sexta-feira, 31 de julho de 2020

Idéia Fixa (Peppermint Frappé) 1967

Julián, médico radiologista, reencontra o seu amigo de muitos anos, Pablo, a quem conhece desde criança. O amigo está agora casado com Elena, uma linda mulher que Julián diz já ter conhecido algum tempo atrás. Julián tenta aproximar-se cada vez mais dela, mas Elena não se entrega facilmente, formando um estranha situação que envolverá inclusive a enfermeira do doutor, Ana, que tem uma intrigante semelhança com Elena.
Segundo Urso de Prata quase consecutivo para Carlos Saura, depois do seu magnifico trabalho "La Caza". Nesta sua quarta longa.metragem Saura estabeleceu a linguagem enigmática sob a qual o seu trabalho posterior seria realizado. A partir de personagens arquetípicos tentou simbolizar as repressões do espanhol médio, principalmente no aspecto sexual. 
Depois de "La Caza", Carlos Saura dedicou-se a um projecto cinematográfico que seria uma homenagem ao seu mestre espiritual: Luis Buñuel. Enquanto as pesonagens femininas contrastantes de Elena e Ana impulsionam o enredo cada vez mais preverso do filme, é Julián quem é o foco principal de "Peppermint Frappe" e a personificação do tradicional espanhol masculino, criado no regime de Franco. Numa entrevista, Saura afirmou que: "Eu percebi que a burguesia espanhola, e por extensão a do mundo, incluindo a classe média, tem uma série de imagens fixas: uma noção medieval, relativa a sentimentos, mantida principalmente pelos homens em relação às mulheres. É essa noção de mulher como objecto que as revistas de moda mostram de uma forma muito clara. No filme é um pouco mais claro, porque contém o mito do objecto da mulher mantido pelo homem tradicional com as suas noções religiosas e educação particular. Ele (Julián) pode ser um médico fantástico, mas não o deixa afastar do conceito de objecto-mulher. Todos estamos familiarizados com este problema em Espanha."
Legendas em inglês.

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quarta-feira, 29 de julho de 2020

Dante no es Únicamente Severo (Dante no es Únicamente Severo) 1967

Não há enredo, o filme é apenas uma história atrás da outra que uma mulher conta ao seu amante, como uma Sherezade moderna. Há experiências com a luz, as cores, o som para a frente e para trás. Histórias de um tempo que nunca chega, de príncipes de azul, de solidão e desejo ... Extremamente engraçado, mas nem sequer devemos tentar obter um significado deste filme, basta vê-lo e apreciá-lo. 
"Dante no es únicamente severo" , um filme espanhol de 1967 co-dirigido por Joaquin Jorda e Jacinto Esteva, é o filme "manifesto" da Escola de Barcelona. A "Escola de Barcelona" foi um movimento espanhol muito pouco conhecido, semelhante à Nouvelle Vague, de onde foi beber bastante inspiração, mas o filme em si tinha mais do que um interesse histórico: pós-moderno relacionamento, em que a esposa diz ao marido várias piadas, histórias, a maioria das quais são ilustradas via dramatizações, e sequências pré-pop-vídeo (devido tanto a Godard como a Buñuel).
 O marido é interpretado por Enrique Irazoqui, o Cristo de Pasolini, actor que apenas participou em cinco filmes ao longo da sua vida. O quadro é ótimo, e o vale-tudo do fluxo de idéias e imagens é mais o de prender o espectador. A melhor sequência é de longe a extensão de abertura pré-créditos, no qual vários jovens (todos no filme são bonitos) sentam-se à volta de uma jukebox, para ouvir música, num café ao ar livre: uma sequência que parece ter sido rodada e montada ontem.
Legendas em inglês.

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segunda-feira, 27 de julho de 2020

Nove Cartas a Berta (Nueve cartas a Berta) 1966

Anos cinquenta. Lorenzo é um estudante de Salamanca que acaba de passar um Verão em Inglaterra, onde descobriu outros modos de vida e outros horizontes, além de ter conhecido Berta, filha de um exilado, por quem se sente atraído. Depois do seu regresso, a atmosfera tradicional da sua família, os amigos e a namorada, já não lhe dizem nada. As suas preocupações são intensificadas em cartas dirigidas a Berta, que permanece no exterior.
Considerado um dos filmes-chave do Novo Cinema Espanhol pela sua crítica bastante aberta à Espanha de Franco como uma sociedade atrasada, provincial e isolada, e pelo uso de frames "congelados" e imagens em câmara lenta que reforçam a forma epistolar e o tema do "tempo esgotado".
Primeiro filme de Basílio Martin Patino, famoso documentarista que sabia retratar perfeitamente a Espanha do pós-guerra. Desta vez ele faz isso com um jovem que passa uma temporada fora de Espanha, e quando regressa, ao comparar as duas realidades, cai numa crise existencial. Um papel desempenhado com grande mestria por Emílio Gutiérrez Caba, na altura ainda um jovem actor, que nesse mesmo ano também se destacaria em "A Caça" de Carlos Saura.
Legendas em Inglês.

