domingo, 28 de dezembro de 2014

Um Dia Nas Corridas (A Day at the Races) 1937



O assistente (Chico Marx) da dona de um sanatório (Maureen O’Sullivan) tenta ajudar solicitando fundos, contratando um médico de cavalos (Groucho Marx), por quem uma paciente hipocondríaca (Margaret Dumont) tem uma paixão. Entretanto o namorado da dona  (Allan Jones) compra um cavalo de corrida, esperando que o jóquei (Harpo Marx) consiga com ele fazer algum dinheiro.
Embora este sucessor de "A Night at the Opera", que conseguiu alcançar muito sucesso, seja adorado por muitos (foi escolhido pelo American Film Institute como o 59º filme americano mais engraçado), mas, no entanto, parece marcar o início do declínio dos irmão Marx, como uma força reconhecida. Irving Thalberg (o novo produtor dos irmãos na MGM) morreu subitamente durante a produção deste filme, e Groucho revelou ter perdido todo o interesse em fazer mais filmes, que de certa forma foi sentido nas obras seguintes. Todos os ingredientes habituais dos filmes dos irmãos estão aqui disponíveis, com muito humor e interacção entre eles e o elenco de apoio, incluindo a fiel Margaret Dumont. Com a duração de 111 minutos, é um dos maiores desta equipa, talvez até um pouco longo demais para o tipo de humor praticado.
Era a primeira vez que um filme dos irmãos Marx era nomeado para um Óscar, neste caso de número musical, com uma sequência de dança impressionante. Os filmes musicais eram muitos abundantes nestes anos 30, e o prémio acabaria por ser ganho por um filme de George Stevens, "A Damsel in Distress".
Atrás das câmaras está uma vez mais Sam Wood, que já tinha realizado o filme anterior, e entre o grande elenco estava o jovem Richard Farnsworth, que tinha a sua estreia absoluta à frente das câmeras. 

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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Uma Noite na Ópera (A Night at the Ópera) 1935


Os Irmãos Marx estão, desta vez, na alta sociedade. Dois apaixonados que cantam ópera são impedidos de estarem juntos por um terrível tenor. Utilizando as inúmeras tropelias de que são capazes, os irmãos Marx vão conseguir juntar os dois apaixonados.
Dois factos importantes neste sexto filme dos irmãos Marx: 1) Zeppo deixava de interpretar com os irmãos. 2) Os irmãos trocavam a Paramont pela Metro-Goldwyn Meyer. Era um facto que Zeppo não tinha tanta graça como os irmãos, e os seus papéis eram sempre secundários, então acabaria por trocar a sua carreira de actor pela de inventor. Nunca mais seria visto num filme até à sua morte, em 1979. em 1969 Zeppo patenteou um relógio de pulso para doentes cardíacos, que soava um alarme se o doente tivesse uma paragem cardíaca. Ainda havia um quinto Marx, Gummo, que deixaria a equipa antes dos outros se iniciarem nas lides do cinema.
A mudança para a MGM marcaria uma mudança de rumo na carreira dos Marx. Nos filmes da Paramont eles eram mais anárquicos, pois atacavam qualquer um que cruzasse no seu caminho, na nova produtora reservavam os ataques apenas para os vilões. As mudanças impostas por Irving Thalberg acabariam por surtir efeito, e tornava-se num êxito de bilheteira, embora apenas na sua segunda edição. Nesta segunda edição foram cortados 9 minutos da montagem inicial.
Em "A Night at the Opera" os personagens dos irmão estão mais cuidados do que anteriormente. Groucho fica mais sensato, Chico mais inteligente, e Harpo mais infantil. O argumento era mais cuidado, com um princípio meio e fim, ao passo que a versão anterior era caracterizada por uma sucessão de gags, que se sobrepunham ao argumento. Esta nova versão dos Marx conseguia claramente mais sucesso, embora muitos fãs prefiram as aventuras anteriores.
O luxo também passava para trás das câmaras, com a realização deste filme a ir parar às mãos de Sam Wood, um realizador já com uma carreira invejável no campo da comédia e do drama, que vinha desde o período do cinema mudo, tendo realizado algumas obras relevantes em Hollywood. Wood ainda seria chamado mais uma vez para dirigir os Marx, e não muito depois conseguiu três nomeações ao Óscar de melhor realizador quase consecutivas.

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Os Grandes Aldrabões (Duck Soup) 1933



O pequeno estado de Freedonia está numa confusão financeira, depois de receber uma enorme quantia de dinheiro emprestado da viúva Mrs. Teasdale. Ela insiste em substituir o actual presidente pelo louco Rufus T. Firefly (Groucho), e o caos rebenta. Para piorar as coisas, o estado vizinho envia dois espiões trapalhões,  Chicolini e Pinky (Chico e Harpo), para obter informações ultra-secretas, criando ainda uma maior confusão.
"Duck Soup" ainda tem uma vantagem nos tempos que correm, porque é o melhor filme para nos lembrar o quanto perigosos os irmãos Marx eram. Groucho é hilariante, mas ninguém está a salvo dos seus palavreados cruéis. Chico pode ser encantador mas perderá os seus valores mal viremos as costas. Harpo pode ter o olhar inocente de uma criança, mas só precisa de um segundo para explodir num ataque de violência física. Isto é apenas uma indicação de quanto bons os irmãos Marx eram, e tão rápida e certeira que era a realização de Leo McCarey, o melhor realizador a trabalhar com os irmãos, e o que maior sucesso teve na sua carreira posterior. Venceria dois Óscares de Melhor realizador, com "The Awful Truth" e "Going My Way". Raramente, nos filmes dos irmãos Marx nos debruçamos sobre estes factos, mas neste filme em especial, é algo a ter conta.
Quando "Duck Soup" foi feito, a Primeira Guerra Mundial ainda era uma memória cruel e dolorosa, então podemos imaginar o quanto seria chocante a sequência em que Groucho abate os seus próprios homens no campo de batalha, antes de subornar as pessoas para manterem segredo. E essa era a verdadeira genialidade dos irmãos Marx, pegar em assuntos tabu para fazê-los engraçados. Mas "Duck Soup" não era apenas uma sátira sobre a Guerra, contém também algumas das sequências mais inspiradas desta equipa, e muita gente ainda o considera o melhor filme dos irmãos Marx.

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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Os Irmãos Max na Universidade (Horse Feathers) 1932



O professor Quincy Adams Wagstaff (Groucho) acaba de ser nomeado como novo presidente do Huxley College. A sua atitude de cavalheiro perante a educação não é reservada para com o filho Frank (Zeppo), que anda envolvido com a viúva do colégio, Connie Bailey. Frank convence o pai a recrutar dois jogadores de futebol para vencer a escola rival, de Darwin. Equivocadamente Wagstaff contrata os jogadores errados, Baravelli e Pinky (Harpo e Chico). Depois de descobrir que a escola de Darwin contratou os jogadores corretos, Wagstaff contrata Baravelli e Pinky para raptarem os jogadores do clube rival, o que leva a um final anárquico. 
Realizado por Norman McLeod, que também tinha realizado o filme anterior, tem um bom controle no sentido rítmico do quarteto, e a interacção quase perfeita entre todos. O filme movimenta-se a um ritmo louco, quase não dando uma pausa para respirar. Como de costume, os irmãos fazem uma abordagem ao espectáculo de variedades, desconsiderando a narrativa saltando para gags e interpretações que eles desejavam fazer: Harpo a fazer um dos seus números habituais de harpa, ou Zeppo a cortejar a viúva vamp habitual, neste caso Thelma Todd. Claro que o filme é embalado com o genial jogo de palavras entre os irmãos, principalmente entre Groucho e Chico, cuja destreza verbal sempre impulsiona os filmes dos irmãos Marx.
Não é dos melhores filmes dos irmãos Marx, mas ainda assim é uma joia de cinema.

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A Culpa Foi do Macaco (Monkey Business) 1931



Mais uma pérola dos irmãos Marx, desta vez passada num cruzeiro. Quatro clandestinos num transatlântico metem-se na maior confusão quando são descobertos pelo capitão.
O cenário do cruzeiro é apenas uma desculpa para mover os irmãos Marx de uma situação cómica para outra, mesmo que não havendo qualquer ligação entre elas. Não que isso seja importante, claro. Pela primeira vez passam uma história directamente para o cinema, evitando as armadilhas do musical da Broadway, as acções dos irmãos Marx tornam-se assim deliciosamente mais transgressoras, atormentando a autoridade não por alguma razão especial, mas simplesmente porque podem. Isto foi uma abordagem que eles construiram com grande sucesso nos seus dois próximos filmes: "Horse Feathers" e "Duck Soup".
Na verdade, os 45 minutos que os irmãos Marx passam a bordo são do melhor da sua carreira, mas, depois de passarem pela alfândega o filme perde em acção e comédia. O final gira em torno de dois gangsters rivais, provavelmente para homenagear os filmes de gangsters que estavam tão na moda, mas não foi uma homenagem tão bem sucedida.
Os irmãos Marx funcionam melhor quando são uma ameaça para a sociedade, mas durante alguns momentos vemos a ordem subvertida, e é um pouco triste vê-los reduzidos ao papel de bobos da corte, mas até lá temos alguns dos melhores momentos desta equipa.
O filme estreou em Setembro de 1931 com críticas bastante razoáveis, chegando a ser comparado com "The Gold Rush", de Chaplin. Apesar de ter gerado lucro, não conseguia entrar na lista dos 10 filmes mais vistos do ano, facto que seria repetido nos dois filmes seguintes, mas já lá vamos.

