sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Dr. Fígado (Karo Sensei) 1998

 

Shohei Imamura ainda faz filmes maravilhosos. A sua humanidade, humor, e apreciação sensual não diminuiu ao longo dos anos. A história da batalha de um médico contra a hepatite, em 1945, é um pretexto para mostrar o outro lado da vida japonesa, um longo caminho desde a ponte sobre o Rio Kwai. 
Os soldados estão lá, do mesmo modo. Há uma fortaleza na vila cheia de prisioneiros aliados, para nos lembrar de que há uma guerra. Hitler está morto, os alemães renderam-se, mas o exército Imperial vai lutar até ao último homem, ou assim as vozes da autoridade insistem, na rádio. O Dr. Akagi não pode ouvir isto: é muito doloroso para ele. Tem assuntos mais importantes para tratar, como a saúde das pessoas. Primeiro, ele é visto como uma figura cómica, a correr no seu fato branco, com um chapéu amarrado às costas, uma pequena mala preta na mão, acenando para todos os que passam. Ao examinar o paciente, deitado no chão, rodeado por parentes emocionados, o seu diagnóstico é, inevitavelmente, "hepatite". O oficial de saúde do exército, um pedante que se julga importante, recusa-se a aceitar a análise de Akagi de uma epidemia e que, se algo não for feito rapidamente, muitas pessoas vão morrer.
"Karo Sensei", passado no porto de uma pequena ilha nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, no Japão, abre com o bom médico a recitar a filosofia do pai, sobre a profissão: "Ser um médico de família é ter todas as pernas. Se uma perna estiver partida, corre-se com a outra. Se ambas as pernas estiverem partidas, corre com as mãos". E, de facto, lá vai Akagi (Emoto), a correr pela praia -. passando por um casal - vestido com um fato branco e um chapéu de palha, para a vila, para tratar mais um caso de hepatite, que atingiu proporções de epidemia durante a guerra. Akagi concentra a sua força quase inteiramente sobre o vírus, o que toda a gente parece ter.
Há muita coisa sobre "Dr. Fígado" que se parece como um conto de fadas, embora com uma inclinação decididamente anárquica. Inamura, tal como fez em "A Enguia", mapeia o coração humano através de uma série de vinhetas cómicas, as quais estão inescrutavelmente ligadas entre si para formar uma cartografia emocional. O filme em si, sente-se como uma espécie de sonho hiper-realista, com um simbolismo e um final que deve ser visto para ser acreditado. Ainda assim, o trabalho de Inamura é sempre profundamente pessoal, e é isso que dá a " Dr. Fígado" o seu tom esperançoso.
Legendas em inglês. 

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