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domingo, 26 de julho de 2020

A Caça (La Caza) 1966

Três homens caçam coelhos durante um dia quente. O calor e as conversas sobre acontecimentos ocorridos no passado deixam os três homens com raiva, até que ficam totalmente loucos.
Com "A Caça", o terceiro filme de Carlos Saura, este inicia uma colaboração bastante frutífera com o produtor Elías Querejeta. O filme começa com uma análise profunda de uma geração espanhola que regressa repetidamente no trabalho de Saura, a saber, os sobreviventes da Guerra Civil, marcados por frustrações e fracassos. Com a excepção de Paco, José e Luis são dois remanescentes do passado. Luis é abandonado pela sua esposa e reduzido a uma paixão apocalíptica mórbida, é prisioneiro de uma medicação compulsiva e consome grandes doses de alcool. José, separado da esposa por causa de uma relação com uma jovem, está à beira da ruína. O quadro fica completo com uma ausência, Arturo, o quarto amigo do grupo que cometeu suicídio há muito pouco tempo, em estranhas circunstâncias. Quique torna-se a testemunha atordoada deste dia trágico, resultado de anos de deterioração, ressentimento e frustração. 
"A Caça" no seu tema e estilo, faz parte de uma corrente realista que Saura tinha explorado no seu primeiro filme, "Los golfos",  e lembra o romance de Rafael Sanchez Ferlosio "El Jarama" (1955), cuja acção se passa num dia e também confronta o presente e o passado da guerra. Assim, há uma rara concentração de drama passada em apenas um dia, e a um único ambiente. No entanto, essa paisagem, embora realista, também está imbuída de um simbolismo através de várias medidas: a fotografia a preto e branco de Luis Cuadrado, deliberadamente queimada, superexposta, proporciona uma atmosfera quase surreal. 
Considerado um dos filmes fundadores do chamado "Novo Cinema Espanhol", conseguiu conquistar o Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlin, destinado ao prémio de Melhor Realizador. 

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sexta-feira, 24 de julho de 2020

Os Abismos da Vida (Los Pianos Mecánicos) 1965

Vincent, um jovem de Paris, chega à pequena vila espanhola de Caldeya, onde lhe foi emprestada uma casa pelo seu amigo Reginald. Lá, conhece Pascal Regnier, um escritor envolvido no alcool e em relações amorosas, que passa o Verão em Caldeya com o filho Daniel. Regnier apresenta Vincent a Jenny, dona do clube noturno local, que já tinha recebido um pedido de Reginald, para ela cuidar do seu amigo.
Uma fase menos criativa de Juan Antonio Bardem, aqui em regime de co-produção, com França e Itália, e um grande elenco internacional, com nomes como Melina Mercouri, Hardy Kruger ou James Mason, e a acção passada numa localidade exótica espanhola.
O filme, deriva de um livro de Henri François Rey chamado "Les Pianos Mechaniques," e gira em torno de um grupo de boémios de Verão, a maioria gravitando à volta do estabelecimento de Melina Mercouri. Foi um filme bastante rejeitado pela crítica, mas mesmo assim um grande sucesso comercial em Espanha, devido ao seu tema ousado e algumas breves cenas eróticas, acabando também ele por ser alvo da censura, com algumas cenas cortadas. Bem longe dos filmes do inicio de carreira do realizador, ainda assim concorreu para a Palma de Ouro em 1965.
Legendas em inglês.

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quinta-feira, 23 de julho de 2020

Fata/Morgana (Fata/Morgana) 1966

Gim é uma bela modelo cuja vida está em perigo. Há um assassino que pretende matá-la, e ela não tem consciência do perigo. A única pessoa que parece ter a certeza de que o assassino atacará é um professor local, e também há um detective que sabe que o assassino atacará, mas não sabe quem será o assassino nem a vitima. Ao falar com o professor, ele tem a identidade da vitima e tem de encontra-la na cidade deserta, povoada por um pequeno grupo de pessoas invulgares que tentam impedir a sua busca.
Um thriller muito estranho e de avant-garde de Vicente Aranda, realizador do aclamado "La Novia Ensangrentada". Neste seu primeiro filme, Aranda optou por usar elementos típicos do giallo (um assassino desconhecido a perseguir vitimas e a matá-las com um objecto estranho), que estava a ficar popular na Europa, e misturava uma grande quantidade de surrealismo experimental, semelhante ao usado por Luis Buñuel no inicio da carreira. 
Filmado em Barcelona, seria um dos primeiros filmes da chamada "Escuela de Barcelona", um movimento vanguardista que seria talvez o mais importante a saír do cinema espanhol. Mais importante, e mais genuíno do que, por exemplo, o Novo Cinema Espanhol. Veremos mais filmes deste movimento nos próximos dias.
Legendas em inglês.