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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Os Galhofeiros (Animal Crackers) 1930


Captain Spaulding (Groucho), um famoso explorador, regressa de África e vai a uma festa de gala realizada pela Mrs. Rittenhouse. Um quadro que está a ser mostrado naquela festa desaparece, e os Marx vão ajudar a recuperá-lo. Quer dizer, talvez ajudar não seja a palavra correcta, mas afinal de contas são os irmãos Marx...
"Animal Crackers" é a segunda comédia dos irmãos Marx, mais um vez baseada num sucesso da Broadway, e tem alguns flashes de génio, que o colocam entre os mais interessantes trabalhos dos irmãos. Os irmãos estão no seu melhor quando interagem uns com os outros. Tanto este filme como o anterior, "The Cocoanuts", são filmagens integrais de sucessos de palco. É contado que os irmãos filmavam de dia para depois interpretarem os seus papéis na Broadway à noite.
Zeppo infelizmente não tem o mesmo carisma dos restantes irmão, os seus papéis eram sempre de jovens bonitos e ingénuos, nunca com o slapstick dos irmãos, não é por isso de admirar que ele mais tarde sairia da equipa, passando os Marx a apenas três. Groucho, por outro lado, tem sempre papéis muito complexos.  Mais uma vez é o vigarista que consegue enganar toda a gente porque são todos snobs e hipócritas.
O verdadeiro quarto irmão Marx neste filme (e noutros), é Margaret Dumont. É a personagem perfeita para os insultos e avanços românticos de Groucho. Parece ter a memória de um mosquito, reagindo a insultos e de seguida ficando sem um pingo de amargura.
Não há muito humor intelectual nestes dois primeiros filmes, mas tanto os argumentistas como Groucho fazem um excelente trabalho. São duas belas obras.

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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

The Cocoanuts (The Cocoanuts) 1929



Mr. Hammer (Groucho) governa um hotel falido, na Flórida. Ele vai tentar tudo para fazer dinheiro, até fazer amor com a rica sra. Potter. Mas o seu principal esquema, a venda de imóveis está em risco de sabotagem por Chico e Harpo. Uma sub-trama envolve uma história de amor entre Polly Potter e Bob Adams.
Costuma-se dizer que "The Cocoanuts" foi o primeiro filme dos irmãos Marx, o que não é totalmente verdade. Em 1921 eles fizeram um filme mudo chamado "Humor Risk", filme esses que nunca passou da primeira preview, e que nunca teve lançamento comercial, tendo posteriormente ter-se perdido. Isto quer dizer que "The Cocoanuts" foi o primeiro filme sobrevivente dos irmãos Marx, e o primeiro filme falado dos irmãos. A chegada do som pode não ter sido a melhor coisa para alguns realizadores e estrelas de cinema, mas foi como uma benção para esta equipa. Eles já eram loucos, e agora os seus rápidos diálogos podiam ser preservados em película.
"The Cocoanuts" originalmente foi um sucesso da Broadway, escrito por um dos mais importantes dramaturgos da América: George S. Kaufman.Também continha canções de um dos compositores mais famosos da primeira metade do século, Irving Berlin, cujo tema chamado "White Christmas" se tornaria num dos temas padrões da música norte americana.
A fotografia foi prejudicada no início do cinema falado. As câmaras tinham de ser cuidadosamente colocadas para que não fossem filmadas. "The Cocoanuts" foi um sucesso de bilheteira, não só porque era um filme engraçado mas também porque isto era tudo novidade. E um sucesso da Broadway tinha sempre hipóteses de ser um sucesso no cinema.
Como a maioria das pessoas não podiam ir a Nova Iorque ver os irmãos Marx, o cinema levou os irmãos Marx até às pessoas. "The Cocoanuts" estreou uma série de personagens, que nunca mudaram de uns filmes para outros. Mas fizeram o mundo sorrir, e ainda fazem.

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domingo, 21 de dezembro de 2014

Os Irmãos Marx


Sempre houve algo diferente, e mesmo estranho, sobre os irmãos Marx, eles pareciam pertencer a um universo totalmente diferente dos outros comediantes, não só do estilo de comédia que faziam, mas também diferentes uns dos outros. Os membros de outras equipas de comediantes, como os Olsen and Johnson ou os irmãos Ritz, eram tão semelhantes que por vezes não se conseguia distingui-los. Outros tinham contrastes físicos bastante aparentes, como Laurel and Hardy ou Abbott and Costello. Os Marx, por outro lado, poderiam ser membros de 3 diferentes equipas: uma visual, uma verbal, e outra étnica e musical. Mas o que realmente unia estes irmãos, era um sentimento comum de realismo subversivo, cada um à sua maneira, anarquicamente absurdos.
Os irmãos Marx estiveram no seu auge na década de 20 do século passado na Broadway, e nos anos 30 em Hollywood, perderam fulgor na década de 40, e foram totalmente esquecidos na década de 50, antes de serem redescobertos na década de 60, por estudantes que apreciavam a sua postura anti-sistema.
Vamos atravessar este Natal, no M2TM com os filmes desta poderosa equipa. Boas gargalhadas, e um Bom Natal.
Os filmes:
- The Cocoanuts (1929)
- Animal Crackers (1930)
- Monkey Bussiness (1931)
- Horse Feathers (1932)
- Duck Soup (1933)
- A Night at the Opera (1935)
- A Day at the Races (1937)
- At the Circus (1939)
- Go West (1940)
- A Night in Casablanca (1946)

sábado, 20 de dezembro de 2014

O Touro Enraivecido (Raging Bull) 1980


Nos créditos iniciais de "Raging Bull" nasce um clássico. Jake La Motta (Robert De Niro) apanhado pela luz da fotografia a preto e branco de Michael Chapman, rodopia em volta de um ringue vazio. O tema de abertura de uma banda sonora operática de  Pietro Mascagni é o único acompanhamento para a solidão de  La Motta. É uma sequência tão lindamente e cuidadosamente composta que parece ficar presa ao nosso cérebro todo o resto do filme.
La Motta é um boxeur peso-médio, respeitado e temido, e conhecido pela sua capacidade de levar e aguentar mais porrada do que qualquer outro pugilista.Ele quer ganhar o título pelo seu próprio mérito, sem a ajuda de qualquer outra figura do underground que habitam o Bronx, em Nova Iorque. O seu irmão Joey, (Joe Pesci) é também o seu treinador, tenta negociar a ascensão de La Motta até ao top da divisão.
Pesci e De Niro - voltariam a reunir-se 10 anos mais tarde, para outra obra prima de Scorsese, "Goodfellas" - parecem ter nascido para estes papéis. A devoção de um actor para um papel nunca tinha sido tão testada como a de De Niro. O seu retrato do paranóico e  profundamente pertrubado La Motta é preparado ao mínimo detalhe em cada cena. Uma interpretação ao nível do  Travis Bickle de "Taxi Driver", mas ainda mais horripilante. Para se preparar para este papel De Niro passou por uma fase de treinos muito dura e longa, tendo mesmo até participado em três combates contra lutadores profissionais, tendo ganho dois. Depois ainda teve de engordar 26 quilos para interpretar um La Motta envelhecido, num período de apenas 4 meses em que não houve filmagens.
Quando o verdadeiro Jake La Motta viu o filme, confessou ter percebido a terrível pessoa que ele realmente foi. Perguntou à sua segunda esposa (Vicki), se era realmente assim, ao que ela respondeu "Eras pior".
De Niro ganhou um mais do que merecido Óscar, para além do prémio da montagem, mas o filme acabaria por perder o prémio de melhor filme, que foi ganho por "Ordinary People", de Robert Redford. 10 anos mais tarde "Raging Bull" era considerado o melhor filme da década de 80, com toda a justiça.

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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Cidade Viscosa (Fat City) 1972


Um pequeno estudo de personagens sobre dois boxeurs em diferentes fases da carreira. Stacy Keach interpreta Billy Tully, um ex-lutador que perdeu um grande jogo, e desde então nunca mais foi o mesmo, mas anda a tentar um regresso. Jeff Bridges é Ernie, um jovem que tenta alcançar sucesso no ramo do boxe, mas também já se vê numa encruzilhada, porque este mundo não é exactamente o que ele pensava.
"Fat City" não pode ser julgado como um filme típico, porque não tem um argumento tangível, mas sim uma fatia da vida destas duas pessoas, interligadas por um breve período de tempo. É um mergulho num mundo que, provavelmente, de outra forma nunca iríamos conhecer, e a experiência como um todo beneficia muito das caracterizações muito extremas e das situações que desafiam a previsibilidade, em grande parte graças a uma grande dose de realismo.
As interpretações são todas de grande qualidade, com Keach a ter um dos melhores papéis da sua carreira. Grande destaque também para a interpretação de Susan Tyrrell, o interesse romântico de Tully, numa perfomance que é trágica e engraçada ao mesmo tempo, que lhe rendeu uma nomeação ao Óscar de Melhor Actriz Secundária, única nomeação do filme, e também da actriz.
Subtil, mas de muitas formas, "Fat City" é um dos melhores filmes a retratar o mundo do boxe, dando-nos um vislumbre sobre o que leva estes a entrarem no ringue, e darem tudo por tudo em palco. Infelizmente é dos filmes mais esquecidos da carreira de John Huston, já quase na sua fase final. A década de 70 talvez tenha sido das menos gloriosas para o realizador, mas alguns dos seus filmes neste período acabaram por se tornar em obras de culto. Para além deste, falamos de "The Life and Times of Judge Roy Bean", "The MackKintosh Man" ou "The Man Who Would be King".

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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Um Homem e o seu Destino (Requiem for a Heavyweight) 1962



Mountain Rivera (Anthony Quinn) tem o seu último combate de boxe contra Cassius Clay, e está fora pela contagem depois de 7 rounds. Rivera é arrasado, arriscando a cegueira se lutar de novo. O problema é que o empresário de Rivera Maish (Jackie Gleason), fez uma grande aposta que Rivera seria derrotado não depois do quarto round. Maish tem assim de pagar o dinheiro que perdeu, e está desesperado para vencer uma aposta que cubra a aposta que perdeu, nem que para isso Rivera tenha de vender a alma ao diabo. Junto com Army (Micky Rooney), os três já trabalham juntos há 17 anos.
"Requiem for a Heavyweight" é um grande filme, não apenas pela sua humanidade, mas também pela forma como foi feito. O argumento de Rod Serling é lúcido e profundamente apaixonante, económico, e nunca melodramático. Atrás das câmeras está Ralph Nelson, em estreia absoluta nas longas metragens apesar de já ter bastante experiência na TV, que foi um realizador que nunca conseguiu alcançar a fama, também porque nunca escolheu os caminhos mais fáceis. Dele é, por exemplo, "Soldier Blue", um dos filmes mais violentos a saír de um estúdio americano.
É difícil definir um filme de desporto como algo que valha a pena, num género que já há muito perdeu a originalidade. Dentro do "filme de desporto" o boxe é um movimento à parte, como é o caso deste "Requiem for a Heavyweight". Há um grande uso da fotografia a preto e branco, inclusive para as sequências sem combates, como o jogo de luzes na cena em que Jackie Gleason é encurralado por bandidos. O trabalho de câmera é excelente em todas as áreas, especialmente nos combates, em especial logo no primeiro.
Quinn, que na altura já tinha ganho dois Óscares da Academia, tem uma das suas interpretações mais sólidas da sua carreira. O seu adversário no primeiro combate era Cassius Clay, então um jovem com 20 anos, mas que se tornaria no grande campeão Muhammad Ali.

