sexta-feira, 12 de julho de 2013
O Sétimo Continente (Der Siebente Kontinent) 1989
O Sétimo Continente (1989), primeira longa-metragem de Haneke, é uma representação formidável, confiante e arrepiante da anomia da classe média. O desejo do realizador de alienar o público do tema não poderia ser mais simples: passam quase 10 minutos até começarmos a ter o primeiro vislumbre de identificação de qualquer um dos rostos dos personagens. Em vez disso, Haneke esculpe a sua rotina diária: mãos a trabalharem numa máquina de café ou cereais a serem derramandos numa tigela. O efeito é ao mesmo tempo mundano e insuportavelmente intenso, um ritmo contínuo que se torna vertiginosamente desconfortável.
Inspirado em factos que o cineasta leu num jornal, O Sétimo Continente apresenta uma série de actividades quotidianas e incidentes da vida de uma família burguesa austríaca, aparentemente bem sucedida e normal - o engenheiro Georg (Dieter Berner), a oftalmologista Anna (Birgit Doll) a filha Eva (Leni Tanzer) - que decidem ir para a Austrália, até então representada através de imagens turísticas utópicas.
Dividido em três anos/capítulos e narrada num modo fragmentário, a forma elíptica de Haneke o filme também é notável pela sua recusa absoluta de técnicas de identificação convencionais do público, negando-nos a face, em vez de composições que decapitam os protagonistas e close-ups de mãos, pés e (outros) objectos.
O resultado é um mundo inquietantemente familiar e estranho e, talvez, uma denúncia demolidora da sociedade contemporânea. O ponto de interrogação é se, talvez, os métodos de Haneke aqui podem realmente provar o quanto alienante e, assim, espelhar, ironicamente, a própria cultura da não-comunicação e morte emocional que ele procura criticar.
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1 comentário:
Filme brutal! Um dos que mais gosto do Haneke.
Muito bom o blog e os textos que escreve.
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