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segunda-feira, 20 de julho de 2020

El Mundo Sigue (El Mundo Sigue) 1965

Duas irmãs que se odeiam mutuamente, estão obcecadas, cada uma à sua maneira, por enriquecerem na Madrid dos anos sessenta. À sua volta, toda uma série de personagens sobrevive tentando ultrapassar a miséria da pós-guerra cívil espanhola.
Fernando Fernán Gomez quase faliu ao adaptar, produzir, dirigir e interpretar sozinho "El Mundo Sigue", um filme considerado maldito, que não teve uma estreia adequada devido a problemas com os censores, e desde então foi poucas vezes visto. Um melodrama implacavelmente sombrio, que enfoca as contrastantes fortunas de duas irmãs, de uma família da classe trabalhadora, uma "boa" e outra "má", presas num círculo de humilhação e miséria. 
Parcialmente filmado em exteriores, e capturando uma imagem real do que era a vida em Madrid, "El Mundo Siegue" lança um olhar contundente sobre as relações familiares, e os padrões que restringiam a vida das mulheres, numa altura em que os estilos de vida "modernos" começavam a libertá-las dos seus papéis tradicionais, como os de donas de casa e mães. O filme é tão imparcial na sua crítica social, que não é de admirar que os censores se tenham concentrado tanto nele. 
Legendas em inglês.

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sábado, 18 de julho de 2020

A Carga dos Rebeldes (Llanto por un Bandido) 1964

José María 'El Tempranillo', perseguido pela justiça, refugia-se na Sierra Morena. Alí, depois de um período de dura aprendizagem, ele torna-se o líder de um grupo de bandidos. A sua esposa, Maria Jerónima, tenta tirá-lo dessa vida sem sucesso, e algum tempo depois, Pedro Sanchez, um político liberal, escapa de uma corda de prisioneiros e atravessa a montanha em busca de José Mari. Quando o encontra, tenta atraí-lo para a causa liberal.
Biografia do bandolero espanhol “El Tempranillo” , que nos primeiros anos do Século XIX viveu na Serrania de Ronda. Dedicado ao roubo desde tenra idade, forma o seu próprio gang, e a quem os liberais vão tentar atraír para a guerra que travam com o rei Fernando VII.
Carlos Saura competiu com a sua primeira longa-metragem, "Los Golfos" no festival de cinema de Cannes. "Llanto por un Bandido" seria a segunda longa metragem de Saura, que aceitou uma comissão para levar ao ecrã um filme sobre a vida do bandido El Tempranillo. No papel principal, ninguém menos que Francisco Rabal, que na altura já tinha trabalhado com Buñuel e era uma estrela. O próprio Buñuel tem uma pequena participação no inicio do filme como carrasco, e era uma das grandes influências de Carlos Saura. Outra das grandes influências para a produção deste filme é o pintor Francisco Goya, e curiosamente são os três aragoneses. Grande parte dos cenários vêm do trabalho do pintor, chegando a recriar directamrnte uma das suas pinturas. 
O filme foi renegado pelo realizador durante alguns anos, e foi nomeado para o Urso de Ouro no festival de Berlim em 1964.
Legendas em inglês.
Nota: o link foi alterado, porque o anterior não tinha o filme completo.

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quinta-feira, 16 de julho de 2020

A Tia Tula (La Tía Tula) 1964

Depois da morte da sua irmã Rosa, Tula recebe em casa a companhia do seu cunhado Ramiro e os seus dois filhos. A coexistência entre Tula e o seu cunhado, a principio, não deixa de ter atrito e tensão, principalmente quando Emilio, que deseja casar com Tula, quer que Ramiro use a sua influência sobre ela, para o ajudar nos seus planos. Mas Ramiro sente-se atraído pela cunhada, uma atracção favorecida pela vida em comum.
Primeiro e melhor filme de Miguel Picazo, um clássico do cinema espanhol adapatado de uma obra do grande escritor Miguel de Unamuno. "Tía Tula" é o retrato psicológico e social das províncias, com pessoas como a tia Tula, um acumular de contradições poderosas e intransponíveis, por um lado a rigidez e por outro um vulcão fervente, abalado pelo desejo e pela transgressão, para poder derrubar toda a monotonia que o cerca. Aurora Bautista faz um trabalho memorável com a personagem, aquela mulher / mãe educadora, e de personalidade poderosa, mas submersa na mais absoluta mediocridade vital. 
O filme é um modelo de precisão, de soberba sobriedade, um trabalho poderoso e seco, um trabalho vigoroso que deixa uma marca indiscutível. Legendas em inglês.