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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Marcado Pelo Ódio (Somebody Up There Likes Me) 1956


Rocky Graziano (Paul Newman) está a tentar evoluir no mundo do crime quando é finalmente apanhado e preso. Na cadeia, ele é indisciplinado e está sempre a envolver-se em sarilhos. Quando sai passados vários anos decide começar uma nova vida. Rocky descobre que consegue ganhar algum dinheiro a lutar boxe e é rapidamente aclamado como um novo talento do pugilismo.
Esta é a verdadeira história de Rocky Graziano, e segue-o desde a altura em que ele cometia crimes, passando uma temporada temporada na cadeia e no exército, até se tornar campeão do mundo de pesos-médios. Ao contrário do que indica o título do filme, ninguém lá em cima estava a olhar pelo filme. A produção acidentada começou com a morte do primeiro protagonista do filme: James Dean. A história do pugilista Rocky Graziano era da preferência de Dean, que queria muito interpretar o pugilista, e iria voltar a juntá-lo ao seu co-protagonista de "Rebel Without a Cause", Sal Mineo, e colocá-lo ao lado da sua namorada de fora do grande ecrã, Pier Angeli. O novo protagonista era Paul Newman, já com a idade de 31 anos era considerado demasiado velho, e canastrão, para o papel do pugilista. A estreia de Newman em "The Silver Chalice" tinha sido um fracasso, mas este filme iria colocá-lo no mapa.
Newman mergulhou profundamente no papel, e retirou uma interpretação de alto calibre, muito diferente que o público se habituou nos seus filmes mais famosos. O filme foi rodado nas ruas de Nova Iorque, num belíssimo preto e branco, com uma fotografia que acabaria por ganhar um Óscar.
Com dois filmes sobre o mundo do boxe tão importantes, a saírem no mesmo ano, começava-se a adivinhar um grande futuro para os filmes sobre este desporto, que continua a ser o desperto mais bem retratado no cinema. Para além de todos estes pormenores, também era o filme que lançava actores como Steve McQueen, Robert Loggia, ou Robert Duvall, em papéis muito secundários. A realização estava a cargo de Robert Wise, um realizador já com um percurso de respeito em Hollywood, que tinha feito, por exemplo, a montagem de "Citizen Kane". Este filme ganhou 2 Óscares.

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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A Queda de um Corpo (The Harder they Fall) 1956



Humphrey Bogart interpreta no papel de Eddie Willis, um antigo comentador desportivo que junta forças com um corrupto promotor de boxe chamado Benko (Rod Steiger).Juntos, preparam um plano para enganar Toro Moreno (Mike Lane), um boxeur gigante pobre de espírito com mais de dois metros de altura. Através de uma série de combates forjados preparados cuidadosamente, Toro é levado a acreditar que é um sério candidato ao título...
Este seria último filme de Bogart, onde ele tem um desempenho contundente e fantástico no papel de um jornalista desportivo. Adaptado de um romance de Budd Schulberg com um argumento clínico de Philip Yordan e realizado por Mark Robson, era uma  mistura corajosa entre melodrama e thriller. O filme é baseado na carreira do boxeur Primo Carnera, um gigante italiano que se tornou campeão de pesos pesados em 1933-34. O verdadeiro Carnera processou a Columbia Pictures pelas supostas combinações de resultados retratadas no filme, mas acabou por perder em tribunal. "The Harder They Fall" serve como uma exposição do controle da Máfia sobre o mundo do boxe.
Filme bastante corajoso e potente para a época, o realizador Mark Robson entrega-nos algumas sequências brutais de combate, e até certo ponto mostra-nos um "documentário" realista sobre um lutador cujo corpo já foi tão torturado que já nem está em condições de começar um trabalho real.
Conseguiu uma nomeação ao Óscar de melhor fotografia (Burnett Guffey), e fez parte da selecção oficial para Cannes, em 1956. Estreado em Abril de 1956, Bogart viria a falecer no ínicio do ano seguinte, com 57 anos.

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domingo, 14 de dezembro de 2014

O Boxe e o Cinema


O boxe e o cinema já há muito que gozam de uma relação. O primeiro combate de boxe a ser filmado foi em 1894, quando o protegido de Thomas Edison, William K.L. Dickson, filmou um combate entre Jack Cushing e Mike Leonard, conhecido como o ‘Beau Brummell’ do pugilismo. Apenas 37 segundos do combate foram filmados, e hoje em dia ninguém quer saber que Leonard ganhou, mas o vínculo forjado entre o boxe e o cinema não mais acabou.
O boxeur e o boxe são figuras proeminentes no cinema de Hollywood, com aparições em mais de 150 filmes desde a década de 30. A época entre 1975 e 1985 foi a mais importante para este sub-género, graças ao grande sucesso comercial da saga "Rocky", e ao sucesso crítico de "Raging Bull", de Martin Scorcese, mais tarde considerado o melhor filme da década de 80. 
Nesta pequena homenagem que farei ao boxe durante esta semana, escolhi 5 filmes em que a acção se passa não só dentro, mas também fora dos ringues de boxe. Em alguns casos o boxe é a referência principal do filme, noutros apenas serve de background para a acção principal.
Não são obrigatoriamente os melhores filmes sobre o mundo do boxe, mas aqui fica a minha escolha para esta semana:

Segunda: The Harder They Fall (1956), de Mark Robson

Terça: Somebody Up There Likes Me (1956), de Robert Wise

Quarta: Requiem for a Heavyweight (1962), de Ralph Nelson

Quinta: Fat City (1972), de John Huston

Sexta: Raging Bull (1980), de Martin Scorcese

Boa semana para todos.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A Mulher Sem Cabeça (La Mujer Sin Cabeza) 2008


Verónica está ao volante do seu automóvel quando, num momento de distracção, atinge qualquer coisa e foge amedrontada. Nos dias seguintes, sente-se como que a desaparecer, indiferente às coisas e às pessoas que a rodeiam. Depois de confessar ao marido que atropelou alguma coisa na estrada, regressam ao local do acidente e descobrem um cão morto. Mas quando a vida parece retomar a normalidade, um cadáver é descoberto...
O que se segue é um retrato de uma pessoa totalmente fora de sincronia com a sua própria existência. Este não é um assunto particularmente novo na história do cinema, especialmente para quem está familiarizado com realizadores como Michelangelo Antonioni ou Luis Buñuel, dois mestres incomparáveis frequentemente invocados na promoção deste filme. No entanto, a realizadora/argumentista Lucrecia Martel, imensamente ajudada pelo trabalho de câmera de  Bárbara Álvarez, cumpre o seu trabalho com esforço confiante e uma expressiva estética dela própria.
Descobrimos que a vida de Verónica não é apenas o que parece. A carreira, a família, e uma infidelidade ou duas começam lentamente a entrar em foco, assim como uma implícita auto-culpa. Mas o título de A Mulher Sem Cabeça não é uma parábola. É mais o retrato psicológico de uma pessoa para sempre condenada a ser um "voyeur" da sua própria vida, algo que a mudança da côr do cabelo pode corrigir apenas exteriormente.
Martel já vinha a revelar-se desde o início da década, e esta era já a sua terceira obra de uma carreira bastante promissora. Concorria a Cannes pela segunda vez, mas ainda não era desta que a realizadora argentina era premiada. Já há muito que deixou de ser uma promessa do cinema Argentino, e passou a ser uma certeza.

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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Luna de Avellaneda (Luna de Avellaneda) 2004



"Luna de Avellaneda conta a história de um clube desportivo e cultural de um bairro de Buenos Aires que viveu no seu passado uma época de esplendor e cuja existência actualmente se encontra em perigo. A única saída possível parece ser vendê-lo para que se converta num casino, e os descendentes dos seus fundadores terão que debater-se entre a viabilidade do projecto e o reencontro com o sonho idealizado por eles. Róman (Darín) nasceu nesse mesmo clube, no meio de uma noite de festa e foi nomeado sócio vitalício. 45 anos mais tarde, como membro da direcção, ele terá que pesar o papel do clube na sua vida e na vida daqueles que o cercam.
Depois do belíssimo O Filho da Noiva era legítimo ter elevadas expectativas deste Luna de Avellaneda. E nesta história sobre o quotidiano, Campanella dá-nos um filme nada quotidiano, que sendo de entretenimento não abdica da qualidade de realização e interpretação.
O papel de Darín tem algumas semelhanças com o de O Filho da Noiva, especialmente na qualidade da representação de um homem que luta mais facilmente pelos seus valores fora de casa do que dentro dela, dando mais atenção aos estranhos que à sua própria família. Um personagem tão terno e real, na sua imperfeita humanidade, que é impossível não gostarmos dele. A parceria de Darín com Blanco, repetida também neste filme, evidencia uma química pouco comum. Num registo patético e sentimental, Blanco traduz todo o ridículo dos apaixonados numa relação atribulada com uma sonhadora Bertucelli. Morán está deliciosa como mãe divorciada, ressentida e amargurada.
A competência de Campanella revela-se no argumento, na direcção de actores e no desenho da produção, onde planos gerais e de detalhe se alternam, fazendo o contraste entre a conveniência pessoal e o bem comunitário: o eterno dilema.
Um grupo de perdedores que se negam a renunciar à importância das relações humanas no seio de uma comunidade. Apesar da melancolia em que se instalaram, procuram no grupo o consolo de um mundo sem valores, assumindo a culpa do seu fracasso, mas sem perder a esperança de conseguir uma vida melhor.
O clube Luna de Avellaneda, que dá nome ao filme, é aqui a metáfora de uma sociedade que, hoje em dia, apresenta uma saúde muito debilitada. Acredito que os argentinos em particular leiam aqui um relato honesto da sua realidade.
O aviso que este filme nos faz é que a derrota não é provocada pelo passar dos anos, mas pela perda do sonho, essa luz da lua cheia que Don Aquiles (López Vázquez) quer ver antes de morrer. Mas a vida não torna as coisas fáceis, não nos deixando mais remédio que trabalhar, lutar e respeitar as regras de um jogo por vezes perverso.
A exemplo do anterior O Filho da Noiva (2001) e de Nove Rainhas (2000), de Fabián Bielinsky, este Luna de Avellaneda vem confirmar que o cinema argentino está de boa saúde e recomenda-se."- Por Rita, Daqui.

