sábado, 28 de fevereiro de 2015

Vou Para Casa (Vou Para Casa) 2001



Gilbert Valence é um actor de teatro, e o seu talento e a sua carreira deram-lhe os papéis mais importantes que um actor pode desejar. Uma noite, no fim de uma representação, a tragédia irrompe na sua vida; o seu agente e velho amigo, Georges, diz-lhe que a sua mulher, a filha e o genro acabaram de falecer num acidente de viação.
A tristeza tarda em chegar, mas, lá mesmo no fim, alvorece. É num daqueles planos mágicos de que Oliveira e muitos poucos outros detêm o segredo, quando o miúdo vêm à porta e, entre ombreiras, vê o avô subir a escada. De súbito o seu rosto tolda-se e fica assim, traçado a mágoa, antes que o escuro aconteça, o genérico final desponte e uma musiquinha de maquineta sublime ainda mais, na sua graciosidade, o que acabámos de ver. O grande actor envelhecido vai repousar, dissera ele, o mais provável é que vá para morrer, já que cumprindo-se no filme o que a peça de Ionesco anunciara na sua abertura, ninguém nasce para sempre.
Depois de "Viagem ao Princípio do Mundo" e antes de "Porto da Minha Infância", Manoel de Oliveira, encara, ainda uma vez, a morte. Não o colapso, o momento terminal, o ataque cardíaco, o último suspiro, melodramatismos em que não está interessado.  Antes, a morte em trabalho.
"Vou para Casa" é um filme de cumplicidade. De cumplicidade entre um cineasta e um actor, ambos com respeitadíssimas idade e carreira (Oliveira com 92 anos de idade e 70 de profissão, Piccoli com 76 de idade e 52 de actividadade) que enfrentam o inominável, numa parceria onde o humor e a ironia sábia dão cartas e há uma serenidade sem angustias. Só essa cumplicidade muito estreita permite aquele longo plano em que o actor é maquilhado, rejuvenescido, para efeitos de cinema e transformado num boneco assaz ridículo. Só um entendimento partilhado da vida permite concede essa cena em que se fala de solidão e se mostram sapatos. E, depois, "Vou Para Casa" é um filme de cinema. Com maiúscula, vale o atrevimento, porque não há muitos exemplos actuais de cometimentos que só o cinema propicia, da exploração do fora-de-campo e do tempo de um plano, das modificações de um rosto, da potencialidade de narrar imenso sem palavras.  (In Expresso - 22-9-2001).

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Benilde ou a Virgem Mãe (Benilde ou a Virgem Mãe) 1975



No Alentejo, numa grande casa isolada, suspeita-se que a filha dos proprietários, Benilde, está grávida. O médico, chamado em segredo pela governanta, Genoveva, confirma o seu estado de gravidez. Mas Benilde jura que não conheceu homem algum, e que se está à espera de um filho é por vontade de um Anjo de Deus.
Um vagabundo circunda a casa, com uivos tremendos, sem nunca ser visto. A convicção de Benilde da intervenção divina, perturba todos à sua volta, particularmente a sua tia que procura explicações mais razoáveis. Benilde anuncia a Eduardo, seu noivo, destruído pelos factos, que vai morrer em breve. Na hora da morte diz-lhe que em breve se encontrarão.
"Segundo painel da "tetralogia dos amores frustrados", "Benilde" contrasta com "O Passado e o Presente" pela estática teatralidade com que é filmado, em respeito total ao texto.
Do único décor - a casa de Benilde - , Oliveira só sai duas vezes: no início, quando um fulgurante travelling atravessa o espaço imenso e vazio do estúdio de cinema até entrar por um quadro (paisagem do Alentejo) na cozinha-estúdio do primeiro acto da peça. No final, quando, após a morte de Benilde, a câmara se eleva e regressa ao estúdio vazio por um buraco existente no tecto. É o cinema que invade o teatro, num jogo de alçapões e sótãos, como se sob a profundidade do primeiro se escondese o espaço do segundo. E é dos subterrâneos do cinema que emerge essa história erótica e mística em que é legítimo ver-se também a parábola do país perdido que fomos e somos e a impossibilidade de rapidamente o transformar.
Na sua única alteração à peça, Oliveira fez abrir as janelas e entrear o vento na cena capital em que uma tia de Benilde a acusa de hipocrisia e mentira. O vento varre a sala e decompõe a personagem que a custo volta a fechar a janela. "Benilde" é esse espaço fechado que não se deixa varrer, é essa claustrofobia onde o ar não chega, é esse mundo que só existe enquanto clausura. É um filme de "estado de sítio". De tudo o que se passou em Portugal, entre a tacanha paz de Salazar e a espúria agitação de 75, talvez seja, por muitos ínvios caminhos, o mais profundo retrato."
 João Bénard da Costa, in Histórias do Cinema, col. Sínteses da Cultura Portuguesa, Europália 91, ed. Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1991.

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Acto da Primavera (Acto da Primavera) 1963



"Este filme surgiu, quando Oliveira andava por Trás-os-Montes à procura de moinhos que satisfizessem o seu imaginário para fazer um filme sobre o pão. Aconteceu que numa dessas viagens encontrou junto à estrada 3 grandes cruzes em madeira tosca. Curioso por saber a sua utilidade, depressa lhe disseram que serviam para uma festa popular, sobre a paixão de Cristo.
Oliveira neste filme mostra-nos um jogo entre a vida material, a mundaneidade de um homem que se julga imortal e um outro homem frágil, crente e submisso a Deus, que será a sua salvação. É entre este jogo carnal, espiritual que Oliveira dá um toque de sensibilidade, quando Maria Madalena beija os pés de Cristo, deixando os seus cabelos deslizarem sobre a pele dos pés. Por outro lado, é a submissão do homem a Deus e por outro, um acto de carinho, compaixão, por um homem igual aos outros que está ali a sofrer pelos outros homens.
 Numa outra instância, é a transfiguração de uma festa secular, enraizada num povo, numa cultura cristã , da qual Manuel de Oliveira comunga em profundidade por ser cristão. É um elogio do realizador às pessoas daquela região. Gente virada para o cultivo da terra e para o cultivo de Deus - ser omnipotente, que tudo lhes concede e lhes tira.
É preciso não esquecer que este é o segundo filme de ficção de Oliveira e apesar de mais uma vez o público não ter correspondido a mais uma obra de Oliveira, ou por incompreensão, ou por não gostar, a verdade é que este foi sem dúvida mais um grande filme deste cineasta portuense." Daqui

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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Cinema Português

A partir de agora, e nos próximos sete dias, vamos entrar em modo: Cinema Português.
Fiquem atentos, que vai haver boas surpresas.


O Corvo (Le Corbeau) 1943



Uma viciosa série de cartas anónimas espalham rumores, suspeições e o medo entre os habitantes de uma pequena aldeia do interior de França, e uma após outra, elas revoltam as pessoas umas contra as outras, revelando segredos muito bem escondidos, mas o único segredo que não é revelado é a identidade do autor das cartas...
"Le Corbeau" é um filme obscuro e feroz, duas das características principais dos filmes do seu autor, Henri-Georges Clouzot. Feito em 1943, no auge da ocupação alemã em França, e originou assim muito controvérsia durante e depois da guerra, já que Clouzot não pintou um retrato da burguesia muito favorável. A luz é a metáfora principal do filme. Uma lâmpada a balançar marca o limite da linha entre o bem e o mal, simbolizando tanto o conflito interno entre as pessoas, como as batalhas exteriores a um nível social. Esta moralidade relativista é o núcleo de um filme construído sobre a feiura, a mentira e a corrupção, como uma pequena localidade da província é dilacerada por um misterioso anónimo que se auto-intitula "Corbeau", que metodicamente expõe todos os segredos mais sombrios dos habitantes da cidade.
Clouzot foi criticado tanto pelo governo da extrema-direita de Vichy, como pelo movimento da resistência ou ainda pela igreja católica. O jovem realizador, ainda no seu segundo filme, foi proibido de filmar durante alguns anos, mesmo depois da libertação francesa, acusado de ter criado um filme anti-francês e de propaganda Nazi (foi produzido por uma companhia alemã, e o próprio realizador era acusado de ser um colaborador), mas o argumento tinha sido escrito seis anos antes por Louis Chavance. Felizmente, muitos intelectuais franceses defenderam o filme, como Jean Cocteau ou Jean-Paul Sartre, e o ban seria levantado poucos anos depois, acabando o filme por ser reconhecido como uma fábula anti-Gestapo, e também anti-informantes.
Tem um ambiente propício de um genuíno filme Noir, mas o Noir só seria descoberto depois da Segunda Guerra Mundial. É um filme que emerge directamente a partir do período de ocupação alemã. É sem dúvida uma das maiores obras do cinema francês que merece ser partilhado. É baseado em eventos verdadeiros ocorridos na década de 20.

