quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Fim-de-Semana no Ascensor (Ascenseur Pour l'échafaud) 1958



Florence Carala e o seu amante Julien Tavernier, um ex-paraquedista, querem matar o marido dela, simulando um suicídio. Mas, depois de executar o crime perfeito, e colocar as coisas no carro, Julien descobre que se esqueceu de uma corda, e volta atrás para trazê-la. O inesperado acontece, quando ele fica preso no elevador...
O título do filme de estreia de Louis Malle, "Ascenseur pour l’échafaud", é uma espécie de piada doentia e um perfeito sumário do filme em si, e do género Film Noir, a quem presta uma honrosa homenagem. A nível literal, o elevador desempenha um papel importante no filme. Na verdade, o elevador é o eixo principal da história, a transformar-se num caixão temporário que sela o destino do protagonista, garantindo que ele não consiga completar o plano perfeito, e fugir com o seu amor. Ao mesmo tempo, é um perfeito exemplo para toda a sensibilidade dos film noirs, como eles quase sempre levam um protagonista assombrado, num passeio lento, mas inevitável, para a morte.
"Ascenseur pour l'échafaud" ficou famoso a vários níveis. Primeiro porque era o primeiro filme de Louis Malle, que trabalhou nas margens da Nouvelle Vague durante a década de sessenta, mas nunca foi um membro por completo, em grande parte porque o seu trabalho variado (nunca fazia o mesmo filme duas vezes) não cabia exactamente na teoria do filme de autor. Como o seu único "filme de género", destaca-se do resto da obra da sua obra, mas tem apenas os mais fracos traços do humanismo que definiria o resto da sua carreira. Em vez disso, é um thriller "contra-relógio" preparado e executado com uma intensidade implacável, que sugere um realizador de grande habilidade (Malle tinha apenas 25 anos quando o filme saíu para as salas).
O filme também apresenta uma grande banda sonora, improvisada pelo artista norte-americano de jazz Miles Davis, gravada numa única sessão, com um punhado de músicos. A música que acompanha o filme e agarra o centro da história, é incrível, mas depois recua em silêncio. Há uma essência de "coolness" que precorre todo o filme, que está relacionada com a música de jazz, e não seria de estranhar que muitos cineastas da Nouvelle Vague a viriam a incorporar nas suas futuras obras. No entanto, o filme funciona tão bem porque Malle não permite que ele seja apenas um exercício de estilo. Pelo contrário, Malle impregna-o com um senso de romantismo sem esperança, principalmente na personagem de Jeanne Moreau, que é forçada a vaguear pelas ruas de Paris toda a noite (fotografada lindamente por Henri Decaë). Mesmo acreditando que ele fugiu com outra mulher, ela recusa-se a desistir dele, o que dá peso às proclamações de amor que faz ao telefone nos close-ups do início do filme. Apesar de Moreau já trabalhar no cinema durante as últimas duas décadas, "Ascenseur pour l’échafaud" foi o filme que lhe deu fama, em parte porque Malle foi o primeiro realizador a saber como usar a sua intensa sensualidade.

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