sexta-feira, 30 de novembro de 2018

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

O Despertar da Mente (Eternal Sunshine of the Spotless Mind) 2004

Joel (Jim Carrey) descobre que a namorada Clementine (Kate Winslet) o apagou da memória, a ele e à relação tumultuosa de ambos. Joel contacta então o inventor do processo, o Dr. Howard Mierzwiak, para também ele remover Clementine da sua mente. Mas à medida que as suas memórias vão sendo apagadas, Joel redescobre o seu amor por Clementine e torna-se óbvio que ele não a vai conseguir tirar da cabeça.
Nos seus argumentos anteriores, particularmente "Being John Malkovich" (1999) e "Adaptation" (2002), Charlie Kaufman brincou com as nossas cabeças, o que faz novamente em "Eternal Sunshine of the Spotless Mind", só que desta vez brincou também como os nossos corações, fazendo novamente equipa com o realizador Michel Gondry que tinha feito a sua estreia na realização com outro argumento de Kaufman, "Human Nature" (2001), e o resultado seria uma ode aos altos e baixos do amor romântico. 
Embora Kaufman tenha escrito o argumento, a história original foi inventada por  Pierre Bismuth, um francês amigo de Gondry. O cenário básico lembra-nos o grupo da extrema esquerda da Nouvelle Vague (Agnes Varda, Alain Resnais, e principalmente Chris Marker) e a sua obsessão com a memória, a identidade e a impossibilidade de diferenciar o real do imaginário. A memória torna-se a chave para a identidade, o que é destacado por uma subtrama envolvendo uma secretária de Lacuna chamada Mary (Kirsten Dunst) que enfatiza como o apagamento selectivo da memória pode alterar para sempre a percepção da pessoa que somos. 
Apesar de todas as voltas e reviravoltas o filme é basicamente uma história de amor e centra-se na natureza da dupla atracção. Joel e Clementine são atraídos porque ele é introvertido e ela é selvagem, mas ao longo do tempo essas qualidades perdem o seu charme o que os torna aborrecidos. No final faz-se a pergunta: será que os bons tempos valem a amargura?
Filme escolhido pelo Nuno Fonseca.

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terça-feira, 27 de novembro de 2018

La Champignonne (La Champignonne) 1974

Uma mulher é apanhada por um "olhar" anónimo enquanto toma banho num rio, seguido por uma perseguição gigantesca, com uma banda sonora adequada, que bem poderia vir de um filme de Argento.
O filme foi feito com apenas um plano-sequência filmado como um gigante traveling usando uma grua Louma. Em 1970 Jean-Marie Laalou e Alain Masseron precisaram de filmar dentro de um submarino. Queriam fazer uma sequência em todo o comprimento do navio, com a camera a passar por entre os membros da tripulação e os equipamentos. Quando finalmente conseguiram, criaram uma nova versão de câmara, o conceito de guindaste com câmara guiado remotamente. Roman Polanski usou este conceito brilhantemente na sequência inicial de "Le Locataire" (1976), mas foi Pascal Aubier (um velho amigo de Jean-Marie Laalou), o realizador deste filme, o primeiro a usar esta câmara no cinema: primeiro em "Le Dormeur" (1973), depois em "La Champignonne"(1974).
Nascido em 1943, Pascal Aubier estudou russo, chinês, mongol, georgiano e wahilu na Ecole de Langues Orientales em Paris. Foi assistente de Godard em inúmeros filmes, "Bande à Part", "Le Mépris", "Pierrot le Fou", "Masculin Féminin", "Weekend", e realizou a sua primeira longa-metragem, "Valparaiso, Valparaiso" em 1970. Desde então realizou cerca de 40 curtas metragens, e mais três longas metragens.A certa altura Andrei Tarkovsky considerou-o a grande esperança do cinema francês.
Filme escolhido pelo Carlos Fernandes.

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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Barry Lyndon (Barry Lyndon) 1975

