quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Todas as Cores da Escuridão (Tutti i Colori del Buio) 1972

Jane vive em Londres com o namorado, Richard. Quando tinha cinco anos a sua mãe foi assassinada, e recentemente perdeu um bébé num acidente de carro. É atormentada por pesadelos de um homem de olhos azuis a empunhar facas. Richard, um vendedor de produtos farmacêuticos acha que a cura é vitaminas. A sua irmã Bárbara, que trabalha para um psiquiatra, recomenda-lhe análises. Mas vai aparecer um estranho na sua vida que parece ter a solução…
Enquanto que a maioria dos realizadores do Giallo trabalhavam no género onde o conteúdo e a formula que havia sido expostos em filmes como "Blood Black Lace" ou "The Bird with Crystal Plumage", Sérgio Martino andava sempre a procurar expandir o seu universo como cineasta. E nada é tão claro como nos giallo que ele realizou nos anos setenta.
O argumento de "All Colors in the Dark" foi escrito por Ernesto Gastaldi, um colaborador frequente de Martino ao longo da década de setenta, e que escreveu todos os seus giallos durante este período. A narrativa foi inspirada por elementos do filme de Roman Polanski "Rosemary´s Baby", com uma mistura satisfatória entre elementos do sobrenatural e elementos relativos ao giallo. Sendo um Giallo soberbamente elegante, apresenta todas as emoções que os fãs procuram encontrar ( sexo, violência, e estranheza em abundância) e combina uma trama misteriosa de mulher em perigo com assassinatos hitchcockianos.
Edwige Fenech é a actriz principal e estrela da companhia, considerada por muitos como a rainha do Giallo. Como já se disse anteriormente, ela namorava nesta altura com o irmão de Sergio Martino, o produtor Luciano Martino.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

O Estranho Segredo da Floresta dos Sonhos (Non si Sevizia un Paperino) 1972


Uma série de assassinatos de crianças ocorreram numa vila rural de Itália, levando o medo e a culpa às pessoas da localidade. Como de costume, a polícia chegou ao fim das suas pistas sem resultados em concreto, e avança o repórter Andrea Martelli (Thomas Milian) que decide fazer a sua própria investigação. Patrizia (Barbara Bouchet), uma mulher rica, junta-se a Martelli na busca pelo assassino, enquanto que o Padre Don Alberto (Marc Porel) e Aurelia (Irene Papas) tentam ajudar todos que na vila perderam filhos. Os suspeitos e as crianças começam a amontoar-se, levando a um assassino cujos motivações são ainda mais chocantes do que os crimes cometidos.
O giallo foi um dos géneros em que Lúcio Fulci alcançaria maior sucesso como artista, fazendo alguns dos melhores filmes da sua carreira, como é aqui o caso. Mas a história de "Non si Sevizia un Paperino" não seria nada fácil, já que o filme quando foi estreado originalmente em 1972 foi listado na lista negra, por causa da sua história polémica que levou a que tivesse um lançamento reduzido na Europa, e nos Estados Unidos tivesse apenas um lançamento em DVD muitos anos mais tarde. 
Os assassinatos eram o tema principal em quase todos os giallos, mas a trama sinistra deste filme centrava-se no assassinato de crianças, algo visto muito poucas vezes no cinema, e no cinema mais popular já não era visto desde "M", de Fritz Lang, em 1931. Mão seria assim de estranhar a controvérsia que cercou este filme na altura da estreia, e também seja um tema que ainda é tabu nos dias que correm.
A banda sonora de Riz Ortolani é uma das mais inesquecíveis da sua carreira, dando ao filme uma sensação melancólica que contrasta com a perda de inocência aqui vivida. E apesar do filme não ser tão sangrento como alguns outros do realizador, há alguns momentos sádicos bem pesados, como aquele em que Maciara é chicoteada pela população por ser confundida com o assassino. Esta sequência é uma das mais brutais e assombrosas de toda a carreira de Fulci, mas no resto do filme ele mantém a violência mais para segundo plano, enquanto se concentra na história e nas personagens. 

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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

"Giallo Pages" de John Martin

Nos anos 90, antes da internet se tornar habitual em casa das pessoas, havia outros meios de partilhar informação. Um deles eram as fanzines, que eram revistas feitas por fãs para passar informação a outros interessados. Uma das revistas da altura chamava-se "Giallo Pages", da autoria de John Martin e vários colaboradores. Nas décadas de 80 e 90, John Martin era um dos melhores cronistas sobre o cinema de género, e cronista da revista The Dark Side, uma famosa revista de cinema de terror, que durou vários anos.
Apesar do nome, Giallo Pages focava-se no cinema italiano de culto em geral, e não apenas no Giallo. Durante quatro anos, cinco revistas foram lançadas, todas elas contendo entrevistas a diversos realizadores, artigos sobre vários filmes e algumas críticas. Ler esta revista funciona como uma interessante viagem no tempo, e traz-nos uma interessante visão sobre a política cultural e económica do cinema europeu de culto da época. O primeiro volume foi republicado nos Estados Unidos, mas não se seguiu mais nenhum, e actualmente todos os volumes estão esgotados no mercado, excepto os que se encontram à venda em segunda mão, e pelos quais é pedido um bom dinheiro. 
Creio que depois os Giallo Pages também foram lançados como livro, mas não tenho muita informação sobre isso. Se souberem de mais alguma informação, deixem um comentário aqui embaixo. Ou então deliciem-se com estas revistas, no formato PDF. Infelizmente falta o quinto volume. 

