quinta-feira, 31 de julho de 2014

Razorback (Razorback) 1984



Um javali selvagem aterroriza o interior australiano. A primeira vítima é uma criança, que é morta. O avô é levado a tribunal pelo crime, mas absolvido. Segue-se uma jornalista da TV Australiana, mas desta vez o seu marido vai até ao local do crime para procurar a verdade. Os habitantes da zona não o querem ajudar, mas ele junta-se a um caçador e a uma mulher para encontrar a fera.
"Razorback" é uma espécie de versão de "Jaws" de Steven Spielberg, com o mortífero tubarão a ser substituído por um enorme javali. Escrito por Everett de Roche, um dos melhores argumentistas da Ozploitation, e que ao mesmo tempo era a obra de estreia de Russell Mulcahy na realização, futuro realizador de "Highlander" 1 e 2, e de "The Shadow". Everett de Roche já por mais do que uma vez que tinha pegado em argumentos de animais-monstros, e já tinha mostrado o interior da Australia em road movies anteriores, por isso parecia natural juntar estas duas idéias no mesmo filme, a partir de uma novela de Peter Brennan.
A merecer um lugar no panteão dos melhores filmes de género do continente australiano, "Razorback" merece a fama de culto que tem, apesar da relativa obscuridade que teve ao longo dos primeiros anos. A culpa foi da desconfiança que as pessoas tinham relativa a filmes que eram rip-offs de "Jaws", ou o facto de que muitas pessoas não sabiam o que era um javali. Graças ao VHS a fama do filme foi crescendo, nos anos oitenta e noventa.
O trabalho de câmera de Dean Semler, de "Mad Max 2" e "Dances With Wolves", cria um ambiente quase místico para com o interior baldio da Austrália, com longas sombras e estrelas cadentes na noite a serem adicionadas às paisagens desoladas. Ao filme é adicionado levemente alguma crueldade para com os animais, com imagem de um matadouro, e violência para com os porcos e os cães. "Razorback" acaba por ser um divertido filme de terror da década de 80.

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quarta-feira, 30 de julho de 2014

O Asfalto do Medo (Roadgames) 1981



Pat Quid conduz um atrelado através da Australia. Pelo caminho ele encontra vários outros condutores, e os habituais viajantes a pedir boleia. Um passatempo da preferência de Pat é fazer jogos para passar o tempo. Pamela é uma das viajantes a quem ele dá boleia, e quando ela desaparece ele acha que o condutor de uma carrinha tem vindo a agir de modo suspeito, e provavelmente é um serial killer que vem sendo mencionado no rádio. Começa aqui o jogo do gato e o rato, que vai atraír a polícia...
Auto declarado aluno de Alfred Hitchcock, Richard Franklin trabalhou mais uma vez com o argumentista Everett de Roche, para criar uma espécie de homenagem a "Rear Window", excepto que não se passava num quarto, mas numa estrada, na cabine de um semi-reboque.  Para este passeio temos Jamie Lee Curtis, a filha da "Psycho" Janet Leigh, que junto com o motorista do camião, Stacy Keach, tenta chegar ao fundo de uma história que pode ligar uma série de corpos que têm aparecido ao redor do continente australiano. 
A história é muito simples, com a van e o camião a encontrarem-se sempre em todos os lados que vão. Embora o filme levante claramente a herança de Hitchcock (a personagem de Curtis é chamada de "Hitch", por Keach), "Roadgames" acaba por totalmente diferente de tudo o que vimos antes.
O desenrolar do filme faz-nos suspeitar do pior: o que está dentro dos sacos do lixo? o que está dentro da lancheira do homem da van? Mas o mais sensato será não tomar nada como garantido. Alguém deve ter reparado nas similaridades entre Franklin e Hitchcock, que ele acabaria por ser convidado para realizar a sequela de "Psycho", dois anos depois. E esta sequela até que não foi tão má como isso, tendo recebido algumas críticas agradáveis, e tendo alcançado óptimos resultados de bilheteira. A música é de Brian May (o compositor australiano, não o membro dos Queen).

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terça-feira, 29 de julho de 2014

Long Weekend (Long Weekend) 1978



Numa última tentativa para salvar o seu casamento, um casal parte para uma praia deserta num local distante. Tensão e brigas são uma constante, e só piora à medida que chegam ao destino. Ambos são egoístas, arrogantes, com um grande desrespeito ao meio ambiente em redor. Consumidos pelos seus próprios problemas, ambos espalham lixo descuidadamente, atropelam cangurus, e destroem os ovos das aves. No entanto, o casal vai pagar caro, quando a natureza contra-ataca, e os animais anteriormente dóceis se tornam agressivos.
Filme de culto/choque de Christopher Eggleston, lançado na época alta da New Wave australiana, é um filme de terror ecológico, reportando todos os aspectos da mãe natureza como estando interligados, e a humanidade poluente como tendo de ser erradicada. Com argumento de Everett De Roche, cujos outros argumentos como "Patrick" e "Razorback" também veremos neste ciclo, oferece-nos uma visão sinistra do sistema imunológico do planeta, fechando fronteiras, e lutando contra os corpos estranhos indesejáveis.
Colin Eggleston faz uma mudança bastante acentuada na sua carreira, depois do softporn "Fantasm Comes Again". Muito da atmosfera quase onírica e inquietante, é fornecida pela beleza da fotografia em exteriores, em vez da tentativa de pregar sustos baratos (embora haja alguns efeitos mínimos datados), e com o tempo a passar para os protagonistas destrutivos, a ensolarada figura pitoresca da praia, assim como a fauna e a flora, se tornam gradualmente mais escuras, sombrias e assustadoras.
Alguns criticos, na altura do lançamento do filme, reclamaram que a dupla de protagonistas (John Hargreaves e Briony Behets) tinham sido um erro de casting como protagonistas, mas é precisamente por se sentirem deslocados que o seu estado não natural dentro da narrativa é fortalecido. Embora não seja um filme sem falhas, consegue na sua "exploitation" e variação das convenções dos géneros, com temas como o terror ecológico ou o reposicionamento da humanidade como uma ameaça exterior, ser uma experiência eficaz e enquietante.
No auge do sucesso do terror australiano, ganhou vários prémios em Festivais, três eles no festival de Sitgés.

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segunda-feira, 28 de julho de 2014

Patrick (Patrick) 1978



Depois de uma morte chocante da sua mãe e da sua amante, o sinistro Patrick está em coma num hospital privado, e a sua única acção passa por cuspir. Quando uma jovem e bela enfermeira, separada recentemente do marido, começa a trabalhar no hospital, sente que Patrick tenta comunicar com ela, e que tenta usar os seus poderes psíquicos para controlar a sua vida.
Depois do sucesso de "Carrie" (1976), estava aberto mais um caminho para explorar no cinema. Os filmes sobre poderes psíquicos de repente faziam parte da linguagem dos filmes de terror, e estava na hora de apanhar boleia, e aproveitar a onda enquanto era possível. Estava na hora de prender os fios invisíveis aos objectos, e arremessá-los contra as paredes, graças ao poder da mente liberta. Estes filmes representavam o maior medo de todos os pais, e, simultaneamente, a sua grande esperança. Os poderes sobrenaturais que Carrie White usava para decretar a sua vingança sobre os seus colegas de escola, eram o sonho de qualquer jovem reprimido, maltratado ou abusado na infância.
A beleza de "Patrick", produção australiana, é não seguir pelo caminho mais fácil, em que nos sentimos identificados pelos personagem principal. Em vez disso, mostra o que ele realmente é - uma criança mimada num corpo de adulto, sem qualquer preocupação com os outros sempre que ele faz alguma coisa contra alguém ao seu redor.
"Patrick" foi essencialmente feito como uma resposta a "Carrie", mas conseguiu ir muito mais longe do que isso, graças ao seu realizador, Richard Franklin, discípulo de Hitchcock, que depois faria filmes como "Road Games"ou "Psycho 2". Na altura ele tinha feito apenas filmes para TV, e filmes de softcore como "Fantasm". Fez enorme sucesso em alguns países da Europa, e conseguiu prémios importantes, em festivais como Avoriaz ou Sitgés.