Redmod Barry é um jovem de uma família sem fortuna na Irlanda do Sec. XVIII. A sua primeira paixão é Nora, a sua prima. Mas Nora tem outros planos. Prefere o capitão Quinn, um oficial inglês de boa situação financeira. Um melhor partido do que o rapazola Redmond. Mas Redmond não se resigna. Imaturo e precipitado, desafia e vence Quinn num duelo de pistola. Com o casamento desfeito, e com o ónus de ter morto um homem, a família de Nora persuade Redmond a fugir da aldeia onde vive. Começa aqui um caminho errante, uma sucessão de fugas para a frente, de mentiras e enganos, em que o jovem Redmond vai perdendo a inocência e se tornará num arrivista, um homem que quer a todo o custo subir na escala social, e que mais tarde se tornará Barry Lyndon, fruto do seu casamento com Lady Lyndon.
Stanley Kubrick tinha uma solidíssima reputação quando começou a trabalhar em “Barry Lyndon” . Tinha atrás de si dois grandes clássicos, “2001 - Odisseia no Espaço” e “Laranja Mecânica”, precedidos de excelentes filmes como “Lolita” ou “Dr. Estranhoamor”. Havia, no entanto, uma grande lacuna: Napoleão. Logo após “2001”, ainda em 1968, Kubrick tinha um guião para um filme sobre Napoleão para propôr à MGM. Mas a MGM estava reticente com os custos desse eventual filme, e retirou o seu apoio. Kubrick aplicou todo o seu saber para que Barry Lyndon fosse, em parte, o filme de época que Napoleão não foi.
Barry Lyndon é uma adaptação de um romance de William Makepace Thackeray, “The Luck of Barry Lyndon”. Kubrick estudou cuidadosamente as pinturas de artistas ingleses do Sec. XVIII do tempo do Rei Jorge III. Queria replicar no cinema a atmosfera, a luz dos quadros no período anterior à luz eléctrica. Num tempo em que durante o dia única fonte de luz é a que entra pelas janelas, e durante a noite é a das velas durante a noite, Kubrick filmou assim. Com luz que entrar pelas janelas, e com os famosos planos à luz das velas. É bem conhecido como Kubrick conseguiu filmar à luz de velas: Teve acesso a lentes Carl Zeiss de grande abertura inicialmente desenvolvidas para a NASA e conseguiu adaptá-las às câmaras de cinema.
 O trabalho em conjunto com o director de fotografia John Alcott, que já trabalhara com Kubrick em “Laranja Mecânica” e voltaria a trabalhar em “The Shinning” é absolutamente brilhante e em grande medida insuperado. Cada plano é um quadro, uma pintura. Durante o dia a luz entra pelas janelas com a suavidade difusa que Kubrick vira nas pinturas com que se inspirou. À noite, as velas, e só as velas, iluminam rostos e feições.
O guarda-roupa, de Ulla-Britt Söderlund e Milena Canonero é também ele brilhante. Um guarda-roupa que atravessa todas as classes sociais ao longo do percurso arrivista de Barry Lyndon, as roupas modestas dos camponeses, as fardas militares, os luxuosos vestidos das senhoras da alta sociedade. 
Os cenários, de Ken Adam, com quem já trabalhara em Dr. Estranhoamor, são extraordinários. Castelos e palácios dão vida a esta obra. Alguns destes palácios eram museus abertos ao público durante a rodagem do filme, de tal modo que entre takes, a equipa de rodagem tinha que esperar que os visitantes percorressem as salas que serviam de cenários até retomarem as filmagens. 
Uma banda sonora faustosa com Schubert, Bach, Haendel, The Chieftains, entre outros complementa brilhantemente a fotografia, o guarda-roupa, e os cenários. 
Não se pense que Barry Lyndon é um filme “técnico” suportado simplesmente na fotografia, guarda-roupa, banda sonora, etc. Estes elementos são de facto brilhantes mas não são um fim em si.
 Vale a pena recordar a entrevista de Kubrick à revista Playboy em 1968 a propósito de “2001 - Odisseia no Espaço”. À resposta à pergunta sobre qual a mensagem metafísica de “2001" Kubrick afirma que não é uma mensagem que tivesse a intenção de ser transmitida verbalmente, e que “2001” é uma experiência visual, e a mensagem é o meio (invertendo assim a famosa tese de Marshall McLuhan). Também em Barry Lyndon o meio, sustentado na imagem, no som, na montagem, é uma parte importante da mensagem, uma mensagem que no essencial é a história sobre um homem e o seu destino. E esta temática, a história do homem e o seu destino, produziu com outros realizadores, e noutras correntes estéticas, filmes tão diversos e intemporais como “Andrey Rublev”, “Lawrence da Arábia”, ou “Touro Enraivecido”.
O elenco é uma interessante mistura de actores mais e menos conhecidos: Ryan O’Neal e Marisa Berenson nos papéis principais, actores muito populares na altura depois de “Love Story” e “Cabaret” respectivamente. Em papéis secundários destacam-se Mary Keane uma extraordinária actriz irlandesa que trabalhou sobretudo em teatro, e Murray Melvin no papel do inquietante Reverendo Ludd. O elenco é complementado com a excelente narração de Michael Holdern.
O filme teve várias nomeações para os Óscars e ganhou os prémios nas disciplinas atrás mencionadas: Fotografia, guarda-roupa, cenários, banda sonora adaptada. Kubrick puxou pela sua equipa, e a sua equipa foi premiada com os Óscares. O próprio Kubrick, nomeado pela quarta vez como melhor realizador, não ganhou o prémio, nem Barry Lyndon ganhou o prémio de melhor filme.
O maior teste a um filme é o tempo. E no teste do tempo “Barry Lyndon” passa com a mais alta distinção. Mais de quarenta anos após o seu lançamento, não há dúvidas sobre o lugar de “Barry Lyndon” no cinema. Há quem considere, como Scorcese, ser este o melhor trabalho de Kubrick.
Uma história trágica contada com uma beleza plástica absolutamente extraordinária.
*Escolha e texto da autoria do João Lopes.