Volume 1
Volume 2
Volume 3
Volume 4

A Cauda do Escorpião (La Coda dello Scorpione) 1971

Um avião explode. Uma das vitimas é um empresário de Londres que tem um seguro no valor de 1 milhão de dólares, e a sua esposa infiel é a beneficiária. A empresa de seguros providencia para pagar, mas também envia o seu melhor investigador, Peter Lynch, para detectar irregularidades. A  viúva vai para a Grécia para receber o pagamento, e Peter segue-a e apresenta-se. Torna-se o seu protector e companheiro, mas a relação é de curta duração.
Apesar de não ser tão reconhecido como Argento, Bava ou Fulci, Sérgio Martino foi um dos mais importantes nomes do giallo na década de 70. Realizou cinco filme num curto espaço de tempo, dos quais este era o segundo (veremos os cinco filmes neste ciclo). "A Cauda do Escorpião" veio logo a seguir a "O Estranho Vício da Senhora Ward", e adoptou o mesmo padrão de um maníaco de vestes negras à solta, que era uma cópia a carvão dos giallos desde "Blood and Black Lace", o segundo Giallo de Mário Bava.
"A Cauda do Escorpião" é mais um thriller bem montado às mãos de Sérgio Martino, apesar de alguns efeitos especiais risíveis, como um avião de brincar a explodir em vez de um verdadeiro, ou de um manequim mal disfarçado a ser cortado, na vez de uma mulher. Embora não seja tão bem sucedido como o filme anterior de Martino, beneficia de um argumento inteligente e imprevisível, trocando de heróis para surpresa do espectador, e valendo de algumas boas interpretações como do uruguaio George Hilton, herói de muitos western spaghetti, ou da actriz sueca Anita Strindberg, que aparece nua em algumas cenas para o gosto de muitos fãs. Strindberg já era uma cara conhecida para os fãs do giallo, depois de neste mesmo ano ter aparecido como a vítima Julia Durer em "Serpente com Pele de Mulher".

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domingo, 24 de fevereiro de 2019

Livro - "La Dolce Morte: Vernacular Cinema and the Italian Giallo Film"

Está a ser um ciclo maravilhoso, não acham?
Eu penso que sim, e que por esta altura alguns de vocês já devem estar bastante envolvidos por este ciclo, e para ajudar no vicio, aqui fica um livro muito interessante, chamado "La Dolce Morte: Vernacular Cinema and the Italian Giallo Film", escrito por Mikel J. Koven, um especialista que nos trás aqui um ponto de vista diferente, visto noutra perspectiva.

Link para o livro - aqui

Despeço-me com este vídeo de tribute ao Giallo, e com a informação de que ainda vamos a meio do ciclo. Bom fim de semana.


Serpente com Pele de Mulher (Una Lucertola con la pelle di Donna) 1971

Carol Hammond (Florinda Bolkan) tem tido sonhos bizarramente eróticos e devastadoramente violentos com a sua sedutora vizinha Júlia. Quando Júlia é encontrada esfaqueada até à morte Carol torna-se suspeita. Ela tenta resolver o mistério da morte da vizinha enquanto é perseguida por um misterioso stalker, aparentemente com a intenção de mantê-la longe do crime que aconteceu…
Em 1971 Lúcio Fulci e Carlo Rambaldi estavam longe de ser as figuras reconhecidas que são hoje em dia. Fulci é um dos mestres do cinema de terror italiano, Rambaldi é um especialista em efeitos especiais que ganhou Óscares em filmes como "ET - O Extraterrestre" ou "Alien - O Oitavo Passaseiro", mas nesta altura ainda eram ilustres desconhecidos fora do país.
No centro do filme está a ambiguidade psicológica em torno de Carol. "A Lizard in a Woman’s Skin"  é frequentemente considerado um giallo, mas como muitos exemplares deste período não se encaixa perfeitamente nos moldes. Na verdade, é mais uma reminiscência dos thrillers paranoicos de Roman Polanski, até o cenário do apartamento. Alguns resíduos de "Repulsion" na forma como Fulci paira com o trabalho de câmara invasivo que por vezes sufoca os personagens. Também usa imagens surrealistas que acabariam por torna-lo famoso mais tarde, sempre que explorava a parte psicológica de Carol, quer em sonhos, fantasias ou pesadelos. 
O filme ganhou uma certa fama de infame por causa de algumas cenas mais grotescas. Como a sequência dos cães que nem vou falar, mas também há algumas sequências memoráveis, como a excursão de 11 minutos através das catacumbas de uma igreja, que inclui um ataque de morcegos e culmina num sangrento duelo na cobertura. Razões mais do que suficientes para verem um dos melhores giallos. 

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sábado, 23 de fevereiro de 2019

O Estranho Vício da Senhora Ward (Lo Strano Vizio della Signora Wardh) 1971

Julie Wardh, de regresso a Viena com o marido diplomata Neil, encontra a cidade aterrorizada por um maníaco assassino. Imediatamente lembra-se de Jean, o violento e sádico ex-namorado, que convenientemente voltou à cidade ao mesmo tempo do início dos assassínios e retomando o contato com ela, parece querer reatar a relação. Também entra em cena o enigmático e elegante George que também demonstra alguns interesses em relação a Julie. Assim, acompanhando os passos do assassino, Julie deve descobrir quem, entre os homens à sua volta, tem intenções mais nefastas do que apenas leva-la para a cama.
Estreado sensivelmente na mesma altura da trilogia dos animais de Argento, "The Strange Vice of Mrs. Wardh" marcava a estreia no thriller de Sergio Martino, um talento de génio pronto para explorar o género popularmente conhecido por Giallo. Encontrou a protagonista perfeita na pele da actriz nascida na Argélia chamada de Edwige Fenech, uma beleza quase perfeita, até então vista apenas no giallo de Mário Bava "Five Dolls for na August Moon". Na altura Fenech namorava com o irmão de Sérgio, o produtor Luciano Martino, e juntos ainda fariam mais uma série de giallos e comédias sensuais. 
Bastante diferentes dos filmes de Argento e Bava, os thrillers de Martino apresentavam histórias bizarras e fraturadas, nas quais uma variedade de personagens colide com uma variedade de vilões, oferecendo uma série de pistas desorientadoras, sempre filmando num scope sumptuoso. Embora não seja tão barroco como alguns dos seus sucessores, "The Strange Vice of Ms, Wardh" ainda se apresenta muito bem como um "shocker" ousado e extremamente sombrio, que estabeleceu o ritmo durante alguns anos.

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Quatro Moscas de Veludo (4 Mosche di Velluto Grigio) 1971

Roberto, o baterista de uma banda de rock, anda a receber telefonemas estranhos e a ser seguido por um homem misterioso. Uma noite, ele consegue apanhar o seu perseguidor e tenta fazê-lo falar, mas na luta que se segue ele acidentalmente apunhala-o. Ele foge, mas percebe que os seus problemas estão apenas a começar quando recebe um envelope com fotos dele a matar o homem misterioso, e alguém começa a chantageá-lo.
Terceiro filme de Dário Argento, e terceiro filme da sua trilogia dos animais. Historicamente é o mais raro, porque durante muitos anos só podia ser visto através de uma cópia em VHS pirateada, até que em 2009 viu uma bela edição em DVD.
Sendo o terceiro filme lançado numa rápida sucessão, ele partilha muitas particularidades com os outros dois precedentes: um assassino desequilibrado à solta, um mistério imprevisível, uma frequência recorrente a sequências de sonho e flashbacks, sequências de stalking noturnas perfeitamente executadas, um elenco de mulheres bonitas que encontram fins brutais, um protagonista que não resiste brincar aos detectives, e a banda sonora do lendário Ennio Morricone, composta principalmente de rock progressivo. Infelizmente Argento e Morricone desentenderam-se por causa da banda sonora, e só voltariam a trabalhar juntos vinte cinco anos depois, em "La Síndrome di Stendhal".
Não teve o impacto do filme de estreia, nem a atmosfera cheia de suspense de "Deep Red", no entanto é um final muito interessante para a trilogia dos animais, um filme completo, e com muitas marcas pessoais do realizador, além de uma Mimsy Farmer muito bem como co-proganista, a fazer uma boa parelha com Michael Brandon.

