É virtualmente impossível pensar nos Ealing Studios, sem acrescentar a palavra "comédia". Já passou mais de meio século desde que as cortinas fecharam sobre o período clássico desta produtora, as comédias Ealing são uma das marcas mais poderosas do cinema britânico, e os seus únicos sérios rivais são os filmes de terror da Hammer ou as séries James Bond ou "Carry On". É difícil de acreditar, mas, o ciclo que trouxe estas duas palavras juntas teve pouco mais do que 10 filmes, ao longo de menos do que nove anos - desde o lançamento de Hue and Cry (D. Charles Crichton) em Fevereiro de 1947 até Dezembro de 1955, quando "The Ladykillers" (d. Alexander Mackendrick) teve a sua estreia no cinema.
Em 1947, uma comédia sobre um grupo de jovens detetives que descobre uma conspiração criminosa que usava livros aos quadrinhos para passar mensagens secretas, "Hue and Cry" foi um sucesso inesperado, e encorajou o estúdio com Michael Balcon à cabeça para investir mais em filmes cómicos. Seriam precisos dois anos até que o estúdio fosse recompensado com outro sucesso, mas valeu a pena esperar. Entre Abril e Junho de 1949 os Estúdios Ealing lançaram mais três filmes - Passport to Pimlico (D. Henry Cornelius), Whisky Galore! (D. Alexander Mackendrick) e Kind Hearts and Coronets (d. Robert Hamer) - que definiram a nova direção do estúdio.
Estes três filmes foram escritos pelo jornalista e ex-policia TEB "Tibby" Clarke - que também escreveu Hue and Cry - que fez mais do que qualquer outro para estabelecer a reputação de humor gentil, excêntrico ou lunático que ficou ligado ao estúdio desde então. Mas a comédia Ealing também teve o seu lado mais sombrio. Em "Kind of Hearts and Coronets", um homem jovem, deserdado pela sua família aristocrática por causa da decisão da mãe de se casar com um plebeu italiano, determina matar todos os parentes que ficam entre ele e o ducado, já que considera seu o direito de primogenitura. O realizador Robert Hamer fez uma análise elegantemente selvagem da classe e da sociedade Edwardiana, que não perdeu nada da sua sagacidade - o crítico de cinema Philip French chamou-o de um dos "mais perfeitos" filmes já feitos na Grã-Bretanha.
Mais prolífico - mas não menos cínico - foi o realizador nascido na américa, mas de raça escocesa Alexander Mackendrick, que chegou a fazer cincos das famosas comédias para este estúdio.
Ao todo foram doze ou treze filmes, que ficaram frescos, mesmo depois de meio século, os seus temas eternos, o humor ainda inconfundivelmente britânico. Foram redescobertos e apreciados em cada nova geração e esta semana serão recordados aqui neste blog. Neste ciclo passarão 7 das mais famosas comédias da Ealing. Espero que gostem. Bom fim de semana.
1 comentário:
Lembro-me de ter visto alguns destes filmes em miúdo, nos tempos em que a RTP se preocupava mais com cinema que com audiências.
Não sabia pertencerem todos à mesma "escola". Foi bom recordar estes nomes, vou certamente (re)ver alguns destes filmes brevemente.
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