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sábado, 24 de novembro de 2018

O Tempo Que Resta (Le Temps Qui Reste) 2005

Romain é um jovem fotógrafo de moda. Com um apartamento moderno, uma relação estável e uma carreira em ascenção, nada parece faltar-lhe. Até que, durante uma sessão de fotografia, desmaia subitamente. Os receios de ter contraído a SIDA são assombrados por um diagnóstico ainda mais brutal: um cancro, em fase avançada e terminal. Com três meses de vida estimados, Romain terá que se confrontar com a sua vida... e com a sua morte. Conseguirá Romain encontrar paz interior no derradeiro momento...? Ou acabará por sucumbir a uma espiral de negação e auto-destruição?
Escrito e realizado por François Ozon, " Le Temps qui Reste" é a história de um fotógrafo da moda, de sucesso, que está prestes a morrer de um tumor no cérebro. Alienando todos na sua vida, incluindo o namorado, volta-se para a sua avó e uma empregada de mesa para reflectir sobre a vida. O que temos depois é uma reflexão sobre o mundo da morte, quando jovens enfrentam o que é inevitável.
 Francois Ozon estuda o mundo da morte do ponto de vista de um jovem de 31 anos, e em vez de criar uma história melodramática procura um estudo cínico e realista de um jovem que lida e aceita o seu destino. Ozon poderia transformá-lo numa personagem trágica, mas, em vez disso, prefere mantê-lo como uma personagem comum. Um personagem que é defeituoso como todos os outros que entram numa jornada emocional e existencial. 
Ajudando-o na parte visual está a directora de fotografia Jeanne Lapoirie, que já anteriormente tinha colaborado com o realizador e um elenco bastante trabalhador. Um destaque especial para Melvin Poupaud no papel principal e Jeanne Moreau no papel da avó, numa das suas últimas participações em longas metragens. 
Filme escolhido pela Lília Lopes.

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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Agente Infiltrada (Demonlover) 2002

"Demonlover", de Olivier Assayas é uma representação sombria e cativante de um mundo corporativizado sem alma. É um pesadelo de David Lynch para a era da Internet, pegando na paranoia de Lost Highway e Mulholland Dr., e misturando essa atmosfera com uma cultura que se diz ser digitalizada, despojada da sua humanidade, feita para jogos de vídeo, pornografia, entretenimento e as interseções horríveis entre estes. É um filme angustiante e muito mal compreendido que só gradualmente revela a alma verdadeiramente escura à espreita dentro das altas apostas e negócios internacionais.
Na verdade, o filme abre como um convencional thriller de espionagem corporativa, envolvendo um negócio francês/japonês/americano prospectivo para distribuir pornografia animada japonesa na Internet. Diane (Connie Nielsen) é uma espia, uma agente dupla fingindo trabalhar para Volf (Jean -Baptiste Malarte), enquanto, trabalha para o seu concorrente, planeando sabotar o negócio de qualquer maneira que possa. Diane elimina uma rival, drogando-a e preparando-a para ser atacada, e então tomar o seu lugar, para que possa pessoalmente supervisionar o negócio e estar na melhor posição para executar o seu plano, quando chegar a altura. Assayas compara esta cultura corporativa implacável com imagens de pornografia japonesa em que mulheres elegantes com grandes seios, lutam usando "magia sexual" . Este é um filme sobre a crescente desumanidade da nossa cultura global: os animadores japoneses demonstram um novo estilo 3D em que as mulheres de alguma forma parecem ser ainda mais plásticas e falsas do que na animação tradicional, estranhamente de aparência humana, mas despojadas de personalidade, e um olhar vazio.
 A implicação desta cultura global é que está a ser substituida por um entretenimento que remove a humanidade dos desempenhos, do negócio e, principalmente, do sexo. Tudo é fetichista, distante da experiência humana, e muitas vezes degradante, com foco na repetição mecânica e uma atitude violenta, misógina para as mulheres, que são tratadas como objectos submissos. 
Este é um filme assustador, uma obra de uma inquietante sci-fi que mal se sente como tal, porque o mundo futuro que retrata está apenas alguns passos à frente do nosso. Por vezes, nem parece exagerado. Assayas sugere que essa ética corporativa implacável esteja na raiz da cultura desumana em exposição neste filme. E os participantes tratam-na como um jogo, destruindo-se uns aos outros para chegar ao topo, onde realmente serão apenas o próximo alvo para aqueles que vierem a seguir. O filme é uma sátira inesquecível de uma cultura globalizada que parece determinada a transformar as pessoas em personagens de jogos de video ou manequins de borracha, apenas mais combustível para a máquina da cultura pop.
Filme escolhido pelo Paulo Renato. 

