O naturalista Mr. Garton hospeda-se num hotel do Funchal, a passar parte
do Inverno, com a filha. Ao visitarem o Rabaçal, Genny - romântica e de
pródiga fantasia - imagina que um túnel de setecentos metros debaixo da
montanha é a entrada para o inferno, vendo o guarda das casas de abrigo
como um fauno...
Juntamente com os filmes de Reinaldo Ferreira e de Bárbara Virgínia (mas
também com A Dança dos Paroxismos, de Brum do Canto, até mesmo em
aspectos formais e nalgumas ideias), este é um filme curiosíssimo e
revela um olhar absolutamente “insular” para um mundo estranho que não
conseguimos vislumbrar em mais nenhum realizador deste período.
Fortemente marcado pelo fantástico e pelo onírico, “aspectos que se
tornariam raros no cinema português”
O Fauno das Montanhas consegue ainda recriar um ambiente de
sensualidade misteriosa e, por isso mesmo, perturbante, a partir de uma
incursão fantástica no imaginário de uma jovem visionária.
Com a “moral” do Estado Novo (uma espécie de Legião da Decência
institucionalizada) o corpo passa a ser zona perigosa ou interdita e vai
perder-se esta abordagem mais directa e ousada da sensualidade, que
encontra precedentes em filmes como Os Lobos (1923), de Rino Lupo.
Uma producção da Empresa Cinegráfica Atlântida, fundada por
Manuel Luis
Vieira em 1925, no Funchal, onde nasceu em 1885, numa aventura pessoal
que se assumiu marginal face às estruturas de produção do seu tempo e
passou pela transformação do estúdio de fotografia que possuía em
estúdio de cinema. Trata-se de um filme que tira partido, por um lado,
da qualidade fotográfica de Manuel Luis Vieira e, por outro, da paisagem
da ilha da Madeira onde foi concebido e rodado.
O Fauno das Montanhas foi submetido à Censura em Lisboa, em Maio de 1929. As sombras negras da tragédia subsequente, bem como os preconceitos, serão esconjurados pelo supremo afecto. A Calúnia estreou no Teatro Circo, no Funchal, sendo depois apresentado em Lisboa, no Eden.
Filme português raríssimo.
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