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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

O Gato das Sete Vidas (Il Gato a Nove Code) 1971

Franco Arnò (Karl Malden) é um cego que vive com a sua sobrinha e ganha a vida a escrever palavras cruzadas. Uma noite, enquanto caminha pela rua, ouve uma estranha conversa entre dois homens dentro de um carro estacionado frente a um instituto medico onde são realizadas experiências genéticas. Na mesma noite alguém invade o instituto e derruba um guarda. Arnò decide investigar com a ajuda do repórter Carlo Giordano (James Franciscus).
Depois do seu primeiro filme Dario Argento era chamado do Alfred Htichcock italiano, muito embora o seu estilo estivesse mais próximo do que seria o estilo de Brian de Palma, por exemplo. "O Gato das Sete Vidas" era o seu segundo filme, e o segundo da trilogia animal. que começara com "O Pássaro das Plumas de Cristal", e acabaria com  "Quatro Moscas de Veludo", com Ennio Morricone a compôr a música para os três filmes. 
Enquanto que muitos dos seus contemporâneos do giallo trabalhavam com orçamentos minúsculos, os recursos de Dário Argento eram muito maiores, por causa do deu pai, o produtor Salvatore Argento, que lhe dava o luxo, por exemplo, de contratar actores americanos. No caso deste "O Gato das Sete Vidas", contava com Karl Malden, um actor bem experiente que já tinha ganho um Óscar, e James Franciscus, que tinha acabado de ser estrela da sequela de "O Planeta dos Macacos". 
Argento referiu que não gostou do resultado do filme, e o considerava dos seus menos favoritos. Embora não tivesse o gore e a violência que fariam parte dos seus giallos posteriores, era compensado pela exuberância do seu estilo visual. Era também um dos seus filmes mais experimentais, mas apenas ao seu segundo filme ele ainda não se tinha encontrado como realizador. 

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Baía Sangrenta (Reazione a Catena) 1971

Uma velha senhora é herdeira de uma grande fortuna, e é morta pelo marido que quer o controlo da herança. O que se segue é uma série de assassinatos com parentes e amigos a tentarem reduzir o campo da herança, complicado por alguns jovens adolescentes que decidem acampar num prédio em ruínas da propriedade.
Considerado como um dos melhores filmes de Mário Bava, "A Baía Sangrenta" (internacionalmente também é chamado por "Bay of Blood" ou "Twitch of the Death Nerve") é notável pelo impacto que teve no futuro género americano chamado de slasher, paticamente codificando os passos básicos para lançar o filme de "body count". Apesar de um filme anterior de Bava, "Seis Mulheres Para o Assassino", já funcionar dentro destes moldes, quatro componentes chave fazem deste filme o verdadeiro percursor dos  slashers dos anos 80, e uma grande influência para "Halloween" de John Carpenter, e o famoso "Sexta-Feira, 13": o local rústico com cenários à volta de uma comunidade pouco desenvolvida à beira de uma baía, jovens errantes (um casal desinibido e excitado e outro atormentado), mortes brutalmente violentas, e o tratamento da morte como outro nível de gratificação sexual. 
"Bay of Blood" era um filme desagradável de vários pontos de vista, e consequentemente foi banido em vários países. As cenas mais gráficas não são difíceis de detectar, e incluem o enforcamento de uma mulher deficiente, um corte gutural gráfico (embora brilhantemente editado), uma decapitação ainda mais gráfica e uma humilhação freudiana em que um casal copulando é simultaneamente morto por uma lança. 
O orçamento era baixo, dois dos interiores dos cenários pertenciam ao produtor e ao realizador, e o filmem apesar de tudo, está mais próximo dos giallos dos anos 70 do que dos slashers dos anos 80. Bava era simultaneamente realizador, argumentista e director de fotografia, com Stelvio Cipriani a colaborar pela primeira vez com o realizador na banda sonora. 

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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Lua de Mel Sangrenta (Il Rosso Segno Della Follia) 1970


John Harrington é um estilista de 30 anos especializado em vestidos de noivas. Ele também é um homem louco, como revelado na sequência de abertura e na voice over que explica a sua loucura e paranoia. Ele tem a necessidade de matar mulher jovens antes destas se casarem, e a maioria delas são modelos que ele contratou para a sua empresa. A sua esposa, Mildred, não tem conhecimento dos crimes, e odeia-o porque ele ficou impotente na noite de núpcias, e, por desrespeito, recusa-se a conceder-lhe o divórcio. Um detective já anda atrás do criminoso, mas não há provas suficientes para o incriminar. Cada assassinato trá-lo cada vez mais perto de uma lembrança que ele está a reprimir…
Embora Mário Bava seja geralmente creditado ao giallo desde o seu "A Rapariga que Sabia Demais", considerado o primeiro giallo marcante do cinema italiano, ele nunca mais regressou ao género de uma forma convencional. No início da década de setenta fez um trio de filmes que embora fossem distintamente gialloesques eram igualmente subversivos do género. Enquanto que "Cinco Bonecas para a Lua de Agosto" seguia os padrões convencionais colocando nos assassinatos o destaque explorável do filme, quase inteiramente fora do ecrã, e "Baía Sangrenta"(1971) via uma aproximação mais ao estilo de um slasher film, já que os seus crimes eram em massa, por sua vez, este "Lua de Mel Sangrenta" fazia questão de revelar a identidade do assassino logo na cena de abertura, em vez do mistério sobre a identidade do criminoso que era habitual em todos os giallos. Além disso, tínhamos o tema do sobrenatural, que geralmente os giallos evitavam.
Uma produção largamente espanhola, com argumento de Santiago Moncada, "Lua de Mel Sangrenta" tem uma história inteligente e bem pensada, que combina de maneira eficaz os temas do "serial killer" e da assombração. Na sua história do serial killer o filme substitui o mistério de quem é o criminoso pelo mistério sobre as suas motivações, onde temos um assassino que se está a descobrir ao mesmo tempo que nós também estamos a fazê-lo. O diálogo também é digno de nota pela sua qualidade, algo que falhava muitas vezes no cinema europeu de género, principalmente por causa das dobragens. 
Nesta pseudo trilogia de giallos do início dos anos setenta, Bava afastou-se da elaborada atmosfera vermelha e verde de filmes como "Planet of the Vampires"(1965) e "Kill, Baby Kill" (1966) e deu luz natural aos filmes para dar um realce mais pronunciado com cenários mais realistas. No entanto ele não deixa de lado alguns ângulos de câmera criativos que ajudam a enfatizar a atmosfera invulgar do filme. Os interiores foram em grande parte filmados em casas pertencentes ao governante espanhol General Franco, com a sua opulência a ser bem adequada ao cenário. 