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quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Má Raça (Mauvais Sang) 1986

Depois da passagem do cometa Halley pela Terra, os cidadãos parisienses sofrem as consequências: além do forte calor, eles devem conviver com um vírus que se alastra pelo país, matando todas as pessoas que fazem sexo sem amor. Dois grupos rivais lutam para conseguir isolar o vírus e preparar uma vacina contra esta nova doença. É a partir daí que entram os personagens Anna, Alex e Lise (Juliette Binoche, Denis Lavant e Julie Delpy).
O segundo filme de Leos Carax, "Mauvais Sang" tem muitas similaridades com o seu filme de estreia, "Boy Meets Girl". Ambos apresentam Denis Lavant como um jovem chamado Alex, que está no fim de uma relação e se fixa numa mulher fora do seu alcance; estilisticamente ambos devem muito à Nouvelle Vague (Godard em particular); ambos acontecem no calor do verão e têm longas conversas sobre o amor e as relações; e ambos fazem um uso exuberante de uma música de David Bowie. 
Além disso, faz também parte da chamada "trilogia Alex", porque na obra seguinte de Carax, Lavant volta a chamar-se de Alex, em "Les Amants du Pont-Neuf"."Mauvais Sang" é um filme que está coberto do excesso vertiginoso e do romantismo sem esperança, não pedindo desculpas por privilegiar o sentimento em detrimento do bom senso. O improvável argumento de ficção cientifica é apenas pulp superficial, e serve de pretexto para uma realização estimulante de Carax, e um dos grandes filmes do cinema francês dos anos oitenta. 
Ganhou dois prémios de destaque no Festival de Berlim de 1997.
Filme escolhido pela Manuela Cristina Granja.

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terça-feira, 20 de novembro de 2018

Beau Travail (Beau Travail) 1999

A história de um ex-oficial da Legião Estrangeira, Galoup, a recordar a sua vida outrora gloriosa, liderando tropas no Golfo do Djibouti. A sua existência ali era feliz e rigorosa, mas a chegada de um jovem recruta promissor, Sentain, vai plantar a semente do ciúme na mente de Galoup. Sente-se compelido a impedi-lo de chamar a atenção do comandante que ele admira, mas que o ignora. O ciúme irá levar à destruição dos dois.
Os filmes de Claire Denis são frequentemente descritos como sensuais, até mesmo surrealistas, na sua falta de conformidade com as estruturas narrativas e cognitivas do cinema clássico. "Beau travail" é um exemplo de cinema que converte a narrativa clássica num evento perfomativo, encenando o seu objecto mais querido, a franca sedução do espectador sem o auxílio das personagens como agentes intermediários.
Nas mãos desta realizadora, a história torna-se o equivalente a um sonho forte e colorido, ajudado apenas pela intromissão de ocasional de diálogos e pelo facto do enredo ser a menor das preocupações, com o filme a ganhar peso num sólido núcleo emocional.
Denis Lavant, o habitual protagonista dos filmes de Leos Carax, interpreta um homem magnético que se encaixa nas suas próprias emoções, e a sua paixão é muitas vezes colocada em conflito com a secura dos rituais dos soldados. A escolha de Claire Denis de imagens dramáticas, mas nunca vazias, com uma música de apoio muito forte completam este filme invulgar.
Filme escolhido pelo Flávio Gonçalves.

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segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Rebecca (Rebecca) 1940

É surpreendente que, apesar da sua longa e frutífera carreira e das várias nomeações recebidas, Hitchcock só tenha ganho o Óscar de Melhor Filme com a sua primeira película americana: "Rebecca". Talvez este facto seja indicativo do poder e influência do produtor David O. Selznick que, acabado de sair do sucesso de "E Tudo o Vento Levou" (1939), não deixou de passar a oportunidade de trabalhar com o realizador britânico nesta história gótica de fantasmas da autoria de Daphne Du Maurier.
Graças a um orçamento generoso, Hitchcock pôde transformar a mansão de Manderley numa personagem da película, gesto que mais tarde inspiraria Welles na sua concepção de Xanadu, em "O Mundo a Seus Pés". O palacete à beira-mar é o cenário nebuloso ideal para os amores atormentados de Joan Fontaine e Laurence Olivier. Este dá vida a um viúvo rico que corteja a inocente Fontaine e com ela casa após um romance meteórico. A protagonista nunca acredita na sorte que teve ao encontrar um homem tão atencioso, mas, à medida que a sua relação amorosa se aprofunda, vê-se assombrada pelo fantasma de Rebecca, a antiga e falecida esposa de Olivier. Serão as assombrações fruto de uma imaginação fértil e paranóia ou obra de uma força nefanda? E que relação existe entre estes acontecimentos estranhos e a senhora Danvers (Judith Anderson), a governanta sinistra que parece não dar paz a uma Fontaine à beira de um ataque de nervos?
"Rebecca" marcou a chegada auspiciosa de Hitchcock aos Estados Unidos e, na cerimónia dos Óscares de 1940, conseguiu mesmo derrotar a última obra britânica do realizador: Correspondente de Guerra. Quase todos os traços artísticos do cineasta estão presentes em "Rebecca" no seu esplendor: a omnipresença de um passado obscuro e misterioso que constantemente se intromete no romance malfadado dos protagonistas, as suspeitas à flor da pele e, como seria de esperar, a presença espectral e ameaçadora da desonestidade e traição. Faltam a "Rebecca" os gracejos espirituosos e o humor caracteristicos de Hitchcock. Todavia, esta ausência de leveza deve-se à natureza melancólica e gótica do romance de Du Maurier. Os segredos de Manderley empurram a ingénua Fontaine para o abismo da demência e Hitchcock diverte-se, intensificando gradualmente a tensão da película até à sua conclusão assombrosa."
 * Texto de Joshua Klein
Filme escolhido pelo Pedro Afonso. 

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sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Une Simple Histoire (Une Simple Histoire) 1959

Uma mulher mais velha olha por uma janela e vê uma mulher mais nova a dormir num campo próximo com a sua filha pequena. A mulher mais velha convida as duas para o seu apartamento, e a mãe pensa nos últimos dias da sua vida, ouvimos a sua narração enquanto vemos o filme, e por vezes assistimos aos eventos que ela descreve. Nada particularmente terrível aconteceu, a sua história ainda tem um ou dois bons samaritanos, incluindo a mulher que tomou conta dela. Mais do que o tédio no dia a dia, que compõe a narrativa, tem uma melancolia inesquecível. Como o título indica, o filme é um conto simples, e é precisamente isso que o torna tão poderoso, e tão impossível de destilar as suas causas específicas da situação da mulher.
Em voz off uma história muito simples e comovente é contada. Aproximando-se do realismo poético da Nouvelle Vague no que diz respeito a estética, esta pequena obra-prima em 16 mm, com baixo contraste para acentuar o lado negro da "cidade da luz", contando uma história muito triste. É gratificante andar pelas ruas de Paris daquela época, logicamente com luz natural, e quase sem dinheiro para fazer o filme. Abordando Bresson em termos das posturas filosóficas do cinema, e com música de Bach como fundo, música linda em tom menor, uma raridade filmica e pura poesia.
Nascido na Tunísia, Marcel Hanoun produziu um corpo de trabalho totalmente individual, em grande parte financiado fora de qualquer rede de produção convencional. O seu trabalho foi ocasionalmente elogiado na língua inglesa. Em 1970 Jonas Mekas escreveu: "Não duvido que Marcel Hanoun seja o cineasta francês mais importante desde Bresson". O filme que ele tinha acabado de ver tinha sido este "Une simple histoire".
Filme escolhido pelo Daniel Ramos.

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quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Animal Farm (Animal Farm) 1954

Os animais moradores da Granja do Solar, cansados dos maus tratos diários, rebelam-se contra o dono do local, o bêbado Sr. Jones. Depois de o expulsarem, os bichos organizam-se e instauram novas regras, formando uma comunidade democrática, livre do domínio dos humanos. Os inteligentes porcos, no entanto, depressa tratam de impor as suas ideias e um novo reinado do terror começa a ganhar forma.
Filme de animação dirigido por Joy Batchelor e John Halas para o livro Animal Farm do brilhante escritor George Orwell nos conta mais sobre a nossa sociedade do que sobre nossos animais. 
O nosso convidado que escolheu o filme, escreveu o seguinte texto sobre esta obra: "A acção situa-se numa realidade distópica, longe dos antropomorfismos maniqueístas característicos de alguns filmes de animação. É a primeira adaptação da obra de George Orwell e caracteriza-se por uma visão cruel, trágica, onde a morte e o horror estão presentes. Só a consciência do poder totalitarista e da união poderá libertar os oprimidos e conduzi-los a um futuro mais esperançoso".
Filme escolhido pelo Alexandre Batista. 

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terça-feira, 13 de novembro de 2018

Adivinha Quem Vem Jantar (Guess Who's Coming to Dinner) 1967

Joanna (Katherine Houghton), a bela filha de um editor liberal, Matthew Drayton (Spencer Tracy) , e a sua esposa aristocrata (Katherine Hepburn), regressa a casa com o novo namorado Joh Prentice (Sidney Poitier), um ilustre médico negro. Cristina aceita a decisão da filha de se casar com John, mas o pai está chocado com esta união inter-racial; bem como os pais do médico. Para acertar as coisas, ambas as famílias devem sentar-se frente a frente e examinar os seus níveis de intolerância.
Apesar de muitos considerarem "Guess Who's Coming to Dinner?" como um filme datado, penso que é injusto ser considerado como tal. Talvez tivesse mais peso na altura em que estreou do que agora, mas o fanatismo era muito mais alarmante naquela altura do que agora, e ele ainda existe. Além disso há outros tipos de relações que são tão tabus hoje como as interaciais de então, então os temas podem ser facilmente traduzidos desta forma: se duas pessoas se apaixonam e estão dispostas a sacrificar tudo, o que as mantém separadas?
"Guess Who's Coming to Dinner?" conseguiu 10 nomeações para os Óscares, conquistando dois (Hepburn e o argumento), mas não foi considerado uma obra de arte na altura da estreia, tendo sido reavaliado mais tarde quando Hollywood começou finalmente a abordas as questões interaciais de uma forma mais significativa. Ironicamente Poitier foi esquecido nas nomeações, neste filme, talvez porque os nomeadores estavam divididos entre considerá-lo um actor principal ou secundário, e em vez disso nomearam Spencer Tracy para melhor actor, numa nomeação póstuma, já que Tracy tinha falecido no mês de Junho anterior.
É um filme bastante sólido, onde as interpretações são a peça central do filme, transformando o que poderia ter sido um filme obscuro em algo com maior substância. Ao principio pode parecer como uma peça filmada, mas com um elenco tão favorável acaba por ser um filme bastante acima da média, e um óptimo trabalho de realização de Stanley Kramer.
Filme escolhido pelo Peter Gunn. 