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quarta-feira, 15 de julho de 2020

El Extraño Viaje (El Extraño Viaje) 1964

A gira em volta dos irmãos Vidal, todos solteiros. Os dois mais novos, Paquita e Venancio, sofrem nas mãos da irmã mais velha, Ignacia, que manda neles como se fossem seus empregados. As coisas mudam quando eles suspeitam que alguém anda a entrar no quarto de Ignacia e tentam descobrir o que está a acontecer.
Fernando Fernán Gómez conseguiu com esta obra um dos seus melhores trabalhos, e o mérito reside na descrição fiel e exacta da Espanha rural, analfabeta, rançosa e púdica dos anos sessenta. Rebelde e inconformista, consegue combinar habilmente vários géneros de filmes, do drama à comédia, passando pelo aterrorizante, pelo suspense e o policial, para alcançar e descrever a hipocrisia, a opressão e os duplos padrões que eram vigentes nessa época.
Originalmente intitulado "El Crimen de Mazarrón", título que foi reprimido pela censura da época, "El Extraño Viaje" é um elemento surpreendente no meio de um período bastante negativo na história contemporânea espanhola. A surpresa está mais no conteúdo do que qualquer outro aspecto em si. Surgiu da misteriosa aparição de dois corpos na praia de Mazarrón, Murcia, e de uma conversa que Fernán Gómez teve com Berlanga, em que este disse que poderia ser feito um filme de tal ocorrência. Fernán Gómez levou as palavras de Berlanga a sério, e fez mesmo o filme, mais uma pérola do cinema espanhol.
Legendas em inglês.

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terça-feira, 14 de julho de 2020

El Verdugo (El Verdugo) 1963

A história de um jovem tímido e simplório que se apaixona e casa com a filha do carrasco da região. Cabe-lhe, por sucessão, tomar o seu lugar quando aquele se aposenta. Mau grado escrúpulos e agonias, acabará por cumprir a missão. É tudo uma questão de hábito, dirá por outras palavras, o sogro. Ou como a rotina da morte gera a indiferença.
Em 1963, quando "El Verdugo" estreou no festival de cinema de Veneza, o embaixador espanhol em Roma, Alfredo Sanchez Bella, condenou o filme publicamente como propaganda anti-fraquista. Embora tenha ganho o Prémio Internacional da Crítica, a censura oficial condenou o realizador Luis Garcia Berlanga e paralisou temporariamente a sua carreira. "El Verdugo" teve uma estreia oportuna, pouco tempo antes do lançamento do filme três pessoas foram executadas em Espanha com a pena de morte: Julián Grimau, um comunista, e os anarquistas Francisco Granados Mata e Joaquín Delgado Martínez. Estes incidentes provocaram uma onda de criticas internacionais condenando o atraso do regime de Franco e provocaram um debate sobre a pena de morte em Espanha. Neste contexto sócio-político o filme de Berlanga era entendido como tendencioso e cúmplice da rejeição internacional do franquismo. 
"El Verdugo" não apenas condenava a prática da pena de morte em Espanha como também denunciava a paralisia social que resultava do regime ditatorial opressivo que aparentemente apenas começava a liberalizar. O clima politico repressivo estava em desacordo com as transformações culturais da década de sessenta, e as mudanças sociais que afectavam Espanha, como o rápido desenvolvimento económico e a chegada do turismo em massa. Berlanga ilustra a realidade ambivalente de Espanha, contrastando a persistência de práticas arcaicas com imagens de modernidade representadas pelo turismo em Maiorca. Pode-se argumentar que Berlanga também criticava a natureza repressiva e patriarcal do regime de Franco através do carácter de José Luis e a sua submissão aos mandados do seu sogro. Finalmente Berlanga lança um olhar irónico e crítico para as politicas urbanas franquistas e a dificuldade de encontrar habitações nas áreas urbanas em expansão. 
O extraordinário sentido de humor que opera ao longo desta história trágica faz deste filme uma comédia negra clássica e reflecte o excelente trabalho do co-argumentista Rafael Azcona, cuja experiência anterior com o neorrealismo influenciou claramente a forma e o conteúdo de "El Verdugo". 
Legendas em inglês. 

