Aparentemente, “Liverpool” é um filme sobre o regresso a casa. O regresso de Farrel (Juan Fernandez), um marinheiro que dada a oportunidade retorna à terra que abandonou há muitos anos. Mas o filme é isto, é o quotidiano, o seu regresso à terra para ver a mãe e a filha que abandonou e por fim a volta ao navio. Ou seja, aparentemente o filme é nada.
Mas erra quem assim pense, ou quem não consiga vislumbrar o que está por detrás desse nada, desse vazio. “Liverpool” é muito mais que isso, é um filme sobre a dor, sobre o arrependimento, sobre os remorsos que visitam o homem. Mas essencialmente, “Liverpool” é a viagem de Farrel, os seus passos, as suas acções, os lugares por onde passa. Aqui não há uma narrativa lógica, não há uma história trágica ou feliz, não há romance, não há nada desses convencionalismos que vemos no cinema. Não, “Liverpool” é Farrel e Farrel é “Liverpool”. Ou seja, Alonso quer filmar uma visita, um último adeus, um respirar mais uma vez na terrinha, um conhecimento do que ficou, do que deixou para trás, ele quer filmar um homem e acompanhá-lo no seu trajecto.
E Lisandro Alonso desenvolve o filme lentamente e opta por um distanciamento da câmara que carrega toda uma vertente naturalista. E as expressões corporais, as pequenas acções do quotidiano ganham aqui relevo importantíssimo para dar ao filme esse aspecto realista. E o mais importante de tudo isto é ver que Alonso nem sequer envereda pela veia moralista, pela tentação de condenar Farrel pelo abandono, pelas suas escolhas. Não, Alonso quer filmar o homem e mais nada.
Isto sim é cinema.
Texto de Álvaro Martins. Daqui.
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