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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Dia de Cólera (Vredens Dag) 1943



No início do século 17 a Dinamarca é atravessada pelo medo da bruxaria. Uma velha mulher pede a Anne, a jovem esposa de um pastor, para a esconder, mas ela é capturada, torturada e queimada por alegadamente praticar bruxaria. Quando o filho do pastor, Martin, regressa a casa, fica fascinado pela beleza da madrasta, e acabam por se apaixonar os dois. O amor de Anne por Martin torna-se tão intenso que chega a desejar que o marido morra...
O realizador Carl Theodor Dreyer é conhecido pelo ambiente austero dos seus filmes, e pela sua abordagem de assuntos como a fé e o sofrimento humano. Uma década depois do seu famoso filme, "Vampyr",  ele fez um filme que é celebrado por muitos como a sua verdadeira obra-prima, o seu trabalho mais representativo do Dreyer homem, e do Dreyer cineasta. Passado durante o período da caça ás bruxas no século 17, Dreyer mostra-nos uma comunidade atormentada pelo medo. Por um lado, medo de serem acusados de bruxaria e serem brutalmente assassinados pela comunidade, por outro lado, medo de serem tentados pelo diabo, e serem atirados para o inferno por toda a eternidade. O filme foi feito durante a ocupação Nazi da Dinamarca, durante a Segunda Guerra Mundial, e é difícil não ver os paralelismos destas duas realidades.
"Vredens Dag" faz parte de uma trilogia com "The Passion of Joan of Arc (1928) e Ordet (1955). O que os três filmes têm em comum é uma crença no espírito humano para suportar qualquer calamidade, através ou em vez da religião. "Vredens Dag" é o mais obscuro dos três, o mais pessimista, mas Dreyer ainda consegue transmitir que o sofrimento mortal é transitório e que o sentimento humano é eterno e vai triunfar no fim. Os três filmes mostram a religião de um modo muito irónico, talvez subversivo. O subtexto escondido, é que a religião é um grande mal para a humanidade, ao passo que a fé é a sua grande salvação. As consequências da aderência cega à religião estão bem aparentes neste filme. Por contraste, Dreyer retrata a verdadeira fé com o mais nobre dos sentimentos: a vontade de transcender o "agora" e o "aqui", libertando todo o caos e o tumulto das vidas na terra.

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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Expresso de Munique (Night Train to Munich) 1940



Quando os alemães marcham para Praga o inventor de armamento, Dr Bomasch, foge para Inglaterra. A sua filha Anna (Margaret Lockwood), foge da prisão para se juntar a ele, mas o líder da Gestapo consegue raptá-los e enviá-los de novo para Berlin. À medida que a guerra se desenvolve o agente secreto britânico Gus Bennet (Rex Harrison), segue-os disfarçado de oficial alemão.
De certa forma este é o protótipo dos primeiros tempos do thriller de espionagem britânico, antes dos bombardeamentos começarem a sério, antes do V-12, antes da extensão do Holocausto ser conhecida, por outras palavras, foi feito no tempo em que o filme de espionagem podia ser uma aventura divertida, um desafio à masculinidade e ao poder britânico. Continuava a ser uma questão de vida ou de morte, mas era possível que com a inteligência podia-se derrotar os alemães. É um filme muito mais light do que os filmes cinzentos realizados no pós-guerra pelo mesmo Carol Reed, como "The Third Man". Esta versão de Munich da Segunda Guerra Mundial servia muito mais como cenário alarmante do que como um desafio visceral à moralidade da espécie humana. Esta abordagem de Reed é um pouco cómica, e teve sucesso mais graças ao excelente elenco do que propriamente ao argumento.
"Night Train to Munich" tem muito a partilhar com um filme de Alfred Hitchcock, realizado no ano anterior "The Lady Vanishes". Tês membros do elenco, os argumentistas Frank Launder e Sidney Gilliat, uma história à volta de uma intriga internacional, e uma extensa sequência a bordo de um comboio. Há um bom balanço entre comédia e acção, e o filme também funciona bem como veículo de propaganda para a entrada da Inglaterra na guerra.

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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Correspondente de Guerra (Foreign Correspondent) 1940



Johnny Jones (Joel McCrea) é o correspondente de um jornal de Nova Iorque, que viaja para a Europa sob o pseudónimo de Huntley Haverstock, quando a Segunda Guerra Mundial estava prestes a rebentar. Chega primeiro a Londres mas logo depois está em Amsterdão, onde testemunha o assassinato de Van Meer (Albert Bassermann), um diplomata holandês. Entretanto ele descobre que quem morreu foi um sósia, e que Van Meer na verdade foi raptado pelo inimigo, que pretende arrancar dele alguns segredos. Jones entra em desespero porque a sua história é um bocado absurda, e ninguém acredita nele, e ao mesmo tempo o inimigo pretende matá-lo.
Embora "Foreign Correspondent" seja um dos filmes menos conhecidos de Alfred Hitchcock, (apesar das suas seis nomeações aos Óscares, que perderia para outro filme seu, "Rebecca"), é normalmente esquecido entre as listas de clássicos do realizador, sendo inclusivé considerado um filme de série B por alguns fãs, é, no entanto, um dos seus filmes mais eficientes no que diz respeito a entretimento. Podemos encontrar aqui algumas cenas clássicas, como a perseguição através de uma multidão de chapéus de chuva, a sequência nos moinhos de vento holandeses, a queda da torre da Catedral Westminster, e o clímax que incluí uma queda de um avião no oceano, sequência que parece bem feita demais para os seus dias. A ausência de popularidade deste filme talvez se deva à escolha dos protagonistas, Joel McCrea e Laraine Day, que,de facto não se identificam muito com os habituais protagonistas do realizador (a primeira escolha era Gary Cooper e Joan Fontaine).
Há uma tendência propagandista no filme, começando no título americanizado, que se desmascara a si próprio no argumento de Ben Hetch, Charles Bennett e Joan Harrison, apesar de Hetch não aparecer creditado. Durante o epílogo, mostrando o bombardeamento de Londres, faz-se a sugestão que os Estados Unidos se deviam preparar para um conflito armado, e que teriam de ser eles a ser os bastiões da paz num mundo prestes a ficar em chamas. O verdadeiro bombardeamento a Londres pelos alemães registou-se apenas três dias antes do lançamento do filme.
Embora o argumento estivesse em desenvolvimento há vários anos, estava bem em sintonia com os tempos caóticos em que foi feito. O filme é um precursor de um futuro grande êxito de Hitckcock, "North by Northwest", e quase tão divertido.

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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Alexander Nevsky (Aleksandr Nevskiy) 1938



Sobretudo, é um excelente pedaço de propaganda histórica sobre o espírito guerreiro russo, como ele liga o passado e o presente através da expressão do patriotismo. É passado no século XIII, numa altura em que os russos estão a ser invadidos por forasteiros. O heróico, piedoso, e inocente príncipe Alexander Nevsky (Nikolai Cherkasov) derrota os invasores suecos e é declarado herói nacional. Logo depois derrota os mongóis graças às suas lendárias habilidades de batalha. Finalmente ele consegue unir o povo de  Novgorod, para combater uns invasores mais sinistros: os alemães. Na primavera de 1242, com a ajuda dos seus comandantes Vasili (Nikolai Okhlopkov) e Gavrilo (Andrei Abrikosov), atacam o adversário alemão numa sangrenta batalha no gelo.
Ajudado pela enorme banda sonora de Sergei Prokofiev, e uma carismática interpretação de Cherkasov no papel do cavaleiro corajoso e salvador do seu país, e pelas cenas de combate espectaculares, que resultam num épico histórico intemporal, e como uma homenagem ao espírito da humanidade de lutar pela liberdade. O filme foi retirado por Stalin dos cinemas na altura em que foi lançado por causa da assinatura de um pacto germânico-soviético, mas quando os Nazis, um ano e meio depois, quebraram o pacto e invadiram a URSS, o filme foi colocado de novo em exibição, e com muito êxito.
A ligação entre os teutões alemães do século 13 e o exército Nazi do século 20 era por demais evidente, e essa foi a razão pela qual Stalin em primeiro lugar baniu o filme, por estar consciente do quanto poderoso o filme era, ao caracterizar os alemães como animais. Eisenstein era incapaz de fazer um filme que não fosse uma complexa obra de arte, e consegue juntar todo o seu talento em "Alexander Nevsky", um filme que, narrativamente falando, é um dos seus mais simples.

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domingo, 22 de fevereiro de 2015

O Triunfo da Vontade (Triumph des Willens) 1935



"O Triunfo da Vontade" mostra-nos muitos membros do Partido Nazi assim como soldados, marchando ao som de música clássica, cantando, jogando e cozinhando; também inclui trechos sonoros de discursos dados por vários conselheiros para Adolf Hitler, porções de discursos do próprio Hitler. O filme tenta mostrar como os alemães mostravam a sua lealdade à pessoa de Hitler.
Documentário altamente controverso da demonstração do poder Nazi nos anos que antecederam a guerra. Ao mesmo tempo é um filme grande e poderoso, elogiado pelo mundo do cinema, que tem sido uma influência incalculável ao longo dos anos, para caminhos cinematográficos posteriores, fossem eles documentários ou obras de ficção. No entanto, ao mesmo tempo, é igualmente detestado, visto como uma ameaça (ainda é proibido na Alemanha, fora do estudo académico), visto como uma glorificação do mal, e até mesmo julgado como não sendo um documentário de todo.
No ano de 1934 Leni Riefenstahl foi convidada por Hitler para filmar uma conferência/comício de 4 dias em Nurenberga, tendo sido lhe dada ajuda nunca antes vista num único filme. E foi graças à ajuda de Hitler que forneceu a Riefenstahl tanta ajuda, que o filme chegou a ser considerado o mais documentário até então filmado. É lógico que o objectivo de Hitler era fazer uma demonstração do poder que então tinha.
Qualquer que seja a nossa opinião, é inegável a mestria técnica aqui vista. Uma equipa de mais de 170 técnicos foram utilizados nas filmagens (16 equipas de operadores de câmeras), e foram filmadas cerca de 60 de imagens, que foram editadas no final, para a impressão final que resultou num filme com quase duas horas.
Riefenstahl, inevitavelmente tornou-se numa das figuras mais controversas da história. Em entrevistas posteriores ela insistiu que tinha ficado fascinada pelo Nazismo, mas politicamente era ingénua, e ignorava as falhas cometidas na guerra, uma posição que alguns dos seus críticos consideraram rídicula.

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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Sob a Influência da Guerra

1939/45: Segunda Guerra Mundial. Muitos constrangimentos foram criados para o mundo cinema dos países envolvidos nesta guerra. Neste período de tempo, não se deixou de fazer cinema, apesar da censura, das demandas de propaganda, da devastação das batalhas, da diminuição dos recursos, muitos realizadores em ambos os lados do conflito conseguiram fazer filmes, em alguns casos autênticas declarações pessoais sobre a guerra.
Surgiu-me a idéia de fazer um ciclo, não sobre a Guerra porque isso ficará para outra altura, mas de filmes que de algum modo tenham sido feitos sob a influência desta. Quer seja sobre os bastidores, ou seja sobre a guerra de espionagem vista em filmes como "Foreign Correspondent" de Hitchcock, ou "Night Train to Munich", de Carol Reed, quer seja em filmes onde o tema da guerra esteja escondido, apenas visto subtilmente, mas que esteja bem presente, como em obras como "Le Corbeau" de Clouzot, ou "Vredens Dag", ambos filmados durante a ocupação Nazi. 
Cada um destes seis filmes que iremos ver são originários de um país diferente. Deixei de fora a Itália, de quem já tínhamos visto alguns destes filmes no ciclo Viagem a Itália, sobretudo os de Rosselini, mas tinha de incluír a grande causadora da guerra, a Alemanha, de quem iremos ver o maior filme de propaganda Nazi, "Triumph des Willens", apesar de ter sido realizado alguns anos antes da guerra começar.

Sendo assim, esta é a programação desta semana:

Domingo: "Triumph des Willens" (1935), de Leni Riefenstahl

Segunda: "Aleksandr Nevskiy" (1938), de Sergei M. Eisenstein e Dmitriy Vasilev

Terça: "Foreign Correspondent" (1940), de Alfred Hitchcock

Quarta: "Night Train to Munich" (1943), de Carol Reed

Quinta: "Vredens Dag" (1943), de Carl T. Dreyer

Sexta: Le Corbeau (1943), de Henri-Georges Clouzot



Chantrapas (Chantrapas) 2010



Nicolas é um artista, um cineasta, que só deseja expressar-se e a quem todos desejam reduzir ao silêncio. Quando inicia a sua carreira na Geórgia, os "ideólogos" esperam amordaçá-lo, preocupados com o facto de a sua obra não seguir as regras fixadas. Perante a determinação daqueles, Nicolas deixa a sua terra natal e viaja para França - a terra da liberdade e da democracia. Mas o "estado de graça’ não vai durar muito.
O georgiano Otar Iosseliani, um estudante de Aleksandr Dovzhenko, já vinha a trabalhar em França desde o início dos anos 80. "Chantrapas" era o seu primeiro filme sobre um tema relacionado com a Rússia/Georgia em quase quinze anos. O título do filme deriva da expressão "(ne) chantera pas" (não vou cantar), aparentemente usada num passado distante. Um mestre a descobrir componentes de contos de fadas alegóricos nas mais básicas circunstâncias, Iosseliani rodeia Nicolas com assistentes mágicos improváveis.
Iosseliani nunca perde a oportunidade de fazer reviver a carreira de um velho profissional. Por exemplo, neste filme temos o actor e realizador vencedor de um Óscar Pierre Étaix, que se tornou realizador na década de 50 sob a tutela de Jacques Tati, mas que já tinha deixado a cadeira da realização desde os anos 80, e que desempenha na perfeição o papel de um produtor francês.
Para o realizador, este filme é “um retrato colectivo de cineastas”. “Sempre consegui tudo o que queria, ainda que os meus filmes fossem proibidos”. Homogeneamente filmado por dois diferentes directores de fotografia, um em França e o outro na Geórgia,  o filme é feito com o estilo simples que já nos habituara Iosseliani, sugerindo que contar uma história de uma forma convincente nunca foi uma qualidade essencial aos seus olhos.
Passou no festival de Cannes de 2010, extra festival.

