domingo, 27 de setembro de 2015

Fúria Sanguinária (White Heat) 1949



"Sabes o que tens de fazer?", grita Cody (James Cagney) ao seu comparsa no inicio de um audacioso assalto a um comboio; quando o tipo começa a responder, Cody interrompe-o: "Fa-lo e deixa-te de conversa!" Esta atitude frontal, de acção pura, resume o vigor dos filmes de Raoul Walsh,  que (conforme comentou certa vez Peter Lloyd) "toma o pulso a uma energia invividual" e a implanta numa "trajectória demente, e a partir daí constrói um ritmo". Poucos filmes são tão concisos, contidos e económicos nas suas narrativas como "Fúria Sanguinária".
Walsh é um realizador persistentemente linear, progressivo, cuja obra evoca o cinema mudo - como naquela emocionante cena de abertura "carro-encontra-comboio". Mas também explora as possibilidades intrigantes, complexas, da psicologia do século XX. Em serviço, Cody mata sem piscar. Uma vez trancafiado num esconderijo com o seu bando como um animal enjaulado - porque dali a pouco irá preso -, a sua psicopatologia começa a aflorar: indiferença ao sofrimento alheio, a fixação numa mãe severa, e enxaquecas terriveis que o deixam à beira da loucura.
Cody, imortalizado no prodigioso desempenho de Cagney, personifica a suprema contradição que dá cabo dos gangsters dos filmes: egotismo fantástico e sonhos de invencibilidade minados por dependências e vulnerabilidades profundamente humanas.         Por Annalee Newitz 

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