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segunda-feira, 12 de novembro de 2018

A Senhora Parker e o Círculo do Vício (Mrs. Parker and the Vicious Circle) 1994

Em 1937, a viver em Hollywood, Dorothy Parker (Jennifer Jason Leigh) relembra os tempos em que pertencia ao grupo Algonquin Round Table, formado por amigos escritores na Nova York dos anos 20. Entre festas, romances e amizades com os escritores, Dorothy passa pelo alcoolismo, comportamento auto-destrutivo e tentativa de suicídio. 
Entre um elenco de luxo, que inclui estrelas como Campbell Scott, Mathew Brotherick, Peter Gallagher, Jennifer Beals, Martha Plimpton, Lili Taylor, Gwyneth Paltrow, entre tantos outros, destaca-se uma Jennifer Jason Leigh, perfeita como Parker, desde os seus padrões de discurso nasal até há sua capacidade física e mental para a crueldade, Leigh capta todas as falhas e fraquezas de uma personagem cínica, espirituosa, e apesar do seu brilho, antipática. Alan Rudolph dirige com o seu habitual talento improvisatório  e uma tendência ao elipticismo. Robert Altman, principal fonte de inspiração do realizador, é o produtor, recusando-se a apressar-se para produzir um filme biográfico literário, bem diferente do que qualquer outro.
Como sempre, é uma peça brilhantemente recriada por Rudolph, com a criação de um período passado maravilhosamente evocado pelo design sensual de produção de  Francois Seguin, com a banda sonora de Mark Isham a ser uma das suas melhores, e uma fotografia ressonante de Jan Kiesser que realmente atrai os espectadores de volta para os anos 20 e 30.
Legendas em Inglês.
Filme escolhido pelo Robson Seixas.

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domingo, 11 de novembro de 2018

Eles Não Usam Black-Tie (Eles Não Usam Black-Tie) 1981

Em plena ditadura militar, Tião (Carlos Alberto Riccelli) descobre que sua namorada, Maria (Bete Mendes), está esperando um filho e decide se casar com ela. Ambos trabalhavam na mesma fábrica, juntamente com o seu pai Otávio (Gianfrancesco Guarnieri), um militante sindical, outrora foi preso pela ditadura militar, pois lutava pela melhoria dos direitos trabalhistas para a classe.
Porém, todos os trabalhadores sindicais entram em greve no país. Com medo de perder o emprego e não poder sustentar a mulher e o filho, ele fura a greve, contrariando seu pai e sua namorada, que ficam furiosos com a sua decisão.
Gianfrancesco escreveu Eles não usam Black-tie para o Teatro de Arena em 1958, quando tinha apenas 21 anos de idade. Vinte e três anos depois, Hiszman adaptou o roteiro para o cinema, arrebanhando importantes prêmios nacionais e internacionais, inclusive o Leão de Ouro do Festival de Veneza, em 1981.
O filme foi um marco no cinema político neo-realista nacional. Hiszman gostava de abordar temas relativos à pobreza, que retratavam a realidade do Brasil. O elenco monstruoso é composto por Carlos Alberto Riccelli, Bete Mendes, o próprio Gianfrancesco Guarnieri, a grande Fernanda Montenegro, que é destaque no filme da primeira cena em que aparece até a última, Milton Gonçalves, Francisco Milani, dentre outros. 
O filme não se refere apenas à realidade do país na época. Fala do posicionamento de cada um referente às dificuldades da vida. Há aqueles que cruzam os braços e se conformam com as dificuldades impostas pelos mais altos da cadeia e aqueles que lutam pelos seus direitos de melhoria, pela sua liberdade. 
As cenas do filme, como as últimas em que Fernanda Montenegro e Gianfrancesco estão na cozinha catando feijão e a que os trabalhadores caminham pelas ruas com o corpo de Milton Gonçalves em um caixão, são tão marcantes e talvez eu não tenha visto cenas mais poderosas que essas em nada ao que se diz cinema nacional. * Texto de Fernanda Kalaoun.
Filme escolhido pelo Marc NT

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sábado, 10 de novembro de 2018

Brevemente...

