terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Noite de Estreia (Opening Night) 1977


Desde o início de "Opening Night", que o realizador John Cassavetes situa-nos firmemente, tanto como a audiência de um filme, como na plateia da vida real de uma peça. Myrtle Gordon, interpretada convincentemente por Gena Rowlands, é a estrela do filme e da peça. Quando ela testemunha uma jovem fã ser atropelada na rua, na busca de um autógrafo, Myrtle quebra completamente. A morte da jovem trás à tona sentimentos de culpa, mas também uma viagem vertiginosa no tempo, destacando o que significa viver numa única direção no tempo.
Myrtle já não é jovem, e  o facto de ser escolhida como uma mulher mais velha na peça, traz-lhe um dilema em que ela não têm nenhum caminho de volta: se ela desempenhar o papel bem, a sua carreira vai ser catapultada para o sucesso, e se ela aceitar as implicações do papel para as mulheres em geral, elas serão sempre delegadas a uma vida sem esperança. 
Nona longa-metragem de John Cassavetes, concluída em 1977, mas ignorada nos EUA até depois da sua morte, é a mais auto-reflexiva das suas principais obras. Enquanto outros grandes filmes de Cassavetes são modelos de imediatismo, aqui tal já não sucede. A insistência habitual do cineasta sobre a inseparabilidade entre actor e personagem (da arte e da vida) reverbera aqui nos corredores assombrados de um melodrama de bastidores. O envelhecimento de Myrtle é um alter ego do realizador. O que quer dizer, "Opening Night" dramatiza o que outros filmes de Cassavetes encarnam - a radical ruptura de um meio de expressão verdadeiro. Sem filhos, solteira e ressentida, escolhida para uma peça intitulada "The Second Woman", Myrtle cai num estado depressivo depois de testemunhar a morte de uma adolescente.
Cassavetes mostra que para sermos alguém plenamente, precisamos de reconhecer, através da perda, a dor e a tristeza. Paradoxalmente, lutando com essas questões e limitações fornece uma forma de crescimento pessoal. Myrtle recusa-se a exorcizar os seus demónios, excepto através do trabalho das suas próprias mãos, tornando o processo de transformação de uma dialética dentro de si, em vez de uma imposição de forças externas.

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1 comentário:

O Narrador Subjectivo disse...

De todos os Cassavetes que ainda não vi, é o que me desperta mais curiosidade. Vou tratar disto :)