quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A Balada de Narayama (Narayama-Bushi Kô) 1983


Vencedor da Palma de Ouro em 1983, superando filmes de Robert Bresson, Martin Scorsese e Andrei Tarkovsky, "A Balada de Narayama" talvez seja o melhor cartão de visita para o trabalho de Imamura. Embora tenha algumas semelhanças com "O Profundo Desejo dos Deuses", é mais acessível em termos de argumento.
Adaptado do romance do mesmo nome (que já tinha sido transformado em filme anteriormente), com sequências adicionadas a partir do livro Jinmus of Tohoku (ambos escritos por Fukazawa Shichiro), "A Balada de Narayama" é passado numa pequena aldeia, no alto de uma montanha, longe de qualquer traço da sociedade. Não nos é dito em que período o filme se passa, mas o meu palpite seria cerca de há 100 anos atrás, mas isso não fica claro. Os habitantes da aldeia vivem uma vida difícil, trabalhando os campos para cultivar alimentos suficientes para manter as famílias vivas. Vivem segundo um rigoroso código que inclui a tradição de que quando se chega à idade madura de 70 anos, as pessoas são obrigadas a escalar a montanha traiçoeira, dando a sua vida para que Deus olhe sobre a aldeia. O filme centra-se na avó Orin (Sumiko Sakamoto) e na sua família. Está quase a chegar a esse número mágico de 70 anos, e uma vez lá terá de aceitar o destino, mas enquanto isso ela ocupa-se em tentar manter os filhos e unidos, assegurando que a família continue a ser forte e feliz depois dela partir.
A verdadeira beleza de "A Balada de Narayama" reside na maneira com que, constantemente, subverte a visão do que é "certo" e "humanitário". As regras e valores da aldeia são brutalmente duras, bem como a tradição de "ter de subir" a montanha, e o modo de lidar com o roubo também é terrível - uma família é enterrada viva por um crime por um crime dessa natureza. No entanto, Imamura tem uma maneira de fazer com que estas leis pareçam justificáveis, e os moradores possam desfrutar da tranqulidade. Tudo o que eles fazem parece depender do equilíbrio. Orin envergonha-se da sua boa saúde - as crianças brincam sempre com o facto dela ainda ter todos os dentes da frente. Esta abnegação foca-se na preservação da unidade familiar para além da própria vida e é a chave para o filme. Soa como um anúncio sobre o comunismo, mas a propaganda não parece ser a intenção do Imamura
 É um filme emocionalmente poderoso, que é uma vantagem sobre "O Profundo Desejo dos Deuses". Tudo por causa dos últimos 45 minutos. Uma vez que Orin acredite que fez tudo o que podia pela sua família, finalmente pede aos anciãos da aldeia que lhe concedam a passagem até à montanha e é o filho Tatsuhei (Ken Ogata) que concorda em levá-la até lá. Esta jornada é feita lentamente e praticamente em silêncio (as regras dizem que os condenados não devem proferir uma palavra) como Tatsuhei a esforçar-se perante um terreno acidentado. Quando se aproximam do cimo são recebidos por um tapete de restos de esqueletos, dos anteriores anciões que alí perderam a vida. Orin sinaliza o local que acha mais adequado e o filho deixa-a para ela conhecer o seu Deus. É um momento extremamente belo, apesar do ambiente potencialmente perturbador, demonstrando o poder da capacidade do filme para brincar com as crenças e sentimentos. Não é uma cena deprimente, apenas é profundamente comovente
O filme está cheio dessas justaposições, para criarem uma experiência que é tão instigante como bonita. A ênfase frequente no sexo e em algumas cenas de brutalidade e, já agora, no humor ousado, podem afastar alguns espectadores, mas mesmo assim este é um filme obrigatório. 

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