segunda-feira, 1 de abril de 2013

Taxi Driver (Taxi Driver) 1976



Houve poucos filmes que criaram e sustentaram um sensação de medo constante, como a que permeia cada frame de "Taxi Driver", obra-prima urbana de Martin Scorsese. É um filme que de forma lenta e quase insuportavel constrói uma enorme tensão até que literalmente explode num clímax sangrento de violência, que era diferente de tudo o que o público tinha visto antes. A direcção soberba de Scorsese - tão confiante, tão intensa na sua mistura dos clássicos de Hollywood com vários estilos europeus de novas vagas - juntamente com o desempenho escaldante de Robert De Niro no papel do título, argumento fantástico de Paul Schrader, e banda sonora de Bernard Herrman assegurando algo único e memorável, assim como aterrorizante e perturbador.
O filme mostra-nos a sórdida cidade de Nova York através dos olhos cada vez mais psicóticos de Travis Bickle (De Niro), um solitário veterano do Vietname, que é incapaz de compreender a sociedade em que vive. Um solitário à deriva do mundo, ele é o epítome da alienação, constantemente (e muitas vezes patéticamente) tentando dar-se com os outros, mas nunca conseguindo. O filme obriga-nos a seguir a subjectividade desconcertante de Bickle: estamos sempre com ele, a ouvir os seus pensamentos, como ele os expõe num diário que nunca ninguém vai ler, vendo os crimes da cidade e da pobreza através dos seus devastados olhos errantes, e vê-lo a falar para si mesmo no espelho, decretando delirantes papéis de duro e praticando a confrontação.
Scorsese não poupa nada no seu retrato de uma cidade em guerra consigo próprio. Bickle é um homem doente, mas a ironia é que ele está tão doente como o mundo ao seu redor. Capturada num estilo quase documental-realista, Nova York é um submundo húmido e sujo, os sinais de néon berrante e ruas mal iluminadas onde os traficantes de droga e as prostitutas apenas se movem por entre nuvens gasosas de vapor que escapa através dos buracos do esgoto das ruas molhadas. Entendemos a fascinação perversa e o ódio de Bickle, pecaminoso e contaminado, e a tensão do filme emerge da nossa crescente percepção de que acabará por empurrá-lo para o limite.
Bickle aceita um emprego a dirigir táxis, porque não consegue dormir à noite. Não se importa a que hora da noite conduz, ou através de que bairros o faz. O banco traseiro é constantemente preenchido com a escória da sociedade, seja ela um político a pegar uma prostituta, ou um marido homicida a perseguir a sua esposa adúltera (interpretado por Scorsese num papel particularmente assustador). No final da noite, Bickle limpa o sangue e o sémen do banco de trás e regressa ao pequeno apartamento decadente apenas com os pensamentos como companhia. Nunca plenamente capaz de se comunicar com alguém, excepto ele mesmo, e é por isso que os seus pensamentos irão finalmente explodir em violência. 
É a reviravolta final, irónica mas estranhamente compreensível, num filme que é uma descida ao inferno em linha recta, levando-nos do um mundo superficial do crime e da corrupção, para a visão do mundo de um vigilante preverso, no processo de criação de um dos retratos mais enervantes do heroísmo.
Ganhou, com todo o mérito, a Palma de Ouro em 1976. No ano seguinte, conseguiria 4 nomeações aos Óscares. Mas, estava muito à frente, para ganhar algum.

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3 comentários:

Carlos Branco disse...

Boa critica.
eu coloquei no meu espaço um breve plano, mais intimo e pessoal sobre a personagem/filme: http://planos-perpetuos.blogspot.pt/2013/03/o-taxi-driver-fala-comigo.html .
é um dos meus filmes preferidos de sempre, identifiquei-me com a tua critica. abr,

My One Thousand Movies disse...

Obrigado Carlos. Eu não considero os meus textos críticas. São meros pormenores e opiniões, que poderão, ou não, levar as pessoas a ver o filme :)
Eu vi o teu post, e acho o teu blog bastante interessante.

My One Thousand Movies disse...

Digamos que são apenas ajudas, para quem quiser ver o filme, e clicar no link embaixo :)