quarta-feira, 23 de setembro de 2015
Núpcias Trágicas (Pursued) 1947
Desde a infância, que o órfão Jeb Rand (Robert Mitchum) é atormentado por pesadelos sobre a noite em que foi adoptado por uma viúva depois do assassinato dos seus pais. Depois de se tornar herói da guerra, ele regressa para casa, decidido a casar com a irmã de criação. Mas o sombrio passado de Jeb volta, trazendo um rastro violência e vingança, para atrapalhar a felicidade do casal.
""Pursued" é filme para merecer três ou quatro longos ensaios sobre o género (o gender como sexo e como género fílmico) ou a dimensão psico-sociológica do "sonho" (não, da "memória") do protagonista interpretado por Robert Mitchum. Mitchum, no rosto, na voz e na pose, traz ao filme a ambiência noir quase ao mesmo tempo que o jogo de contrastes, o preto-muito-preto da fotografia a preto-e-branco, e toda a reversão temporal - lá está, psicanalítica ou, se preferirem, "out of the past" - que espoleta a narrativa. No entanto, "Pursued" é, antes de mais, um western, constatação imediata dada pela paisagem, que, no entanto, vai sendo traída (a constatação e a paisagem) em toda à linha à medida que entramos no trauma e nos pesadelos do nosso "herói" - e as aspas já nos estão a colocar, de novo, no território do noir. Segundo especialistas como Scorsese*, este terá sido o primeiro western noir da história do cinema, o que denuncia de imediato um traço nem sempre tido em conta no cinema de Walsh (que já tinha salientado na minha análise a "The Big Trail"): o seu grau de rigor e "competência" paredes-meias com uma "fúria" secreta pela experimentação fílmica.
Se, como diz Jacques Lourcelles, "The Big Trail" funcionava como grande documentário épico, quase metafísico, disfarçado de filme de cowboys, "Pursued" é um noir atormentado, por vezes perverso na sua indiferença moral, que usa e se deixa usar pela paisagem do western clássico. Disse atrás "fúria" para caracterizar esse Walsh secreto que procura sabotar os géneros que tanto ajudou a cristalizar. Disse-o a pensar em "The Furies" de Anthony Mann, filme que me parece claramente dever o mundo a "Pursued" - aliás, se me tivessem mostrado este filme de Walsh, sem indicação quanto ao seu realizador, eu diria estar na presença de um filme de Anthony Mann, dada a carga trágica que corre nas veias de uma família que mutila e se auto-mutila... Mas não, é mesmo um "filme de Raoul Walsh". E como ver nele a sua assinatura, o seu "toque" autoral? Arrisco - porquanto dizer que Walsh é um auteur antes ou depois de um puro metteur en scène soará a heresia em certos círculos - começar pela personagem feminina, interpretada por Teresa Wright. É certo que Walsh é um realizador predominantemente masculino, mas, talvez por isso mesmo, as suas mulheres estão muitas vezes marcadas pela mesma dose de incompreensibilidade..."
Texto do Luis Mendonça, podem ler mais aqui.
Link
Imdb
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário