segunda-feira, 22 de abril de 2013

Solaris (Solyaris) 1972


Solaris de Andrei Tarkovsky é uma obra-prima pulsante, frustrante e enigmática de ficção científica, um filme de grande peso metafísico que exige múltiplos visionamentos e uma mente aberta. É um trabalho introspectivo em que a vastidão do espaço parece limitada, em contraste com o âmbito da alma humana. Embora baseado no best-seller de 1961, um romance do prolífico escritor polaco Stainslaw Lem, que se destacou no tratamento de temas de ficção científica com profundidade crítica e filosófica, este é um filme de Tarkovksy por completo, esteticamente dominado pelo uso de movimentos de câmera longos e elegantes e filosoficamente preocupado com a condição humana e as questões da vida e da morte.
Com quase três horas de duração, Solaris não é um filme acessível à primeira vista. Começa lentamente - para alguns, demasiado lentamente - com um acto de abertura prolongado que ocorre na Terra. Aqui, encontramos o personagem principal, Kris Kelvin (Donatas Banionis), um psicólogo que é convidado a ir a uma estação espacial que orbita o distante planeta Solaris, e onde tem havido relatos de acontecimentos no mínimo estranhos dos três tripulantes da estação. Grande parte da acção passa-se na pequena casa de madeira do pai de Kelvin (Nikolai Grinko) e serve para estabelecer o significado da existência da vida na Terra, um tema que não é abordado na obra de Lem. Para Tarkovsky, estas cenas de abertura foram cruciais para servir como contraponto para o resto do filme, que acontece na estação espacial na imensidão do espaço. 
Kelvin fica a saber por um dos mais antigos amigos do pai, Burton (Vladislav Dvorzhetsky), que era astronauta na estação espacial Solaris alguns anos antes, de que há algo estranho sobre o planeta. Solaris, que é completamente coberto por um oceano, pode ser mais do que apenas um planeta. A natureza exacta desta situação é deixada vaga propositadamente, porque vai ser a força motriz do desenvolvimento da narrativa, desde que Kelvin deixa a Terra. 
Quando chega à estação espacial, Kelvin descobre que nem tudo está bem. A estação ainda está funcional, mas apenas isso. Um dos três tripulantes, que Kelvin conhecia pessoalmente, é morto em circunstâncias misteriosas. Os outros dois astronautas, Dr. Snaut (Jüri Järvet) e Dr. Sartorius (Anatoli Solonitsyn), parecem paranóicos e enigmáticos a discutir o que aconteceu. E dizem a Kelvin que este não vai perceber o que se passou...
Solaris, tal como os dois filmes anteriores de Tarkovsky, A Infância de Ivan (1962) e Andrei Rublev (1966), foi feito na União Soviética, numa altura em que os artistas tinham alguma liberdade. Tarkovsky era um cineasta extremamente talentoso, um verdadeiro visionário a quem os burocratas soviéticos toleravam porque os seus filmes ganhavam prémios em festivais internacionais de cinema, e eram populares no Ocidente. Ao contrário dos filmes anteriores, contudo, Solaris tem muito pouco a ver com a Rússia. Na verdade, muitos críticos sugerem que este era o seu filme mais popular devido à sua natureza universal. 
De certa forma, Solaris é sobre os limites da consciência moral humana, e o papel da ética na descoberta científica e, ao mesmo tempo, é um filme profundamente nostálgico, que olha para trás, para um tempo em que as coisas eram mais simples do que quando a tecnologia mandava no mundo, e os limites de nosso universo eram os oceanos, e não o espaço. Evitando qualquer referência directa à União Soviética, Tarkovsky criou múltiplas leituras para Solaris, que não é sobre nenhuma cultura, mas sim sobre a espécie humana como um todo, o que lhe dá um alcance e profundidade que é de tirar o fôlego.
Concorrendo em Cannes, em 1972, não ganhou a Palma de Ouro, mas ganhou o grande prémio do Juri, e o FIPRESCI prize. 

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