Todos sabemos que no Natal se esperam coisas que tenham a ver com o espírito natalício...
Mas também sabemos que o My Two Thousand Movies não é um sitio como os outros...


sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Cronicamente Inviável (Cronicamente Inviável) 2000

"Um Brasil caótico e hipócrita é o retrato pintado por Sérgio Bianchi em “Cronicamente inviável”. Um Brasil nojento em que ninguém se salva de sua culpa, onde as relações de opressor e oprimido estão expostas a toda prova tendo como ponto de interseção o restaurante de Luiz (Cecil Thiré). 
 Seis personagens centralizam o filme. Luiz é um homem refinado que acredita na civilidade e nas boas maneiras como forma de se resolverem os problemas. Amanda (Dira Paes) é a gerente de seu restaurante, uma mulher de origem pobre que incorpora a ética e os costumes burgueses. Adam (Dan Stulbach) é um sulista descendente de poloneses que vai trabalhar como garçom no restaurante. Maria Alice (Betty Goffman) é uma mulher de classe média alta que se compadece com as injustiças sociais. Seu marido Carlos (Daniel Dantas) é um economista que acredita na racionalidade e no pragmatismo do capitalismo. Por fim, Alfredo (Umberto Magnani) é um pesquisador que viaja pelo Brasil procurando compreender e refletir as relações de dominação e opressão. 
 O que mais gostaria de chamar a atenção com relação ao filme são as reflexões em off dos personagens recheado de diversas frases e idéias mais facilmente encontradas em livros do que ditas em cinema. “A felicidade é uma perfeita forma de dominação autoritária” reflete Alfredo ao analisar o torpor da população baiana que, mesmo se submetendo à intensa exploração de sua força de trabalho, comandada por uma burguesia que combina o velho coronelismo com a neotecnocracia, é “dominada” por uma boa caixa de som que toque o hit do momento. Contudo, essa indústria cultural será seccionada por classe. Existe a micareta com o trio elétrico, desfrutado por turistas estrangeiros e pela juventude abastada do Sudeste e a “pipoca”, lugar em que milhares de festeiros se espremem e se acotovelam com o intuito de também “curtir” o som e ainda apanham da Polícia e dos seguranças contratados para protegerem a propriedade territorial privada."
Podem ler mais aqui.
Filme escolhido pelo Otacilio Ramos Jr.

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quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Mangue Negro (Mangue Negro) 2008

Certo dia, numa comunidade de pescadores tão pobre como fora do tempo, a natureza resolve mostrar o seu lado macabro. Do manguezal de onde sai o mísero sustento emergem zombies canibais. Ninguém sabe o que causa a “contaminação”. O que interessa é fugir e sobreviver para fugir de novo. A cada mordida, pais, amigos e irmãos transformam-se em criaturas abomináveis. Diante de um horror que não recua nem com a claridade do dia, que não poupa sequer peixes e crustáceos, um sobrevivente relutante e amedrontado descobre-se hábil com o machado e péssimo na hora de se declarar para a morena que faz o seu coração bater.
"As vantagens de se produzir um filme de terror no Brasil são grandes. Mesmo que a história não seja digna, o interesse dos críticos, dos acadêmicos e dos cinéfilos é aguçado por conta da lacuna deste gênero na história do cinema brasileiro. Temos o legado de Zé do Caixão, indiscutivelmente um lutador que hoje é visto como parte integrante do cânone, mas que no passado era tratado com desleixo. Condado Macabro, em 2015, apresentou uma versão bem brasileira do gênero slasher e não decepcionou.
 Mangue Negro, lançado muito antes, em 2008, também “inaugurou” os filmes com a temática “zumbi” por aqui. O resultado não é uma obra-prima, mas é no mínimo curioso. Como dito anteriormente, o fato de não termos este tipo de produção como algo constante torna a obra objeto de curiosidade e culto. Dirigido por Rodrigo Aragão, a produção aborda uma contaminação num mangue no interior do Espírito Santo, um dos estados menos favorecidos como espaço fílmico nos registros da nossa cinematografia. 
A tal contaminação se espalha rapidamente e transforma os pescadores da humilde comunidade em monstros devoradores de carne humana. Apresentado no formato que lembra esquetes, haja vista a sequência de diferentes linhas narrativas que se encontram mais adiante, o foco central do roteiro é o amor do carinhoso Luís (Walderrama dos Santos), dedicado cotidianamente a doce Raquel (Kikka de Oliveira). Ele constantemente tenta se declarar, mas as suas investidas descem por água abaixo, ganhando projeção apenas quando o apocalipse zumbi se instala e assumindo a postura do herói ao estilo Ash, de Evil Dead, Luís precisa tomar o comando da situação e tentar salvar a si e a sua amada."
Texto de Leonardo Campos. Podem ler mais, aqui.
Filme escolhido pelo Sandro Gomes. 

