a treiná-lo, e os dois vão procurar Billy Kane.
"Bandidos" permanece desconhecido no grande fluxo dos westerns spaghetti que inundaram o mercado em finais da década de sessenta, presumivelmente porque tanto o realizador Massimo Dallamano e o protagonista Enrico Maria Salerno são desconhecidos para o género. Mas isso não é totalmente verdade, Dallamano foi director de fotografia nos dois primeiros filmes dos dólares, e  Enrico Maria Salerno dobrou Eastwood nas versões italianas da trilogia dos dólares. Salerno também era a primeira escolha de Leone para o papel de Mr. Choo Choo Morton, o vilão de "Aconteceu no Oeste".
Com o ex-director de fotografia no leme, não é de admirar que o filme pareça óptimo. Até há uma cena no assalto do comboio que pode ter inspirado uma parecida em "Aconteceu no Oeste". Alex Cox, realizador que já passou por aqui, e especialista em western spaghettis, acha que Dallamano fez "Bandidos" por frustração. Ele ajudou a estabelecer as convenções visuais do género, mas foi descartado para a terceira e última parte da famosa trilogia. "Bandidos" é, na verdade, um filme sobre traição, e uma variação do familiar tema "professor-aluno", no qual, neste caso, um mestre é enganado por um aluno. Seria também a única incursão de Dallamano no western como realizador, com o realizador a ficar mais conhecido pelo giallo "Cosa Avete Fato a Solange?", realizado alguns anos depois. 
Filme escolhido pelo Pedro Pereira.

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quinta-feira, 4 de outubro de 2018

O Pistoleiro Relâmpago (The Quick Gun) 1964

Regressando a casa depois de dois anos de ausência, Clint (Audie Murphie), conhecido por ser rápido no gatilho, é apanhado pelo gang de Spangler (Ted de Corsia), e descobre que eles planeiam ir para a mesma cidade que ele, onde irão assaltar um banco. Consegue escapar, e apesar de não ser bem vindo na cidade, consegue avisar os poucos habitantes da cidade que não estão fora com o gado. Dois anos atrás ele tinha morto os Morrisons, e não é bem vindo naquela cidade.
Era a terceira vez que esta história de Steve Fisher era adaptada para o grande ecrã. A primeira adaptação chamava-se "Top Gun", e contava com Sterling Hayden no principal papel, seguido como  "Noose for a Gunman" que contava com Jim Davies como protagonista, que mais tarde seria Jock Ewing em "Dallas", com Ted DeCorsia a interpretar o mesmo papel que em "The Quick Gun". Os três filmes, são westerns "à antiga", com todos os condimentos deste tipo de filmes, e acção sem parar.
Audie Murphy, a estrela da companhia, tinha sido o soldado mais condecorado durante a Segunda Guerra Mundial, e estava já em fase final da sua carreira.  Fez alguns filmes para a Columbia e outros estúdios entre 1964 e 67, mas sem dúvida que a sua estrela estava em declínio. Ainda assim os seus filmes para a Columbia eram muito decentes e com óptimos valores de produção, semelhantes aos da Universal. Este "The Quick Gun", de Sidney Salkow, era um excelente filme-veículo para a estrela, muito atraente visualmente, e um óptimo trabalho de câmara, e exteriores agradáveis.
Filme escolhido pelo Mário Fernandes.

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terça-feira, 2 de outubro de 2018

A Noite do Caçador (The Night of the Hunter) 1955

Grande Depressão. No processo de roubar 10.000 dólares de um banco, Ben Harper mata duas pessoas. Antes de ser capturado, convence o seu filho adolescente John e a jovem filha Pearl a não contarem a ninguém onde escondeu o dinheiro, incluindo a mãe Willa, que foi no brinquedo preferido de Pearl, uma boneca que ela carrega para todo lado. Ben é capturado, julgado e condenado à morte, mas antes de ser executado divide a sua cela com um homem chamado Harry Powell, um vigarista e assassino que engana mulheres solitárias, principalmente ricas. Harry faz tudo o que pode para saber a localização do dinheiro, sem sucesso, e depois da execução de Ben, fica decidido que Willa será a sua próxima vítima, imaginando que alguém da família sabe onde está o dinheiro...
Como a maioria dos filmes que desafiam convenções, ultrapassam barreiras e demarcações confusas de tom, estilo e género, "The Night pf the Hunter", de Charles Laughton, não foi muito bem recebido quando foi estreado, em 1955, nem pelo público nem pela crítica (nem pela United Artists, o estúdio que produziu e distribuiu o filme tinha uma ideia do que era o filme).  Os críticos ainda geraram alguma simpatia, talvez porque reconheciam que o filme incorporava alguma ousadia, e incluísse tantos estilos temáticos diferentes. O público, por outro lado, ficou bem longe do filme, o que desgostou Laughton, um actor britânico já de créditos firmados que se estreava na realização, mas que acabaria por não fazer mais nenhum filme. 
Baseado num livro de Davis Grubb, e adaptado para o grande ecrã por James Agree, um argumentista e crítico de cinema que anteriormente já tinha adaptado "The African Queen" de John Huston, constrói um thriller que salta implacavelmente entre o realismo duro e o lirismo exagerado, dando a impressão de ser um pesadelo estilizado. Mais de 60 anos depois da sua estreia, "The Night of the Hunter" continua a ser um filme sem igual. É um pesadelo sombrio no qual elementos aparentemente díspares e impraticáveis se juntam para criar uma das visões mais perturbadoras do cinema. 
Filme escolhido pelo Hugo Tavares.

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