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domingo, 12 de julho de 2020

El Buen Amor (El Buen Amor) 1963

Dois jovens estudantes universitários decidem passar o dia em Toledo, a fim de esquecerem um pouco da rotina em que estão. Às nove da manhã José Luis espera na estação de Atocha pela sua namorada, Mari Carmen. O dia é eterno e a permanência na cidade, em vez de surpreendê-los, como esperavam, mergulha-os ainda mais na monotonia em que viviam, mas que também os irá ajudar a se conhecerem melhor.
Um filme seminal, mas poucas vezes visto, no desenvolvimento do Novo Cinema Espanhol dos anos sessenta, tem uma qualidade quase episódica, que faz dele um contraponto curioso à atmosfera de repressão silenciosa que se fazia sob o domínio de Franco. Dois estudantes universitários de Madrid, aborrecidos com a sua vida da cidade e ansiosos por se conhecerem melhor, partem para o interior, acabando por ir parar a Toledo. A jornada parece ser uma "declaração de independência pessoal", mas encontros casuais com personagens e situações de Madrid, surgem continuamente.
Ao contrário da geração anterior do cinema espanhol (Bardem, Berlanga) "El Buen Amor" evita as contradições mais flagrantes da era Franco em Espanha, por uma abordagem que, em vez disso, discretamente aponta os efeitos mais ruinosos do "fascismo quotidiano" sobre os personagens tão simpáticos. Filme de estreia de Francisco Regueiro, com honras de exibição no festival de Cannes de 1963.
Legendas em inglês.

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sábado, 11 de julho de 2020

Viridiana (Viridiana) 1961

Viridiana, uma jovem noviça prestes a fazer os seus votos finais como freira, aceita, movida puramente pelo senso de obrigação, um pedido do seu tio para visitá-lo. Agitado pela semelhança da sobrinha com a sua falecida esposa, tenta seduzi-la, e a tragédia segue-se...
Depois de quase vinte anos sem filmar em Espanha, Luis Buñuel resolveu enfrentar o desafio de voltar à sua terra natal para fazer "Viridiana", que segundo Victor Fuentes, se tornou na "maior e mais divina orgia erótica do cinema". A decisão do realizador em filmar em Espanha provocou fortes críticas de republicanos espanhóis no exilio. Aos olhos de muitos exilados Buñuel cedia nas suas críticas ao regime de Franco, e voltou a Espanha abandonando a sua postura política radical. No entanto, é precisamente neste filme que Luís Buñuel produziu a sua crítica mais forte aos elementos mais emblemáticos promovidos durante o franquismo. A sua irreverência pelo simbolismo católico rendeu-lhe a condenação do Vaticano quando "Viridiana" estreou.
O regresso de Buñuel a Espanha é o resultado de circunstâncias complicadas. Duas importantes produtoras convergiram durante a produção de "Viridiana", a UNINCI e a Films 59, de Pere Portabella, juntamente com o produtor mexicano Gustavo Alatriste. A UNINCI foi a primeira produtora a tentar ir além dos parâmetros ditados pelo regime, produziu "Sonatas", um filme que Juan António Bardem fez no México em 1959, e queriam atrair realizadores envolvidos politicamente. Foi ainda no México que fizeram o convite a Buñuel. Por outro lado, Pere Portabella tinha produzido "Los Golfos", o primeiro filme de Carlos Saura, e conheceu Buñuel no festival de Cannes de 1960, propondo que fizessem um projecto juntos. O mexicano Alatriste também se envolveu no projecto, em parte porque a sua esposa Silvia Pinal queria trabalhar com um realizador de prestígio, como Buñuel, acabando por ficar com o papel da protgonista.
O Director Geral da Cinematografia, José Muñoz Fontán, escolheu "Viridiana" para representar Espanha no Festival de Cannes, com a intenção de obter reconhecimento internacional por ter recuperado o grande exilado do cinema espanhol, Luís Buñuel. Este gesto representa um dos muitos paradoxos do periodo de abertura na Espanha de Franco. O filme ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, e recebeu uma ovação unânime do público e do júri, no entanto levantou uma onda de questões, porque apresentava imagens para os costumes espanhóis da época. Tornou-se imediatamente num objecto de debate internacional, atacado pela igreja, e proibido pelos censores espanhóis, (só seria visto em Espanha em 1977), não obstante o grande sucesso internacional que conseguia. As furiosas denuncias da igreja forçaram a renúncia do Fontán do cargo que ocupava, ele que tinha aceitado pessoalmente o prémio em Cannes, a conselho de Partabella e Juan António Bardem. Como resultado do escândalo, Buñuel afastar-se-ia novamente do país.