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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Segunda de Manhã (Lundi Matin) 2002



Todas as segundas de manhã, Vincent começa a mesma rotina monótona. Uma hora e meia de trânsito até ao trabalho pouco inspirador numa fábrica. Em casa, as obrigações familiares que estão sempre a interromper a sua paixão pela pintura. Vincent já não suporta as segundas de manhã! Esta farto da fábrica, da mulher e das crianças, das contradições incompreensíveis da vida e do dia-a-dia do sítio em que vive. O velho Albert todos os dias faz o mesmo caminho. Cansado, um dia, Vincent resolve ver um pouco do mundo e viaja até Veneza. Talvez aí ele consiga encontrar o que falta na sua vida...
O georgiano Otar Iosseliani tem um grande fascínio pelos pequenos detalhes da vida das pessoas, e pela forma como elas lidam com as surpresas, decepções, e prazeres que surgem nas suas vidas. Vincent encontra o seu lugar em Veneza. O pai dá-lhe o dinheiro que ele precisa e diz-lhe para procurar um parente afastado, que por acaso é uma pessoa bastante desagradável que se apresenta como um cavalheiro rico, e bastante conhecedor das artes.
Nada liga o filme de cena para cena, para além de um egocentrismo central. Toda a gente está tão preocupada com a sua vida, que não ligam a mais coisa nenhuma. Mas isso é tudo muito divertido, e as pessoas fazem coisas muito peculiares e engraçadas. Mais uma vez com um diálogo escasso, o filme é quase completamente em silêncio. Há algumas sequências extremamente astutas e inteligentes: um churrasco surreal numa praia italiana, um analfabeto a escrever uma carta de amor, e também muitas personagens excêntricas, como um carteiro que lê o correio de toda a gente, um padre que espia as mulheres casadas através de um telescópio, ou uma idosa num carro desportivo. O humor é suave e inofensivo para toda a gente, seco, sarcástico, e absolutamente genial.  

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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Adeus, Terra Firme (Adieu, plancher des vaches!) 1999



"O rico que finge ser pobre (inserido numa família altamente disfuncional) e o pobre que finge ser rico (na procura das conquistas femininas). O valor do materialismo, a sua inevitabilidade. Comédia urbana, fábula lírica e social da amizade, da liberdade e da injustiça no mundo. Adieu, Plancher des Vaches! é ouro sobre azul, condição irremediável do ser humano aquela que o relega para o virtuosismo duma postura social, para a força intrínseca do indivíduo na persuasão do próximo (e consequente êxito) de acordo com as regalias (ou falta delas) sociais. Iosseliani impugna qualquer romantismo (e integridade) inerente ao Homem. Condena tanto o pobre como o rico. Mergulhado na clareza do seu cinema, aliado a um sentido clássico que grita pelos primórdios da humanidade, Adieu, Plancher des Vaches! explora um certo sentido absurdo e cruel dessa mesma humanidade.
 No entanto, a pérola das pérolas é a condução narrativa e a mise-en-scène de Iosseliani. O ritmo das acções, o encadeamento e desenrolar da narrativa, os movimentos de câmara pacientes mas fundamentados reforçam essa vitalidade que o protagonista parece conter. A clareza das imagens, a energia da acção, a câmara que procura preferencialmente a distância (a indicação da alheação daquela família e daquela gente). Iosseliani filma aquele universo conferindo-lhe uma identidade própria. Há ali muito sarcasmo, muita fome de mandar foder o mundo (por isso os dois bêbedos que se assimilam surpreendentemente apesar do antagonismo social e aquele final em que os dois caminham rumo à liberdade), muita fome de igualdade social. Foi o primeiro filme de Iosseliani que vi, mas confesso que fiquei com vontade a mais."
Texto do Álvaro Martins, tirado daqui.

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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Os Favoritos da Lua (Les Favoris de la Lune) 1984



Primeiro filme de Otar Iosseliani em França, é uma meditação consistente e interessante sobre as reviravoltas bizarras do destino, que unem pessoas e objectos por acaso, e depois os afastam de novo. O filme podia-se chamar "As Aventuras de um Quadro do Século XIX e de uma Porcelana do Século XVIII" pois estes objectos são passando de mão em mão na vida de várias pessoas, como um negociante de arte, um ladrão, um inspector de polícia, um negociante de armas, um esteticista, vários vagabundos e um velho doido.
 Enquanto a idéia de objectos como ponto em comum em várias histórias pode não ser uma idéia totalmente original, é noutro ponto que a película de Iosseliani se destaca. O realizador dá ao espectador vislumbres de um passado supostamente rosado quando a aristocracia rural tinha prazer em pequenos luxos como louças pintadas à mão, ou objectos de arte completamente manuais. Mas mesmo no passado, há insinuações de mudanças. A qualidade da narrativa neste filme, sugere que apenas a vida dos objectos tem estabilidade, mas a idéia da "permanência do objecto", numa última análise, é tanto uma ilusão como qualquer outra coisa neste filme.  
Com uma paciência pitoresca, o realizador cria um drama fascinante sobre a serenidade da vida e a evanescência das coisas. Ganhou dois prémios no festival de Veneza em 1984, incluíndo o prémio especial do Júri.

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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Outono (Giorgobistve) 1966



Começa como se fosse um lento documentário sobre a época alta da produção do vinho, no interior Georgiano. O realizador começa por nos mostrar a colheita das uvas e as várias viagens às quintas onde são colocadas em pequenas caixas e esmagadas, à moda antiga, com o pé, com o seu sumo a ser levado para o interior de várias garrafas. A sequência termina com um grande jantar numa dessas quintas, com muita comida e vinho a serem servidos a um grande grupo de homens, pelas suas mulheres. É, naturalmente, uma visão paradisíaca da vida no campo da Georgia, um mundo em que os camponeses celebram os seus próprios sucessos agrícolas, uma vinculação directa da terra.
O filme transfere-se então para a cidade, para uma mesa de pequeno almoço onde a mãe e o pai estão indignados com o filho, que se recusa a comer o que lhe colocaram no prato. Duas gerações estão aqui em conflito. Pouco depois, Ioselliani leva-nos ainda para um terceiro local, onde vive uma familia um pouco mais rica, com paredes cheias de fotografias de parentes bem vestidos, claramente de uma classe social mais rica. Aqui vamos encontrar um jovem chamado Nico (Ramaz Giorgobiani), que depois de um pequeno-almoço em família é colhido por outro jovem chamado Otari (Gogi Kharabadze), partindo ambos a caminho de um novo trabalho, numa adega de vinho.
O filme é sobre este jovem idealista chamado Nico. Quando lhe é ordenado pelo chefe para colocar a sua assinatura num mau barril de vinho com sabor a vinagre, ele recusa. Em vez disso, ele coloca-lhe gelatina e deixa o barril por mais uma semana, causando um abrandamento na produção. O filme oferece-nos várias observações sobre os trabalhadores, romance, e a burocracia. Não há uma única imagem fora do lugar. Pode ser visto como uma experiência visual, ou um filme mudo, já que o diálogo não é importante.
Muito simplista na temática, e a excelente realização e interpretação dos actores ajudaram Iosseliani a chegar aos quatro cantos do mundo.