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sábado, 26 de julho de 2014

Ozploitation

A Austrália atravessou um deserto cinematográfico nos anos 60. Para além de duas produções de Michael Powell que por lá foram filmadas, pouco mais foi feito, e era preciso inverter o rumo dos acontecimentos.
Na década de 70 aconteceram duas coisas que alteraram tudo. Primeiro, para aumentar a produção cinematográfica, o governo australiano cortou drasticamente as taxas a aplicar no cinema, e isso veio a incentivar a que fosse investido em produções cinematográficas. Foi aqui que começou a chamada "New Wave do Cinema Australiano", da qual fazem parte filmes como "Walkabout"(1971), "Picnic at Hanging Rock" (1975), "The Last Wave" (1977), ou "The Chant of Jmmie Blacksmith" (1978), entre outros. Mas calma, que não é destes filmes que vamos falar...
Com um aumento tão significativo de produções cinematográficas, algumas de cariz sexual, os australianos viram-se obrigados a criar um "rating R", destinado a espectadores com mais de 18 anos. Este facto criou um mercado que muitos realizadores estavam ansiosos por explorar. Levou a um aumento substancial de filmes de "sexploitation", do qual "Alvin Purple" é um dos mais famosos exemplos.
Nos anos seguintes tivemos um grande aumento de filmes do tal "rated R", não só obras de cariz sexual, mas também um grande número de filmes de terror, suspense, comédias, etc. Tudo produções de baixo orçamento, que atraíam vários produtores a tentarem explorar este filão no mercado. O exemplo mais famoso deste tipo de filmes, foi, é claro, a saga de "Mad Max", o único que conseguiu fama a nível internacional.
Tarantino chamou a este movimento "aussiesploitation", do qual ele era grande fã, mas a partir de 2008, surgiu um documentário, por sinal produzido por Tarantino, e onde o realizador Mark Hartley resolveu abreviar o termo para "Ozploitation". Este termo é assim conhecido desde 2008, e para iniciarem este ciclo aconselho mesmo a verem o documentário. Podem tirá-lo daqui, legendado em português.
Esta semana vamos dar uma vista de olhos pela "Ozploitation", e para isso fiz uma selecção de cinco dos seus mais famosos filmes. Deixei os "Mad Max" de fora, porque obviamente toda a gente já os conhece.

Eis a programação desta semana:

Segunda: Patrick (1978), de Richard Franklin

Terça: Long Weekend (1978), de Colin Eggleston

Quarta: Roadgames (1981), de Richard Franklin

Quinta: Razorback (1984), de Russell Mulcahy

Sexta: Fair Game (1986), de Mario Andreacchio

quinta-feira, 24 de julho de 2014

O Gato Preto (Kuroneko) 1968



Uma mulher e a sua afilhada são violadas e assassinadas por um grupo de samurais, durante a guerra civil. Pouco tempo depois, uma série de samurais regressados da guerra a essa área, são encontrados mortos com a garganta rasgada. O governador chama um jovem herói para acabar com o que aparentemente é um fantasma. Ele acaba por encontrar as duas belas mulheres, e depois de uma purificação espiritual vai envolver-se num duelo emocionante com um demónio.
Em parte baseado numa história do folclore japonês chamada "A Vingança do Gato", este filme de Kaneto Shindô é provavelmente a entrada definitiva do bakeneko (gato-demónio), sub-género do cinema de terror japonês, que também contava com obras como "Ghost Cat of Nabeshime" (1949) de Kunio Watanabe, "Ghost Cat of Arima Palace" (1953) de Ryohei Arai, ou "The Mansion of the Ghost Cat" (1958), de Nakagawa, obviamente traduzidos para inglês. As tradições teatrais japonesas estão no core deste clássico "kaidan eiga", com fortes elementos do teatro de Noh em algumas encenações e coreografias, assim como uma clara influência de Kabuki nas acrobacias e nos espíritos dos gatos.
Além de enraizado no antigo folclore japonês, é um filme envolvido tanto no tormento psicológico como na vingança do outro mundo. É portanto, um desvio significativo em relação à maioria dos filmes do realizador, que são elogiados pelo realismo do pós-guerra e forte crítica social. O historiador do cinema japonês Donald Richie descreveu Shindo como um "dos melhores pictorialistas do Japão", uma afirmação bastante apoiada por este filme, filmado elegantemente num visceral e expressionista preto e branco, é mais um filme arrebatador visualmente, cuja estética ajuda a completar um conto (talvez excessivamente) familiar de amor, perda e vingança.
Muito mais um filme de terror do que "Onibaba", do mesmo realizador, com as suas duas belas mulheres, e elementos do vampirismo e a mudança sobrenatural de forma, foi ignorado injustamente durante muito tempo, talvez devido ao crescimento dos filmes de monstros do Japão, mas com o tempo foi-lhe reconhecido o valor. 

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Kwaidan (Kaidan) 1964



Um filme que contém quatro histórias distintas: "Black Hair", onde um pobre samurai se divorcia do seu verdadeiro amor para casar por dinheiro, mas tem um casamento desastroso acabando por voltar à sua antiga esposa, para descobrir algo de terrível sobre ela. "The Woman in the Snow": preso numa tempestade de neve um lenhador encontra um espírito da neve na forma de uma mulher, que lhe poupa a vida na condição de ele não contar a ninguém o que viu. Passam-se 10 anos, e ele esquece-se da promessa... "Hoichi the Earless": Hoichi é um músico cego a viver num mosteiro, que canta tão bem que até uma corte real fantasmagórica lhe ordena para cantar uma balada épica da sua morte, para eles. Por fim temos  "In a Cup of Tea", onde um escritor conta a história de um homem que vê refletida na sua chávena de chá a face de um homem.
É irónico que o autor das mais conhecidas e respeitadas histórias de fantasmas japoneses, não seja sequer japonês. Nascido na Grécia, filho de pais gregos/irlandeses, imigrado para os Estados Unidos com a idade de 19, Lafcadio Hearn trabalhou alguns anos como jornalista, em Cincinnati e New Orleans. Mais tarde apaixonou-se pelo Japão, e pelo modo de vida japonês, tendo-se mudado para aí e criado uma família. Continuou a escrever sobre uma enorme variedade de assuntos, alguns dos quais a serem adaptações em prosa dos contos sobrenaturais do folclore japonês. 60 anos depois da sua morte, o realizador Masaki  Kobayashi fez um filme sobre quatros das histórias deste autor. O resultado chamou-se "Kwaidan", literalmente "histórias de fantasmas", hoje em dia celebrado como um dos filmes mais importantes a saír do Japão nos anos sessenta.
As histórias são na sua maioria simples de estrutura (reflectindo a sua pouca duração literária), tal como devem ser as histórias de ficção e horror. Depois de tantos anos passados, e das histórias terem percorrido o Oriente e o Ocidente, continuam a ser tão assustadoras como eram antes. Por vezes surreal na sua evocação de acordar de um pesadelo, o drama é frequentemente expressionista, na exteriorização da angústia mental dos seus personagens. Visualmente o filme é impressionante, de uma beleza tão assombrosa que é de tirar o fôlego. A fotografia de Yoshio Miyajima, e a direção de arte de Shegemasu Toda servem a história em atmosfera, por vezes numa forma semi-abstracta ou simbólica.
"Kwaidan" é um filme difícil de classificar, e é um exemplo interessante das tentativas infrutíferas de tentar classificar um filme num determinado género. Inclui alguns elementos de terror e sobrenatural, mas também é um notável filme romântico, e por vezes estes tons conflitantes são montados em contraste um com o outro. No fim de contas, não são as histórias em si, mas o modo como elas são contadas, que fazem de "Kwaidan" um filme tão magnífico. Combinando a majestosa ópera com o minimalismo de uma peça de teatro.
"Kwaidan" foi originalmente lançado no Oeste numa versão de 125 minutos, mas fez-se uma restauração que lhe devolveu os 164 minutos originais. É essa a versão deste post.
Conseguiu uma nomeação para um Óscar de Melhor Filme em língua estrangeira.
Legendado em inglês.