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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Cinco Bonecas para a Lua de Agosto (5 Bambole per la Luna d'agosto) 1970

George Stark é um rico industrial que convida cinco amigos de negócios, e as suas esposas, para a sua ilha isolada no Mediterrâneo para um fim de semana de relaxamento e também de negócios, quando lhes apresenta o professor Farrell, um brilhante químico, que tem umas ideias de negócios para o grupo. Contra a vontade de Farrell os convidados tentam obter informações extra do químico, e começam a ser assassinados, um a um. O assassino está entre eles, e ninguém confia em ninguém. 
Depois de estrear "Danger: Diabolik", em 1968, o seu filme de maior sucesso comercial, Mário Bava regressou ao épico histórico ao dirigir dois episódios de uma série sobre as aventuras de Ulisses, chamada "Odissea", séria essa que, sem surpresa, teria uma versão cinematográfica. Seriam precisos mais dois anos para Bava regressar em pleno a outra longa-metragem, e apesar de toda a extravagância, e o sucesso, de "Diabolik", Bava preferiu regressar às produções de baixo orçamento, em pequena escala, de argumento confuso e com muitos choques. A partir de 1970, e com poucas excepções nos anos subsequentes, a produção cinematográfica de Bava seria reduzida significativamente, e quase sempre no território do terror gótico ou do giallo, com vários insucessos comerciais neste período. Insucesso comercial não é sinónimo de mau filme, obviamente.
"Cinco Bonecas para a Lua de Agosto", basicamente, era um riff do modelo de "Ten Little Indias", de Agatha Christie explorando a paranoia crescente num grupo de pessoas ricas, emocionalmente e moralmente promíscuas, presas numa ilha com um assassino que pode ser qualquer um deles.
Enquanto que Mário Bava deu o pontapé de saída ao ciclo do giallo com "A Rapariga Que Sabia Demais", ele não estava de forma nenhuma interessado em redefini-lo, pelo contrário, ele preferiu usar a fórmula e lançar as bases para algo diferente, que podemos chamar de proto-slasher, como veremos mais à frente neste ciclo. Deste "Cinco Bonecas para uma Lua de Agosto" diz-se fazer parte do caminho de Bava para chegar a "Bay of Blood", que muitos fãs consideram ser a obra prima do realizador. 

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domingo, 17 de fevereiro de 2019

Programação M2TM

Aqui ficam com uma pista para o que poderão ver aqui nos próximos tempos:


Paranoia (Paranoia) 1970

Helen foi convidada por Susan depois de acidente de carro quase fatal, para ficar na villa da esposa do seu ex-marido Maurice. Rapidamente as duas descobrem que têm muito em comum, e que Maurice é um playboy sempre de olho na sua própria conquista. Susan oferece a Helen uma grande soma de dinheiro para matar Maurice, mas será que elas vão conseguir, ou será que as coisas não são bem assim?
 Umberto Lenzi é mais conhecido pelos filmes de canibais e policiais que fez na parte final da sua carreira. Passou a primeira década da sua carreira a dirigir filmes de espionagem, peplums, e filmes de aventuras de super-heróis baseados na personagem Kriminal. Em 1969 estreava-se na fase mais criativa da sua carreira com o thriller "Orgasmo", ao qual se seguiriam uma série de thrillers, alguns deles com a actriz americana Carroll Baker como protagonista, incluindo este "Paranoia", 
Alguns deles eram apenas thriller, mas outros aproximavam-se mais do Giallo. O nível de violência em "Paranoia" era muito menor do que nos outros giallos da época, estava mais alinhavado com o estilo de Alfred Hitchcock, e também usava a nudez e o sexo em substituição da violência.
Visualmente "Paranoia" é um filme muito bonito de se ver, com muitas sequências que contribuem para o clima da cena. O ritmo do filme é impecável, pois Lenzi espalha cada vez mais revelações para o seu maior impacto. Uma das partes mais impressionantes da realização de Lenzi são as duas sequências em que Helen dirige freneticamente por uma montanha longa e sinuosa por estradas muito estreitas e mostrar o sex appeal de Carroll Baker numa cena na casa de banho e em alguns momentos em que ela usa pouca roupa.

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sábado, 16 de fevereiro de 2019

O Pássaro Com Plumas de Cristal (L'uccello Dalle Piume di Cristallo) 1970


Em Roma, o escritor americano Sam Dalmas testemunha uma tentativa de assassinato à dona de uma galeria de arte, Monica Ranieri, pouco tempo antes de voltar para casa. O inspector Morosini, encarregado de investigar os três assassinatos anteriores do suposto mesmo serial killer, pede ajuda a Dalmas e confisca-lhe o passaporte. Dalmas decide então ficar mais um tempo com a namorada Julia, e ajudar na investigação, mas o assassino começa a ameaçar Dalmas e a sua namorada.
"O Pássaro com Plumas de Cristal" seria o filme de estreia de Dario Argento, e é aquele tipo de filme que deixa muito para a imaginação, ao encenar os seus crimes com um mínimo de sangue, e uma dependência estratégica do trabalho de câmara. Estas sequências geralmente têm uma sensação claustrofóbica, pois concentram-se em mãos, facas e partes do corpo, e usam o som e a montagem para fazer o resto. O director de fotografia era Vittorio Storaro, e a banda sonora a cargo de Ennio Morricone, e está tudo dito.
Argento era um jovem argumentista, já tinha colaborado em diversos filmes como "Aconteceu no Oeste" de Sérgio Leone, e a sua estreia na realização valeu-lhe imediatamente a alcunha de "novo Hitchcock". Mas o filme consegue ir muito mais além do se possa imaginar. Havia uma tentativa clara desde os anteriores filmes de Mario Bava, de fazer pegar o género "giallo" entre o  cinema popular italiano. Apesar desses dois filmes (já vistos neste ciclo), serem bastante bons, e seguirem as principais características deste sub-género, seria com "O Pássaro das Plumas de Cristal" que se daria o verdadeiro "boom" do Giallo. 
O filme de Argento segue a tradição dos misteriosos assassinos giallos que eram populares em Itália, nas contracapas dos jornais, com um interesse sinistro pelos próprios crimes, tramas labirínticas muito bem planejadas, e personagens bidimensionais. Não seria o melhor filme de Argento, mas é dos seus filmes mais importantes. 