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domingo, 15 de fevereiro de 2015

Otar Iosseliani

Em 1961, Otar Iosseliani teve de enfrentar grandes problemas de censura com o Soviet Board of Film Censorship, com o seu primeiro filme, "Aprili". "Pastorale", filmado nas montanhas da Geórgia em 1975 foi condenado pelas autoridades por não ser suficientemente edificante, e proibido de ser exibido no exterior. Poético e ao mesmo tempo realista o realizador traça um retrato pouco convencional da vida na aldeia, com um olhar crítico na fé que as pessoas depositam.
Inicialmente, a censura também não gostava deste ponto de vista. Mas mesmo assim, o realizador que antes tinha estudado música e matemática, relembrou a filosofia dos seus compatriotas: "Nós, os Georgianos, somos teimosos, e suportamos tudo até caír sem perder o nosso humor". O realizador de Tbilisi foi longe nesta abordagem, e alguns anos depois "Pastorale" seria premiado no festival de Berlim.
Mais tarde, em 2002, o realizador nascido em 2004, venceria o Leão de Prata para melhor realizador em Berlim com o filme "Lundi Matin". Neste filme, realizado em França, um homem deixa de ir trabalhar uma manhã para viajar para Veneza na busca da sua auto-realização.
Fuga à vida quotidiana é um dos temas preferidos de Otar Iosseliani, que fugiu da União Soviética em 1982, e desde então vive em França. Já tinha produzido oito filmes em 1984, quando recebeu o prémio especial do júri, pelo primeiro filme realizado no Oeste: "Les Favoris de la Lune". Ainda regressou ao país de origem em 1996, realizando "Brigands - Chapitre VII", onde contou a história do país de uma forma cómica-lacónica.
"Todos os meus filmes são georgianos", diz o realizador. Embora muitos dos seus filmes tenham o seu ponto de partida na província francesa, há sempre uma vila georgiana atrás da fachada, e esta vila pode ser qualquer vila em qualquer parte do mundo.
Os filmes que veremos esta semana serão os seguintes:

Segunda: "Giorgobistve"  (1966)

Terça: "Les Favoris de la Lune" (1984)

Quarta: "Adieu, plancher des vaches!" (1999)

Quinta: "Lundi Matin" (2002)

Sexta: "Chantrapas" (2010).



sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Alguém Anda a Matar os Grandes Chefes da Europa (Who Is Killing the Great Chefs of Europe?) 1978



Max (Robert Morley) é um "chef" europeu decadente, e a concorrência é um enorme perigo. Quando outros grandes "chefs" são encontrados mortos, assassinados de acordo com a especialidade de cada um, por exemplo, o "Chef" dos frutos do mar é encontrado afogado, Max passa a ser o principal suspeito.
Entretanto, a sua ex-mulher (Jaqueline Bisset), também ela "chef" de cozinha, começa a ser reconhecida, e ele temendo pela vida dela, começa uma busca pelo assassino.
Ted Kotcheff dirige este agradável filme sobre mistério no mundo da culinária baseado num livro de Nan e Ivan Lyons, chamado "Someone is Killing the Great Chefs of Europe", que possui uma grande abundância de cenas de deixar água na boca, e onde pratos de tirar o fôlego são meticulosamente preparados. Também temos direito a uma boa parcela de gore, à medida que cada chefe é morto de acordo com a sua especialidade. Enquanto estamos bastante certos de que sabemos quem é o principal suspeito, existe uma subtrama romântica entre Bisset e George Segal, que ajuda a levar o filme para a frente. Robert Morley está maravilhoso como o obeso mórbido cujo amor pela boa comida coloca em risco a sua própria vida (ele conseguiu uma nomeação para os Globos de Ouro para melhor actor secundário com este filme). O filme conta ainda com aparições de alguns notáveis actores franceses, como Philippe Noiret e Jean Rochefort.
Ted Kotcheff mantém o nível muito eficazmente, a um ritmo bastante acelerado. Faz um grande uso de restaurantes de luxo, e outros cenários de Veneza. Uma comédia muito divertida.

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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Adivinhe Quem Vem Para Roubar (Fun with Dick and Jane) 1977



Dick Harper (George Segal) e a sua atraente jovem mulher (Jane Fonda) estão habituados a uma vida confortável. Acabaram de construir uma piscina em casa quando Dick é despedido inesperadamente, deixando-o com enormes dívidas sobre a casa. Tentam esconder isto dos vizinhos, e cortam nas despesas, mas depressa começa a ser óbvio que viver do subsidio de desemprego os enloquece, e é incerto se conseguem manter a casa. Os dois não vêm outra alternativa senão roubar...
Jane Fonda a mostrar o seu talento para a clássica screwball comedy dos anos setenta, neste filme dirigido por Ted Kotcheff. As linhas entre o certo e o errado, o bom e o mau são alegremente cruzadas nesta sátira aos valores americanos. Todos os sectores da sociedade são atacados com igual prazer. Segal e Fonda triunfam nos seus papéis exibindo um excelente timing cómico. Ao longo dos anos, Segal mostrou-se como um dos interessante talento cómico, principalmente nos anos 60 e 70.
Mas se o filme faz troça da ruína financeira e da desintegração da classe média, não quer dizer de todo que seja uma comédia negra. É interessante como este filme antecedeu a tendência de "downsizing" alguns anos antes deste termo se ter tornado comum. Rimo-nos destas situações, mas no fundo da nossa mente sabemos que não sairíamos melhor.
Alguns anos mais tarde (2005) teve um remake, interpretado por Jim Carrey e Tea Leoni.

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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Amigos Até ao Fim (Billy Two Hats) 1974



Um "buddy western" que contava com Gregory Peck no papel de um velho escocês chamado Deans, e Desi Arnaz Jr. no personagem do título, como um mestiço. Os dois são assaltantes de bancos, perseguidos por um Xerife (Jack Warden) que não consegue perceber a amizade destes dois, principalmente porque é um solitário e um racista.
"Billy Two Hats" foi o primeiro western americano a ser filmado em Israel. Realizado por Ted Kotcheff, o filme era produzido por outro canadiano, Norman Jewison, que na altura contava já com um considerável número de êxitos, como "In the Heat of the Night" (1967) ou "Fiddler on the Roof" (1971). Com o envolvimento de Jewison, não seria de estranhar que o filme tivesse foco nas questões sociais - neste caso as relações raciais, já que um dos protagonistas era meio índio. Por isso mesmo, era um western um pouco estranho, mesmo tendo em conta que o filme fosse de 1974, e já houvesse uma maior liberdade de movimentos no cinema americano. Temos dois protagonistas a interpretarem papéis de etnias diferentes da sua. 
Se Gregory Peck era uma velha estrela em declínio, tal como o género aqui retratado, o western, Desi Arnaz Jr tinha apenas 20 anos quando aqui apareceu como protagonista. Era filho da actriz Lucille Ball e do actor e músico cubano Desi Arnaz.A sua carreira como actor nunca foi muito mais longe do que algumas séries de televisão ou telefilmes, por isso mesmo este papel de protagonista era um caso raro. Já Jack Warden aparece muito bem no papel do solitário xerife, movido muito mais pelo ódio do que pela vontade de fazer cumprir a lei.
O argumento acaba por se tornar secundário, perdendo para o simbolismo e a mensagem, que pareceram pretensiosos e arrogantes para o período em que foi feito.  