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quinta-feira, 9 de julho de 2020

Plácido (Placido) 1961

Um grupo de senhoras decidem comemorar a véspera do Natal com um jantar de caridade: cada dona de casa rica da cidade espanhola levaria um sem-abrigo para comer com eles. Um desfile também foi realizado, do qual participou Plácido (Casto Sendra), cuja família vive num banheiro público por causa da dificuldade de pagar o aluguer. Para complicar, o homem humilde tem de pagar a segunda prestação do seu veículo antes da meia-noite.
A filmografia de Luis Garcia Berlanga atinge o seu auge no inicio da década de sessenta, quando ele começa a trabalhar com o argumentista Rafael Azcona. Juntos fizeram, em pouco tempo, dois marcos do cinema espanhol que ofenderam o regime do general Franco, mas foram admirados no exterior: "Plácido" (1961), e "El Verdugo" (1963).
"Plácido" é uma comédia triste. Ao mostrar a moral deformada dos personagens dá-nos uma descrição desmistificante da Espanha da altura, e, por extensão, uma imagem devastadora da condição humana. As façanhas prosaicas de Plácido são usadas para mostrar a miséria dos seus concidadãos. Egoísmo, hipocrisia, e falta de consideração são os principais atributos dos seus personagens, com a burguesia provincial a esforçar-se para manter a aparência dos seus vizinhos e superiores. 
O argumento é contundente na descrição de hipocrisias mas também excecionalmente engraçado. O elenco é fudamental, e não foi por acaso que muitos actores deste filme não só trabalharam com Berlanga várias vezes, como também se tornaram estrelas e defensores da comédia espanhola. E o filme acabou por ser nomeado para o Óscar de Melhor Filme em Língua estrangeira. 
Legendas em inglês.

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terça-feira, 7 de julho de 2020

Dia dos Mortos (Dia de Muertos) 1960

Primeira curta-metragem documental dirigida por Joaquín Jordà, em colaboração com Julian Marcos. Filmado a preto e branco, descreve um dia inteiro do Dia de los Muertos, desde a primeira luz da manhã, até ao relógio soar as 12 badaladas. Os primeiros planos da curta correspondem a uma Madrid à noite, e rapidamente chegam os sinais de um despertar, com autocarros vazios a circularem, e também um comboio, igualmente vazio, a saír de uma estação e a entrar num túnel. 
Embora o seu nome seja mais conhecido em Barcelona, Joaquim Jordá iniciou a sua carreira no final dos anos 50 em Madrid, no ambito que mais tarde seria conhecido como o Novo Cinema Espanhol. "O Dia dos Mortos" seria financiado pela UNINCI, uma produtora vinculada ao Partido Comunista Espanhol, do qual o próprio realizador fazia parte, uma produtora que também viria a financiar, por exemplo, "Viridiana", de Buñuel e "Bienvenido Mr. Marshall". Jordá em breve partiria para Barcelona, onde viria a ser um dos nomes mais importantes da chamada Escola de Barcelona".
O documentário era para ser mais longo, mas a censura também apertou aqui, e obrigou a cortar alguns planos, tendo a policia interrompido as filmagens. A censura considerou-o um "documentário nauseabundo". Fernando Rey e Laly Soldevila são os narradores. 
Não tem legendas.

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segunda-feira, 6 de julho de 2020

Os Delinquentes (Los Golfos) 1960

Julián, Ramón, Juan, el Chato, Paco e Manolo são jovens espanhóis delinquentes a quem ninguém prestava atenção a não ser nos postos da polícia. Jovens da classe social baixa, miseráveis e desconhecidos, são um grupo de amigos que sobrevivem como podem nos subúrbios de Madrid. Juan quer ser toureiro, e os seus amigos dão pequenos golpes para ajudar na sua estreia.
Em relação aos estudantes do EOC que eu falei no post anterior, e que deram origem ao chamado Novo Cinema Espanhol, é difícil classificá-los como um grupo, já que os seus interesses variavam muito, desde as tendências introspectivas e obras altamente personalizadas de Basilio Martín Patino, até ao uso da alegoria de Carlos Saura. Não obstante, esta geração foi incomodada pela influência da ditadura política e frustrada pelos limites impostos à liberdade de expressão politica e criativa. 
O primeiro filme de Carlos Saura, "Los Golfos", produzido pela Filmes 59, de Pere Portabella, é por vezes considerado precursor do movimento, feito ainda em pleno periodo neorrealista, e com muitas características deste cinema, mas pode ser visto, estética e politicamente, como ponto de partida para o Novo Cinema Espanhol.
O filme teve um início difícil. Feito em 1959, estreado no Festival de Cannes de 1960, disputando a Palma de Ouro com filmes como "La Dolce Vitta", "A Balada do Soldado", ou "A Fonte da Virgem", de Bergman, não foi lançado em Espanha até 1962, depois de uma longa batalha com os censores e mais de 10 minutos de filme cortados. Uma tentativa consciente de romper com os filmes de estúdio da época, "Los Golfos" leva-nos até às ruas de Madrid, com algumas cenas que enfatizam o cenário urbano, enquanto que outras decorrem em locais que mostram a degradação e a pobreza. Este cenário sombrio transforma-se numa crítica social implícita, com os jovens protagonistas plenamente conscientes de que o seu ambiente social limita as suas perspecticas e contribui para a falta de objectivos das suas vidas diárias. Tornar-se alguém naquele ambiente parece um sonho impossível.
O destino deste filme, e do seu próximo trabalho ("Llanto por un Bandido", que veremos em breve neste ciclo) pelas mãos dos censores espanhóis, levaram Saura a um estilo de cinema mais opaco, ou matafórico, com o qual ele fez um nome de respeito no panorama internacional nos anos sessenta e setenta. 
Legendas em inglês.