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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Uma História Preversa (Una Sull'altra) 1969

Os irmãos George e Henry Dumurrier (Sorel e De Martino) administram uma clinica particular onde o primeiro faz declarações falsas sobre a prática para gerar publicidade. Longe da clínica, George deixa a sua esposa doente, Susan (Mell) entregue aos cuidados da sua irmã (Domergu), enquanto tem um caso com Martha (Martinelli), a esposa de um contacto comercial. Quando George recebe um telefonema informando-o que a sua esposa  morreu, o seu choque é acompanhado pela descoberta subsequente de uma apólice de seguros que fará dele 2 milhões de dólares mais rico. Será que ele teve alguma coisa a ver com a morte da esposa?
Lucio Fulci dirigiu 5 giallos que são todos originais no que diz respeito a este género popular, ao contrário dos seus conterrâneos que faziam os seus filmes quase sempre "by the book", ou imitavam os outros que eram mais bem sucedidos no género. O que também é surpreendente sobre os quatro primeiros giallos de Fulci é como a violência era contida, em muitos casos encontrava-se fora da tela. "Uma História Preversa" apresentava-se mais como um thriller de Alfred Hitchcock e distanciava-se do estilo e dos clichés que prevaleciam na maior parte dos filmes dos anos 70. Não esquecer também que ainda faltava aparecer Argento com o seu mega-sucesso, para dar o exemplo.
"Uma História Preversa" tem lugar em vários exteriores memoráveis como Reno, San Francisco ou San Quentin, e o realizador faz um bom proveito dos exteriores à sua disposição. Fulci, nesta altura da sua carreira era mais conhecido pelas suas comédia, e seria a sua primeira incursão no thriller.  
Nos últimos 30 minutos haverá um grande número de voltas e reviravoltas e uma tensão crescente, um bom indicador da qualidade dos filmes do realizador na década seguinte. 

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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Seis Mulheres Para um Assassino (Sei Donne per L'Assassino) 1964

Isabella, uma jovem modelo, é assassinada por uma misteriosa figura mascarada numa pensão dirigida por Max Morlan e a sua amante, a condessa Christina Como. Enquanto que o namorado dela é suspeito do crime, o seu diário que aparentemente tem alguma pista incriminatória que a ligam ao assassino, desaparece, e o assassino mascarado começa a perseguir todas as modelos que vivem na pensão, quem sabe para obter o diário.
Embora um grande número de filmes de Mário Bava possam ser considerados essenciais para os interessados na história do cinema, poucos tiveram o impacto deste "Blood and Black Lace". Depois de ter lançado o género giallo com "A Mulher Que Sabia Demais" e ter conquistado o público internacional com "Black Sabbath", Bava procurou não repetir a fórmula de um serial killer à solta. Evitando a história de detective tentou uma abordagem mais artística sobre o crime, e deu à luz um sub-género que dominaria o cinema de terror americano nos anos oitenta, o slasher. 
Este filme era marcado por crimes intensos e brutais, com várias mulheres a morrerem às mãos de um louco cuja máscara branca e vazia é estranhamente vazia de expressões ou emoções. Muitos filmes posteriores de terror têm as suas raízes nesta obra prima de Bava, desde o Michael Myers de "Halloween", ao Jason de "Sexta-Feira 13", passando pelo Freddy Krueger de "Pesadelo em Elm Street".  
O talento mais marcante do realizador é o olho visual para o uso das cores, que dão ao filme um estilo e aparências únicos. A câmara lentamente desliza pelos corredores entre as modelos, capturando a sua beleza e a impressionante brutalidade dos seus assassinatos. Os crimes são altamente perturbadores na sua selvajaria, estrangulamentos, afogamentos, e uma escaldadura torturante. A excelência da realização de Bava também se estendia ao elenco, com a escolha de nomes como Cameron Mitchell ou Eva Bartok, com interpretações sólidas. 
O maior problema que o filme enfrenta hoje, é que já foi imitado tantas vezes, inclusive no cinema popular, que algumas das suas cenas podem ser consideradas clichés, quando na realidade foi Bava quem lá chegou primeiro. 

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

A Rapariga que Sabia Demais (La Ragazza che Sapeva Troppo) 1963

Letícia Román é Nora, uma jovem apaixonada por livros de mistério, que visita Roma para ver uma familiar idosa, e acaba por testemunhar um assassinato - pelo menos assim parece. Com a ajuda de um médico ela decide investigar, e o mais preocupante é que se isto for trabalho de um serial killer esta foi a terceira vítima, e todas foram mortas por ordem alfabética. O segundo nome de Nora começa por um "D", D de Death (morte), como uma estranha voz lhe diz.
O que se segue é um típico enredo de um "giallo": voltas e reviravoltas, alguns flashbacks, narrativas recapitulando eventos passados, e eventualmente, a revelação um tanto chocante do assassino.
A história do filme vem muito nos moldes das histórias italianas de mistério que inspiraram este e muitos outros filmes posteriores. Funcionando principalmente como um "whodunit", muito mais do que como um filme de terror, "A Rapariga que Sabia Demais" é impulsionado pelo desvendar do mistério, que se desenvolve a um ritmo acelerado. Tendo em conta os filmes posteriores do género, o espectador vai sentir aqui a falta do componente "gore", embora o filme tenha sido considerado bastante violento para o seu tempo.
Embora esta seja uma tentativa consciente de introduzir o giallo como um ciclo cinematográfico, "A Rapariga que Sabia Demais" tem um estilo formal que seria rapidamente descartado. Do ponto de vista visual, o segundo filme de Mário Bava "Blood and Black Lace" (1964) tornar-se ía muito mais influente. Aqui, Bava escolhe filmar a preto e branco, e enquanto faz vários contrastes evocativos entre a luz e a escuridão, usa a sombra de uma forma visual excitante mas o tom leve do filme não garante o resultado pretendido relativamente às novelas pulp dos jornais. Este tom e a atitude irreverente estão em desacordo com o estilo visual, e essa é uma tensão que nunca é resolvida, mesmo nos momentos de perigo para a heroína. Do ponto de vista narrativo, quase todos os elementos da trama do giallo estão presentes, e muito bem colocados.
A história e o argumento são uma colaboração entre cinco pessoas, Mario Bava, Sérgio Corbucci, Ennio De Concini, Eliana De Sabata e Franco Prosperi, e apesar da multidão de mentes que nela trabalharam acaba por se sustentar bem. Este seria também o último filme de Bava a preto e branco. 