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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Wake in Fright (Wake in Fright) 1971



John Grant (Gary Bond) é um professor ligado a uma pequena escolaem Tiboonda, um local desolado no interior da Austrália. Ele mal consegue esperar para voltar para Sydney, para as férias do Natal de seis semanas. Mas, ao passar uma noite em Bundanyabba, uma pequena cidade mineira, fica a conhecer a cena do jogo local, e vê isso como uma forma de voltar para a civilização. O pior é que não existe tal coisa como dinheiro fácil, e em breve ele vai pagar as consequências...
Suar. Pó. Cerveja. Violência. Estes são os quatro factos da vida em "Wake in Fright", de Ted Kotcheff. Um filme australiano pensado perdido ao longo de mais de duas décadas, e que se ergue ao lado de obras como "Mad Max" ou "Picnic at Hanging Rock" como dos filmes mais influentes deste país. Poucos filmes conseguem ser tão impressionantes e brutalmente belos como esta obra de Ted Kotcheff. A história de um professor que desce ao seu próprio inferno, depois de ficar preso numa pequena cidade australiana.
Adaptado de um livro do mesmo nome, do australiano Kenneth Cook, o título é derivado de uma linha do livro onde se pode ler "may you dream of the devil and wake in fright", e o argumento foi adaptado por um inglês que nunca visitou a Austrália, Evan Jones, realizado por um canadiano residente em Londres (na altura), e um elenco formado por actores ingleses. Viria a ser nomeado para a Palma de Ouro em 1971, mas desapareceu de circulação pouco depois de estrear nas salas (re-nomeado para "Outback"). Anthony Buckley, o técnico de montagem do filme, seguiu a suposta única cópia do filme até Philadelphia, onde terá sido incinerada. Depois de re-encontrado e restaurado o filme voltaria a ser apresentado em Cannes em 2009, por Martin Scorcese, partilhando com ""L’Avventura" de Antonioni o título de únicos filmes a serem apresentados duas vezes em Cannes.
O filme é um brilhante conto existencial sobre a vida de um inocente numa viagem de auto-descoberta para encontrar a sua verdadeira natureza, que deve descobrir o seu próprio caminho através de mitos estabelecidos que encontra sobre a beleza das amizades, e a cultura machista que se vivia no interior australiano. Há um poder que transcende qualquer senso de realidade, ou de violência, ou noção pré-concebida de romantizar o interior fazendo do protagonista um anti-herói como uma personagem a viver uma mentira quando sai fora do seu elemento natural.

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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Escândalo na Alta Roda (Life at the Top) 1965



Joe Lampton pensa que tirou a sorte grande casando com a filha do patrão, na pequena cidade onde vive. Mas ele começa a desconfiar que está a ser marginalizado no trabalho, e manipulado pelo seu sogro, tanto no trabalho como na vida pessoal. Mesmo assim ele ignora uma oferta de trabalho em Londres, e a aproximação de uma apresentadora de TV chamada Norah. Entretanto ele descobre que a sua mulher está a ter uma relação extraconjugal, e reconsidera em ambos os casos.
Em 1958 houve um filme chamado  "Room at the Top", um dos principais impulsionadores do chamado "novo cinema inglês" que explodia nos anos 60, que dramatizava as ambições desmedidas de um tal Joe Lampton, que subia a pulso para fora do sombrio mundo da classe trabalhadora, primeiro seduzindo, e depois casando com a filha do patrão, alcançando assim uma posição no topo. "Life at the Top" é a sequela, e Lampton mais uma vez é retratado por Laurence Harvey, agora dez anos mais velho, um homem rico, executivo com uma mulher bonita e dois filhos, uma casa no campo e um Jaguar. Mas apesar de agora andar com as unhas limpas está insatisfeito, e ficar insatisfeito não é para Joe Lampton.
Mas "Life at the Top" é mais do que uma mera sequela. Se não consegue ser tão bom como o original é porque tem poucas surpresas, a personagem de Lampton, ficou estabelecida desta forma, e isso não muda, o que é pena.
Filme de estreia do canadiano Ted Kotcheff, que aos 26 anos tinha emigrado para Inglaterra onde começou a carreira a realizar episódios de séries e filmes para TV. Poucos anos depois este filme dava origem a uma série de TV chamada "Man at the Top", com Kenneth Haigh no papel de Joe Lampton.
Legendado em espanhol.

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sábado, 7 de fevereiro de 2015

Ted Kotcheff - Antes do Rambo

É de uma estranha ironia que um dos filmes australianos mais importantes de sempre, e que lançou o movimento da nova vaga do cinema australiano, influenciando realizadores como Bruce Beresford, Fred Schepisi ou Peter Weir, foi na verdade de um canadiano. Ted Kotcheff era o realizador, e o filme chamava-se "Wake in Fright". Um odisseia desoladora de um professor que fica encalhado numa pequena localidade do interior. Uma autêntica obra de culto que de repente desapareceu de circulação, e que se julgava perdida durante 30 anos. Uma cópia reapareceu na década passada, e o filme voltou a ser falado entre os circuitos mais alternativos.
Durante anos aconteceu à reputação de Kotcheff o mesmo que aconteceu com o filme. Hoje é mais conhecido por ser o realizador de "First Blood", o primeiro Rambo, realizado em 1982. Podemos mesmo dividir a carreira deste realizador em duas fases, o "antes de Rambo", e o "depois de Rambo". A fase posterior ao filme protagonizado não é das melhores. Muitos filmes para televisão, muitos filmes fracassados, apesar de ter conseguido um êxito com a comédia "Fim de Semana Com o Morto", uma agradável surpresa do final dos anos 80.
Pela altura de ter realizado "First Blood" Kotcheff já tinha uma carreira considerável, já vinha a realizar filmes à cerca de 20 anos, sempre em direcção oposta às tendências de Hollywood. Era um dos chamados "mavericks", realizadores que se opunham ao sistema comercial e que por causa disso os seus filmes nunca foram muito bem vistos.
Claro que aqui no M2TM gostamos muito destes realizadores, e um dos meus objectivos para 2015 é de recordar alguns destes realizadores esquecidos nos anos 70, e vamos começar exactamente por Ted Kotcheff.
Infelizmente vou ter de deixar de fora um dos seus filmes mais importantes: "The Apprenticeship of Duddy Kravitz", vencedor do Urso de Ouro em Berlim, em 1974.

Aqui fica a programação da Semana:


Segunda: "Life at the Top" (1965)

Terça: "Wake in Fright" (1971)

Quarta: "Billy Two Hats" (1974)

Quinta: "Fun with Dick and Jane" (1977)

Sexta: "Who Is Killing the Great Chefs of Europe?" 1978

Espero que o ciclo seja do vosso agrado.


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Final do Ciclo Islandês

Vamos terminar este ciclo com uma dose dupla de 2013. Como estes filmes são muito recentes vou deixá-los online por uma semana, e depois apago o post.

Metalhead (Málmhaus) 2013
Passado na Islândia rural, o filme conta a história de uma jovem que presencia a morte do irmão mais velho, fã de Heavy Metal, num acidente que ela se culpa a si própria. Desde então encontra força e consolo na música, e sonha tornar-se uma estrela de rock. Realizado por Ragnar Bragason, retrata a solidão e a transformação das pessoas através do luto. A banda sonora é composta por canções dos anos setenta aos anos noventa. 

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Cavalos e Homens (Hross í oss) 2013
Seguimos o destino do homem através da percepção dos cavalos. O homem ama a mulher, e a mulher ama o homem. Mas o homem está apaixonado pelo seu bem mais precioso, a sua égua, que por sua vez está obcecada pelo cavalo garanhão. Isto acontece numa povoação isolada da Islândia, onde os vizinhos sequem a vida uns dos outros. O amor e a morte entrelaçam-se, com consequências imprevistas para toda a humanidade. Foi o filme de estreia de Benedikt Erlingsson, mais um actor islandês a passar para trás das câmeras. Foi escolhido para representar a Islândia nos Óscares de 2015, mas não apareceu entre os 5 nomeados.

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Fica por aqui este ciclo de cinema islandês, passou por aqui um total de 28 filmes desta nacionalidade, espero que tenham gostado. Já sabem que daqui a uma semana desaparece este post.