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terça-feira, 6 de novembro de 2018

Os Diabos (The Devils) 1971

Na cidade francesa de Loudun, em 1604, as freiras num mosteiro começam a agir como se estivessem possuídas por demónios. A intervenção da Inquisição leva a consequências sangrentas. Passado durante o violento regime católico que tomava conta da França no passado século XVII, parte da suposta possessão de uma madre-superiora (Redgrave no papel de Sister Jeanne) cujas fantasias sexuais com o mais proeminente padre da localidade de Loudon (Urbain Grandier, interpretado por um surpreendente Oliver Reed) resulta num dos mais sangrentos episódios daquela época.
Vaga interpretação de um evento histórico infame na França do século XVII baseia-se numa adaptação do livro de Aldous Huxley, "The Devils of Loudun," e numa peça onde John Whiting se baseou no mesmo livro. É Ken Russell na sua melhor excessividade visual, e pior dramaticidade. Esta versão de Russell é diabolicamente engraçada como filme camp, muito valiosa em termos visuais graças aos cenários de Derek Jarman, aqui alguns anos antes de se tornar num realizador de créditos firmados.
O status de gigante esquecido tem perseguido Russell ao longo dos anos. Para cada realizador que ele inspira, para cada filme que presta homenagem aos seus conceitos esotéricos parece ter ficado ainda mais esquecido. Ao longo das décadas de sessenta e setenta a sua reputação de bad boy do cinema britânico era rivalizada apenas pelos grandes filmes que realizava, clássicos pós-modernos como "Women in Love", "The Music Lovers" ou a sua adaptação dos The Who, "Tommy". Hoje é uma influência importante entre muitos, excepto entre os mais eruditos cinéfilos. "The Devils" é considerado uma das suas maiores obras nos tempos correntes, mas difícil de ser visualizado
Filme escolhido pelo Alexandre Mourão.

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sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Godspeed You! Black Emperor (Goddo Supiido Yuu! Burakku Emparaa) 1976

A década de setenta no Japão viu o aparecimento de gangues de motociclistas, que despertaram o interesse dos mídia. O filme segue um membro do gang  "Black Emperors", e a sua interacção com os pais depois de se meter em problemas com a polícia. 
O cinema japonês das décadas 60 e 70 do século passado pode ser caracterizado pela abundância de filmes locais que abordavam a juventude daquela época. Nagisa Oshima, Seijun Suzuki começaram a ver a enorme lacuna que estava a ser criada por uma sociedade japonesa que se estava a modernizar rapidamente. Os mais velhos que tinham passado pelas tragédias e pelas dificuldades do pós-guerra não conseguiam entender a liberdade que mantinham as novas gerações de japoneses. Como a distância era óbvia, era natural que os filhos se separassem dos pais e se juntassem em grupos. "Godspeed You! Black Emperor", de Mitsuo Yanagimachi, era um documentário que seguia um grupo de motociclistas e tentava pintar um quadro claro e real sobre quem era esse grupo de jovens alienados e porquê e como se estavam a revoltar.
O grupo de motociclistas do nosso interesse chama-se Black Emperors, e gostam de passear à volta de Shinjuku com as suas motos barulhentas, carregando armas e procurando brigas com outros gangs, ou até mesmo com a polícia. Yanagimachi mostra um membro a ser aceite no gang, com os restantes membros a apresentarem-se, orgulhosamente declarando que são mendigos, desistentes da escola ou desempregados. Não é uma imagem bonita, jovens japoneses pintando as paredes da cidade com a suástica, provavelmente não sabendo o que o símbolo significa, raspam as sobrancelhas, e incomodam os seus pais com acusações de mau comportamento. 
Legendas em inglês. 
Filme escolhido pelo André Mendes. 

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quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Boy Eating the Bird's Food (To Agori Troei to Fagito tou Poulio) 2002

Um rapaz de Atenas está sem trabalho, dinheiro, ou qualquer coisa para comer. Incapaz de conseguir um emprego na sua área preferida, como cantor, um num call center, o nosso rapaz vive sozinho no seu apartamento, com contas a acumular, e sem meios de sustento ou apoio. Depois de ser despejado recorre a medidas cada vez mais desesperadas para se manter vivo. Só se preocupa com o seu canário, com quem partilha todos os alimentos e água que tem.
O espectro da actual crise económica grega acentua-se nesta impressionante primeira obra, que vê o realismo e a alegoria lado a lado. "Boy Eating the Bird's Food" é um filme por vezes difícil e intenso,  com o realizador Ektoras Lygizos a utilizar a câmara na mão para acompanhar três dias na vida do protagonista. É um filme que comunica em elipses, dando-nos apenas pedaços de informações sobre o porquê do rapaz estar a viver como está. Ideias sobre a dignidade, masculinidade e orgulho estão a ser discutidas aqui, fando tanto sobre a situação grega como da situação em particular do rapaz.
No centro de toda a situação está Yannis Papadopoulos, como personagem protagonista, com uma interpretação quase sem palavras, cheia de desespero e loucura mal disfarçada. Em cada cena, a intimidade do seu retrato (incluindo uma cena de masturbação gráfica) é quase desconfortável, mas decididamente surpreendente.
Embora o filme não seja perfeito, na sua imperfeição, existe também algo de crú e belo, e o nome de Ektoras Lygizos é um nome para seguir no futuro. Por enquanto aguarda-se com expectativa a sua segunda obra.
Filme escolhido pelo Carlos Pereira.

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