sábado, 10 de maio de 2014

Amor e Morte (Mouchette) 1967



Mouchette é uma jovem que vive no campo. A mãe está a morrer, e o pai não toma conta dela. Mouchette mantém-se silenciosa perante as humilhações que sofre. Uma noite encontra Arsene, um caçador da aldeia, que acabou de matar o policia da zona, e tenta usar Mouchette como álibi.
O filme mais pessimista de Bresson, e também o mais controverso. É um retrato desolador da descida de uma jovem à miséria e auto-destruição. Todos os temas habituais em Bresson estão presentes, como a fé, o martírio e a redenção, mas são criados a partir de um conto muito mais sombrio do que os restantes filmes de Bresson, e o efeito é tanto comovente como profundamente chocante.
Embora a maioria dos filmes franceses apresentem um ponto de vista romantizado do campo, e do interior, aqui ele é apresentado como uma realidade bastante dura, com os seus campos enlameados, casas degradadas e rivalidades mesquinhas. A tecnologia moderna intromete-se, mas parece não oferecer solução para a vida dos pobres camponeses.
Este cenário sombrio é atravessado por uma adolescente que tem uma vida totalmente inútil. Ela não tem nada, e permite ser saco de pancada de tudo e de todos. Os poucos momentos de prazer que ela pode ter rapidamente se tornam em veneno, atirando-a ainda mais para baixo, num espiral descendente de desespero.
Com mais uma grande interpretação de um actor/actriz não profissional, aqui Nadine Nortier, este conto intemporal de sofrimento e de dor, continua a ser tão actual como era em 1967. A tecnologia e o aumento da prosperidade mudaram a vida a muitas pessoas, mas continua a haver muitas Mouchettes, vítimas invisíveis de um mundo cruel e insensível. Tendo isto em conta, provavelmente "Mouchette" tem mais importância social do que qualquer outro filme de Bresson, embora tenha causado uma tempestade de controvérsia quando foi estreado em 1967. Ganhou dois prémios no festival de Cannes de 1967, mas acabou por perder a Palma de Ouro.

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