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quarta-feira, 23 de julho de 2014

Onibaba (Onibaba) 1964



Uma velha mulher e a sua afilhada ganham a vida a matar samurais rebeldes, atirando o seu corpo para um grande buraco, para depois vender os seus pertences. Quando Hachi (um amigo do marido morto da jovem), regressa da guerra, começa uma relação aberta com a rapariga, causando que a jovem passe menos tempo com a velha, que se sente abandonada...
"Onibaba", de Kaneto Shindô, foi feito de forma independente, fora do sistema de estúdio japonês, e é um melodrama de terror atmosférico, com base num antigo conto popular budista. Passado no período feudal do Japão, conta a histórias de pessoas desesperadas, a tentar não apenas permanecer vivas num mundo de caos, como também tentando manter uma aparência de humanidade. Sentimentos e sexualidade são o coração da história,  com os instintos básicos - não só a fisicalidade animalesca mas também a necessidade de ligação - são o último refugio dos personagens.
Shindo teve a idéia brilhante de fazer o filme no meio das canas altas de Suski, que teve um efeito intenso na narrativa. É passado no tempo da guerra, e há até mesmo a sugestão da destruição quase apocalíptica, porque nunca vemos quaisqueres sinais genuínos de civilização, apenas os seus restos espalhados. O campo serve para isolar os personagens, criando uma espécie de microcosmos de humanidade que é, para todos os efeitos, tirado da guerra do mundo exterior.
A um nível puramente estético, "Onibaba" é uma excelente peça de cinema, enquanto Shindo carrega a sexualidade na mise-en-scene, em tudo, desde as folhas a balançar, o esvoaçar dos pássaros, ao nascer da lua. Há muito pouco diálogo, de modo que os recursos visuais são muito mais importantes, tanto narrativamente como simbolicamente. A atmosfera estranhamente atraente é agravada por uma partitura musical de Hikaru Hayashi que se articula de uma mistura de jazz livre com batidas tribais e vozes humanas que soam como gritos de uma sessão de tortura.

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terça-feira, 22 de julho de 2014

Jigoku (Jigoku) 1960



Jigoku conta a história do jovem Shiro, e do seu melhor amigo Tamura, que vão passear à noite de carro, e acidentalmente atropelam um bêbado. Secretamente eles deixam o corpo no local e fogem. Um gesto que vai levar Shiro e a namorada até às profundezas do inferno.
Os trabalhos de H.G. Lewis e do brasileiro Zé do Caixão são muitas vezes citados como os primeiros filmes Gore. A sua influência no género é inegável, mas Jigoku ainda precede, no tempo, filmes como "Bood Feast", o primeiro marco no género. A tradução de Jigoku é "inferno", e é exactamente aí que o realizador Nobuo Nakagawa nos leva, neste jogo de moralidade ilusória. Seguimos um homem através de vários infernos. O primeiro é vivido acima do subsolo, enquanto o outro é mais tradicional, um mundo cheiro de fogo e enxofre.
Muitos artistas tentaram visualizar o que o inferno seria. As pinturas de Hieronymus Bosch e Francis Bacon são talvez as visões mais conhecidas, e mais respeitadas, e nota-se a influência destes pintores no filme de Nakagawa. Também podemos encontrar algumas imagens clássicas do folclore japonês, e o estílo ímpar das suas histórias de fantasmas, assim como os tradicionais trajes dos senhores feudais. O inferno em "Jigoku" é uma paisagem de pesadelo, muito dos efeitos especiais que Nakagawa emprega preveem a estética psicadélica que apareceria no final da década de sessenta. No início do filme, o pai de Yukiko faz um discurso sobre as diversas versões do Inferno que existe no mundo religioso, mas foca-se mais na visão budista. O inferno aqui é como um sonho do qual não podemos saír. Qual mais viajamos menor é realmente a distância que precorremos. Não há nenhum lugar para ir, mas a compulsão de encontrar uma saída é irresistível.
Os últimos quarenta minutos do filme são verdadeiramente notáveis. Parece que pertencem a um filme diferente. A visão de Nakagawa do inferno é um deleite visual. A iluminação é de arregalar os olhos (com abundância das cores verdes e vermelha), os demónios japoneses são assustadores e a violência é extrema. Na altura em que saíu foi um filme chocante.

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segunda-feira, 21 de julho de 2014

Agosto na Fyodor Books


Durante todos os Sábados do mês de Agosto, vou estar na Fyodor Books, pelas 18h, para apresentar um maravilhoso ciclo de cinema de género italiano.
Ao longo do mês haverá dois ou três convidados especiais, e no dia 23 irá haver uma pequena festa dos seis anos dos thousand movies. Apareçam. 

Quem quiser pode aderir ao evento. Aqui.  

Morada da livraria:

Avenida Óscar Monteiro Torres, n° 13,B,
Campo Pequeno 
1000 Lisboa

The Ghost of Yotsuya (Tôkaidô Yotsuya Kaidan) 1959



Em  "The Ghost of Yotsuya", do realizador Nobuo Nakagawa, temos uma das melhores adaptações do conto de folclore japonês, "Yotsuya Kaiden". O filme é feito como o teatro kabuki, lidando com paixão, infidelidade e vingança, e tal como nas grandes tragédias de Shakespeare há sempre uma tentação nos calcanhares do protagonista, levando-o para um caminho de auto-destruição; e há sempre o traído, um inocente que só tem carinho para dar.
Iemon é um samurai egoísta que não tem problemas em assassinar o pai de Oiwa (a mulher que deseja), para assegurar o casamento. Naosuke, um empregado do assassinado, assiste ao crime, mas faz uma aliança com o criminoso para que possa tirar algum benefício. Depressa Iemon se farta de Oiwa, e começa a deitar os olhos em Oume, a herdeira de um nobre influente. Tenta então matá-la, inventando uma história de que ela tem um caso com o seu massagista, Takuetsu.
Histórias de fantasmas (kaidan) são muito populares na cultura japonesa, e esta é uma das suas mais famosas. Tal como é habitual nos filmes kaidan, perde-se muito tempo na construção do ambiente. Na verdade, neste caso, não é tempo perdido, porque os actos diabólicos de Iemon são suficientes para manter o filme interessante. O climax vai-se construindo até ao terceiro capítulo, e o que vamos testemunhar não vai ser de todo agradável para o protagonista, e nem a sua mente diabólica lhe vai servir para fugir a uma vingança atroz.
A iluminação do filme é impecavelmente feita, e mostra a sensibilidade e a capacidade de Nakagawa de construir um clima de medo. Acima de tudo é um filme sobre atmosfera, imagine-se como seria um filme da Hammer realizado por Hitchcock. A grande opulência da fotografia e da cenografia são muito bem conseguidas, e Nakagawa é um realizador que sabe muito bem quando deve envolver a extravagância, e que sabe quando o ambiente deve passar a ter o papel principal.

