sábado, 8 de junho de 2013

Brutalidade (Brute Force) 1947



"Brute Force" de Jules Dassin, é um prison noir fatalista e escuro, um filme onde não há saída, não há liberdade, não há oportunidade para fugir - é uma viagem opressiva para a sua confirmação final de que o destino sangrento é inevitável. O filme é passado numa prisão que é dominada pelo cruel e sádico guarda Capitão Munsey (Hume Cronyn), que mantém os homens ao seu cargo como uma coleira apertada através da brutalidade e manipulação. Não é só isso, mas ele parece ter prazer no que faz, quando está a bater num prisioneiro, ou levando outro ao suicídio por espalhar mentiras sobre a amada esposa do homem, um pequeno sorriso, inevitavelmente, arrasta-se nos seus lábios, enquanto nos olhos brilham uma alegria insana. O filme apresenta a prisão como um vácuo moral quase completo, um lugar onde os prisioneiros se são alguma coisa, são principalmente, moralmente superiores aos que os vigiam. Os presos são homens que cometeram erros, que fizeram coisas estúpidas, pequenos crimes cometidos por motivos tolos. Por outro lado, se Munsey é um sadista brutal, o diretor da prisão (Roman Bohnen) é um covarde, sem capacidade para conter os excessos dos seus subordinados, enquanto um médico de bom coração (Art Smith) tenta o melhor para resistir a tal brutalidade, mas apenas consegue afogar-se na bebida. Ele está propenso a discursar embriagado, a explosões de revoltas e indignação justas, mas toda a sua oração ardente nunca tem qualquer impacto, apesar das boas intenções.
Dassin envolve os prisioneiros com um sistema opressivo que não oferece nenhuma possibilidade de fuga. Como Munsey deixa claro, ele é o único que decide se os prisioneiros tiveram "bom comportamento", e, portanto, mais ou menos controla o sistema da liberdade condicional. Isto significa que os prisioneiros entendem que a possibilidade de liberdade condicional é uma promessa vazia, e colaborando com Munsey é igualmente inútil, uma vez que praticamente garantem a morte nas mãos dos companheiros de prisão. Dassin mostra-nos como poucas opções estão abertas para estes homens, cada um fechado na sua própria rota de fuga, demonstrando que não há realmente nenhuma esperança.
O ambiente do filme é de uma intensidade claustrofóbica. Todos os prisioneiros querem algo do lado de fora. Collins (Burt Lancaster) quer voltar para a sua doentia namorada Ruth (Ann Blyth). Soldier (Howard Duff) quer voltar para a esposa italiana, para quem ele assumiu a culpa, em primeiro lugar, arriscando a sua carreira para chegar a ela. Os outros tambêm têm namoradas e sonhos. Dassin desajeitadamente mostra-nos em flashbacks os dias antes destes homens chegarem à prisão, e estes desvios parecem ter vindo de um filme diferente.
Flashbacks à parte, o filme é um desesperante drama de prisão atravessado por uma enorme raiva, e Dassin faz o bom trabalho de elevar a nota desespero dos homens até uma tentativa de fuga, que parece ser a única solução possível. Logo no início, um vislumbre de liberdade é oferecido pela visão dos portões de entrada da prisão e da sua ponte levadiça, onde passa um carro que transportava o corpo de um prisioneiro morto. Dassin filma esta cena como se fossem as portas de abertura do próprio Céu.
A própria tentativa de fuga é previsivelmente violenta e desagradável, como a prisão a ser incendiada, de modo a que toda a sequência pareça estar a tornar-se num inferno fortificado, as chamas a queimarem os desesperados, rostos cheios de raiva, enquanto lutam contra a impossível probabilidade de se abrirem novamente as portas, para obterem vingança. Por esta altura, o mood do filme atingiu um pico febril de insanidade e crueldade, como os prisioneiros e os guardas a provarem ser igualmente capazes da violência sem sentido e da destruição. No final, ninguém consegue o que quer. É a essência fatalista do noir, e um Dassin que nos dá uma verdadeira lição de cinema. 

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