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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O Abraço Partido (El Abrazo Partido) 2004


Em Buenos Aires, um jovem judeu- argentino chamado Ariel Makaroff deixa a universidade de arquitectura e passa o tempo a deambular pela galeria do centro onde a sua mãe tem uma loja de lingerie e o seu irmão gere um negócio importante, tentando obter o passaporte polaco para voltar para a Europa. Ariel nunca percebeu porque o seu pai o deixou, ainda bébé,  para lutar na guerra de Yom Kippur, em 1973. Quando o seu pai regressa a Buenos Aires, Ariel descobre a razão porque o pai deixou a família...
O realizador argentino Daniel Burman é muitas vezes comparado a Woody Allen, e há de facto algumas similaridades: ambos são judeus e preocupam-se com o significado de ser judeu, e ambos têm uma sensibilidade essencialmente cómica, com a qual exploram questões sérias sobre as relações humanas. No entanto, "El Abrazo Partido" não tem muito a ver com a obra de Allen, principalmente porque Burman está interessado em evocar um lugar em particular (uma espécie de centro comercial em Buenos Aires), enquanto os filmes de Allen têm lugar numa Nova Iorque estilizada, que não existe para além da imaginação do realizador. Burman também é menos cómico do que Allen, o seu humor é mais casual e observacional. 
"El Abrazo Partido" introduz-nos a uma Argentina multiétnica de que a maioria dos estrangeiros não estarão cientes. A maior parte do filme passa-se num espaço movimentado, o shopping, e Burman quer que esta seja uma história de pessoas. As personagens secundárias, como alguns lojistas, não são muito bem tratadas, e como Burman estava com receio de fazer um verdadeiro filme de conjunto, retira-se para uma estratégica mais segura, numa narrativa que se concentra num único protagonista.
Filmado em Vídeo Digital, o trabalho de "câmara no ombro" dá uma grande intimidade ao filme. Tal como outros filmes do seu país, correu alguns festivais pelo mundo fora, tendo ganho em Berlim o prémio de Melhor Actor e o Grande Prémio do Juri.
 
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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Querem ser programadores do M2TM durante uma semana?

Durante este natal vou realizar um passatempo, que dará como prémio ao vencedor organizar um ciclo durante uma semana. Só terão o trabalho de escolher os cinco filmes dessa semana.
Para participarem terão de entrar no grupo do M2TM, aqui, onde uma vez por dia será publicada uma foto de um filme já anteriormente postado no blog, neste e no anterior.
Quem adivinhar mais fotos será o vencedor, e o passatempo irá prolongar-se até dia 10 de Janeiro. Começa na quarta-feira.

Nove Rainhas (Nueve Reinas) 2000


A história de Nove Rainhas, passa-se na Buenos Aires dos dias modernos, começando numa madrugada e terminando na manhã do dia seguinte. Nestas 24 horas ou pouco mais, Marcos (Ricardo Darín) e Juan (Gaston Pauls), os seus protagonistas, passarão pela maior aventura das suas vidas, algo que Marcos insiste em chamar de "uma oportunidade em um milhão". Estes dois golpistas de segunda categoria, que habitualmente "trabalhavam" por poucos pesos, conhecem-se por acaso numa certa madrugada e, de repente, tornam-se sócios numa negociação multimilionária envolvendo uma série falsificada de selos raríssimos, conhecidos como as "Nove Rainhas".
"Nove Rainhas" é muito menos previsível do que o público poderia esperar, porque Bielinsky combina o género do "heist movie", como se tratasse de um "buddy movie". Marcos, como se vê, é uma personagem fria e sem coração, para quem os seus parceiros não passam de presas. Ele seria o pior parceiro que um jovem ingénuo e inexperiente como Juan poderia ter. Se não fosse pelo facto que Juan tem um talento para a improvisação, e um rosto em que as pessoas pudessem confiar, ele estaria condenado a ser um mero ajudante de Marcos. 
"Nove Rainhas" marca a estreia na realização de Fabian Bielinsky, um realizador que vinha lutando para realizar a sua primeira longa metragem até que conseguiu ganhar um concurso para a redação de um argumento, à frente de outros 300 concorrentes. Este filme, "Nove Rainhas", tornou-se um sucesso enorme na sua terra natal, varrendo bilheteiras por completo, tornando Bielinsky num realizador famoso e arrecadando alguns prémios importantes. Mais tarde estreou nos Estados Unidos, e em países da Europa como Espanha, França, e Reino Unido onde também conseguiu um sucesso notável.
Foi premiado em vários festivais pelo mundo fora, inclusivé Portugal, onde em 2002 ganhou o prémio do Argumento no Fantasporto. O seu segundo filme, "Aura", lançado em 2005, foi considerado uma obra-prima do neo-noir, mas a sua carreira terminou cedo, pois ele faleceu em 2006, com apenas 47 anos.

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Mundo Grua (Mundo Grua) 1999


Rulo, um operador de gruas de 50 anos, carrega com dignidade o peso de uma vida com demasiados dissabores e alguns, fugazes, momentos de glória. Nos anos 1970 foi tocador de baixo numa famosa banda de rock mas, hoje, está divorciado e enfrenta a sua dura profissão de operador de gruas. A seu cargo tem Cláudio, o seu filho adolescente, e procura sustentar a sua vida e lutar contra a ameaça do desemprego. Quando um novo trabalhador chega e toma o seu lugar, Rulo é forçado a trocar Buenos Aires por um emprego precário em Comodoro Rivadavia, 2000 quilómetros a Sul da capital. Rulo acaba por ter que deixar o seu novo amor, Adriana – uma vendedora de sandes que costumava ser uma grande fã da sua banda -, e o seu filho, que espera seguir os passos do pai e formar a sua própria banda.
"Mundo Grua" é a primeira longa-metragem do argentino Pablo Trapero, realizada quando ele tinha apenas 28 anos, sendo ele um dos primeiros realizadores desta nova geração a revelar-se. A sua premissa, à primeira vista, parece a mesma de uma das suas primeiras curtas, chamada "Negócios", uma curta de 17 minutos que ele filmou em 1995. Conta uma história simples, de um modo simples, com personagens credíveis. Ao princípio esta premissa parece pouco, mas com o tempo converte-se em algo mais.
Trapero aposta forte na naturalidade, basicamente gravando cenas flexíveis, ao estilo de um documentário-ficção, abrindo o jogo para a improvisação dos actores, muitos deles amadores. Isto funciona melhor com os profissionais de carreira (Adriana Aizemberg e Daniel Valenzuela), e alguns não profissionais, e não tanto com o protagonista, que se arrasta com tiques da curta metragem em que já tinha participado: "Negócios".
Em termos de divulgação, "Mundo Grua", correu o mundo em Festivais, tendo ganho dois prémios no festival de Veneza de 1999. Em Portugal passou pelo IndieLisboa de 2005.

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sábado, 6 de dezembro de 2014

Cinema Argentino Contemporâneo

A Argentina tem sido conhecida, especialmente no mundo da língua espanhola, pela qualidade na sua indústria cinematográfica, ainda que tenha enfrentado a repressão e a censura durante a década de 70, que reduziu drasticamente a quantidade de filmes realizados no país. Os efeitos deste período foram transportados para a década seguinte, com os filmes a tratarem do assunto que viria a ser conhecido como a "guerra suja". Apesar da ausência de risco nos filmes da década de 80, houve excepções, como o caso de "A História Oficial" (1985), que ganhou o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.
A década de 90 marcou uma nova fase no cinema argentino, com a estagnação das décadas anteriores a levarem um grupo de jovens realizadores a lutarem para recuperar a identidade cinematográfica do país, e mostrar a nova realidade que se focava menos nos eventos do passado, e mais nos problemas sociais enfrentados pelos argentinos.
O crescimento das escolas de cinema em meados dos anos 90 e a criação de novos festivais, como o Mar de Plata e o Bafici tornaram-se uma plataforma e um modo dos novos realizadores mostrarem o seu trabalho.
Assim, os realizadores que emergiram em meados dos anos 90, são colectivamente considerados parte do "Novo Cinema Argentino", mas são, na verdade, um grupo muito díspar, com tendências estilísticas muito particulares. No entanto, eles estão ligados por uma determinada contemporaneidade, misturando levemente a realidade e a ficção. Este novo cinema estava mais preocupado em criticar a sociedade moderna da Argentina e mergulha nas vidas das personagens com um tal detalhe que nos podemos ver em alguns detalhes que são comuns a qualquer ser humano.
Escolhi para este ciclo cinco filmes, cada um de um realizador diferente, para que fiquem com uma idéia do que era o cinema daquele país. São cinco, podiam ser mais, e também deixei de fora, "El Secreto de Sus Ojos", de Juan José Campanella, por ser o mais popular, e assim vos dar a conhecer outro menor do mesmo realizador. Espero que gostem do ciclo, a partir de Segunda-Feira.

Segunda: Mundo Grúa (1999), de Pablo Trapero

Terça: Nueve Reinas (2000), de Fabián Bielinsky

Quarta: El Abrazo Partido (2004), de Daniel Burman

Quinta: Luna de Avellaneda (2004), de Juan José Campanella

Sexta: La Mujer Sin Cabeza (2008), de Lucretia Martel

Kin-Dza-Dza! (Kin-Dza-Dza!) 1986



Os dois personagens principais do filme, o Tio Vova e Wef, o violonista acidentalmente vão parar a outro planeta, depois de apertarem o botão errado de um estranho dispositivo que se encontrava na posse de um estranho, que eles pensam ser um alien. Vão parar ao planeta "Plyuke" na galáxia "Kin-Dza-Dza", onde todos têm aparência humana e compreendem russo depois de lerem a mente do Tio Vova. Os habitantes deste planeta comunicam de forma telepática, e o seu alfabeto tem apenas 11 palavras. A civilização do planeta parece ser mais avançada, mas por outro lado, do ponto de vista social Plyuke é um mundo completamente bárbaro, e está dividido em duas classes, os mais poderosos de um lado, e os mais pobres do outro.
A redução ao absurdo é conseguida através da humilhação a que os humanos se têm de sujeitar, para encaixarem numa sociedade estranha e injusta, e conseguir regressar à Terra. Os comportamentos bizarros dos aliens, são estranhos à primeira vista, mas tornam-se familiares e lógicos à medida que os personagens humanos (e o espectador) os vão aprendendo.
Uma das definições mais interessantes sobre este filme é que já o consideraram o "melhor filme de ficção científica que ninguém ouviu falar". Um filme que é tanto uma sátira politico-social como um filme russo distópico, algo poucas vezes visto na história do cinema. Obra-prima da ficção científica minimalista e inteligente dos anos 80. Escrito e realizado por Georgi Daneliya, "Kin-Dza-Dza" é uma rica crítica ao comunismo carregado com o humor pungente que seria de esperar de um filme da era soviética, numa paisagem influenciada pelos filmes da familia do "Mad Max".
Poucas vezes visto, tornou-se numa obra de culto. Em Portugal foi exibido no Fantasporto de 1988, tendo ganho o Grande Prémio do Júri. Recentemente teve um remake animado.