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sábado, 19 de julho de 2014

Terror Clássico Japonês

O terror japonês já pode ser encontrado desde o final do século 19, quando curtas como "Jizo the Ghost" ou "Ressurection of a Corpse" foram produzidas, mas o verdadeiro boom deste cinema, só se deu depois do final da Segunda Guerra Mundial. Os filme de terror sempre tenderam reflectir as ansiedades sociais dominantes em certa altura e lugar, onde esses filmes foram produzidos: a corrente do expressionismo alemão é disso um belo exemplo.
O pós-guerra foi um tempo turbulento para o Japão. O país tinha sofrido uma derrota militar humilhante, com baixas catastróficas, 2,7 milhões de mortos, e um grande número de desaparecidos ou feridos. Centenas de milhar faleceram nas obliterações nucleares de Hiroshima e Nagasaki, e a sua radioatividade. Para a derrota ser ainda mais humilhante, nos sete anos posteriores à derrota o Japão foi ocupado pelas tropas americanas, para se prevenirem do rearmamento.
A escala da destruição japonesa encontrou o seu mais óbvio espelho no ciclo de filmes "Kaiju Eiga" (monster movies) dos anos cinquenta, com o primeiro exemplo em "Godzilla", de 1954. Este filme, seguido de tantas sequelas e imitações, encenava a destruição de Tóquio, enquanto que a parada de monstros mutantes simbolizavam a ameaça da radiação, e a poluição ambiental. O medo do apocalipse e da destruição foram sempre uma constante no cinema de terror japonês, desde a segunda grande guerra até aos tempos actuais, enquanto as faces de mulheres assustadas (um sinal comum nas vítimas nucleares), encontraram corpo em certos filmes japoneses de horror da década de 60, como em "Ghost Story of Yotsuya" ou "Onibaba", que iremos ver neste ciclo.
Durante o período da ocupação os valores tradicionais colidiram com as forças de modernização ocidentais. O código Shinto em que a nação tinha sido construída, baseado na ética confucionista e que estabelecia responsabilidades entre o imperador e os seus súbitos, assim como entre membros de uma familia e amigos, foi substituido pelos valores da democracia ocidental, com uma nova ênfase no capitalismo individual. Muitos dos filmes de terror produzidos na década de cinquenta e sessenta dramatizaram esta colisão com o código, a busca egoísta do ganho pessoal, e a ausência de valores colectivos estão na origem de algumas destas histórias de fantasmas.
A estes filme foi dado o nome de Kaidan Eiga (histórias de fantasmas), normalmente baseadas em contos do folclore budista, ou em peças Kabuki. Fiz uma selecção destes filmes, que vos vou mostrar durante a semana.



Aqui ficam os seus nomes.

Segunda: The Ghost of Yotsuya (1959), de Nobuo Nakagawa

Terça: Jigoku (1960), de Nobuo Nakagawa

Quarta: Onibaba (1964), de Kaneto Shindô

Quinta: Kwaidan (1964), de Masaki Kobayashi

Sexta: Kuroneko (1968), de Kaneto Shindô

O Pirata Vermelho (The Crimson Pirate) 1952



Burt Lancaster interpreta um pirata com um gostinho especial por intrigas e por acrobacias, que se envolve numa revolução nas Caraíbas, no final do século 18.Vai envolver-se numa aventura que conta com fugas de prisões, cientistas excêntricos, batalhas navais, e muitas lutas de esgrima.
Fusão muito influente de acção e comédia, usando o cenário da capa e espada como um cenário perfeito para a dupla Burt Lancaster e Nick Cravat espalhar toda a sua magia, e romance. Cravat era um acrobata, companheiro de Lancaster desde os seus tempos de circo, e com quem contracenou em vários filmes.
O argumento de Roland Kibbee não oferece nada de novo em termos de história, é a rotina habitual de traições e alianças que proporcionam as acrobacias do filme, mas há bastante comédia e situações brilhantemente encenadas que nos fazem sentir o filme contemporâneo, talvez porque muitas destas idéias foram copiadas por outros realizadores no futuro.
Este toque moderno, também se deve ao facto dos heróis serem colocados em circunstâncias por vezes ridículas (mais cómicas do que ameaçadoras, tal como nos velos seriais), e ter a habilidade inapta dos personagens resolverem as situações à velocidade da luz. Um exemplo destas situação é quando vamos encontrar três piratas amarrados a um barco, e um tem a idéia de voltar o barco ao contrário para chegar à praia, usando-o como um submarino.
"The Crimson Pirate" não foi uma tentativa de reclamar o trono dos filmes de capa e espada, que nesta altura pertencia a Tyrone Power. Lancaster continuaria a exprimentar vários géneros durante as décadas de cinquenta e sessenta, mas ele parecia agarrado ao conceito de tomar as convenções dos géneros bem familiares aos espectadores, uma audiência cada vez mais aberta aos clichés, para alcançar pessoas de todas as idades.
Com realização de Robert Siodmak, um realizador alemão autor de alguns dos mais belos noirs dos anos quarenta, contava com um elenco interessante, incluindo um Christopher Lee, ainda em início de carreira.

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quinta-feira, 17 de julho de 2014

O Pirata dos Meus Sonhos (The Pirate) 1948



O terceiro filme de Vincente Minneli com a sua mulher, Judy Garland, era uma espécie de aquecimento para "Um Americano em Paris" (1951), mas sem a finesse deste. Passado nas Caraíbas, a acção gira em torno da donzela Manuela (Judy Garland) que anseia por um lendário pirata chamado Macoco, ou Mack, the Black. Mal ela sonha que o homem a quem ela está prometida, Don Pedro Vargas (Walter Slezak), é realmente o próprio Macoco reformado. Um homem que está de olho em Manuela, Serafin (Gene Kelly), vai tentar fazer passar-se por Macoco.
"The Pirate" tem sido um dos musicais mais debatidos a saír dos estúdios da MGM, nos seus anos de ouro. Alguns fãs consideraram-no um dos maiores musicais de todos os tempos, à frente do seu tempo, no que diz respeito a concepção e execução, e desde então tem sido mal compreendido ao longos dos anos. Alguns detratores consideraram-no um filme menor de Minneli, uma obra demasiado auto.consciente, e um filme sobrecarregado pelo drama por detrás dos bastidores.
Com acontece normalmente, a verdade está algures no meio destes dois extremos: o filme mostra o talento visual de Minneli no seu auge (a sua experiência como director de arte está bem aqui bem patente, no design de produção), e há várias sequências de tirar o fôlego (a sequência do ballet pirata é incrível),  mas grande parte do filme também é exagerado.
A música é de Colo Porter, e embora não seja o seu melhor trabalho, mesmo fraco Porter é melhor do que a maioria dos compositores. O destaque vai para a música "Be a Clown", plagiada quatro anos mais tarde para criar "Make ‘Em Laugh", para "Singing in the Rain". interpretada primeiro como uma coreografia atlética de Gene Kelly e os The Nicholas Brothers, e depois como um dueto cómico entre Kelly e Garland.
Foi nomeado para um Óscar de "Best Music, Scoring of a Musical Picture".

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quarta-feira, 16 de julho de 2014

O Pirata Negro (The Black Swan) 1942



Quando o famoso Pirata Henry Morgan (Laid Cragar) é nomeado governador da Jamaica, tenta chegar a acordo com os piratas da região, mas acaba por encontrar alguma resistência em alguns. Entretanto, Jamie Waring (Tyrone Power), um dos seus homens de confiança, apaixona-se pela filha do antigo governador, Margaret (Maureen O'Hara), que o despreza.
Se "The Sea Hawk" era o filme modelo para o velho bom swashbuckler, "The Black Swan" é o seu lascivo irmão mais novo. Interpretado por Tyrone Power, o principal rival de Errol Flynn para os papéis de galã nos filmes de capa e espada, do final dos anos 30, e anos 40, que aqui tem mais uma das suas muitas colaborações com Henry King, "The Black Swan" é mais um filme essencial para esta saga da pirataria. King, um pioneiro do cinema, e um realizador muito pensativo, deixou de lado os pormenores, e reduziu a uma fachada o modelo da dupla Curtiz/Flynn. O tema mais descaradamente retratado, por vezes sugestivamente, mas recorrente nos filmes de Flynn, a dança da sedução perigosa, entre o perigoso bandido e a primeira dama, como é Olivia de Havilland, é aqui transmutado a uma fantasia. Tal como Duelo ao Sol (1948), "The Black Swan" é, no seu caminho tortuoso e sujo, um dos filmes mais bizarros a saír dos grandes estúdios de Hollywood na década de 40. Enquanto "The Sea Hawk" apanhou boleia dos filmes de guerra para navegar por esses ventos, "The Black Swan" era inteiramente uma rejeição da relação contemporânea, excepto talvez na sua celebração agressiva da masculinidade do guerreiro.
Alguns dos filmes que ajudaram a inventar o que mais tarde seria chamado de "estética camp" (e "The Black Swan" certamente que era um deles, ao lado de "Cobra Woman", de Robert Siodmark, e os melodramas de Bette Davis e Joan Crawford), deitaram para fora ansiedades frenéticas, que por vezes podiam ser comparadas com o film noir.
A grande razão pela qual este filme tem tanto entretimento, é pela mistura de humor com acção. Isso muito deve à escolha de Thomas Mitchell como parceiro de Power. De gloriosas lutas de espadas, a canhões explodindo navios, é um dos filmes de mais entretimento das gloriosas aventuras de piratas.

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terça-feira, 15 de julho de 2014

O Gavião dos Mares (The Sea Hawk) 1940



Errol Flynn interpreta um pirata inglês. Num dos seus raids, depois de libertar escravos ingleses detidos pela Espanha, conhece e apaixona-se por uma bela espanhola, Dona Maria Alvarez de Cordoba (Brenda Marshall, cujo tio é Claude Rains) mas, como é natural, ela não quer ter nada a ver com ele. No entanto, quando descobre que ele tem as suas jóias, a sua opinião sobre ele começa a mudar. Eventualmente, ele é "contratado" pela raínha de Inglaterra para atacar navios espanhóis, e derrotar Lord Wolfingham.
Tal como explicam os historiadores Rudy Behlmer e Dr. Lincoln D. Hurst no DVD, "The Sea Hawk" era uma mistura de idéias, embrulhadas numa épica aventura de capa e espada, perfeita: o título vem do romance de Rafael Sabatini, fielmente filmado em 1924, e o argumento funde-o com uma história de Seton I. Miller, com referências não muito leves sobre a II Guerra Mundial, que tinha começado recentemente, e o filme reunia muitos actores populares dos estúdios da Warner Bros, com majestosos cenários ingleses.
Posto de outra forma, era quase uma sequela do filme "The Private Lives of Elizabeth and Essex," onde Elizabeth I (agora interpretada por Flora Robson) recebe a ajuda do corsário Geoffrey Thorpe (uma imagem mais malandra de Essex), para proteger Inglaterra contra o ataque de um diplomata espanhol (uma imagem conivente de Prince John, de "The Adventures of Robin Hood", interpretado pelo mesmo Claude Rains). Enquanto Thorpe depende da ajuda do seu leal companheiro Pitt (uma imagem de Little John de "The Adventures of Robin Hood" interpretado pelo mesmo Alan Hale), a confiança da raínha era depositada em Sir John Burleson (uma imagem de Sir Francis Bacon, de "Elizabeth and Essex")
É impossivel falar de "The Sea Hawk" sem falar dos seus dois irmãos mais velhos: "Captain Blood" e "The Adventures of Robin Hood". Quase toda a gente que trabalhou em "The Sea Hawk" também tinha trabalhado em "The Adventures of Robin Hood", e sabia exactamente o que fazer. "The Sea Hawk" ganha em várias comparações. A batalha naval do início do filme bate tudo o que "Captain Blood" tinha para oferecer. A decisão da Warner para filmar a preto e branco é que talvez tenha sido infeliz. Num mundo fantasista de navios detalhados, e guarda-roupa bastante elaborado, talvez o filme tivesse beneficiado mais sendo a cores, com o mesmo Technicolor usado em "Robin Hood", mas Michael Curtiz sabia como usar o preto e branco, e ainda assim esta obra tem algumas cenas assombrosas.
Historicamente tinha muito mais a ver com a Inglaterra dos anos 40, por causa da sua luta contra os Nazis, do que a luta contra a Espanha de 1585. Era um filme em tempo de guerra, apenas com um cenário diferente dos seus irmãos. Era um filme mais escuro, os seus heróis tinham de se sacrificar mais nas suas guerras, tal como era dito ao povo inglês para se sacrificar contra os alemães. O discurso final da raínha de Inglaterra era um chamar às armas de um povo que estava 400 anos atrasado no tempo.
Foi nomeado para quatro Óscares, todos em categorias técnicas.

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segunda-feira, 14 de julho de 2014

Capitão Blood (Captain Blood) 1935



A acção passa-se dentro do tumulto político que foi a Inglaterra do século XVII, onde o tirano King James executava rebeldes sem qualquer sentimentalismo. Dr. Blood (Errol Flynn) é apanhado a tentar curar um rebelde ferido, e acaba por ser punido com ele. Supostamente vai ser enforcado por traição, mas é sugerido ser enviado para Port Royal, na Jamaica, como escravo. Arabella Bishop (de Havilland), sobrinha do proprietário de uma quinta, Col. Bishop (Lionel Atwill) , compra o miserável doutor, o que vai provocar grandes faíscas entre os dois. Blood e os seus companheiros conseguem fugir num Corsário Espanhol, e começam a viver da pirataria, tornando-se inimigos do seu próprio país, e párias em outras nações.
"Captain Blood" foi o primeiro filme da dupla Errol Flynn e Olivia de Havilland, então dois desconhecidos dos estúdios Warner Bros, com apenas meia dúzia de papéis secundários no seu curriculum. Depois do sucesso deste filme, eles formariam uma dupla imparável, protagonista de outros sete filmes. É um remake de um outro filme mudo, de 1924, e grande parte das cenas de acção desse filme foram recicladas para esta versão. Michael Curtiz trouxe para este filme o seu vigor habitual, e entusiasmo, e o resultado é um fantástico filme de aventuras de piratas das caraíbas do século 17.
Ao longo do filme, Flynn cruza com um famoso pirata francês, interpretado por Basil Rathbone. Os dois têm um empolgante duelo de espadas numa praia, que é uma espécie de prelúdio para o duelo entre os dois mesmos actores em "The Adventures of Robin Hood", do mesmo realizador, feito três anos depois. Flynn foi uma grande descoberta para este tipo de papel. Os seus traços faciais afiados, a sua nobre mas confiante arrogância, os seus olhos expressivos, são perfeitos para o herói de acção Hollywoodizado, que marcaria o cinema nos 20 anos seguintes. A Inglaterra é mostrada como uma terra sem vida e sem graça, com os seus interiores pouco atraentes. As Caraíbas, por ouro lado, estão cheias de vida, e de tiroteios de navios. Este filme definiria os padrões para muitos  swashbuckers que se seguiriam, muitos deles com Flynn no papel de protagonista.

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sábado, 12 de julho de 2014

Piratas e Corsários

Um famoso pirata do século XXI

No século passado foram feitos dezenas de filmes sobre piratas. A começar pela era do cinema mudo, tornaram-se muito bem sucedidos entre o público, fazendo várias estrelas entre os seus actores, até por volta de meados da década de 50 quando o interesse começou a desaparecer, e Hollywood começou a afastar-se das suas produções. Os produtores desses filmes fizeram grandes esforços para construir enormes cenários, e construir navios realistas. Encenaram-se enormes batalhas aquáticas, filmadas  em exteriores verdadeiros. No entanto, poucos destes filmes dão um relato preciso sobre a vida destes piratas. A maioria deles eram baseados em ficção, alterando os factos históricos em prol das preferências das audiências. Também houve muitos escritores que entreteram gerações de leitores com histórias de ficção sobre piratas, da mesma forma que os filmes.
Vou pegar  num pedaço desta história do cinema, entre os anos 30 e 50, para conhecer um punhado destes filmes. 
Os filme que iremos ver, serão os seguintes:

Segunda: O Capitão Blood (Captain Blood, 1935), de Michael Curtiz

Terça: O Gavião dos Mares (The Sea Hawk, 1940), de Michael Curtiz

Quarta: O Cisne Negro (The Black Swan, 1942), de Henry King

Quinta: O Pirata (The Pirate, 1948), de Vincente Minnelli

Sexta: O Pirata Vermelho (The Crimson Pirate, 1952), de Robert Siodmak

Espero que seja do vosso agrado :)

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Memórias do Cárcere (Memórias do Cárcere) 1984