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terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Giallo - Sangue e Estética

A palavra "giallo" tem estado muito em voga nos últimos meses, graças ao remake do filme de Dario Argento "Suspiria" (1977), por outro italiano, Luca Guadadgnino. O remake gerou alguma polémica porque não seguia directamente os padrões e a história do filme de Argento, que na realidade não é um giallo no verdadeiro sentido da palavra. Por outro lado, o filme de Guadadnino parece aproximar-se mais deste género, em vários factores, e o próprio chegou a dizer que o verdadeiro objectivo era prestar uma homenagem ao Giallo. Mas afinal, o que é o Giallo? é isso que vamos ficar a saber nas próximas semanas, mas antes aqui fica uma pequena introdução. Carreguem no botão do play aqui em baixo, e leiam com atenção os parágrafos seguintes.


Giallo, que significa "amarelo", é o termo italiano para a ficção policial, em homenagem às cores amarelas brilhantes das primeiras histórias de mistério que vinham nas contra-capas dos jornais. Em Itália o giallo pode ser uma história de qualquer nacionalidade, mas o público de cinema no exterior adoptou o nome como um subgénero peculiarmente italiano, de cinema de suspense que teve o seu auge durante a década de 70 do século passado. Embora as definições possam variar de pessoa para pessoa, o giallo é mais frequentemente caracterizado como um filme italiano de crime com elementos de mistério e assassinato. Geralmente baseia-se num conjunto de convenções comuns: assassinatos estilizados, detectives amadores, luvas negras, memórias reprimidas, títulos enigmáticos, a música assustadora de Ennio Morricone, e sangue, muito sangue, e sangue bem vermelho.
Os seus parâmetros são vagos, deixando muitos exemplos mais perto de outros géneros do que propriamente do giallo em si. Um exemplo disso é o próprio "Suspiria" de 1977, que se aproxima muito mais do Terror Gótico, mas que mesmo assim vamos incluir neste ciclo. E é um género que tradicionalmente mistura a alta e a baixa cultura. Vamos ver filmes que serão um brilho do ponto de vista artístico, e outros que serão o oposto.
Se existe um nome mais frequentemente associado ao Giallo, é o de Dário Argento. Um ex-crítico e argumentista de cinema que se virou para a realização com "O Pássaro com Plumas de Cristal" (1970), com Tony Musante a interpretar o papel de um escritor americano em Roma. Ao passar por uma galeria de arte no final de uma noite ele vislumbra um ataque brutal a ocorrer lá dentro. De repente, ao ficar encurralado entre as portas de vidro duplo, vê-se impotente para intervir, com um misterioso assaltante a fugir, e a vítima a ficar a sangrar. O nosso herói vê-se arrastado para a investigação que se segue, e segue um trilho de pistas que o levam a uma série de crimes terríveis, uma pintura macabra de um crime esquecido, e uma pista obscura na forma de um pássaro com penas parecidas com vidro.
O sucesso do filme foi tal que o próprio Argento voltou ao género várias vezes, e influenciou uma série de outros realizadores, que tentaram copiar e seguir o filão, tal como acontecia no Western Spaghetti em relação aos filmes do Sérgio Leone.
Argento deu o pontapé de saída para o período mais prolífico mas não foi o primeiro a iniciar-se no género. Alguns anos antes já outro nome de peso andava no território,  Mário Bava, director de fotografia de créditos firmados, e que já tinha dado o pontapé de saída para outro género popular na época, e que andou muitas vezes de mãos dadas com o Giallo. Tratava-se do Terror Gótico, e o primeiro giallo no verdadeiro sentido da palavra, também era seu: "La Ragazza Che Sapeva Troppo" (1963).
Por agora não vamos contar muito mais histórias. A história do Giallo vai contar-se por si própria ao longo deste ciclo, que irá incluir 25 filmes, dos mais populares aos mais obscuros, mas o meu objectivo é que fiquem pelo menos a conhecer bem o género. Já agora fiquem a saber que o Giallo foi género que mais directamente influenciou os "slashers" americanos.


Para começar o ciclo fiquem com este excelente sobre o género. Tem legendas em inglês para as partes em italiano.

Yellow Fever: The Rise and Fall of the Giallo (2016)
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sábado, 9 de fevereiro de 2019

My Flesh and Blood (My Flesh and Blood) 2003

Susan Tom, de Fairfield, CA, não é a típica mãe solteira. É a chefe de uma família com 11 crianças adoptadas, todas com deficiências físicas ou doenças prolongadas. Susan Tom e a sua família especial são o tema de "My Flesh and Blood", um documentário que examina a dinâmica desta casa, bem como as necessidades físicas e emocionais das 11 crianças, e a pesada carga emocional que ela ás vezes precisa de carregar para cuidar destas crianças, que podem não chegar à idade adulta.
Este documentário de 2003 com realização de Jonathan Karsh, segue quase um ano na vida desta família, seguindo os seus desafios físicos e emocionais, alguns muito sérios. O filme começa no Outono, e continua até ao versão seguinte, com a maior parte no ecrã a ser gasto com Joe, que sofre de Fibrose Cística e uma série de outros factores que levam ao seu comportamento. Margaret a mais velha, sem problemas físicos mas mostrando stress pelas responsabilidades que lhe foram atribuídas, e a própria Susan, uma mulher com baixa autoestima em relação à sua aparência mas com uma determinação inabalável em ajudar estes jovens que foram rejeitados pelos seus pais biológicos. 
Inegavelmente há momentos profundos e emocionantes neste filme, e dizer que Susan Tom é um soldado que assume responsabilidades que os outros não assumem não é suficientemente justo. O filme ganhou uma série de prémios em festivais internacionais, incluindo o prémio do público no festival de Sundance. 
Filme sem legendas.