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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Missão sexual (Seksmisja) 1984



Dois cientistas são escolhidos como cobaias para uma experiência temporal: são colocados em estado de hibernação, para serem acordados três anos depois. Entretanto, rebenta a III Guerra Mundial, e a vida é irradiada da superfície da terra. Quando eles acordam, descobrem que não só passaram 50 anos como também são os únicos exemplares do sexo masculino vivos, numa nova sociedade que vive debaixo do solo e composta unicamente por mulheres.
O filme contém numerosas à realidade da sociedade do bloco comunista, particularmente para o da República da Polónia, mesmo antes da queda do comunismo, talvez na expectativa dos grandes eventos que estavam por vir, a queda do comunismo e a ascenção da liberdade política. Quando Max e Albert escapam, saltam a parede que de seguida começa a tremer. As reuniões secretas das mulheres e as suas mentiras são paralelas ao regime comunista da Polónia. Esta dimensão do filme parece escapar ao espectador distante do contexto. Alguns destes detalhes foram deixados de fora da versão que passou nos cinemas polacos, mas outras foram deixadas passar. O filme também pode ser visto como uma sátira entre géneros, puritanismo ou totalitarismo.
O filme é muito popular na Polónia. Foi proclamado o melhor filme polaco dos últimos 30 anos numa poll realizada em 2005 pelas três revistas de cinema mais populares da altura. No entanto, uma avaliação do público tem os seus prós e os seus contras. Recebeu o Złota Kaczka Award para melhor filme em 1984, uma espécie de Óscar polaco. Em Portugal foi mostrado no festival da Figueira da Foz e no Fantasporto.

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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Eolomea (Eolomea) 1972



Oito naves de carga desaparecem no espaço sem deixar rasto, no espaço de apenas três dias. A estação espacial "Margot" de repente ficou em silêncio. O concelho do espaço depara-se com um mistério, e a cientista encarregada, Maria Scholl, não vê outra solução senão mandar parar toda a frota de naves neste misterioso sector do espaço. O seu colega, o Prof. Tal, parece misterioso, uma vez que sabe de coisas antes de elas acontecerem. Descobre-se que ele fazia parte do projecto Eolomea, um projecto proibido que nunca teve aprovação superior.
O trailer (visto no DVD de outros dois filmes da DEFA, "The Silent Star" e "In the Dust of the Stars"), sugere que este será um filme de suspense, talvez com um monstro de olhos esbugalhados invisível. No entanto Eolomea tem um conflito invulgar: burocracia centralizada versus exploração espacial. É interessante ver esta idéia num filme da Alemanha Oriental, mas o filme em si é lento e instável enquanto vai mudando de segmentos. Tal como "In the Dust of the Stars" é uma grande metáfora para os ideais comunistas e política sofisticada que são suficientemente estranhos aos olhos ocidentais, para causarem um bom efeito. "Eolomea" trabalha especialmente na abordagem dos problemas da responsabilidade do governo, versus uma parte do objectivo maior da humanidade.
Em comparação com os filmes americanos da época, nos alemães, as mulheres não podiam ter posições de poder sobre os homens a não ser que estivessem apenas a aguardar que os homens a as derrubassem e assumissem o seu lugar. Mas a professora Scholl é capaz de manter toda a sua sexualidade feminina e ainda manter um romance sem perder o respeito pelos seus pares.
Legendas em inglês.

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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A Décima Víctima (La Decima Vittima) 1965



O filme não perde tempo para nos levar até ao centro da história. Começamos com um homem armado a perseguir uma mulher. Um polícia pára o atirador e inspeciona a sua arma, para o deixar seguir de seguida, e continuar a sua caça. Este evento, conhecido como “The Big Hunt”, era uma forma de violência legalizada. As regras são simples, e dizem que cada participante deve participar em 10 caçadas - cinco das quais são caçadores, e as outras cinco são caçados. “The Big Hunt” é controlada por um serviço electrónico, em Geneve. Cada caçador sabe tudo sobre a sua vítima, mas a vítima não sabe quem é o seu caçador, e deve descobri-lo e "despachá-lo"...
Baseado numa história curta de 1953, Seventh Victim" de Robert Sheckley, este filme de 1965 era uma co-produção entre a França e a Itália, com Ursula Andress como Caroline Meredith, uma bela caçadora que caça a sua décima vítima. A sua víctima é Marcello Poletti (Marcello Mastroianni), outrora um homem rico, a quem a sua ex-mulher abandonou, sem dinheiro.Marcello sabe que está a ser caçado, mas não identifica imediatamente quem é o seu perseguidor.
Para um filme de 1965, "The 10th Victim" é um comentário interessante sobre a ganância social e o marketing de produtos. Mostra a humanidade como produto e objecto material. Enquanto Caroline caça a sua presa, e Marcello se ilude com a sua caçadora, a situação é patrocionada por empresas de bebidas, como se tudo fosse um grande jogo e o acto final fosse a morte. Toda esta publicidade de produtos num cenário virtual de assassinato dá impulso a uma total decadência da sociedade moral. "The 10th Victim" estava muito à frente do seu tempo, a década de sessenta. Embora tenha algumas situações cómicas, é um filme muito elegante, que faz bom uso de cenários futuristas.
Realizado por Elio Petri, que mais tarde ficaria conhecido pelos seus brilhantes filmes políticos. Mas aqui já se encontrava muita alegoria política.

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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Viagem ao Fim do Universo (Ikarie XB 1) 1963



O ano é o de 2163. Uma gigantesca nave espacial transportando colonos para um novo planeta, mete-se em problemas inesperados quando cruza com uma nave alienígena abandonada apenas habitada por cadáveres. Começam a surgir problemas nos computadores de bordo, e começam a nascer tensões entre os membros da tripulação e os passageiros.
Realizado pelo checo Jindřich Polák, este muito imitado e pioneiro filme, "Ikarie XB 1" é uma das peças fundamentais da ficção científica contemporânea. Antecedeu filmes como "Star Trek" e "2001: A Space Odyssey" e foi claramente uma influência em ambos, bem como em quase todos os filmes de sci fi que se seguiram.
Adaptado do livro de Stanisław Lem "The Magellanic Cloud", de 1955, o filme é passado num futuro longínquo, e segue uma missão para encontrar vida extraterrestre nas profundezas do espaço. Durante uma perigosa missão a tripulação vai enfrentar os efeitos de uma estrela da morte, e os limites da sua própria loucura. Com um fabuloso design e fotografia está imbuído com uma grande seriedade, inteligência e atenção ao detalhe, raramente visto no cinema de ficção científica da altura.
O assistente de Kubrick, Anthony Frewin, confirmou que o realizador viu "Ikarie" como parte de uma pesquisa de pré-selecção para o famoso filme. Uma das razões que o levou a avançar para "2001" foi porque ele via uma grande escassez de inteligência nos filme de Sci Fi de grande orçamento, mas tal não acontecia com Ikarie, que considerou um passo importante para dimensionar o género. Muitas idéias conceituais e de design foram aproveitadas para o filme de Kubrick, os fatos espaciais são muito similares assim como a iluminação interior, os corredores hexagonais, as chamadas telefónicas para os entes queridos, a quantidade de atenção dada aos detalhes não narrativos, e o tema predominante de procurar por algo não especificado, entre outras coisas.
No geral é uma peça realmente interessante de ficção científica, que surpreendeu muita gente quando foi lançado. O twist final foi cortado e substituído pelo distribuidor americano para um final muito mais feliz, mas o final original foi reposto quando o filme foi lançado em DVD, como esta versão aqui presente.
Legendas em inglês.

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sábado, 29 de novembro de 2014

O Estranho Mundo da Ficção Científica Europeia

O cinema de ficção científica está connosco desde 1902, quando o francês Georges Mélies realizou o épico de 3 minutos "Le Voyage Dans La Lune", o primeiro filme que levou o ser humano para fora da terra, e considerado o primeiro filme de ficção científica de sempre.
Quero com isto dizer que a ficção científica no cinema foi inventada na Europa, pelo início do século 20. Durante todo este século foram muitas as obras-primas a saír deste continente, embora os orçamentos nunca fossem tão elevados como habitualmente se encontrava nos filmes americanos.
Em 1927 víamos Fritz Lang a realizar uma das suas grandes obras, "Metropolis". Na União Soviética Tarkovsky realizava a resposta russa a "2001" com "Solaris", ou "Stalker", outro dos maiores filmes de sci fi de sempre. Os mestres da Nouvelle Vague, Truffaut e Godard também tentaram a sua sorte neste género, por entre os seus projectos mais pessoais. Truffaut com "Fahrenheit 451", e Godard com "Alphaville, une étrange aventure de Lemmy Caution". 
Mas a ficção científica europeia não se baseou a estes filmes clássicos, e espalhou-se um pouco por toda a Europa. Esta semana vamos conhecer 5 das suas obras mais underground. Cinco filmes que não se tornaram mediáticos entre os fãs do género, mas que deixaram mossa entre o público do seu país, alguns deles triando um percurso de culto ao longo do caminho.
Da Itália à antiga União Soviética, estes são os cinco filmes a ser vistos esta semana:

Segunda: Ikarie XB 1 (1963 - Checoslováquia), de Jindrich Polák

Terça: La Decima Vittima (1965 - Itália), de Elio Petri

Quarta: Eolomea (1972 - Alemanha), de Herrmann Zschoche

Quinta: Seksmisja (1984 - Polónia), de Juliusz Machulski

Sexta: Kin-dza-dza! (1986 - União Soviética), de Georgiy Daneliya



Boa semana, espero que gostem dos filmes.  