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Vulcão (Eldfjall) 2011



A história do amadurecimento de um homem de um homem com 67 anos de idade. Quando Hannes se reforma começa um enorme vazio para o resto da sua vida. Afastado da família, quase não tem amigos, e a relação com a sua esposa não é das melhores. Uma tragédia vai afectar esta família, e Hannes percebe que vai ter de mudar para ajudar alguém que ama.
"É praticamente impossível não comparar esse VULCÃO (2011), primeiro trabalho em longa metragem do diretor vindo da Islândia RÚNAR RÚNARSSON com o fantástico AMOUR (2012) do alemão MICHAEL HANEKE. No filme somos apresentados a um homem de idade que está se aposentando de seu trabalho como inspetor escolar, rígido, que agora vai ter que se habituar com a sua rotina em casa junto com a esposa.
Digo que é difícil não comparar os dois filmes, por que apesar de um homem mais bruto e introspectivo, o personagem de Rúnar ama sua esposa a sua maneira. Sem deixar transparecer para as pessoas que estão a sua volta, como seus filhos que acreditam que ele não gosta da mãe. E as coincidências não param por aí. Sua esposa tem um AVC que a incapacita fisicamente e ele opta por tomar conta da mulher, mesmo contrariando o desejo dos filhos que acreditam que ela estaria melhor acompanhada em um hospital ou clínica especializada.
As semelhanças com a obra de Haneke não param por aí, mas mais do que isso seria entregar toda a trama desenvolvida pelo diretor. As diferenças, bom, a obra do alemão é muito mais sensível, é algo que se nota ao ficar parado para aquela locação simples, que serve de palco para a obra de arte que ele nos apresenta. No caso do filme islandês, temos realmente uma obra ousada que trata de um assunto complicado, mas que não consegue se aprofundar e trazer a tona todas as discussões que são necessárias para que o filme tenha um sentido maior. Agora, não sei dizer, quem copiou a ideia de quem." Texto de Marcotul, daqui.

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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Mamma Gógó (Mamma Gógó) 2010



Mamma Gógó é uma senhora idosa a quem é diagnosticada Alzheimer. O filme parte da reação da família em relação à descoberta da doença, enquanto o filho, realizador de cinema, luta de todas as formas para poder ajudar, mas passa por dificuldades financeiras depois do fracasso comercial do seu último filme: "Filhos da Natureza".  Gógó vai piorando dia após dia, e a família apercebe-se da necessidade de uma enfermeira lá em casa.
"Mamma Gógó" é um filme semi-autobiográfico, escrito e realizado por Friðrik Þór Friðriksson, tendo sido o filme Islandês a ser submetido à 83ª edição dos Óscares, na categoria de Melhor Filme em língua estrangeira. Conta com uma interpretação de grande qualidade da actriz principal, Kristbjörg Kjeld, uma islandesa veterana que já passou por vários filmes deste ciclo, como "O Riso da Gaivota", "Hafio", "Cold Light", mas este é claramente o papel da sua vida. Consegue lidar com a comédia e o drama ao mesmo tempo, de forma brilhante. Contracenando com ela, e igualmente em grande forma, encontramos Hilmir Snær Guðnason, actor não muito reconhecido internacionalmente, mas que já desde o ano 2000 vinha a entrar em quase todos os filmes islandeses, quer em papéis principais, ou secundários. Anualmente eram feitos muito poucos filmes islandeses, por isso era normal os actores repetirem-se em várias obras, já que também não havia muitos actores de cinema. Os Edda Awards, que eram os prémios mais importantes lá do sítio, nunca tinham mais de 3/4 filmes nomeados por ano. 
"Mamma Gógó" demonstra o lado trágicómico do Alzheimer, e os conflitos e dificuldades dos seus familiares são retratados de uma única forma, na relação entre mãe e filho. Simultaneamente Friðriksson satiriza o ambiente político da sociedade, que afectou a produção do seu filme, para o pior e para o melhor.
Alguns detalhes a ter em conta, a repetida aparição do marido morto, interpretado por Gunnar Eyjólfsson, e também a utilização de cenas do filme "The Girl Gogo"(1962), em que contracenam Kjeld e Eyjólfsson nos seus tempos de jovens. É um dos filmes Islandeses mais importantes de sempre, mas não cabia neste ciclo.
Este filme ganharia o prémio da audiência no Féstroia de 2011.

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Reykjavik Whale Watching Massacre (Reykjavik Whale Watching Massacre) 2009



Um grupo de turistas observadores de baleias parte numa viagem de barco, mas depressa começa a reinar o caos com a morte do comandante da tripulação. Uma pequena embarcação surge em auxílio, mas está longe de ser a ajuda esperada. A bordo vem uma família disfuncional, e se os turistas já estavam confusos nem sabem o que agora os espera...
Uma espécie de homenagem ao grande clássico "Massacre no Texas", de Tobe Hooper, mas que vai além da base do filme original. A família predadora do original é aqui substituída por uma familia de caçadores de baleias em fúria, com a acção a mudar para um barco, cheio de acessórios para caçar, e nenhuma caça possível, a não ser humanos. O cinema de terror era um caso muito raro na Islândia, mas este filme está cheio de humor negro, que já por si é típico daquele país, e muita ironia.
O suspense, a fotografia, o cenário de horror está muito bem criado, e encontramos uma sátira aos amantes de baleias, com a violência a envolver acessórios inusitados e criativos, mas o problema está sobretudo com os actores. A maioria são irritantes, interpretando com sotaques acentuados. Mas também há o grande trunfo da escolha do actor Gunnar Hanson para o papel do comandante do barco. O actor islandês nunca tinha entrado num filme do seu país. Estreou-se em 1974, precisamente no papel de Leatherface, em "The Texas Chain Saw Massacre", e desde aí tinha andado perdido por produções de série B de terror. Regressa ao seu país numa clara homenagem ao filme em que se estreou, reparem que até o próprio nome do filme é uma homenagem.
A realização estava a cargo do islandês Júlíus Kemp, e por Portugal o filme foi visto numa edição do Motel X.

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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Mr. Bjarnfreðarson (Bjarnfreðarson) 2009



Georg Bjarnfreðarson (Jón Gnarr, que co-escreveu o argumento com o realizador Ragnar Bragason) é um prisioneiro a quem é dada a liberdade condicional. Ele é conhecido por ser um tirano, um homem que impõe sempre a sua vontade. Alguns flashbacks mostram-nos as razões. Sendo ele filho de uma mãe solteira, foi criado como vegetariano, feminista e comunista, e era esperado que ele fosse um "grande homem". Em vez disso, as suas desventuras levaram-no à prisão. Depois de ser libertado, a mãe recusa-se a vê-lo, então ele vai viver com Daniel, com quem passou algum tempo na cadeia. Com eles vive ainda outro ex-prisioneiro.
Baseado numa popular série de televisão, "Bjarnfreðarson" dominou o box-office no país durante várias semanas, durante o Natal de 2009, superando até mesmo "Avatar", de James Cameron. Embora exista muita familiaridade com a série de TV o filme funciona bem como uma história independente, e de certa forma chega a levar o público a querer ver o resto da série. 
Ao observarmos estes três personagens principais interagirem, não é de admirar que o tenham feito numa série inteira. O filme, no entanto, foca-se mais na personagem do excêntrico Georg, e leva-nos a preocupar com ele. Foca-se na sua infância, e percebemos que ele nunca foi uma pessoa normal, com relações normais. O seu desejo de se envolver com Oli leva a alguns momentos hilariantes. 
O elenco era maioritariamente composto por desconhecidos do cinema islandês, mas não da televisão, e atrás das câmaras tinhamos Ragnar Bragason, de quem já tinhamos visto dois filmes neste ciclo.
Legendado em inglês.

