domingo, 20 de janeiro de 2013

Oito Vidas por Um Título (Kind Hearts and Coronets) 1949



É tanto uma jóia finamente polida de inteligência literária com uma visão sátirica e impiedosa do privilégio da vida, o conflito de classes, e a moral Edwardiana, "Kind Hearts and Coronets" desmente o título(original) aparentemente gentil, concentrando-se num jovem determinado a matar no seu caminho para o ducado onde ele sente é a sua primogenitura. Feito nos anos negros depois da Segunda Guerra Mundial, "Kind Hearts and Coronets" rompeu com o tom mais quente e suave da maioria dos filmes produzidos nos famosos Ealing Studios, com uma visão barbaramente abatida da natureza humana.
A mãe de Louis Mazzini (Dennis Price, que representa a essência da urbanidade refinada com uma mente assustadoramente sociopata) é banida da sua herança familiar régia por causa do grave pecado de se casar por amor, e não pela riqueza e posição. Isto deixa Louis sem a pretensão da sua herança familiar. Preso num trabalho sem perspectivas e rejeitado pela sua antiga namorada Sibella (Joan Greenwood) por um bronco implacável com mais potencial financeiro (John Penrose), Louis decide matar pelo seu caminho, até eliminar os oito membros da família d'Ascoyne que se interpõem entre ele e o ducado. 
Numa façanha de mestre, o incomparável Alec Guinness foi escolhido para interpretar todos os oito membros da família d'Ascoyne, que variam desde um padre a um almirante ridiculamente orgulhoso, passando por um playboy e até mesmo uma feminista agitadora. Guinness, embora não apareça em cena por muito tempo com cada personagem, ainda consegue dotar cada uma deles com bastantes traços e personalidades únicas para torná-los instantaneamente memoráveis. Guinness já tinha deixado a sua marca há vários anos em duas adaptações de clássicos de Charles Dickens por David Lean, Oliver Twist e Grandes Esperanças, e "Kind Hearts and Coronets" não deixa qualquer dúvida sobre a sua versatilidade única.
No entanto, apesar de Guinness ser tão grande, não domina completamente "Kind Hearts and Coronets", um filme cuja leve crueldade se torna no seu traço mais duradouro. O realizador Robert Hamer consegue minar toda a moral e os valores convencionais, de tal forma que, nunca se sente que o próprio filme seja tão depravado como realmente é. "Kind Hearts and Coronets" é mais frequentemente descrito como uma comédia de humor negro, mas não é cómica, no sentido usual da palavra, mesmo para os refinados padrões britânicos. Na realidade, "Kind Hearts and Coronets" é, provavelmente, o melhor filme já criado para ilustrar a teoria de Alfred Hitchcock, em que o público deve se identificar com qualquer personagem na tela, não importa o quão vil ela seja. Louis Mezzini é o retrato de um malandro muito amoral, não só nas suas atividades assassinas, mas também no tratamento de todos ao seu redor como uma série de peões para serem manipulados para alcançar o seu próprio fim.

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1 comentário:

Robert Merino M disse...

sem dúvida um grande filme com um alec guiness fabuloso... lembro-me de ter lido nessa altura pela primeira vez num diaologo dito pelo protagonista aquela velha frase ( ou proverbio) "A vingança é um prato que se come frio "...