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Um Verão de Amor (Sommarlek) 1951



Marie (Maj-Britt Nilsson) é uma bailarina clássica não muito jovem que, ao encontrar um antigo diário, recorda um verão que passou com Erland (Georg Funkquist), um possessivo tio que vivia com a sua cancerosa esposa (Renée Björling) numa ilha perto de Estocolmo. Lá Marie faz amizade com um inocente jovem, Henrik (Birger Malmsten), por quem ela se apaixona. Quando o verão está para terminar os jovens amantes estão muito envolvidos, mas algo trágico irá acontecer.
Em 1958, em resposta a uma retrospectiva francesa dos filmes de Ingmar Bergman, que na altura tinha 19 filmes realizados, Godard publicou um artigo nos Cahiers du Cinema, comparando efusivamente a obra do realizador sueco com a de outros como Orson Welles, Jean Renoir, Alfred Hitchock, e Roberto Rossellini. Por esta altura já Bergman tinha realizado alguns dos seus melhores filmes, mas Godard reservou os mais belos elogios para este "Sommarlek", que considerou "o mais belo dos filmes".
É interessante perceber porque é que Godard ficou tão tocado por este filme, já que não é dos mais famosos nem reconhecidos filmes do realizador, embora tenha desempenhado um papel importante na formação da sua identidade cinematográfica, apontando para a direcção que o realizador tomaria nos seguintes anos. Era um projecto muito pessoal, que derivava directamente das memórias de um caso amoroso do realizador. Bergman chegou a dizer que este filme era mesmo uma reviravolta na sua carreira, e a primeira vez que um filme realmente lhe odedecia. Talvez este espírito independente, a voz de um artista totalmente envolvido no seu espírito de criação, que Godard viu no filme.
Bergman escreveu a história com o mesmo argumentista do filme anterior, Herbert Grevenius, e é construida em torno de uma estrutura em flashbacks bastante simples, mas bastante eficaz, que constrasta a monotonia do presente com a beleza do passado, mas sem resvalar para a generalização fácil, ou a nostalgia.
Com uma intensidade dramática bastante flexível, "Sommarlek" sugere que o esplendor do primeiro amor é passageiro, e que pela sua própria natureza pode ser apenas temporário, embora a sua memória nunca se desvaneça. O filme é estruturado em torno da tragédia e da inocência perdida, e termina com uma nota edificante em que voltar ao passado pode se tornar num meio importante de se compreender o presente.

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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

This Can't Happen Here (Sånt Händer Inte Här) 1950

 Atka Natas é um agente secreto da ditadura de Liquidatzia. Ele visita a sua ex-mulher Vera, uma química que está envolvida com um grupo de exilados, tentando levar os seus compatriotas para fora de Liquidatzia. Almkvist, um policia honesto e ex-amante de Vera, entra em contato com ela enquanto investiga a morte de um dos refugiados. Natas tem uma lista de agentes que operam no país que os recebe e quer vendê-los aos americanos. No entanto, antes que possa fazê-lo, Vera tenta matá-lo, depois de uma discussão sobre a tentativa de mandar os seus pais para fora de Liquidatzia.
"Sånt händer inte här", é de longe considerado o pior filme de Bergman. Se o nome Alan Smithee existisse nos anos 50, provavelmente tinha adquirido os créditos da realização deste filme. Assim que Bergman conseguiu alcançar alguma influência tentou renegar esta obra, e pediu para que ela não fosse mostrada novamente, o que foi cumprido pelas autoridades suecas.
Baseado no livro "Within 12 Hours" do escritor norueguês Peter Valentin (um pseudónimo de Waldemar Brøgger) que foi publicado em Estocolmo em 1944 pela Bonniers. Devido ao conflito eminente entre o Governo sueco e a indústria cinematográfica por causa do imposto sobre o entretimento, a Svensk Filmindustri fez questão de produzir um possível sucesso internacional na forma de um thriller de espionagem. Herbert Grevenius foi contratado para escrever o argumento, e Ingmar Bergman, por razões financeiras, acabou a dirigir. Acabou por se tornar numa experiência dolorosa para ambos. 
A maior parte das críticas foram negativas, mas um número considerável de críticos não sabia se deviam levar o filme a sério.  Grevenius e Bergman eram personalidades sérias no mundo do cinema, e por isso era difícil de acreditar como tinham concluido tal coisa.

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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Rumo à Felicidade (Till Glädje) 1950



No início, anuncia-se, de maneira quase indiferente, a morte da esposa e da filha a Stig Eriksson, o marido. A sequência seguinte poderia ser a cena de encerramento, em que o maestro e amigo, interpretado pelo ator e também diretor Victor Sjöström (o mesmo ator do incrível Morangos Silvestres) consola o recém-viúvo. Porém, entre os quatro minutos iniciais e a cena final, há o miolo, apresentado na forma de uma grande elipse, que constrói o curso do relacionamento entre os dois músicos ao som da Ode à Alegria da Nona de Beethoven.
Alguns que escreveram sobre esta obra a consideraram marcadamente banal; um mero ensaio de temáticas que seriam melhor desenvolvidas por Bergman em outros filmes, como Uma lição de amor e, sobretudo, em Cenas de um casamento. Outros lembram que Bergman estava no meio de uma separação amorosa na época das filmagens (seu segundo divórcio, de vários que ainda viriam) o que explicaria muita coisa. E não deixam de ter certa razão. Se considerarmos o miolo, trata-se de um roteiro bastante banal realmente: um casal de músicos violinistas pertencentes a uma mesma orquestra, sem grandes posses, em constantes dificuldades financeiras, sem grande talento no exercício do seu ofício, sem grande carisma, um marido bastante dependente e imaturo que tem uma jovem amante, uma esposa bastante compreensiva, que busca cuidar dos filhos, que já foi casada e que já abortou, que ama Sig, um casal que passa por crises em seu relacionamento. Nada realmente de especial.
Esta digressão de aproximadamente uma hora e vinte minutos, porém, apesar de compor um arco muito bem resolvido e construído, flertando ora com o melodrama ora com a poesia, com seus excelentes momentos, é apenas o instrumento pelo qual se acessa o significado da dor de Sig, sobretudo nos minutos iniciais, e as palavras de consolo do maestro, na cena final. O convívio com o cotidiano da vida do casal acessa o conteúdo daquilo para o que inicialmente éramos indiferentes, à maneira de um mecanismo empático. O menino é a solidão de Sig, mas é também a de Bergman, uma solidão que transborda da Lanterna mágica, sua autobiografia, de seus problemas familiares, do difícil convívio com seu pai, das suas brigas com Deus – a constante constatação de que estamos sozinhos.
A mediocridade de Sig como violinista, que falha barbaramente ao tentar o cargo de solista, seria então a do jovem diretor, em um dos primeiros filmes de sua longa carreira? Quando filmar é um modo de alcançar as esquinas mais sombrias da alma, Bergman é hábil ao usar como argamassa da produção artística os seus demônios privados.
Quem lê estas anotações deve estar curioso quanto ao título, Rumo à felicidade (Till Glädje), pois seria possível se argumentar a esta altura que não se trata de uma história propriamente feliz, mas pesada e melancólica. Retome-se, porém, a ideia de que o argumento do filme reside em suas extremidades, e, se a música de fundo é, não impunemente, a Ode à alegria, a conclusão é a gratidão pela vida, aquela que não se expressa perfeitamente pela linguagem das palavras.
O papel da música, aliás, parece ser central em expressiva parte da obra do diretor sueco. Um exemplo significativo: em O sétimo selo, a Morte declama um trecho do capítulo oitavo do livro das revelações ao som da cantata Carmina Burana, de 1937 – que é a primeira parte da trilogia composta pelo alemão Carl Orff a partir do codex de poesia medieval, formada também pela Catuli Carmina, de 1943, e pela Trionfi dell’Afrodite, de 1952.
A música é também o tema de fundo de Rumo à felicidade e, a partir destas considerações, é possível se localizar precisamente o tom de gratidão, a que nos referimos, que se imprime à obra: depois de saber da morte de Marta, o maestro explica que a música é uma questão de alegria. Uma alegria que não se expressa em risos, ou a felicidade que diz “Eu sou feliz”, mas que é uma forma de felicidade tão imensa, tão particular, tão espiritual que se encontra além da dor e do desespero sem limites. Uma felicidade além de toda compreensão.
Texto de Leonardo Branco. Daqui.

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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Sede de Paixão (Törst) 1949


Escrito por Herbert Grevenius (o mentor de Bergman), que colaborou com ele em vários outros filmes, e adaptado de várias curtas escritas pela actriz Birgit Tengroth, a estrutura da história é uma tentativa transportar as relações complicadas dos seus personagens.
Grande parta da acção apresenta-nos um casal problemático, Ruth (Eva Henning) e Bertil (Birger Malmsten), quando eles regressam a Estocolmo depois de uma viagem a Itália. A Europa que eles visitam foi devastada pela guerra, com a paisagem cicatrizada, tal como o casal tem as suas ruínas emocionais. No comboio em que viajam, discutem o casamento, brigam, atiram comida para os alemães esfomeados, e até recebem conselhos de um padre sueco. Atormentada por insónias e alcoolismo, a mente de Ruth voa para lembranças de um caso que teve com Raoul (Bengt Eklund), um homem que a manteve como amante até ela ficar grávida. Um aborto mal feito deixou-a estéril, e quase arruinou a sua carreira de bailarina.
Eva Henning é o que de melhor se pode encontrar neste filme. Ela interpreta a bailarina Ruth com uma energia maníaca, saltando de polo para outro no espaço de duas frases. Num momento ela está bem, e logo a seguir está mal, alternando entre o passado e o presente, que dá ao filme uma sensação muito noirish.     
O tema central é mais uma vez a lenta dissolução do casamento, bastante familiar para quem conhece a obra de Bergman, e que foi tão bem explorado em obras como "Scenes from a Marriage", mas também "Summer With Monika". Em termos gerais este é um Bergman em boa forma. O seu trabalho atrás da câmera é bastante inventivo, e supera alguns problemas a nível de diálogos que se encontrava em filmes anteriores, conseguindo um brilhante trabalho da sua actriz principal, assim como todo um excelente trabalho técnico.
Legendas em inglês.