 Da esmagadora quantidade de filmes que retratam a ditadura militar no Brasil, sobretudo aqueles que se prestam a uma abordagem mais direta da questão, apenas uma minoria consegue escapar do estigma da tortura. Enquanto alguns empregam recursos narrativos ou de linguagem (cinematográfica) para sugerir o tema, outros só veem seu discurso validado, ou se encontram verdadeiramente respaldados, quando a prática é explicitamente explorada. O segundo exemplo sempre corre o risco de se tornar apelativo, especialmente quando mal trabalhado, ao apostar na empatia do público com os personagens na base da marra – basta pensar no uso de cobaias em pesquisas científicas, cujas imagens são suficientemente capazes de despertar repulsa mesmo em um círculo de entusiastas inflexíveis.
Embora Nelson Pereira dos Santos não tenha feito um filme da ditadura militar no Brasil ao adaptar Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos (ela já estava enfraquecida, mas não de todo exterminada), ele aproveitou a urgência da questão para resgatar o livro do autor alagoano que descreve sem rodeios sua experiência como prisioneiro durante o Estado Novo de Getúlio Vargas. Mesmo que a distância de quase 50 anos que separa os dois governos autoritários possa ter contribuído para corroborar com práticas mais duras de tortura, a ponto de justificar o seu emprego em produções da época (o assunto ainda estava saindo do forno), Nelson adota o discurso estoico de Graciliano Ramos, fundamentado no domínio da palavra e da escrita (na educação, no sentido mais amplo do termo), para condenar os procedimentos abomináveis praticados pelos agentes da lei em vigência. Nele, a violência física nunca é explicitada; sempre que ela está prestes a ser cometida, um fade out poupa o espectador do espetáculo lamentável. O diretor, contudo, não economiza negativo para mostrar a miséria da condição de vida dos presos, bem representada pela precária alimentação dos mesmos – que motiva o próprio Graciliano a se negar a comer o que era servido.
Das pouco mais de três horas de projeção, o filme se dedica quase que exclusivamente ao período em que Graciliano esteve encarcerado. Após uma breve aparição do mesmo em uma repartição pública do Alagoas, que registra a Intentona Comunista de 1935, seguida de uma cena em casa com a mulher (Glória Pires) e filhos, logo ele é encaminhado para o périplo de aproximadamente um ano por cárceres do país. Por meio dos presos que dividem o espaço com o escritor, sejam eles políticos ou comuns, Nelson traça um panorama da população brasileira com ênfase nos aspectos determinantes do nosso atraso, próprio dos países subdesenvolvidos. A ignorância funcional salta aos olhos, sobretudo na terceira e derradeira parte, quando os companheiros, e até mesmo os seus detratores, já reconhecem a fama dos seus escritos. A cena em que Graciliano (Carlos Vereza) faz a correção do texto dos comunistas, contracenando com Tonico Pereira, é hilária. Um tom mais grave é empregado quando uma autoridade lhe solicita um discurso para ser pronunciado na data do aniversário do diretor do presídio, a qual lhe é negada – a argumentação é perfeita, impecável, embora seja involuntariamente humilhante.
Sem amenizar o tom da jornada de sofrimento e punição, Nelson se serve da prosa de Graciliano Ramos para veicular o seu discurso, mais calcado na esperança de mudança do que na permanência da estupidez – vale lembrar que na época do lançamento do filme o movimento pelas “Diretas Já” estava a pleno vapor. No último terço do filme, em que Carlos Vereza encontra-se de cabeça raspada por exigência da direção carcerária, sua figura assemelha-se a de Gandhi, fragilizado pelos sacrifícios assumidos em prol da sobrevivência moral. Recolhido em um canto do presídio, sentado ao lado de uma valise com suas valiosas anotações, enfraquecido pela dieta sofrível imposta e venerado pelos seus semelhantes, bem como pelas autoridades que o mantiveram sob custódia, Graciliano Ramos emerge com o único resquício de dignidade capaz de ser preservado em ambiente tão hostil. Pena que o seu bastião configure ainda hoje material escasso em nosso país. Um dos grandes filmes brasileiros.
Por Rodrigo Duarte. Daqui.

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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Como Era Gostoso o Meu Francês (Como Era Gostoso o Meu Francês) 1971



No Brasil, em 1594, um aventureiro francês fica prisioneiro dos Tupinambás, e escapa da morte graças aos seus conhecimentos de artilharia. Segundo a cultura Tupinambás, é preciso devorar o inimigo para adquirir todos os seus poderes, no caso saber utilizar a pólvora e os canhões. Enquanto aguarda ser executado, o francês aprende os hábitos dos Tupinambás e une-se a uma índia e através dela toma conhecimento de um tesouro enterrado, e decide fugir...
Uma perspectiva insider/outsider semelhante ao trabalho de muitos antropologistas e realizadores de documentários - este era um dos muitos métodos utilizados por Dos Santos, para minar e interrogar constantemente a narrativa. Nenhum personagem em particular, sexo, ou cultura emerge mais "selvagem", nenhum ponto de vista dirige a acção, e nenhum herói, ou similar, tenta arrecadar a simpatia do público. Usando uma câmara "verité" naturalista, intecalando com textos históricos reais, o realizador desenvolve uma reavaliação completamente subversiva de histórias "oficiais" e mitologias. Perante assuntos que desafiam completamente a objectivação ou total compreensão,a audiência é obrigada a envolver-se activamente no que desejam consumir.
O filme é uma sátira, e não poupa farpas a nenhuma das partes envolvidas.Os portugueses são palhaços, vestidos com trajes medievais de cores berrantes, e as suas acções têm tanto de hipócrita como de repressivo. Tanto os portugueses como os franceses envolvem-se com as duas tribos nativas, que combatem entre si. Os Tupinambás fazem o ritual do canibalismo. O filme também pode ser uma sátira do "canibalismo cultural" do Brasil, uma dieta de cultura europeia e africana, que supostamente revitalizaram a cultura brasileira, produzindo samba e bossa nova. Mas o filme aponta que as tribos tupinambás e tupiniquins ficaram extintas logo depois destes acontecimentos fictícios terem lugar.

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quarta-feira, 9 de julho de 2014

Boca de Ouro (Boca de Ouro) 1963



Prepotente e cruel, Boca de Ouro manda arrancar todos os seus dentes para os substituir por uma dentadura de ouro. Ele também sonha ser enterrado num caixão de ouro, para compensar o trauma de ter nascido pobre, e a mãe o ter abandonado na pia da casa de banho. O filme começa por apresentar o protagonista, que acabara de ser assassinado. O repórter Caveirinha é designado para descobrir a verdadeira história sobre este bandido, e vai ter com a ex-amante que lhe conta três versões. Em todas estas histórias estão envolvidos Leleco, um malandro desempregado, a sua mulher, Celeste, e três ricaças.
Da sua primeira, de uma série de brilhantes adaptações literárias, e altamente imaginativas, Dos Santos reinventa o romance de Nelson Rodrigues, sobre um patológico gangster com sólidos dentes de ouro, e um voraz apetite por mulheres e dinheiro. Abraçando técnicas narrativas radicalmente modernas, "Boca de Ouro" oferece-nos um retrato fragmentado da brutal masculinidade que regressa repetidamente ao mesmo momento, a partir de diferentes pontos, cada vez revelando mais perspectivas inesperadas sobre este criminoso brutal, mas estranhamente encantador. Filme perturbador, é uma sátira selvagem ao casamento e às pretensões das classes, revelando uma venalidade similar a um coração corroído da burguesia hipócrita, a elite endinheirada e a classe trabalhadora, como todos eles tentam subir impiedosamente a escada hierárquica brasileira.
A história é de facto um film noir, muito amoral, como toda a obra de Nelson Rodrigues, que relembra vagamente o argumento de "Rashômon" (a mesma história contada de diferentes perspectivas). Jece Valadão é perfeito no papel do ambicioso gangster. 

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terça-feira, 8 de julho de 2014

Vidas Secas (Vidas Secas) 1963



Em 1941, pressionados pela seca, Fabiano, Sinhá Vitória, o filho mais velho, o filho mais novo e a cadela Baleia, atravessam o sertão em busca de meios para sobreviver. Ao seguir um rio seco chegam a uma casa abandonada nas terras do fazendeiro Miguel, quando de repente cai uma chuvada. Com a recuperação dos pastos, o fazendeiro traz o gado de volta, e a principio repele esta família, mas Fabiano diz que é vaqueiro, e a família pode ajudar em vários serviços. Então são aceites...
Muito aclamado como uma obra de arte do início do Cinema Novo, "Vidas Secas" é baseado no clássico romance de Graciliano Ramos, acerca de uma família de sem-terra, a lutar contra as condições de vida extremas, do deserto do Nordeste Brasileiro. Dos Santos concede um tratado sobre a reforma agrária com poucos meios de produção, e poucas palavras.O diálogo que é falado, é muitas vezes menos articulado do que a terra é árida, assim como as visões das de cada um dos personagens, incluindo o cão fiel. À mercê dos caprichos contraditórios da Natureza, do Destino, e da Autoridade, a família segue alguns vislumbres de esperança, para tentar sobreviver.
O filme de Pereira dos Santos tem um efeito semelhante a Terra Sem Pão, de Buñuel: sentimos que passamos pelo realismo para chegarmos a algo de diferente, a algo abstracto, mas, mesmo assim, poderoso. Uma conversa final entre o marido e a mulher aponta para uma possibilidade de mudança, mas, naquela altura, vimos já demasiado para nos atrevermos a imaginar uma solução fácil. Foi nomeado pelo  British Film Institute como uma das 360 obras fundamentais numa cinemateca, e foi o primeiro filme brasileiro a ganhar um prémio em Cannes: o Ocic Award.

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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Rio 40 Graus (Rio 40 Graus) 1955



Semi-documentário que acompanha a vida de cinco jovens, moradores de uma favela do Rio de Janeiro, que num domingo tipicamente Carioca, de sol escaldante, vendem amendoins no Pão de Açucar, Copacabana, e no Maracanã.
Influenciado pelo neo-realismo italiano, e por um ardente desejo de criar uma marca de cinema totalmente envolvida com as duras realidades da luta de classes, e o terrível problema da pobreza no pós Segunda Guerra Mundial no Brasil, Dos Santos decidiu fazer um retrato dinamicamente abrangente do seu país, da cidade mais icónica, Rio de Janeiro, com filmagens em exteriores usando um elenco de não profissionais. Ao dar uma atenção sem precedentes às favelas, no coração do Rio de Janeiro, Nélson Pereira dos Santos oferece uma visão alternativa da cidade, como um cenário despojado para a sua narrativa, seguindo um domingo de cinco jovens negros, cada um a precorrer um diferente bairro do Rio, para humildemente vender o seu produto. O primeiro filme de Dos Santos veio a ser um lançamento dramático da sua carreira, quando a estreia do filme veio a ser abruptamente interrompida por agentes federais, que acusar "Rio 40 Graus" de ser de propaganda comunista, e apresentar uma imagem negativa do Rio. Posteriormente, debates sobre a proibição do filme inflamaram no Congresso Nacional e em todo o país, até que a decisão foi anulada. Retrospectivamente anunciado por Glauber Rocha como o primeiro filme verdadeiramente revolucionário do mundo em movimento, "Rio 40 Graus" não foi apenas o primeiro filme a lidar com o problema das favelas, como viria a ser um filme icónico e importante do cinema brasileiro, mas também um dos primeiros a lidar abertamente com a estratificação de classes e raças na sociedade brasileira.
O Brasil vivia o tenso período do governo Café Filho, que passou a governar depois do suicídio de Getúlio Vargas (durante as filmagens), e preparava-se para eleger Juscelino Kubitschek, não sem ameaças de golpe de estado. Durante três meses, abaixo-assinados, dentro e fora do Brasil, lutaram contra a censura. Rio, 40 Graus teve sessões clandestinas para artistas e intelectuais (entre os quais, os escritores Jorge Amado, Manuel Bandeira e Menotti del Picchia). Tornou-se uma questão nacional. O fim da proibição só aconteceu em Dezembro. A estreia, em março de 1956. Teve boa repercussão internacional, com elogios do crítico francês André Bazin, o mais importante do período, já conhecido pela defesa do estilo realista no cinema.

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domingo, 6 de julho de 2014

Nélson Pereira dos Santos

Seria impossível menosprezar a enorme influência de Nélson Pereira dos Santos ao longo do dramático curso do moderno cinema brasileiro. Ao longo da sua carreira, tremendamente prolífica e que abrange mais de metade de um século, Dos Santos dedicou-se ao cinema com um envolvimento político e populista, produzindo obras tão clássicas como Rio 40 Graus, Vidas Secas, ou Como Era Gostoso o Meu Francês. Partilhar a inovação estilística e a ousadia é uma das imagens de marca do realizador, e os seus filmes são verdadeiros marcos a oferecer explorações verdadeiras sobre questões socio-políticas - desigualdade das classes, pobreza, racismo - usando exteriores que vão desde as favelas do Rio de Janeiro a regiões mais remotas e áridas do nordeste, mostrando dialectos locais para apresentar uma visão mais nua, crua e autêntica do Brasil, a partir de perspectivas distintas. Abrangendo uma extraordinária gama de estilos e géneros, desde o documentário neo-realista  ao cinema avant-grade Dos Santos construíu uma obra notável.
Nascido em São Paulo, no seio de uma família de origem italiana, extremamente cinéfila, Dos Santos apenas descobriu a sua vocação para o cinema depois de completar os estudos universitários, primeiro na advocacia, e depois no jornalismo. Depois de um breve estágio no cinema comercial, Nelson Pereira dos Santos conseguiu acabar a sua primeira longa-metragem, "Rio 40 Graus", que o colocava imediatamente no centro de um intenso debate sobre a responsabilidade ideológica e cultural do cinema  e das artes populares para representar a nação. Esta experiência, e um breve período a estudar e a viajar pela Europa, convenceram Dos Santos da necessidade de permanecer resolutamente independente, em estilo e espírito, de qualquer doutrina oficial, uma atitude que iria marcar todos os seus filmes como realizador ou argumentista. Pela sua dedicação inabalável a um tipo de prática neo-realista, pela sua independência intransigente como realizador e produtor, mas acima de tudo pela sua incansável busca por temas essencialmente brasileiros, Dos Santos é creditado como ter marcado o caminho para o crescimento do Novo Cinema Brasileiro, na década de 60. Ao ponto de realizadores como Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Andrade considerarem Nélson como o seu líder espiritual.

Aqui ficam os filmes que poderão ver esta semana.

Segunda: Rio 40 Graus (1955)

Terça: Vidas Secas (1963)

Quarta: Boca de Ouro (1963)

Quinta: Como Era Gostoso o Meu Francês (1971)

Sexta: Memórias do Cárcere (1984)

sábado, 5 de julho de 2014

O Bom, O Mau, e o Vilão (Il Buono, il Brutto, il Cattivo) 1966



Blondie (o Bom), é um pistoleiro profissional a tentar ganhar uns cobres. Angel Eyes (o Mau), é um assassino que sempre que se compromete com uma tarefa, leva-a até ao fim. E Tuco (o Vilão), é um bandido com a cabeça a prémio, que tenta fazer pela vida. Tuco e Blondie fazem uma parceria para receber o dinheiro da recompensa de Tuco, mas quando Blondie acaba com a parceria, Tuco vai atrás dele. Quando Tuco e Blondie cruzam com uma carruagem cheia de cadáveres, ficam a saber, pelo único sobrevivente, que outros homens enterraram um carregamento de ouro numa campa no interior de um cemitério. Infelizmente o homem morre, e Tuco fica a saber apenas o nome do cemitério, enquanto Blondie sabe o nome da campa. Os dois têm de se manter vivos para chegar ao Ouro, mas Angel Eyes segue no seu encalce, e sabe que os dois procuram o ouro.
Introduções não são necessárias para este grande épico de Sérgio Leone, o maior de todos os western spaghetti. Apesar dos dois filmes anteriores da trilogia dos dólares serem bastante bons, seria com "O Bom, o Mau, e o Vilão" que Leone atingia a perfeição, desde a realização, a fotografia de Tonino Delli Colli, o casting impecável, e uma das mais memoráveis bandas sonoras de todos os tempos.

