terça-feira, 11 de junho de 2013
Godzilla - O Monstro do Oceano Pacífico (Gojira) 1954
É muito fácil de considerar Godzilla como um desafio garantido. Tendo sido um dos pilares da cultura popular internacional durante quase seis décadas, num processo de 27 sequelas oficiais e demais remakes, rip-offs, e spin-offs de todos os meios imagináveis, o filme do monstro saqueador original é tão familiar até mesmo para aqueles que nunca o viram, que estamos constantemente em perigo de o perder de vista tanto pela sua natureza inovadora como da sua ousadia sócio-política. O Godzilla original (Gojira) era, afinal, o filme japonês mais caro já feito naquele país, e era a primeira tentativa dos cineastas japoneses para produzirem um filme de ficção ciêntifica importante. Mais importante, foi uma corajosa tentativa de integrar as questões actuais, especificamente o medo elevado da era atómica, e reproduzi-lo num filme de género.
O filme começa com uma referência directa ao Daigo Fukuryu Maru (Lucky Dragon 5), um navio de pesca japonês que cometeu o erro de navegar muito perto do local onde os militares americanos testavam a sua bomba de hidrogénio recém-desenvolvida. O barco ficou coberto com cinzas radioativas, e todos os membros da tripulação desenvolveram uma intoxicação aguda por radiação, com o operador de rádio a morrer sete meses depois. Para o público japonês da altura, cujas memórias de Hiroshima e Nagasaki tinham menos de uma década de idade, a abertura do filme deve ter sido sentida como uma recriação dos acontecimentos, com um pescador numa embarcação ficcional gritando em agonia enquanto está envolvido por uma luz intensa vinda do oceano. Infelizmente, não é uma bomba neste caso, mas sim o Godzilla pré-histórico, que foi acordado depois da sua profunda caverna subaquática ter sido dizimada por testes atómicos. Assim, mesmo sendo a monstruosa ameaça do filme, também é imediatamente considerado amigável, especialmente para aqueles que sofreram a devastação atómica. Ataques do Godzilla através do continente japonês, especialmente em Tóquio (que tinha sido amplamente bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial), tornam-se não apenas a destruição sem sentido, mas também a raiva libertada de um animal primordial, contra sua vontade, sobre os horrores da era moderna.
O realizador Ishiro Honda, que começou a carreira a trabalhar para a Toho como assistente de Akira Kurosawa, trabalha o material com uma sincera humanidade, o que significa que os vários personagens surgem como mais do que carne para canhão. O argumento de Honda e Takeo Murata (a partir de uma história de Shigeru Kayama) nem sempre é o mais elegante ou eloquente, mas é muito adepto de laçar a acção com retórica política contemporânea sobre a identidade do Japão num mundo de ansiedade atómica. O personagem principal é Hideto Ogata (Akira Takarada), um cientista cuja namorada, Emiko (Momoko Kochi), é a filha de um famoso paleontólogo (Takashi Shimura), que quer estudar Godzilla, em vez de aniquilá-lo.
Claro, a destruição é aqui o principal, e todas as críticas sócio-políticas do mundo não podiam prejudicar os prazeres primários de numerosas cenas de devastação em massa de Godzilla. Visto através dos olhos modernos habituados ás maravilhas do CGI,o filme pode parecer um pouco datado. Mas mesmo assim, é imperdível.
Legendado em inglês.
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