quarta-feira, 11 de junho de 2014

O Enforcamento (Kôshikei) 1968



De acordo com uma sondagem feita em 1967 no Japão, pelo ministro da justiça, 71% das pessoas eram contra a abolição da pena de morte, 16% a favor, e 13% não sabiam. Mas aqueles que se opunham à abolição, alguma vez viram uma câmara da morte? Já assistiram a uma execução ao vivo?
Nagisa Oshima não perde tempo em comunicar a sua opinião sobre a pena de morte, e, de seguida, narra-nos em estilo de documentário uma viagem por uma câmara de execução, enquanto um condenado à morte é guiado ao local para ser enforcado.

O filme é inspirado no caso de Ri Chin’u, um pobre mas imensamente talentoso coreano, que matou duas jovens no que é curiosamente conhecido como incidente Komatsugawa High School, em 1958. O filme começa com a tentativa de execução de um jovem de 22 anos de idade, não muito diferente de Ri Chin’u, que vamos conhecer apenas como  R (Yun-Do Yun), e que foi considerado culpado de violação e assassinato de duas jovens quatro anos antes. R é, de facto, enforcado, mas permanece vivo no final do acto, com o pescoço muito intacto. E assim seguimos, de modo muito satírico, os esforços do comité de execução decidirem o que fazer a seguir. R sobreviveu, e perdeu a memória de quem realmente é, e o grupo não é capaz de decidir se é capaz de enforcar uma pessoa que não está ciente das suas capacidades mentais.
O filme foi lançado em 1968. Quase uma década depois dos acontecimentos de Ri Chin’u, e apenas duas décadas depois do Japão ter retirado as suas tropas da Coreia. Oshima, corajosamente, levanta a sua voz contra a pena de morte, e contra o racismo praticado pelas autoridades, o preconceito contra os coreanos, que era igual ao da sociedade japonesa. Mais de 40 anos passados, o Japão mantém a prática da execução institucional (tal como os Estados Unidos), mas as relações com a Coreia melhoraram bastante (e até a pena de morte pode chegar a um ponto de inflexão nos próximos anos).
Este não é tanto um filme de género, e mais um filme de "auteur" . Não tenta lidar com as questões que confrontam a vida na prisão, e parece, à primeira vista, ser uma sátira à pena de morte, e a todos que se opõem à sua abolição. Mas no curso dos acontecimentos, o filme vai passar do documentáro à fantasia surrealista, em gradações cada vez maiores, e passará a tratar de questões da política sexual, raça, religião e identidade. Apesar do incremento da paródia, cada vez mais absurda, Oshima insiste na realidade. Ele nunca nos conduz directamente para a comédia/tragédia, e por isso a mensagem do filme mantém-se forte.
Legendas em inglês.

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