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domingo, 5 de julho de 2020

O Cinema Espanhol no Tempo de Franco - A Década de 60, o Novo Cinema Espanhol e a Escola de Barcelona

A implementação do Primeiro Plano de Desenvolvimento Económico, em 1963, elaborado pelo governo tecnocrático com colaboração com o Banco Mundial, levou a Espanha a uma nova era. Acima de tudo, o plano incentivou o desenvolvimento do turismo e o aumento do investimento estrangeiro. A industria do turismo passou de hospedar poucos milhões de visitantes no inicio de 1958, para 14 milhões em 1964. Uma mudança que indicava o inicio da prosperidade económica em Espanha. No entanto, a rápida introdução do capitalismo de consumo e o influxo de estrangeiros trouxeram novos valores culturais, que conflituavam com os costumes espanhóis tradicionais.
Houve grandes mudanças na politica interna e externa. Manuel Fraga Iribarne, uma voz liberal que se adaptou bem ao clima ao clima politico cada vez mais modernizador, substitui Manuel Arias Salgado como ministro da Informação e Turismo, em 1962. Fraga Iribarne trabalhou em prol da reforma política, e redigiu uma lei de imprensa mais liberal. No entanto, juntamente com as rápidas mudanças politicas e culturais de Espanha, surgiram crescentes tensões sociais e distúrbios causados por estudantes e trabalhadores, que pediam direitos políticos e sindicais. A inquietação estudantil culminou no fecho das Universidades de Madrid e Barcelona em Fevereiro de 1967, enquanto as organizações da classe trabalhadora se tornavam mais organizadas, poderosas e ameaçadoras para o sistema ditatorial. O ativismo operário provocou a suspensão dos direitos constitucionais em 1968, em Guipúzcoa, e depois no resto da Espanha. A abertura liberal parou em 1969, coincidindo com a nomeação do Principe Juam Carlos como sucessor de Franco, e a renuncia forçada de Manuel Fraga Iribarne, que em 1966 aprovou a liberdade de imprensa, embora dentro dos limites da ditadura de Franco.

Todas estas mudanças foram reflectidas nas práticas e políticas do cinema. Iribarne nomeou José Maria Garcia Escudero como director geral da cinematografia, cargo que ele já tinha ocupado entre 1951 e 1952, como já vimos atrás. O mandato de Garcia Escudero, de 1962 a 1967, viu uma significativa liberalização e inovação na industria cinematográfica espanhola. Estes anos corresponderan à vitalidade da Escuela Oficial de Cinematografía (EOC), anteriormente o IIEC, e a ascenção do movimento chamado Novo Cinema Espanhol. A promoção do cinema espanhol novo por Garcia Escudero procurou rivalizar a industria cinematográfica e projectar una imagem mais liberal no exterior, principalmente em festivais de cinema.

O movimento do Novo Cinema Espanhol, patrocinado por Garcia Escudero, tinha uma grande contradição, e era criticado por ser dirigido de cima, e pelo apoio deliberado, consciente e egoísta do Estado. No entanto, a visão pioneira de Garcia Escudero abriu espaço para um cinema menos dependente de interesses comerciais. O sector cinematográfico, de realizadores a produtores, encontrou circunstancias favoráveis para produzir filmes mais pessoais e mais políticos, apesar  da implementação de novas medidas protecionistas apoiadas pelo Estado. Vamos falando deste Novo Cinema Espanhol, e da chamada Escola de Barcelona, um movimento alternativo do cinema espanhol nos próximos dias, e ao longo dos filmes que que por aqui passarão.
Foi apenas uma pequena nota introdutória. Os filmes seguem já de seguida. 


