quinta-feira, 18 de abril de 2013

Andrei Tarkovsky

Em toda a história do cinema, nunca houve um realizador que tivesse feito uma abordagem tão dramática ao espírito humano como fez Andrei Tarkovsky. Hoje, quando o cinema parece estar reduzido a um mar de trivialidades glamourizadas, quando as relações humanas na tela são reduzidas a intriga sexual ou sentimentalismo superficial, o seu cinema parece-nos um guerreiro solitário de pé no meio deste catástrofe cinematográfica, levantando a bandeira da espiritualidade humana.
O que é que dá a Tarkovsky uma classe própria e catapulta os seus filmes para uma altura inacessível para outros cineastas? Trata-se, em primeiro lugar, da sua postura intransigente de que o homem é um ser espiritual. Isso pode parecer óbvio para alguns, e ainda é apenas sobre esse ponto que 99% do cinema falha. A espiritualidade do homem é rápida e convenientemente deixada de lado a favor de outros tópicos mais "emocionantes": a sexualidade do homem, a psicologia do homem, sociologia e assim por diante. No cinema de hoje, se a espiritualidade é tratada em tudo, nunca é tratada como o fundamento da nossa existência, mas está lá como um apêndice. Por outras palavras, enquanto que noutros filmes a espiritualidade pode fazer parte da história, nos filmes de Tarkovsky é a própria história. Pode-se dizer que os seus filmes vibram com a sua própria espiritualidade. Como ele mesmo afirma, em todos os seus filmes os personagens principais passam por uma crise espiritual.
 Isto é particularmente evidente no seu filme "Stalker", onde todos os personagens estão envolvidos numa batalha espiritual intensa. E, embora a natureza dessa luta seja exclusivamente pessoal para cada um deles, o objectivo básico é o mesmo: manter a chama do espírito humano viva dentro deles. O personagem do Stalker, em particular, é o exemplo mais fascinante do ser humano lutando para encontrar o caminho certo, usando a intuição (ou seja, ouvindo a "voz interior").




Numa entrevista concedida a Ian Christie, durante uma visita a Inglaterra, em 1981, Andrei Tarkovsky disse: “O meu objetivo é criar o meu próprio mundo e estas imagens que criamos não significam nada, para lá das imagens que são.” Desde a sua morte, em 1986, aos cinquenta e quatro anos de idade, que a obra cinematográfica de Tarkovsky tem vindo a ser reapreciada nesta perspetiva: o seu mundo, o que ele criou em sete filmes incomparáveis, é inconfundível e a sua linguagem (as suas imagens) constituem um constante desafio não tanto à imaginação dos espectadores mas à sua capacidade de verem o que lá está – e o que está para lá do espelho. Nos próximos dias, vamos ter aqui a obra integral de Andrei Tarkovsky: os três filmes que ele realizou ainda como estudante, as sete longas-metragens, e ainda um documentário que ele fez para televisão, com Tonino Guerra. A partir de Sábado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns pelo blog. Continue compartilhando o melhor do cinema. Abraços!