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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Fengming: A Chinese Memoir (He Fengming) 2007

A velha senhora, He Fengming, caminha pela neve, entra no seu apartamento, senta-se num sofá de couro e começa a contar a sua história. Como estudante na década de 40, apanhada no fervor da revolução de Mao, abandona os planos de estudar inglês na universidade de Lanzhou e aceita um emprego num jornal da província. Mas, depois do marido jornalista de Fengming publicar vários textos críticos à burocracia do Partido, o casal foi classificado como "direitistas" subversivos, separados dos seus filhos pequenos (e um do outro) e enviados para campos de "reeducação", numa jornada rumo à reabilitação. 
Este documentário apresenta Fengming num monólogo sem fôlego, interrompido apenas por um telefonema, uma pausa para a casa de banho, ela conta-nos como foram estes anos, como se ainda estivessem ali diante dos seus olhos, uma odisseia devastadora de falsas acusações, fome, e idealismo juvenil interrompido pela experiência. Já no magistral documentário anterior com a duração de nove horas, "West of the Tracks" o realizador Wang Bing usou os caminhos de ferro rurais como como condutores para a difícil transição da China de uma economia planeada para uma economia de marcado. Neste igualmente notável seguimento, ele encontra numa única sala e nos olhos arregalados de He Fengming outra estranha metáfora para as vidas individuais desfeitas pelos sonhos das nações. 
He Fengming escreveu um livro que é um documento sobre a vida dura que a afectou num ano crucial da história, 1957, o ano em que as forças moderadas perderam na China. Wang Bing deu à mulher todo o espaço que ela precisava para contar a sua história, e é por isso que o filme tem uma duração respeitável de mais de 3 horas. 
Legendas em inglês.

Parte 1
Parte 2
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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Ao Sol de Satanás (Sous le soleil de Satan) 1987


"Sous le soleil de Satan" é uma história sobre a fé católica. Centra-se num padre desafiador que acredita que Deus está a abandoná-lo e ao seu rebanho, deixando as suas almas abertas à influência corruptora de Satanás. O filme é uma adaptação de um livro do radicalmente religioso autor francês, Georges Bernanos, dirigido por um realizador ateu, Maurice Pialat, também um dos grandes realizadores franceses dos anos 70, 80 e 90.
Quem luta no coração do profundo dilema de Satanás é Gérard Depardieu. Logo depois de ganhar a Palma de Ouro com este filme, Pialat proclamou: "Eu não podia ter feito este filme com outro actor", uma afirmação grandiosa e bem fácil de perceber, tendo em conta a forma como Depardieu domina o papel.
O filme descreve as dores de Donissan, um jovem sacerdote com uma pequena dose de instabilidade mental, tentando encontrar o seu lugar no mundo, tornando-se cada vez mais convencido de que ele todos ao seu redor estão profundamente corrompidos pela influência do mal. Dean Menou-Segrais, interpretado pelo próprio Pialat num dos seus raros papéis como actor, é o seu guia espiritual que o tenta manter no caminho certo.
Quem vai cruzar no caminho de Donissan é Mouchette (Sandrine Bonnaire), uma jovem sedutora de 16 anos que é como veneno para os homens mais velhos, um dos quais ela afirma que a engravidou. Esta jovem, é uma criatura tão perturbada como Denissan, e sem as restrições e o peso moral da religião ela rebela-se contra o seu tradicional ambiente usando a arma mais poderosa que tem: o sexo. Eventualmente irá colidir com Donissan, que se apresenta como seu salvador, mas que irá apresentar resultados desastrosos.
"Sous le soleil de Satan" é um filme sombrio, mas sobriamente belo, fervilhante de raiva. As suas emoções fortes vão continuamente de encontro ao estilo calmo e fresco da estética de Pialat. Até a música parece limitada, muitos dos sons do filme são diegéticos mas de vem em quando os acordes pesados de uma peça clássica de Henri Dutilleux, surgem na banda sonora.

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terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Trilogia de Bill Douglas (1972-78)


Bill Douglas é quase uma lenda entre os cineastas britânicos. Lindsay Anderson considerou-o "poeta do cinema britânico", enquanto que o crítico Philip French considerou a sua trilogia como "uma das obras mais heroicas do cinema britânico".
Mas quem é Bill Douglas? Apesar de algumas pessoas já terem ouvido falar no seu nome, poucas eram as que tinham visto os seus filmes. Pelo menos até ao lançamento do DVD pelo British Film Institute. Os seus filmes marcavam-se por uma série de características: sempre mostrados a preto e branco (embora tenham sido filmados a cores), com actores amadores e um estilo visual austero (usando câmera estática, takes longos, e sem banda sonora musical).
Como os títulos sugerem, os filmes são baseados na educação de Douglas na cidade mineira de Newcraighall, nos anos depois da Segunda Guerra Mundial, e é uma história sobre pobreza e infelicidade. Em 1940, Newcraighall era um lugar desolado e azedo, mas esta era a visão de Douglas desde a sua infância (no filme ele chama-se Jamie), e também uma visão muito pessimista da classe trabalhadora escocesa.
"My Childhood" (1972) apresenta-nos a vida solitária e carente de Jamie, quando ele vive com a sua avó e o primo Tommy sendo obrigado e defender-se sozinho. Encontra uma figura paterna num prisioneiro de guerra alemão, que logo desaparece quando a guerra acaba.
Bill Douglas teve oportunidade de começar a fazer a trilogia quando Mamoun Hassan, o chefe do Conselho de Produção do BFI na altura, leu um argumento inicial para "My Childhood" e ficou surpreendido com o que encontrou. O realizador e crítico Lindsay Anderson também ficou muito impressionado, e aconselhou Douglas a continuar com o seu projecto, e ao conseguir apoio e financiamento do BFI o projecto de Douglas começou. Os filmes foram feitos com um orçamento bastante reduzido, e um elenco constituído principalmente por actores amadores. Bill conheceu Stephen Archibald (Jamie) e Hughie Restorick (Tommy) num encontro casual numa paragem de autocarros, e Stephen Archibald  interpretaria a sua personagem até ao fim da trilogia.
Por vezes, os momentos mais comoventes da trilogia são quando a dureza da realidade dão lugar a raros exemplos de alegria e bondade. Em "My Childhood" Jamie despeja água a ferver numa caneca e antes de a recolocar no lugar passa para as mãos da avó para a aquecer. Em "My Ain Folk" os potes de geleia tornam-se o tesouro mais valioso, pois podem ser trocados por bilhetes de cinema. Em "My Way Home" Robert implora a Jamie que se "entusiasme" e "esteja vivo", dando a Jamie o primeiro momento de esperança para o futuro.
Com poucos diálogos e poucos movimentos de câmera, os filmes da trilogia foram muitas vezes comparados com os do cinema mudo, e o próprio Bill foi o primeiro a explicar que as suas obras não tinham uma "narrativa convencional", mas sim uma "narrativa emocional". Sobre o tema de "My Ain Folk" ele explica que o filme não é, em primeiro lugar, uma questão de compreensão...mas uma questão de sentimento. Para que o filme tenha sucesso, a narrativa emocional deve vir em primeiro lugar."  A trilogia recebeu muitos elogios quando da estreia e diversos prémios de cinema pelo mundo fora, e tornou-se numa obra de culto.