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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Small Mountain (Heiðin) 2008

É dia de eleições, e Emil (Jóhann Sigurðarson) tem de transportar a urna para o aeroporto para que seja levada de avião para a contagem final, mas acaba por atrasar-se e perde o avião. O seu filho, que mora noutra cidade e tem uma personalidade imprevisível está de volta à terra natal, mas Emil terá de levar a urna através da pequena montanha. Um acidente vai piorar a situação. 
O realizador Einar Thor é grande fã do contraste entre o velho e o novo, a dicotomia entre as novas tecnologias e os métodos mais antiquados no campo da comunicação, o sentimento da velha geração, de dever versus o desejo dos jovens ricos pela recompensa. Apesar destes conflitos - e da influência da história de Isaac e Abraão - é um filme resolutamente acessível.
"Small Mountain" encontra grande força na simplicidade, e isso está bem visível no argumento. Uma farsa cheia de personagens convincentes e pouco convencionais. No entanto por baixo da camada superficial está um coração bem escuro. A raiva acumulada do filho Albert ameaça transbordar em violência e agressão sexual, mas é destruição injusta da violência que é aqui retratada.
A atmosfera relaxante do filme é complementada pela beleza da fotografia, que combina belas imagens do interior do país. Como é frequente no cinema islandês, a promoção do turismo no país é muito importante, e nesse campo este "Small Mountain" cumpre o seu papel muito bem. Cada detalhe parece sedutoramente deslumbrante, acompanhados por uma grande banda sonora de Danny Chang, que enfatiza o tom da luz.

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White Night Wedding (Brúðguminn) 2008



Jon é um professor de meia idade que está quase a casar pela segunda vez, com uma das suas ex-alunas que tem metade da sua idade. Mas nem tudo são rosas. Em primeiro lugar temos a mãe da noiva, que se opôs violentamente a esta relação, e que exige o reembolso de um empréstimo antes do casamento. Em segundo lugar são os seus planos para construir um campo de golfe, na ilha onde vão viver. Em terceiro a bebedeira descomunal do seu padrinho, e por último a presença emocional da sua primeira esposa que assombra todos os seus movimentos. Depois de uma longa noite a beber e a pensar, será que Jon vai mesmo querer casar?
Baltasar Kormakur parece ter um prazer quase perverso em apresentar personagens peculiares que seguem os seus instintos sem pensarem nas consequências que poderão ter as suas acções. Ele armadilha este filme, tal como já o tinha feito em duas anteriores como "The Sea" ou "101 Reykjavik". Comportamentos bizarros juntamente com interacções compassivas dão aos seus filmes um sentimento muito distinto, que acaba por resultar num filme muito interessante, pelo meio da complexidade humana e de questões não resolvidas.
Baseado numa peça de Chekhov chama "Ivanov" o filme é rico em questões filosóficas e devaneios ideológicos. O filme é essencialmente sobre a necessidade de Jon encontrar a felicidade dentro dos constrangimentos do que é fazer a coisa considerada certa. Felizmente não são dadas respostas a estas questões complexas.

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domingo, 1 de fevereiro de 2015

Reykjavík Rotterdam (Reykjavík Rotterdam) 2008



Kristofer (Baltasar Kormákur) está preso a uma aborrecida rotina de trabalho, como segurança de um navio de carga. Um dia é detido ao ser apanhado a roubar garrafas de bebida. A passar por problemas financeiros, Kristofer é seduzido pela oportunidade de ganhar dinheiro fácil quando um velho amigo, Steingrímur (Ingvar Eggert Sigurdsson), lhe garante meios para voltar ao seu antigo trabalho. É quando Kristofer inicia uma onda de roubos em Roterdão.
Há uma "back story" interessante acerca deste filme. O actor principal é nada mais, nada menos do que Baltasar Kormákur, na altura já um realizador de créditos firmados, de quem já vimos vários filmes neste ciclo. Este mesmo Kormákur, quatro anos depois realizaria um remake em Hollywood, que ganharia o nome de "Contraband", contando com Mark Wahlberg e Kate Beckinsale nos principais papéis.Foi um filme que fez um sucesso considerável, apesar de ter recebido críticas moderadas. Desde 2005 que Kormákur vinha a dividir a sua carreira entre Hollywood e o seu país natal, mas foi na Islândia que fez os seus melhores filmes.
A fotografia é fluida e interessante, mesmo dentro dos espaços confinados de um barco. É um thriller de gato vs. rato, caíndo por vezes nos clichés dos "heist movies", mas no seu melhor consegue criar uma bela e interessante atmosfera. As personagens são alegremente vistosas, especialmente a de Ingvar Eggert Sigurdsson, talvez o maior actor islandês. Sigurdsson interpreta-o de um modo muito especial, fazendo dele um homem triste e solitário, mas também é isso que faz dele uma fonte de entretimento na segunda metade do filme.

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Jar City (Mýrin) 2006



Baseado num best seller de Arnaldur Indriðason o filme segue um detective experiente (interpretado pelo omni-presente Ingvar Eggert Sigurðsson) enquanto ele tenta resolver o que parece ser um assassinato de rotina, mas que se vai tornar num caso muito mais complicado do que aparentava ser. Depois de um homem ser encontrado morto um velho caso é reaberto, pois parece que este crime está ligado à morte de uma menina muitos anos antes. Numa cidade pequena, as pessoas podem estar mais ligadas do que aparentam.
"Mýrin" é baseado num best seller de Arnaldur Indriðason, e tem um argumento bastante complicado, mas depressa o público é recompensado quando as peças começam a encaixar. O realizador Baltasar Kormákur conduz a acção com uma enorme sensibilidade, que complementa o filme perfeitamente, enquanto o actor principal, o experiente Sigurðsson tem uma interpretação silenciosa e subtil, que é extremamente convincente. É um thriller muito inteligente, que vai emprestar muito mais influências no campo internacional, a obras como "Les Rivières Pourpres" de Mathieu Kassovitz, ou "Insomnia" de Christopher Nolan, do que propriamente à filmografia islandesa, e também marca uma mudança radical na carreira do realizador Kormákur, que se tinha dado mal com a sua estreia americana, "A Little Trip to Heaven". Dele já tinhamos visto dois filmes neste ciclo.
É um thriller com alguns laivos de film noir, algo que nunca tinha sido explorado na filmografia islandesa, e com muita pena, pois o ambiente natural do país, se bem usado, pode ser um grande trunfo. Como acontece neste caso.

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Cold Light (Kaldaljós) 2004



O que poderia ser melhor do que saber o que o futuro nos reserva? Mas, será que seria bom ter esse conhecimento? Grímur teve uma infância feliz, mas toda essa felicidade teve um fim abrupto, quando uma calamidade atingiu a sua família matando a sua família. Grímur viu toda essa catástrofe e não fez nada para impedir, ou evitar as suas consequências.
Grímur agora tem 40 anos de idade, e ainda está atormentado pela culpa. A criança que em tempos tinha o dom de prever o futuro tornou-se num adulto, atormentado por visões, e as imagens que circulam na sua mente apenas transmitem os horrores do passado.
Realizado por Hilmar Oddsson, que não era um realizador particularmente novo e já tinha alguns filmes realizados anteriormente ao boom do cinema islandês, aparece na sequência do sucesso internacional de "Noi, o Albino". Mexe com alguns temas que eram comuns no cinema islandês: um estranho e solitário herói, uma avalanche, a luta dos pescadores contra o mar cruel, e a presença de poderes mágicos, especialmente a capacidade de prever o futuro.
A acção alterna-se entre os dias modernos de Reykjavik, onde Grímur se matricula numa escola de arte, e a pequena vila piscatória onde cresceu, na sombra de uma montanha que é uma presença ameaçadora para toda a gente, por causa das avalanches. O jovem Grimur é intenso e reticente, atormentado por visões algumas das quais ele transporta para desenhos. E só quando ele visita uma velha mulher que tem a fama de ser uma bruxa, é que aprende a respeitar o seu dom.
Protagonizado por um dos melhores actores islandeses, Ingvar Eggert Sigurðsson, que já o tínhamos visto, por exemplo, em "Angels of the Universe".

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