sábado, 4 de julho de 2020

A Motoreta (El Cochecito) 1960

O septuagenário Don Anselmo Proharan, um ministro aposentado do governo, vê-se a dividir um espaço com o filho e a família. Don Anselmo, um viúvo, fica restrito a um cómodo da casa, e a sua vida social fica reduzida a assistir a vigílias, funerais, e visitar o cemitério. Quando o seu amigo paraplégico pega uma cadeira de rodas motorizada Don Anselmo acompanha-o até ao túmulo da esposa para deixar flores. Don Anselmo fica obcecado em conseguir a sua própria cadeira de rodas motorizada, e pertencer assim à subcultura dos outros donos de "cochecitos". E vai tentar tudo ao seu alcance para conseguir uma.
O argumento é baseado numa novella, publicada nos anos 50, chamada "El Paralítico", de Rafael Azcona. A história surgiu de uma anedota que Azcona publicou anteriormente em "La Codorniz", uma revista cultural semanal que criticava o regime de Franco. A história narrava como um grupo de homens deficientes criticava os jogadores de um jogo de futebol ao deixarem o estádio nas suas cadeiras de rodas motorizadas. A história despertou o interesse de Marco Ferreri, que já tinha adaptado com sucesso outro conto de Azcona, "El Pisito". Imediatamente visualizou José Isbert no papel de protagonista, que só poderia ser a escolha ideal. 
Don Anselmo, o personagem central do filme, poderia ser visto como uma variante de um dos personagens mais famosos do neorrealismo italiano, Umberto D., do filme do mesmo nome, dirigido por Vittorio de Sica em 1952. No entanto, em contraste com "Umberto D.",  o personagem de Don Anselmo provoca empatia no espectador, apesar do crime que vai cometer para pagar a cadeira que tanto deseja. Exactamente por esse motivo, os censores suprimiram a cena em que Don Anselmo comete esse crime, e o realizador teve de filmar a cena novamente, mais curta e mais simples, a fim de tornar o final moralmente mais aceitável. 
Os passeios de Don Anselmo em Madrid dão ao público uma visão da Espanha da década de 50. A câmara de Baena captura o contexto quotidiano do espaço urbano de Madrid, e é fundamental para reflectir a marginalização social. O pano de fundo desta comédia negra é o conflito entre a vertiginosa modernização industrial ocurrida naquele momento (o chamado milagre económico que levou a Espanha a outro momento), e a estrutura persistentemente desactualizada da ditadura de Franco. A crise que ocorre dentro de certas estruturas sociais (família, vizinhança, amigos) critica a escassez de solidariedade e a crueldade do grupo em relação ao individuo. Na essência, a crise que a sociedade enfrentou naquela altura é ficar presa entre os velhos modelos sociais e os novos ditames da modernidade. Desta forma, "El Cochecito" evoca o neorrealismo que Ferreri tinha iniciado nos dois filmes anteriores.
Ferreri partiria de Espanha depois de terminar este filme, deixando para trás um conjunto de três obras que vieram a ter bastante repercussão no cinema espanhol, tendo a sua estreia em Itália, mais propriamente no festival de Veneza, onde ganhou o prémio Fipresci.
Legendas em inglês.

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quarta-feira, 1 de julho de 2020

Los Chicos (Los Chicos) 1969

Quatro rapazes encontram-se num quiosque numa tarde chuvosa. Um deles precisa de estudar, e os outros três tentam ir ao cinema, embora não consigam entrar por não serem maiores de idade. Andrés trabalha como mensageiro num hotel e sonha ser toureiro, "El Chispa" administra o quiosque do pai, Carlos é estudante, e "El Negro" é um rapaz tímido. Eles são um grupo de amigos que só se quer divertir, no entanto, a realidade obriga-os a lidar com os problemas do mundo adulto.
"Los Chicos" de Marco Ferreri, é sobre a vida de quatro jovens espanhóis da classe média /baixa, que são obrigados a lidar com os efeitos da Guerra Civil Espanhola. Retrata um ambiente urbano inóspito, o conflito entre adolescentes do sexo masculino e feminino numa atmosfera de imperfeição social. Recebeu criticas negativas dos pais, políticos e grupos religiosos, que acreditavam que o filme podia ter um efeito negativo sobre os adolescentes. Os censores consideraram o filme pessimista, doentio, hostil ao regime de Franco, e uma má influência para a juventude urbana. Por causa disso, o filme nunca foi exibido comercialmente, teve apenas uma exibição pública em Barcelona, em 1963. 
Marco Ferreri era um italiano a trabalhar em Espanha, e teve assim a sua permissão de residência cancelada, sendo obrigado a deixar o país. Antes disso ainda completaria o seu terceiro filme no país, "El Cochecito", que veremos a seguir. 
É um filme com clara influência do neo-realismo italiano. Legendas em inglês.

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