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domingo, 23 de novembro de 2014

Prisão (Fängelse) 1949



No ínício do filme, um realizador (Hasse Ekman) é abordado por um ex-professor (Anders Henrikson), agora envelhecido, acabado de saír de um asilo para doentes mentais, e que lhe lança a idéia de um filme sobre o Inferno na Terra. A vida é "um caminho cruel mas sedutor entre o nascimento e a morte",  diz Henrikson, mas Ingmar Bergman, trabalhando pela primeira vez a partir de um argumento dele próprio, passa o resto do filme a tentar argumentar o contrário. Será que Deus está morto? Será que ele alguma vez existiu? Qualquer pessoa que realmente pense sobre a vida comete suicídio, afirma o escritor interpretado por Birger Malmsten, cuja visão niilista do mundo é nos mostrada através da sua relação com uma prostituta adolescente (Doris Svedlund). Os personagens principais são modelos deste primeiro período do jovem Bergman conturbado, onde o peso do mundo lhes esmaga a alma, e só o isolamento regressivo lhes oferece refúgio.
Extremamente sombrio (o título em sueco significa prisão), o filme é, obviamente, uma purgação para a tensão de jovens cineastas, neuroses, embora o desespero de Bergman aqui esteja próximo de um egoísmo mórbido e angustiante.
Mesmo com alguma familiaridade com os psicodramas obscuros de um universo sem deus que viriam a compor muitos dos filmes posteriores de Bergman, este filme seria recebido com algum choque. Os seus primeiros filmes (anteriores a este "Prisão") tinham alguns elementos mais escuros, mas em geral eram melodramas muito mais sociais, adaptados da literatura popular, com um público muito mais comercial em conta. "Prisão", foi, de facto, o primeiro filme onde Bergman teve o controlo sobre tudo, e o ambiente ficou muito mais negro. Percebendo que este não seria o tipo de filme que a Svensk Filmindustri financiaria, Bergman levou o script para a Terrafilm, para quem já tinha realizado anteriormente "Music In Darkness". Por necessidade, já que não iria ser um filme comercial, "Prisão" teve de ser feito com um orçamento muito limitado, e num espaço de tempo muito curto, e o resultado é consequentemente tenso e sombrio, muito mais perto do Bergman que conhecemos, do que qualquer outro filme realizado por si nos anos 40.

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sábado, 22 de novembro de 2014

Ingmar Bergman - Parte 2

No passado mês de Agosto iniciamos aqui uma série de ciclos dedicados a Ingmar Bergman, nos quais pretendemos visitar toda a sua carreira. Depois dos primeiros cinco filmes, nesta segunda parte vamos pegar na sua carreira de 1949 até 1951.
Aqui, os filmes de Bergman concentram-se em jovens amantes, geralmente das classes trabalhadoras. A maioria das vezes a acção passa-se nas cidades e nos seus subúrbios, com claras influências do neo-realismo, principalmente Roberto Rossellini. A recordação é um importante recurso estilístico nesta fase.
Vamos acabar este ciclo com "Sommarlek", o filme que revelaria internacionalmente Bergman, e que seria a sua primeira participação num festival internacional de cinema (neste caso, Veneza). Neste filme, através de flashbacks, ele vai abordar uma série de temas que seriam recorrentes na sua obra, como a perda da identidade artística, o fim do amor, e da lenta decadência da vida, que passam a partir daqui a ser exploradas com uma nova confiança.



Sendo assim, o alinhamento para esta semana vai ser o seguinte:

Domingo: Prisão (1949)

Segunda: A Sede (1949)

Terça: Rumo à Felicidade (1950)

Quarta: This Can't Happen Here (1950)

Quinta: Um Verão de Amor (1951)

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Tony (Tony) 2009



Uma semana na vida de um serial killer solitário, com graves problemas de socialização, e um bigode totalmente fora de moda, "Tony" é uma viagem ao lado mais escuro do mundo dos serial killers. Peter Ferdinando interpreta o homónimo anti-herói, um perdedor nervoso e mal compreendido, desempregado e em estado de dependente do subsidio há 20 anos, mas propenso a actos de extrema violência contra qualquer pessoa que o incomode.
Quando dizemos que um filme vai "dividir" as audiências, normalmente quer dizer que metade vai gostar, e a outra metade não. Isso não acontece com "Tony", que pode ser visto como uma versão de "Henry: Portrait of a Serial Killer" filmada por Mike Leigh. Se um filme tão divisior pode ser visto como fiel à sua própria visão, merecendo elogios por essa mesma divisão, então esse filme tem de ser "Tony".
Com apenas 70 minutos, "Tony" não tem muito para mostrar, para além da vida do protagonista. É um homem estranho, com cabelo em forma de tijela e um olhar à Roddy McDowell. O seu pequeno apartamento é o mais deprimente que se possa imaginar. Duas cadeiras, um sofá, e uma pequena televisão onde ele vê filmes de acção. Tony passa os dias a vaguear pelas ruas com o seu casaco preto, ou a observar holligans no pub. E já lá vão 20 anos a viver à custa do estado. "How'd you like a job scrubbing toilets? Meeting people?", pergunta-lhe o oficial de emprego. É difícil compreender até onde vai o limite de Tony, mas ele ocasionalmente mata as pessoas com um martelo, e desmembra-as na banheira.
Tony vai passando de situação para situação. As suas atitudes violentas não são explicadas, não há passado ou insinuações de uma infância infeliz, ele é simplesmente insano o suficiente para se convencer que é uma pessoa diferente, e tudo funciona perfeitamente. Durante todo o filme uma bela melodia de piano toca durante as cenas de exteriores, com Tony a vaguear pelas ruas a observar a sujidade que o rodeia. Estas sequências parecem-se como um pesadelo adaptado para a tela por Gerard Johnson, assim como as cenas em que Tony meticulosamente separa os membros dos torsos, para envia-los no interior de sacos de plástico azuis, para o rio Tamisa. Mas para uma viagem tão brutal e desagradável ao mundo do "voyeurismo" e da perversidade, "Tony" também tem um sentido de humor e um coração a bater, que o ajudam a levantar-se mais alto do que outros filmes recentes do género.
Por Portugal passou apenas no Motelx de 2010.

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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Memórias de um Assassino (Salinui Chueok) 2003



Coreia do Sul em 1986, sob o jugo da ditadura militar: dois polícias rurais e um detective especial da capital investigam uma série de assassínios e violações brutais. Os seus métodos crus tornam-se mais desesperados à medida que os corpos vão sendo encontrados.
Em 1986 a Republica da Coreia viu-se a braços com o seu primeiro serial killer conhecido. Durante a narração da abertura ficamos a saber que o país estava a viver uma ditadura militar, e nas próximas duas horas é nos dado uma lição de como um governo forte e autoritário pode não conseguir deter um único criminoso. Revelar a natureza do governo do país é uma escolha estranha para principal informação a ser dada ao público, quando à maioria dos Coreanos não era preciso ser dito. Para as gerações que não se lembravam pode ser considerado um lembrete, mas também serve para focar a atenção do espectador sobre como isso afetará os elementos processuais deste filme. A principal lei do governo era o autoritarismo e a intimidação, e ao mesmo tempo gerar um clima de medo para persuadir eventuais criminosos a cometerem um crime.
O argumentista/realizador Bong Joon-ho é muito forte em ambos lados da história - a investigação policial tem bastante suspense, apesar do resultado da investigação já ser do conhecimento do público, enquanto as histórias das personagens são muito bem desenhadas, com convincentes alterações da confiança ao desespero. Não é à toa que o filme foi um sucesso na sua terra Natal (um dos maiores êxitos do ano), levando o público a pedir que o filme fosse novamente lançado nas salas. Como drama policial é uma notável peça de trabalho, contando uma boa história e construindo personagens interessantes, criando um sentido de tempo e lugar.
São notáveis as influências de outros filmes americanos de serial killers, como "Seven" ou "O Silêncio dos Inocentes", embora o filme tenha uma identidade muito própria. Correu o mundo, sendo exibido em festivais como Cannes, San Sebastian, Londres e Tóquio,tendo conseguido alguns prémios de relevo. Nunca estreou nos cinemas em Portugal.

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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O Elemento do Crime (Forbrydelsens Element) 1984



O inspector Fisher chega ao Cairo depois de ter conduzido um inquérito sobre um homicídio no continente europeu mas não se recorda do que aconteceu e procura ajuda de uma terapeuta. Sob hipnose, viaja através da memória e da sua dor... pela Europa. E é arrastado para um caso de homicídios invulgares.
Primeira longa metragem de Lars Von Trier, é um thriller de terror futurista, passado num futuro pós-apocalíptico indeterminado, do norte da Europa (apesar de ser falado em inglês). Nascido em Copenhaga, Dinamarca, 1956, Lars Trier era uma criança actor, filho de pais comunistas, antes de entrar em escolas de cinema e workshops, onde aprendeu o ofício de realizador, e acrescentou "Von" ao seu nome. Na Escandinávia, a indústria estava em declínio, e Von Trier iniciava uma trilogia sobre a desintegração da Europa, numa era pós moderna. Começou com este filme intitulado Forbrydelsens Element (The Element of Crime).
Enquanto "Forbrydelsens Element" não tem o tom imperfeito dos seus filmes posteriores, tem uma excelente fotografia noir, com elegantes tons que fazem a sua visão ser sombria, e pós-moderna. A sua única falha, além da sua falta de originalidade comparada com os film noirs anteriores, é que o filme move-se um pouco lentamente, devido ao seu diálogo estilizado. Ainda assim, consegue criar um novo ambiente para os films noir, muito mais europeu, com excelentes movimentos de câmara lenta, e câmara ao ombro.
O argumento é muito estranho, a partir de uma perspectiva europeia pós-moderna, onde tudo começa a desmoronar. Mesmo os twists do filme e as surpresas tornam-se mais chocantes, por causa do comportamento dos seus personagens. Embora o argumento seja da autoria do realizador e dos seus colaboradores, que incluem Mogens Rukov (especialista do movimento Dogma 95), é a realização de von Trier que de facto nos fascina. Especialmente na forma como ele vê as coisas, que incluem violência, moral, rituais, e sexo, onde há uma cena de sexo oral que não chegamos a ver na totalidade.

