segunda-feira, 10 de junho de 2013

Cativos do Mal (The Bad and the Beautiful) 1952



The Bad and the Beautiful, escrito por Charles Schnee e dirigido por Vincente Minnelli, é um de um punhado de grandes filmes de Hollywood sobre como fazer cinema e os custos de colocar a vida profissional antes das relações pessoais. A maioria dos filmes sobre este assunto, tais como "A Star is Born" de George Cukor, "Sunset Boulevard" de Billy Wilder, e "The Player" de Robert Altman, tratam o assunto de um modo mais cínico, sobre o lado negativo da indústria do cinema, e das pessoas que fazem os filmes. 
Assim como os filmes que falei em cima, The Bad and the Beautiful diz-nos que a escolha que deve ser feita entre a arte e a vida é uma tarefa difícil. Mas onde esses filmes denegrem claramente a indústria do cinema e tudo que está relacionado a ela, The Bad and the Beautiful conta-nos que o negócio tem um lado positivo e que não há uma ambiguidade em fazer a escolha entre as relações pessoais e profissionais.
O filme começa com três das maiores estrelas de Hollywood a serem convocadas por um antigo produtor chamado Harry Pebbels (Walter Pidgeon). No seu escritório, eles têm uma reunião telefónica, para discutir em trabalhar num filme novamente, com outro produtor de cinema chamado Jonathan Shields (interpretado por Kirk Douglas), com quem todos juraram nunca mais trabalhar. 
O grupo é composto pelo realizador Fred Amiel (Barry Sullivan), a estrela de cinema Georgia Lorrison (Lana Turner, que é sem dúvida o seu melhor papel) e o argumentista James Lee Bartlow (Dick Powell). A história é contada em flashback, e cada um conta-nos como conheceu Jonathan, e caiu sob o seu domínio,  acabando por ser traído. Mas a ironia, é que apesar de terem sido feridos por Jonathan, cada um alcançou considerável sucesso profissional por causa dele. 
Jonathan Shields é de facto um implacável e megalomaníaco produtor de cinema que tem explorado todas as suas relações, a fim de atingir os seus próprios objetivos. Em algumas cenas de flashback, antes de o conhecermos bem, ele parece ser apenas mais um produtor diligente, que fica com o melhor trabalho possível de todos ao seu redor. Não é intrinsecamente mau, mas é claro que é capaz de tomar qualquer medida para controlar a situação. Durante todo o filme, ele deliberadamente (embora nem sempre escandalosamente) dirige e manipula todas as pessoas e as situações ao seu redor.
O filme pergunta se é possível perdoar estas falhas hediondas. A resposta é sim e não, e fala sobre o tema central do respeito. Sim, os três podem perdoar Jonathan por causa do que ele significou para eles pessoalmente, mas não, nunca irão trabalhar com ele novamente por causa do modo como ele lhes virou as costas, maltratado em situações pessoais delicadas. Ainda assim, eles admitem que realmente gostavam dele.
Este tema central - manter o respeito num negócio brutal - pode parecer cínico, como Minnelli e o argumentista Charles Schnee parecem nos dizer, que não importa o quanto mau alguém é, se ele puder dar mão para a nossa carreira, então devemos-lhe alguma coisa. E, de facto, o filme foi originalmente intitulado " Tribute to a Bad Man", conforme a história de George Bradshaw, no qual o filme se baseia. Mas este título, embora preciso, foi considerado demasiado brusco e demasiado óbvio por parte dos produtores do filme, por isso foi renomeado para o mais simples título de The Bad and the Beautiful.
Alguns críticos acusaram Minnelli de aceitar a premissa do valor comercial em relação ao valor moral, como se ele estivesse a dizer que as conquistas na carreira são mais importantes do que as relações pessoais. Pauline Kael escreveu que o filme "é um exemplo pungente do que ele se propõe a expor." Mas Minnelli não é nem o frio nem cínico. Embora seja verdade que o filme tem um lado exuberante, também tem cenas bastante ambíguas que lidam com a arte/vida, dicotomia que Minnelli não pode ser acusado de intencionalmente defender uma visão tão ilusória. E também não há nada no filme que sugira que um exemplo extremo desta premissa seria aceitável. 

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