terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Nouvelle Vague

Para se ter uma idéia do que esta nova abordagem significava, pode ajudar a entender que antes de serem realizadores, os autores principais da Nouvelle Vague eram film geeks, ou cinéfilos. O cinema era muito importante numa sociedade sedenta de cultura, como a França do pós-guerra, e a maioria dos futuros realizadores da Nouvelle Vague, passaram uns bons tempos a escrever sobre cinema. Alguns eram críticos, outros eram apenas simpatizantes de cinema, e quase todos aguçaram a sua sensibilidade cinematográfica através de longas horas passadas em cinematecas, e cineclubes parisienses. As influências destes realizadores eram variadas, desde o neo-realismo italiano, filmes de série B americanos, até aos clássicos do cinema mudo, e mesmo os musicais clássicos em Technicolor americanos. A partir de uma enorme paixão pelo cinema, eles foram desenvolvendo uma teoria, de que os melhores filmes eram originários de um cinema de autor, ou seja, produto de uma expressão artística pessoal, e deviam conter o carimbo de um realizador, assim como uma grande obra da literatura devia ter o carimbo do seu escritor.
Apesar deles admirarem alguns filmes feitos naquela altura, achavam que a maioria do cinema actual e mainstream,  não expressava a vida humana, nem os pensamentos de forma genuína. A maioria dos filmes populares da altura eram secos, reciclados, inexpressivos, e não tinham nada a ver com os sentimentos da juventude francesa da altura.

A Nouvelle Vague começou por não ser um movimento formalmente organizado, os seus realizadores estavam ligados por uma rejeição ao chamado "cinema de qualité", os filmes de grandes valores de produção que dominavam então em França. Estes filmes eram basicamente feitos para impressionar o público, e davam pouca liberdade criativa aos seus realizadores, para que pudessem atender aos desejos comerciais dos seus realizadores. A maioria destes jovens realizadores da Nouvelle Vague, escreviam para uma publicação de cinema chamada "Cahiers do Cinema", elogiavam regularmente os filmes que amavam, e rasgavam os que odiavam. A partir do processo de julgar a arte do cinema eles começaram a pensá-lo, e a  tentar descobrir um caminho para melhorar as coisas, e assim se foram inspirando para começarem os seus próprios filmes.
Sendo assim, a Nouvelle Vague rejeitou a idéia da narrativa tradicional de Hollywood, com histórias e estilos narrativos baseados nos mídia anteriores, como livros e peças de teatro. Estes realizadores não nos queria conduzir as emoções em cada cena, com uma narrativa fixa. Havia uma teoria de que este modo de contar histórias, interferia com a habilidade do espectador em perceber e reagir ao filme, da mesma forma que percebia a vida real. Estes realizadores queriam mudar a experiência do cinema, para torná-la fresca e emocionante, para fazer o espectador pensar e sentir, não só sobre aquilo que está a ver no momento, mas também na sua própria vida. Os diálogos tinham de ser o mais realistas possíveis, ou tinham de ser feitos de um modo que nos fizesse pensar para além do filme. Dizer a verdade era de extrema importância, o objecto do cinema não era apenas para entreter, mas também para comunicar.
Os argumentos destes jovens realizadores eram por vezes revolucionários, mas os filmes, feitos com orçamentos modestos, eram obrigatoriamente inventivos. Como resultado, algumas das mais conhecidas técnicas de filmar, foram inventadas ou aperfeiçoadas nesta altura, como é o caso dos jump cuts, das montagens rápidas, filmagens em exteriores, luz natural, diálogo improvisado, gravação de som em directo, câmaras móveis e takes longos. Muitas vezes estes filmes envolviam-se com as convulsões sociais e políticas da sua época. 
Durante as próximas semanas, vamos ter aqui uma espécie de curso intensivo sobre a Nouvelle Vague, um ciclo quase integral, com perto de 70 filmes. Para começar temos um livro que podem usar como guia... filmes a partir de amanhã.

Livro

5 comentários:

Folheves disse...

boa noite chico
Tu não consegues arranjar mais livros da cinemateca ,como este sobre a Nouvelle Vague?
Abraço

My One Thousand Movies disse...

Vai haver mais neste ciclo, Folheves :)

Folheves disse...

obrigadão chico. espero k saje um belissimo ciclo; eu ja vi muitos dos filmes que irão passar aqui de certeza mas havera outros k ainda não vi. aproveito para te dar os parabens pelo ciclo sci-fi anos 50 que acabei de ver agora. tem titulos muito interessantes e suprendentes. mais uma vez obrigado pelo trabalho

My One Thousand Movies disse...

Muito obrigado :)

tiago p. rodrigues disse...

Boa tarde, Será possível renovar os os links? A maioria dos filmes deste marcador encontram-se ligados a uma conta já fechada.
Só conheci o blog há pouco tempo e estou deliciado!