John Cassavetes sempre lutou longa e duramente contra a preferência pelos filmes mainstream. E assim, é preocupante que o seu último filme, Big Trouble, seja uma obra que segue esse tipo de fórmula.
À primeira vista, Big Trouble parece ser uma ode irregular ao filme de Billy Wilder, Double Indemnity (1944). Como no filme de Wilder, temos uma femme fatale, Blanche Rickey (Beverly D'Angelo), que convence um vendedor de seguros, Leonard Hoffman (Alan Arkin), a assassinar o seu marido, Steve (Peter Falk), a fim de recolher um seguro no valor de 5 milhões dólares . Mas um investigador de fraudes, O'Mara (Charles Durning), frustra os seus planos, enquanto Hoffman descobre que Steve nunca morreu realmente. E é nesta viragem da trama, que Big Trouble inicia o tema que atravessa toda a obra do realizador, isto é, o seu interesse pelas decepções ruinosas e as relações fracassados.
Como é típico na sua obra, Cassavetes fornece-nos personagens complexas, de quem nunca gostamos inteiramente, e recusa-se a explicar plenamente as suas motivações. Big Trouble, no entanto, só se preocupa em investigar o engano básico. A realidade íntima que se encontra por baixo desta intrigante história, permanece invisível.
Muito do humor do filme vem das suas paródias aos estereotipos. Mas, apesar de tais momentos de humor e perspicácia, o filme é fraco, mesmo quando faz referência a filmes anteriores de Cassavetes. Na pior das hipóteses, o filme parece menos ser o trabalho de um realizador experiente emais o de um estudante de cinema pretensioso. Triste final de carreira para Cassavetes, mas o filme cá está para os curiosos.
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