Antes dos westerns de Leone, o cinema tinha a velha fórmula dos bons contra os maus, com um duelo no final. Enquanto Leone tinha uma admiração por realizadores como Hawks, Mann ou Ford, ele também tinha uma certa aversão pela ideologia de Hollywood, onde aparecia alguém como John Wayne para salvar o dia, com uma certa moral irrealista. Na mente de Leone, não havia bons nem maus, era cada um por si até ao duelo final. Este ponto de vista era muito interessante, e fazia muito mais sentido, sendo mais realista. Mas para além de apreciar estes grandes realizadores americanos, Leone também gostava de cinema japonês, mais propriamente Kurosawa. O resultado do trabalho de Leone, misturando estas duas culturas, foi ter dado ao western uma sensação operática.
Na altura do seu lançamento o filme foi um pouco criticado, em grande parte por causa da violência, mas também por causa da atitude desrespeitosa que os realizadores italianos tinham perante o western, mas depois acabaria por revitalizar o género, e continua a ser, mesmo perante muitos que não gostam do western, como um dos seus filmes preferidos. Eastwood é claramente a estrela do filme, mas a sua personagem é limitada pela falta de um fundo próprio, e também por já ter sido (e muito bem) explorada nos dois filmes anteriores. É na realidade o personagem de Eli Wallach, Tuco, que carrega o filme, e que nos guia perante os acontecimentos. Se Wallach mereceu alguma nomeação aos Óscar, deveria ter sido aqui.

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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Lord Jim (Lord Jim) 1965



Baseado num conto de Joseph Conrad, "Lord Jim" é uma história de um homem em busca de redenção, por um acto de covardia que surgiu a partir da própria fragilidade humana. "Lord Jim" conta com Peter O'Toole na pele do personagem do título, um jovem oficial na Marinha Mercante, que se desgraça ao abandonar o navio. Desonrado procura uma forma de aliviar o seu erro, não apenas perante os olhos da marinha inglesa, mas também perante si próprio. Entretanto, recebe a dura missão de entregar um carregamento de dinamite, algures num local desconhecido do Oriente, e acaba por se unir aos nativos locais na sua luta contra O General (Eli Wallach), um rude opressor. Pelo caminho ele conhece Brown (James Mason), um pirata que tem um plano misterioso e que irá colocá-lo em confronto com o seu verdadeiro destino.
Realizado por Richard Brooks, no auge da sua popularidade, durante a década de sessenta, "Lord Jim" é um filme que viveu na sombra de uma outra grande obra interpretada pelo mesmo protagonista, Peter O´Toole. Estou a falar, é claro, de "Lawrence da Arábia", de David Lean. Há uma relação simbiótica entre estes dois filmes, isto porque a personagem do romance de Conrad deu a hipótese a O'Toole de trabalhar mais um anti-herói, igualmente forte e mentalmente desgastante. O filme de David Lean era um exercício de poética cinematográfica, construido sobre uma estrutura de estudo de personagem, Brooks oferece uma estrutura filmíca rigorosa. Enquanto as versões anteriores de Brooks de obras de Dostoyevsky, Williams, e Fitzgerald foram prejudicadas pelos caprichos de Hollywood, "Lord Jim" abriu-lhe uma janela para ele fazer o filme que quisesse, sem falsos finais felizes impostos, mas a sua visão acabou por irritar mais gente do que era esperado.
Estilisticamente, Lord Jim é um retrato da técnica cinematográfica em transição, dividida entre a mística de Hollywood e autenticidade de uma abordagem mais moderna. Não foram apenas as raízes de Conrad que fazem "Lord Jim" parecer um precursor de Apocalypse Now, entre outros, mas o seu desejo de se envolver mais a sério em temas como a raça e a sexualidade, política e o carácter pessoal, deixam o filme um pouco abaixo das suas expectativas. Ainda assim é um grande épico da década de 60.

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quarta-feira, 2 de julho de 2014

Os Sete Magníficos (The Magnificent Seven) 1960



Um bandido aterroriza uma pequena aldeia mexicana. Os habitantes mais velhos enviam três camponeses para os Estados Unidos, para encontraram pistoleiros para os defenderem. Conseguem apenas sete, e cada um concorda em ajudar por diferentes razões. É preciso preparar a cidade para se defender de um exército de 40 bandidos, que vai chegar para lhes roubar a comida.
"The Magnificent Seven", é uma americanização do magistral épico japonês, "Os Sete Samurais", de Akira Kurosawa, e na verdade não lhe fica muito atrás. Não apenas inspirou muitos westerns futuros, mas revitalizou a popularidade dos westerns na década de 60. Como é lógico o filme de John Sturges não compete com o de Kurosawa em termos de destreza visual e complexidade temática, mas ainda assim é uma história de aventuras empolgante, que não só inclui um elenco brilhante, mas também explora algumas das contradições mais profundas do nobre mítico bandido, que era tão importante para o western americano.
Sturges conduz o filme com grande eficiência, não desperdiçando um frame, ou uma linha de diálogo ao longo de todo o filme. Isto garante um ritmo rápido, e um maior envolvimento do do público, ainda que sacrificasse algumas das qualidades humanas que fazem de "Os Sete Samurais" um filme tão distinto.
Eli Wallach faz um excelente trabalho no papel de Calvera, o chefe dos bandidos mexicanos, mostrando o quanto próximos eles estava dos membros dos Sete Magnificos. Afinal eles são todos pistoleiros e bandidos, e a única diferença é o lado da linha em que eles estavam aqui. Isto faz o filme ser muito mais complexo do que aparenta, uma vez que torna cada vez mais difícil fazer as distinções entre o bem e o mal. Claro que somos sempre levados a optar pelo lado dos Sete Magníficos, mas somos constantemente lembrados que eles são bandidos sem vínculo aquela terra, família, nação. Algo que era habitual nos heróis dos westerns americanos, mas nunca conscientemente explorado.
Uma nota final para os actores que fazem de sete magníficos: Yul Brynner, Steve McQueen, Charles Bronson, Robert Vaugh, Brad Dexter, James Coburn, e Horst Buchholz.

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terça-feira, 1 de julho de 2014

O Homem do Revólver Silencioso (The Lineup) 1958



Em São Francisco, dois polícias estão de serviço quando um taxista, com a ajuda de um cúmplice, consegue roubar uma mala de um coleccionador de antiguidades. O taxista atropela um policia, mas é abatido a tiro. Os policias descobrem que dentro da mala há uma estátua contendo heroína. Entretanto, um gangster psicopata e o seu mentor, têm o trabalho de recolher outras malas com heroína. Tudo corre bem, até que eles tentam recuperar a heroína de uma boneca japonesa.
O "filme de detectives" foi um movimento que apareceu a partir do "film noir", e o veio substituir com alguns anos de popularidade. Foi também um sucesso no cinema, como foi na televisão, e houve alguns cruzamentos entre estes dois média, com alguns filmes a tornarem-se séries, e vice-versa, e neste caso em particular, foi elaborado a partir de uma série com o mesmo nome. No entanto, enquanto séries como Dragnet nunca conseguiram fazer grande sucesso na grande tela, "The Lineup" acabou por se tornar num filme de culto, cuja reputação durou muito para lá do término da série na TV.
Muitas pessoas não sabiam que existia uma série de TV antes deste filme, e que apenas uma das suas estrelas migrou da série para o cinema, mas existe uma tensão clara entre a obstinada determinação da polícia e os vilões, que são muito violentos, e mais centrais do que a própria polícia, nesta história. O filme divide-se em duas partes, com os detectives a seguirem o que parecer ser uma operação de contrabando de heroína, e os criminosos que estão também a ser perseguidos por outros vilões. 
Os criminosos são interpretados por uma dupla bastante estranha: Eli Wallach (num dos seus raros filmes como protagonista), e Robert Keith. Don Siegel dirige a acção com mão segura, e um argumento de Stirling Silliphant muito bem trabalhado.

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