My Childhood (1972)
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My Ain Folk (1973)
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My Way Home (1978)
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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Beija-me, Idiota (Kiss Me, Stupid) 1964


O cantor Dino  (Dean Martin), depois de terminar uma temporada em Las Vegas, vai para a estrada para participar num programa especial de TV. No entanto, no meio da viagem tem de mudar de direção porque houve um acidente e a estrada está bloqueada. Desta forma terá de passar por Climax, Nevada, uma pequena cidade onde mora Orville J. Spooner (Ray Walston), um professor de piano clássico muito ciumento pela sua mulher, Zelda (Kim Novak). Como a vida a dar aulas de piano é difícil, ele com o amigo Barney, estão a tentar escrever uma canção que seja aceita por algum grande cantor. Quando Dino chega à cidade, a dupla vê a oportunidade que esperava.
Farsa sexual de máscaras e maquinações produzida e realizada por Billy Wilder, que também co-escreveu o argumento com I.A.L. Diamond. Tudo funciona de forma mais ou menos brilhante, com uma complicada estrutura de trocas de identidade, baseado numa peça de teatro italiano escrita por Anna Bonacci. A fotografia a preto e branco widescreen é elegante, colocando os personagens em longos e espirituosos shots.
Apesar de hoje ser visto de forma diferente pelo críticos e historiadores, foi na altura um dos vários fracassos críticos e de audiência que mancharam a carreira de Billy Wilder. O público resistiu à abordagem sincera do filme, e à moral cínica, mas é a simplicidade do filme que o faz uma obra memorável. É um precursor de filmes americanos como "Happiness" de Todd Solondz e "Your Friends & Neighbours", de Neil LaBute.

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domingo, 3 de fevereiro de 2019

2019 em Ciclos no My Two Thousand Movies

Estamos ainda no início de Fevereiro, e já temos o planeamento de 2019 mais ou menos encaminhado, relativamente a ciclos.

Os próximos ciclos, já  com data marcada:
- Giallo (10 de Fevereiro)
- Olney São Paulo (8 de Março)

Ao longo do ano haverá uma série de ciclos mais profundos, sobre vários assuntos, que poderão ser realizadores, movimentos, actores, entre outras coisas. Desses ciclos destaque para os seguintes:
- Kon Ichikawa
- Cinema da Ásia Central no Século XXI
- Weimar Cinema
- John Ford - Antes da Guerra
- Straub  & Huillet
- Ida Lupino
- Noir Nórdico
- Cinema Espanhol sob o domínio de Franco (desta vez é que é)
- Festival Stop Motion

A ordem por que eles serão apresentados, ainda não, e os títulos também não serão os definitivos, poderão levar um subtítulo para ficarem mais pomposos.

Estes ciclos serão alternados pelos ciclos dos convidados, tal como o que está a acontecer neste momento.  Cada convidado programa 10 filmes, ou do seu gosto especial ou de um determinado tema. Se quiserem participar, basta mandar um mail para myonethousandmovies@gmail.com com a vossa sugestão. Já temos alguns convidados em fila de espera.

Poderá sempre haver alguma alteração, e aparecer alguma nova ideia.

Por hoje é tudo, bom fim de semana.

sábado, 2 de fevereiro de 2019

O Comboio Apitou Três Vezes (High Noon) 1953



O Marshall de uma pequena cidade, Will Kane (Gary Cooper) enfrenta uma vigília solitária e sombria quando ouve que um inimigo mortal e assassino vingativo foi libertado pelas leis abolicionistas liberais. Tenta recrutar ajuda e apoio dos seus bons vizinhos para reprimir o adversário, Kane encontra apenas covardia e medo. Pior ainda, quando se prepara para o inevitável duelo Kane enfrenta a desaprovação da sua esposa Amy (Grace Kelly). Enquanto isso, Miller e o seu gang aproximam-se da estação do comboio a todo vapor. 
"High Noon" faz uma coisa muito importante ao longo da sua pouco menos de hora e meia, e fá-lo excepcionalmente bem. É um exemplo perfeito de como uma dedicação sincera da criação de um ambiente pode resultar numa experiência fílmica verdadeiramente recompensadora e atraente. Cada faceta no filme, cada momento da sua estrutura económica, contribui para a  tensão cada vez maior que irá atingir o auge nos minutos finais do filme. O realizador Fred Zinnemann mantém um rígido controle sobre o ritmo do filme, usando rápidos close-ups de relógios como marcadores na montagem, com batidas enfatizadas que aumentam a tensão. 
Impulsionado por uma interpretação altamente digna de um envelhecido Gary Cooper, que desde então passou a ser visto como um sinónimo de herói masculino, este western tenso trabalhado meticulosamente por Zinnemann, em grande parte representado em "tempo real" com ênfase nos relógios tiquetaqueando a acção, ainda se destaca como um dos maiores filmes no género. De certa forma era uma alegoria sobre a caça ás bruxas levadas a cabo pelo Senador McCarthy, com o argumento a ser escrito por Carl Foreman, um dos nomes que esteve na lista negra. 
Gary Cooper ganhava aqui o seu Segundo Óscar, e o elenco contava ainda com nomes como Thomas Mitchell, Lloyd Bridges, Katy Jurado, Lon Chaney Jr, Harry Morgan, e brilhantes como vilões Ian MacDonald e Lee Van Cleef.

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