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terça-feira, 11 de novembro de 2014

A Caça (Cruising) 1980



Steve Burns é um jovem detective que acaba de receber ordens do Capitão Edelson para resolver o caso de uma série de assassinatos brutais que estão a aterrorizar a comunidade gay de Nova Iorque. Com o seu aspecto, moreno de olhos e cabelos escuros, Steve encaixa no perfil das vítimas, mas terá de aprender e praticar as complexas regras desta subcultura para conseguir atrair o assassino...
Já passaram mais de 30 anos desde que este filme fracassou nas salas de cinema, quando estreou, mas desde então a crítica ao filme deu uma reviravolta de 180 graus. Em 1980 a imprensa homossexual criticou o filme violentamente por apresentar um retrato negativo da vida gay. No entanto, nos anos mais recentes, o filme tem sido visto como uma visão pro-gay, tendo sido injustamente criticado e estigmatizado na data da sua estreia, apesar das boas intenções estarem presentes. Porque nada mudou sobre o filme nos últimos 30 anos este foi reavaliado, por causa das mudanças culturais no seu país.
Hoje, os principais pontos de vista culturais são totalmente diferentes da década de oitenta, quando Ronald Reagan entrava pela primeira vez na Casa Branca e a sida ainda era uma doença desconhecida por esse mundo fora. Alguns dizem que eram tempos melhores, outros dizem que era uma época repressiva, conservadora, que suprimia os grupos minoritários e reprimia a expressão humana.
Como filme "Cruising" é notável, mergulhando no homo eroticismo que quase nunca é visto nos filmes de hoje. William Friedkin gozava do sucesso de "The French Connection" e "O Exorcista", e tinha uma estrela maior no elenco, Al Pacino. Mesmo assim, a sexualidade não filtrada transpira por todos os poros, recusando-se a refinar ou coíbir os detalhes da vida gay dos anos 70. Foi chocante na altura, e é chocante agora, não no sentido ultrajante, mas pela sua franqueza documentarista.

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segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Noivos Sangrentos (Badlands) 1973



Estados Unidos, 1959. Kit é um criminoso em fuga, procurado pelas mortes de várias pessoas. Acompanhado pela sua nova namorada Holly, que presenciou os crimes, perde-se num mundo de fantasia em que a violência e o crime são as únicas constantes. Os dois habitam um universo só seu, mas o rasto de balas e sangue que vão deixando enquanto fogem da lei, pelas paisagens desoladas do Dakota e Montana, é muito real.
A estreia de Terence Malick como realizador foi um sucesso estrondoso, tendo criado um conto popular seminal e inovador sobre jovens sem rumo. Passado no final da década de cinquenta, numa pequena cidade da Dakota do Sul, este road movie inovador tornou-se num clássico filme de culto, misturando assassinatos, banalidades, cultura pop, amor e romance, alienação, tudo misturado apanhando a vaga de rebeldia deixada por James Dean. É uma leve dramatização da matança levada a cabo por Starkweather e Fugate no final dos anos 50. Kit Carruthers (Martin Sheen) é um jovem colector de lixo com uma semelhança extraordinária com James Dean, que se vai apaixonar por uma jovem de 15 anos chamada Holly Sargis (Sissy Spacek).
Terrence Malick não romantiza ou julga os fugitivos, apenas conta a sua história tal como ela é, apenas deixa o espectador juntar os pedaços da história em falta. Isto funciona tão bem que poderia ser creditado ás fantásticas prestações de Sheen e Spacek. A beleza do filme é que revela apenas uma história simples que se esconde por detrás de um complexo conjunto de motivações das personagens. Embora essas motivações não estejam explícitas na história, deixam o espectador a pensar sobre a razão para toda aquela violência. Os dois desajustados encontram alegria em tornar celebridades nacionais e parecem muito distantes da realidade, e na sua simplicidade e falta de motivação parecem simpáticos, apesar da violência dos seus actos. O que tem significado para Kit é que o seu novo estatuto na sociedade eleva-o a uma espécie de herói popular, alguém que nunca pensou sobre a vida e a morte. Kit é um produto dos tempos materialistas, onde a televisão e os filmes coloram as suas acções. Estas, embora nunca sejam explicadas, dizem muito mais de que se tivesse sido tentado explicado. Malick apanhou algo sobre os subúrbios da América e a sua juventude desajustada, que é perturbador mas muito real.

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domingo, 9 de novembro de 2014

Serial Killers

O termo serial killer começou a ser usado na década de 70, por um agente do FBI chamado Robert K. Ressler. Até então usava-se Stranger Killer (assassino de desconhecidos) porque se pensava que os assassinos não conheciam as suas vítimas, e que estas eram escolhidas ao acaso. Mas depois de estudados alguns destes criminosos chegou-se à conclusão de que alguns tinham contacto com algumas das vítimas.
Muitos foram os filmes que se debruçaram sobre este assunto, até mesmo antes do tema ter sido inventado. Alguns desses filmes tentaram responder à pergunta sobre o que é um serial killer, e o que o leva a matar, mas esta é uma questão que nem os melhores psiquiatras conseguem responder, e por isso o assunto está em constante desenvolvimento.
O primeiro grande filme a debruçar-se sobre o assunto foi "M" (1931), de Fritz Lang, com Peter Lorre como assassino de crianças, mas o verdadeiro "boom" deu-se nos anos 60, depois da explosão de filmes como "Psycho", ou "Peeping Tom". Desde então o assunto tem sido explorado no cinema de várias formas, desde estudos psicológicos das personalidades, biografias de serial killers verdadeiros, ou simplesmente caças aos assassinos. Talvez o caso mais famoso no cinema tenha sido a adaptação do romance de Thomas Harris, realizada por Jonathan Demme, e interpretada por Anthony Hopkins no papel de um serial killer, que lhe valeu um Óscar.
Quem se lembra do blog anterior, o My One Thousand Movies, deve estar bem familiarizado com o tema, porque alguns dos filmes relativos a este assunto tornaram-se clássicos dos "Thousand Movies". Refiro-me a filmes como "Henry - Portrait of a Serial Killer", "Angst", ou "Man Bites Dog".
Para este ciclo, vamos esquecer um pouco os grandes clássicos do assunto, e ver cinco diferentes abordagens sobre o tema, quer do ponto vista psicológico, quer da simples caça ao assassino. Alguns destes filmes partilhados pela primeira vez, por mim.

Segunda: Badlands (1979), de Terrence Malick 

Terça: Cruising (1980), de William Friedkin

Quarta: The Element of Crime (1984), de Lars Von Trier

Quinta: Memories of Murder (2003), de Joon-ho Bong

Sexta: Tony (2009), de Gerard Johnson


sábado, 8 de novembro de 2014

Mentes Perigosas (Dangerous Minds) 1995



Concretizando o seu sonho de leccionar, LouAnne Johnson (Pfeiffer) é colocada como professora de um grupo de rebeldes adolescentes que aceitam o insucesso como forma de vida. Determinada em ganhar-lhes a confiança e a fazer a diferença nas suas vidas, LouAnne não olha a meios para atingir fins aprendendo, no limite, algumas duras lições.
"Dangerous Minds" é baseado numa história verdadeira, do livro "My Posse Don't Do Homework", escrito por Louanne Johnson, e produzido por dois especialistas em blockbusters, Don Smith e Jerry Bruckheimer.
Uma das maiores ironias de algumas sociedades desenvolvidas é como as pessoas podem desperdiçar as oportunidades educativas que lhe são dadas. Escolas públicas, especialmente o ensino médio, tornam-se mais um clube social, e menos uma instituição de aprendizagem. Infelizmente as piores escolas do ensino médio estão infestadas de gangsters juvenis. "Dangerous Minds" centra-se numa professora que vai ter de lidar com esta juventude degenerada, a quem ela apelida de "rejeitados do inferno".
O filme ficou também famoso pela canção "Gangsta's Paradise," de Coolio, que não era uma glorificação da vida de criminoso, mas sim uma critica sobre estar preso tanto tempo a esta vida, que nem uma educação posso mudar isso. Tanto o filme como esta música tornaram-se grande êxito neste ano.
Não é dos melhores filmes de Michelle Pfeiffer, nem de perto, mas uma obra que cai como uma luva nesta actriz, e do qual ela consegue retirar um dos seus melhores desempenhos.

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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Os Fabulosos Irmãos Baker (The Fabulous Baker Boys) 1989



Frank e Jack Baker são irmãos e excelentes pianistas. Tocam juntos à 15 anos, exibindo-se nos melhores hotéis da América e, segundo eles... do mundo. Mas, embora reconhecendo o seu virtuosismo, o público começa a fartar-se de ouvir sempre as mesmas coisas. Frank e Jack decidem pôr uma nota de frescura no ser repertório, contratando uma jovem vocalista entre 37 candidatas, Susie Diamond. O trio goza de uma notável ascensão, mas com êxito nascem os primeiros problemas...
No seu conteúdo, "The Fabulous Baker Boys" é uma história simples, não muito diferente de outras que vimos nos filmes sobre artistas que tentam ganhar um lugar ao sol. Escrito e realizado por Steve Kloves (argumentista de "Wonder Boys" e dos filme de Harry Potter), tem aparência de um filme da "Primeira Divisão", com entretimento do início ao fim. Muito disto deve-se à química perfeita dos irmãos Bridges, que aprenderam os movimentos de mãos a tocar piano, apenas para o filme, com a parte das canções a ser entregue a Michelle Pfeiffer, que faz realmente todas as partes vocais do filme. Os três elevam este simples a uma obra muito interessante, das mais marcantes do seu período.
Completando a qualidade do filme, temos a música do compositor Dave Grusin (The Firm, Three Days of the Condor) e excelente fotografia de Michael Ballhous (Goodfellas, Gangs of New York). Trabalhando em conjunto eles fazem magia, fazendo Los Angeles parecer a cidade ideal para tocar Jazz à noite.
É neste filme que encontramos Michelle Pfeiffer numa sequência já clássica, com um vestido vermelho, sentada em cima de um piano a cantar "Makin' Whoopee". Esta seria uma das interpretações mais conseguidas de Pfeiffer, para a qual conseguia mais uma nomeação ao Óscar. Infelizmente este seria o ano de "Driving Miss Daisy", e Jessica Tandy levaria o prémio para casa.

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